Ginevra telefonava para a babá diversas vezes ao dia para saber sobre o bebê. Em um momento, estava falando com Sibila, e Draco pôde ver que algo estava errado.

— Posso escutá-lo berrando — disse ela ao telefone.

— O que há de errado com ele? Ele está doente? Como assim, com fome? Ele está doente, eu sei que está.

Harry entrou na sala, com Lilían.

— O que aconteceu?

— Meu bebê está doente — declarou Gina. — Tenho de ir vê-lo imediatamente. Ele pode estar morrendo.

Harry pegou-lhe o telefone da mão.

— Sibila? O que houve? Entendo, a comida do bebê está um pouco atrasada?

— Eu tenho de ir vê-lo — insistiu Gina chorosa.

Pelo canto do olho, Draco viu Lilían sair da sala. Silenciosamente, seguiu-a para o corredor, subiu a escada e foi até o quarto da garota.

— O que você está fazendo? — perguntou quando Lilían começou a tirar roupas das gavetas, atrapalhando-se porque podia usar somente um braço.

— Eu vou com mamãe. Ela me quer.

— Mas...

— Ela me quer — disse Lilían, decidida demais para ser convencida. — Se o bebê está doente, mamãe não vai voltar, então tenho de ir com ela.

Harry apareceu na porta e Draco pôde ver, pela expressão dele, que ouvira a conversa. Ele o olhou rapidamente e Draco viu um pedido de ajuda nos olhos tristes.

— Fadinha.

A menina virou-se para o pai.

— Você não pode me impedir.

— Harry! — Era a voz de Gina chamando do corredor. — Estou pronta para ir. Preciso voltar para casa rapidamente.

— Eu também vou, mamãe — anunciou Lilían.

— O quê? — Gina entrou no quarto, franzindo o cenho. — O que você disse?

— Eu estou pronta para ir com você.

— Mas, querida, sobre o que você está falando? Não posso levá-la comigo.

— Mas você disse...

— Eu disse um dia, talvez. Mas seu irmãozinho está doente...

— Mas isso significa que você vai precisar de mim. — A voz de Lilían aumentou para um tom de lamento.

— Mas... mas... Sinto muito, mas você tem de entender. Eu simplesmente não posso...

— Lilían — começou Harry.

— Não — Draco o interrompeu, colocando uma das mãos sobre o braço dele e o afastando um pouco dali.— Não diga isso. Agora não é hora de autoridade. É hora de suplicar.

— O que você quer dizer?

— Não dê ordens à sua filha — disse Draco em tom baixo para que ninguém mais os ouvisse. — Apenas diga-lhe o quanto você precisa dela. Implore, se for necessário.

— Mas você pode ver como ela está...

— Não dê a Ginevra a chance de rejeitá-la novamente. Lilían não suportará. É sua melhor chance. Faça isso!

Lilían estava olhando para a mãe com uma expressão apavorada. Harry aproximou-se e colocou-se entre mãe e filha, ajoelhando-se e pondo as mãos sobre os ombros de Lilían.

— Fadinha — murmurou ele —, se você quiser ir, eu não vou impedi-la, mas,por favor, não vá. Pense em mim se você se for. O que eu faria sem você?Ela ficou em silêncio, incerteza estampada no pequeno rostinho.— Eu sei que você preferia ir com mamãe — disse Harry. — Mas eu a amo também, mais do que você imagina. Não vai ficar comigo? Por favor.

Lilían respirou fundo, e subitamente era como se um grande fardo tivesse saído de seus ombros. Endireitou o corpo, de repente, parecendo mais alta.

— Eu não posso ir com você, afinal de contas, mamãe — declarou com dignidade infantil. — Papai precisa que eu fique e cuide dele.

— Obrigado, minha querida — disse Harry emocionado.

Gina fez sua parte naquele jogo.

— Tenho certeza de que você está certa, querida. Deve ficar e ser gentil com papai. Sim, é isso que você deve fazer. Ela repetiu aquilo, evidentemente sentindo que era um mantra que deveria adotar.— Agora, preciso que alguém me leve para Roma.

— O chofer vai levá-la — respondeu Harry friamente. — Eu prefiro ficar com minha filha.

— Se você acha que um chofer é bom o bastante para mim, quando estou tão preocupada com o meu bebê — reclamou Gina.

— É claro que um chofer não é bom o bastante — disse Astória de trás dela. Ela tinha entrado no quarto sem ser notada. — Eu ficaria feliz em levá-la. Sei como uma mãe se sente quando filho esta doente.

— Oh, Tory, você é tão amável e compreensiva. — Gina sorriu-lhe.

Draco os seguiu para o andar de baixo e para onde o carro tinha sido levado na frente da casa. Antes de entrar no veículo, Tory deu-lhe uma piscada. Draco meneou a cabeça em desaprovação, o que a fez piscar de novo.

Antes de subir a escada novamente, Draco ligou para o apartamento de Ginevra em Roma. Sabia o número depois de ter visto Ginevra digitá-lo tantas vezes.

— Sibila? Ginevra está a caminho.

A babá deu um suspiro exasperado.

— Não há necessidade. Eu o alimentei e ele está dormindo. Não há nada errado com o bebê.

— Bem, ela está indo de qualquer forma — disse Draco.

Depois, juntou-se aos outros para o jantar e não viu Harry novamente até o fim da noite. Então Harry foi procurá-lo, segurando-lhe as mãos nas suas e apertando-as com força.

— Eu quero agradecê-lo de todo meu coração — murmurou emocionado. — Eu nunca teria pensado nisso. Como consegui sobreviver antes de você chegar? Você transformou tudo, Draco. Se apenas eu... Por alguma razão, ele pareceu incapaz de continuar.

— Se apenas, o quê? — incentivou Draco.

— Se apenas eu tivesse ouvido seu conselho antes. — Ele falou de modo desajeitado, informando-o que não era isso que ia dizer.

— Sua atitude salvou Lilían da humilhação, pobrezinha — disse Draco com cumplicidade. — Dessa forma, foi ela quem tomou a decisão.

— E isso importa?

— Oh, sim.__disse Draco — Você não tem idéia do quanto importa.

Harry liberou-lhe as mãos.

— Serei grato a você por toda minha vida — confessou. — Eu apenas desejaria que soubesse como lhe dizer o que você fez por mim... o quanto isso significa.

Draco esperou alguma coisa a mais. Porém, não veio. Harry se fechou em si novamente, e o que quer que tivesse vontade de dizer, manteve silêncio.