Eu havia recobrado a consciência e senti um cheiro esquisito, estava frio, não estava nem um pouco afim de abrir os olhos mas fui obrigada pela minha curiosidade. Eu estava em uma sala com três sofás, eu estava deitada no maior, e uma jaqueta de couro preto havia sido jogada em meus braços para me proteger do frio mas não estava adiantando muita coisa, a minha roupa estava úmida e meu cabelo todo molhado e embaraçado.

- Que bom que você acordou Sophia- ouvi a voz da minha mãe que estava encostada na porta.

- Mãe ? Onde eu to?

- No hospital

- Quero ver o Alex

A principio ela ficou muda e acho que estava procurando uma resposta para me dar

- Vou chamar a enfermeira- ela respondeu vendo que não teria outro jeito

Será que ele havia se machucado muito ? Será que ficaria bem ? Eu estava receosa em vê-lo, não tinha certeza se queria vê-lo, eu queria?

- Sophia Hanzel?- Fui interrompida pela voz da infermeira- Vamos?

- Sim, vamos

Seguimos por um corredor tranqüilo demais para um hospital. Até que paramos em um porta branca.

-Pode entrar- disse a enfermeira, ela devia estar nas faixa dos 40, seu olhar transmitia uma bondade que eu nunca tinha visto antes em uma mulher, todas que eu conhecia não gostavam de adolescentes rebeldes que gostavam de ouvir Rock o dia todo e no último volume, só a minha mãe ela sempre fora compreensiva comigo e me dava conselhos que eu carregaria comigo a vida toda.

Peguei na maçaneta da porta e fui abrindo-a devagar. Quando entrei vi o Alex deitado em uma cama com vários aparelhos ligados em seu corpo musculoso de jogador de basquete, havia uma faixa em volta da sua cabeça, sua perna estava enfaixada e havia vários hematomas em todo seu corpo. Quando eu vi aquilo fiquei chocada.

- Ele quebrou a perna, teve traumatismo craniano, e sofreu queimaduras de segundo e terceiro grau- eu não agüentei e comecei a chorar de novo.

Fui para perto dele e disse

- Alex, meu amor, pode me ouvir? Eu to aqui e não vou te deixar, você vai sai dessa, eu sei que vai,e eu quero que você saiba que eu te amo, não importa o que acontecer eu vou sempre te amar, por favor não me deixa- eu lhe dei um leve beijo, segurei fortemente a sua mão e ele apertou a minha, eu fiz o mesmo, com esse gesto tive a esperança de vê-lo vivo. Eu não tinha percebido, mas em um quanto do quarto a mãe do Alex estava sentada em uma poltrona dormindo, seus olhos estavam inchados e vermelhos. Dei uma última olhada no Alex ciente de que aquela poderia ser a última vez que eu o viria respirar. Então aos poucos fui soltando a minha mão da dele,me virei e quando estava abrindo a porta o aparelho ligado ao coração disparou e um zunido alto preencheu o quarto vi a mãe do Alex correr até ele depois eu também corri até lá.

- EU TE AMO MUITO- foi a minha última frase que eu disse para ele e em uma fração de segundos vi médicos e enfermeiras entrar, alguns enfermeiros levaram a mãe do Alex para fora e depois um enfermeiro me puxou para fora, eu me deixei levar, eu chorava com muita tristeza no coração sabendo que aqueles médicos por mais que tentassem não iriam conseguir salva-lo, ele havia ido e me deixado.

. . .

Entrei em meu carro, encostei a cabeça na janela do passageiro e fiquei olhando a chuva fina que caia e escorria pela janela. O Alex havia morrido, e logo quando eu estava saindo, acho que ele estava esperando eu sair para não vê-lo morrer, sabia que eu ficaria segura e tinha certeza que eu o amaria para sempre. Fechei os olhos e relembrei os bons momentos que passamos juntos e pela primeira vez naquela noite sorri.

Meu chofer abriu a porta do carro e eu desci. Entrei na sala de casa, Dakota, minha irmã mais nova, folheava uma revista mas sem interesse algum no que estava vendo, minha mãe estava sentada no sofá chorando e a nossa empregada estava abraçando-a e com um copo de água na mão.

- Mãe?

Ela me olhou e quando finalmente conseguiu falar a única coisa que disse foi

- Alex morreu

Eu já sabia, tinha deduzido, mas precisava que alguém me disse- se para realmente ter um impacto em mim. Balancei a cabeça em sinal que já sabia, fechei os olhos e senti minhas lagrimas descerem pelo meu rosto, senti o chão sumir, meu mundinho particular havia desabado, eu não conseguia pensar em mais nada, a não ser no impacto que aquelas palavras haviam me atingido, então cai de joelhos no chão frio, senti braços me puxando para junto de si.

- A senhorita precisa de um bom banho- ouvi a empregada dizer.

Subimos as escadas, e deixei que ela tira-se a minha roupa como uma criança quando chegamos no banheiro. Entrei na banheira e deixei que a água quente lavasse as minhas lagrimas.

- Querida, esta tudo bem? Você já esta ai a meia hora- minha mãe disse por trás da porta.

- Sim- foi a única coisa que eu consegui responder, e percebi que minha voz estava fraca e rouca.

Sai da banheira e vesti meu roupão. Abri a porta e uma brisa fria me atingiu me fazendo ficar com calafrios, de alguma forma aquilo me fez bem.Me dirigi até meu quarto e vesti minha camisola de seda rosa entrei debaixo das cobertas e encostei a minha cabeça nos macios travesseiros de pluma.

- Aqui esta- minha mãe estava com um prato de sopa quente, dava para ver o vapor que sai dali.

Logo que ela saiu do quarto meu pai entrou.

- Oi meu amor, não vai comer a sopa que a sua mãe fez?

- Não to com fome

- Mas foi sua mãe que fez, e você sabe que não é sempre que isso acontece.

Meu pai estava certo, raramente a minha mãe ia para a cozinha preparar alguma coisa.

- Só duas colheradas

- Tudo bem

Ele me observava enquanto comia, não estava com nenhuma vontade de comer, quando coloquei a primeira colher na boca senti vontade de vomitar, quando larguei a colher ele voltou a falar.

- Estou indo para Londres daqui a pouco e queria que você fosse comigo pra esquecer tudo isso.

Eu entendia o meu pai e não estava com raiva dele por ter dito para esquecer o Alex e tudo o que estava acontecendo nos últimos dois dias, eu não o culpava, ele só não suportava o ato de me ver chorando.

- Ta tudo bem pai

- Promete que vai se cuidar?

- Prometo- e dei um sorriso forcado

Ele me deu um beijo na testa e saiu. Meu pai era diretor de filmes por isso sempre viajava, era raro estar em casa , mas quando estava sempre ficava conosco e nos levava ao Central Park e no final da tarde tomávamos sorvete.

Fechei meus olhos e adormeci, mas não havia dormido nem três minutos e acordei assustada, tentei dormir de novo mais não consegui. Então me levantei e fui até o quarto da minha mãe. Ela era linda, tinha longos cabelos loiros e nas pontas caiam cascatas de cachos da cor do ouro, seus olhos eram verdes vivos. Quando cheguei em seu quarto a vi deitada em meio a vários travesseiros assistindo TV.

- Oi mãe

- Oi meu bem

- Posso?

- É claro

Fui até ela e me aconcheguei em seu colo e comecei a chorar

- Oh meu bem, não chore, ta tudo bem, eu estou aqui

- Ai mãe, como dói, que saudades do Alex, ele faz falta, só de pensar que eu não vou mais vê-lo me dói, eu não vou mais abraçá-lo, não vou mais me prender naqueles olhos cor de safira. Eu não sei se vou conseguir.

- Você vai, eu sei que vai, não se preocupe com nada, espere um pouco- ela se levantou e foi para o banheiro, minutos depois voltou com uma escova de cabelo- Quer fazer uma mulher se sentir melhor? É só pentear seus cabelos que ela se sentira reconfortada- minha mãe tinha razão algum tempo depois comecei a me sentir bem.

Fechei meus olhos e adormeci.

. . .

Acordei em um matagal de travesseiros, me sentei e vi minha mãe na varanda tomando café da manhã e olhando a vizinhança. Me levantei e me dirigi até ela. O vento soprava as cortinas de linho fino branco para fora da varanda. Me sentei na cadeira de palha feita a mão e muito bem trabalhada.

- Bom dia

- Bom dia

- Vai querer alguma coisa?

- Só suco

Eu não sei mais aquilo tudo me fazia bem. Tomei meu suco.

- O funeral vai ser as três da tarde

Esse comentário me fez voltar a realidade

- Ah- foi a única coisa que eu respondi.

Quando terminei meu suco fui até o quarto de Dakota. Ela dormia profundamente no meio de milhares de ursos de pelúcia, me deitei junto dela e a abracei, ela acordou confusa mas quando me viu olhou nos meus olhos e disse apenas.

- Sinto muito

Fechei meus olhos e concordei balançando a cabeça, senti minhas lagrimas escorrendo pelo meu rosto e Dakota me abraçou, não sei por quanto tempo ficamos ali, mas o suficiente para o café da manhã de Dakota chegar as dez da manhã.

Me levantei e fui para meu quarto me deitar. Mais tarde Dakota apareceu em meu quarto me convidando para assistir um filme eu rejeitei e ela entendeu, me deu um sorriso e fechou a porta. Mais tarde minha mãe foi até meu quarto me chamando para almoçar e eu também neguei. As duas da tarde minha mãe falou para eu ir tomar banho para ir ao funeral. Me levantei e fui até o banheiro, meu banho foi rápido. Eu, Dakota e minha mãe estávamos de preto. Minha mãe e Dakota ficavam bem pois se destacava na pele branca que elas tinham.

Quando chegamos lá vi a mãe do Alex de cabeça baixa chorando e uma mulher a abraçava. Eu não consegui chorar, acho que já tinha chorado muito.

Vi o caixão onde estava o Alex, poucas pessoas estavam em volta dele, me aproximei e não agüentei desabei o choro, senti alguém me abraçar e quando olhei para trás vi que era a Party minha melhor amiga ele me abraçou e disse que estava ali e que ficaria tudo bem, por que todos falam isso se eles sabem que não vai ficar tudo bem? Ela me tirou dali e me guiou até o jardim.

- Eu sinto muito, muito mesmo. Desculpa eu não ter ido ao hospital te dar apoio.

- Eu to legal, eu só não consigo acreditar que o Alex....morreu

- É também não. Quando fiquei sabendo não acreditei, mais acontece, pode ser com qualquer um...

- O Alex não é qualquer um

- É... eu sei, ele era importante pra todos nós.

E ficamos ali até o Stiven, namorado da Party e melhor amigo de Alex e segundo melhor jogador de basket, chegou.

- Oi amor- disse Stiven com os olhos todo vermelho e beijando Party

- Oi querido, tudo bem ?

- Nada bem. Ah oi Sophia

Eu nem respondi.

- É eu sei como você ta. Cara to muito mal, eu nunca podia imaginar que isso pudesse acontecer um dia, eu nunca perdi um amigo, e agora perco meu melhor amigo, meu brother- e começou a chorar, eu fiz o mesmo e Party tentava inutilmente nos consolar. Com o passar do tempo chegaram Lizi, Sarah, Cristin,Ruben, Klark e Geeh, a turma estava toda lá, menos Alex o que me fez chorar mais ainda, então demos as mãos e fizemos um circulo em sinal de luto, depois eu deitei no colo da Party, os outros se sentaram perto de nós e choramos, ficamos assim a tarde toda,até anoitecer que foi quando meu chofer foi me buscar e me guiou até o carro onde Dakota e minha querida mãe me esperavam. Deitei em seu colo a minha mãe e adormeci. Quando chegamos ouvi minha mãe falar ao chofer para me pegar no colo e me levar até minha cama. Eu deixei que ele me levasse, quando ele me pegou no colo senti um sensação reconfortante, lembrava meu pai quando eu era criança e Dakota apenas um bebe de colo, os jantares chiks que íamos, e vamos até hoje, acabavam tarde e eu ficava cansada e com sono então dormia, quando chegávamos em casa meu pai me pegava no colo e me levava até minha cama, sinto saudades daqueles tempos. Deitei em minha cama e dormi, não conseguia dormir direito, tinha insônia, pesadelos e não levantava da cama por nada só para ir ao banheiro, não comia e a cada dia eu tinha a sensação de que estava ficando mais magra. Passei as férias todas assim, mas até que um dia...