— Scorp, você se importaria se eu viajasse por alguns dias?

— Não. Acho que nem vou perceber que você saiu — disse ele com um sorriso.

— Olhe como fala comigo, garoto!

— Honestamente, pai, agora que comecei a cavalgar, estou me divertindo muito. Além disso— acrescentou ele —, eu acho que Lilían fica melhor quando estou por perto.

Draco assentiu.

— Eu acho que sim, também. Ficarei fora uma semana.

Ele o olhou com zombaria.

— Você arranjou um namorado?

— Não, eu vou para o casamento de Ted. E se você falar mais alguma bobagem, eu o levarei comigo. Ele uma vez me perguntou se você poderia levar as alianças até o altar...

— Ficarei bonzinho, ficarei bonzinho — prometeu ele, erguendo as mãos num gesto teatral de reza.

Draco riu e lhe deu um beijo de boa noite. Mas quando se virou, lembrou-se de algo.

— Você sabe como Harry está se saindo com Lilían agora?

— Nada bem — respondeu ele. — Eu o ouvi conversando com ela ontem. Ele começou bem,tentando ser gentil e tudo mais. Mas acabou mandando-a obedecer.

— Oh, dê-me paciência — resmungou Draco. — Ele tem boas intenções. Realmente não é o monstro que você pensou, Scorpius.

— Eu sei. Como você diz, Harry dá o melhor de si, mas parece não saber as coisas certas a dizer.

— Isso se parece com ele. Boa noite, anjo.

Draco dormiu naquela noite, tentando silenciar a voz que dizia que não era tarde demais para mudar de idéia. Poderia abandonar a viagem e permanecer lá. Finalmente, decidiu-se. Se a perspectiva de alguns dias longe tinha a capacidade de deixá-lo em tal estado de nervos, então era melhor que partisse. Na manhã seguinte, falou com Mafalda, que estava totalmente encantada com Scorpius, e prometeu cuidar bem do garoto. Albus prometeu a mesma coisa.

— Grande garoto — disse ele. — Não se preocupe. Tentarei mantê-lo longe das travessuras, e se eu fracassar, vou me certificar que você nunca descubra.

Draco riu.

— Parece que você tem tudo planejado. É melhor ir eu falar com Harry agora.

— Lamento, mas ele ainda não voltou.

— Você quer dizer... não voltou desde ontem à noite?

— Isso mesmo — confirmou Albus. — Ele faz isso ocasionalmente. Se o jantar é muito bom e ele toma alguns uísques, não quer voltar dirigindo.

— Não, é claro que não.

— E, às vezes, pode haver uma outra razão — observou Albus delicadamente.

Por um momento, Draco não entendeu.

— Uma outra razão?

— Bem, a esposa dele partiu há alguns meses. E Roma está repleta de moças e homens atraentes que não exigem compromisso. Você não poderia culpá-lo se...

— Sim, entendo o que você quer dizer — ele o interrompeu rapidamente. — Sem problemas, eu falo com ele depois.

Draco deixou Albus antes que ele pudesse dizer mais alguma coisa, e foi para seu quarto, censurando a si mesmo pela estupidez. Onde estivera com a cabeça?Jogou algumas roupas na mala, então foi para o local de escavação, onde passou uma hora conversando com sua equipe, a qual, como Draco imaginava, ficou alegre com a idéia de poder se virar sem ele.

Subitamente, viu o carro de Harry se aproximando e esperou que ele parasse, como sempre costumava fazer. Mas ele passou direto. Não havia nada a fazer senão segui-lo.

Draco chegou à casa dez minutos depois e foi procurá-lo na biblioteca. Como o resto da casa, o espaço era grande e impressionante, com prateleiras de livros que iam até o teto.Harry olhou para cima quando ele entrou e sorriu brevemente, mas Draco teve a impressão que ele estava nervoso.

— Vim lhe contar que vou para a Inglaterra por alguns dias — disse ele.

Harry o encarou.

— O que você falou?

— Preciso verificar algumas coisas no Museu Britânico. — Draco estava planejando fazer isso também. Pareceu-lhe melhor não comentar nada sobre o casamento.

Harry pôs o papel que estava segurando sobre a mesa e continuou olhando-o.

— Eu não entendo — murmurou com voz fraca.

— Eu vou para Inglaterra por alguns dias.

— Não faz sentido — disse ele, parecendo zangado. — Não pode haver necessidade para isso.

Informar Harry não deveria ter sido mais que uma formalidade. Oposição era a última coisa que Draco tinha esperado, e teve o efeito de torná-lo teimoso.

— Acho que eu posso julgar melhor minhas necessidades — respondeu ele friamente.

— Você tem tarefas aqui.

— Estou ciente de minhas responsabilidades aqui, mas você deve deixar que eu decido a melhor maneira de executá-las.

— E o pessoal de sua equipe? Como eles vão se virar?

— Se minha equipe não pudesse trabalhar sozinha, não seria minha equipe — retrucou ele com firmeza.

Os olhos de Harry se tornaram mais duros e linhas obstinadas apareceram ao redor da boca dele.

— Certamente você poderia consultar museus italianos — argumentou ele.

— Há coisas que somente posso encontrar no Museu Britânico.

— Esta não é uma boa idéia — declarou Harry. — Eu preferia que você não fosse.

Draco o estudou com cuidado. Harry era normalmente tão calmo, que vê-lo tão zangado o impressionava.

— Harry — começou ele com muita gentileza —, eu não estou pedindo sua permissão.

— Talvez você devesse, uma vez que eu o estou empregando.

— Mesmo se você estivesse me empregando, não significaria que pode controlar como eu gasto cada minuto do meu tempo.

— O que você quer dizer com "mesmo se"? — questionou ele.

— Estritamente falando, você está empregando Black Pesquisas, e eu trabalho para a firma. A única pessoa intitulada para me dar ordens é o diretor geral.

— E quem é ele?

— Bem, sou eu na verdade, mas...

— Nesse caso, senhor diretor, tenho uma reclamação a fazer sobre um de seus funcionários,um homem que parece pensar que pode fazer seu trabalho a distância. Estou pagando sua firma pelos melhores serviços, e espero que você os proporcione.

A voz de Draco foi dura:— Se Sua Excelência se der ao trabalho de estudar o contrato que assinou, verá que tais decisões são privilégios do diretor geral. Eu, e apenas eu devo decidir o melhor uso do sr. Black.

— O sr. Black mal chegou e não tem minha permissão para partir — insistiu ele.

— O sr. Black tem a minha permissão para partir e não precisa da sua.

— Então, posso somente dizer que não o considero profissional o bastante e sugerir que ele pense sobre isso.

Draco o olhou, incrédulo, tentando se acalmar. Aquele não era o Harry que pensou que conhecia, mas um homem arrogante que presumia que podia julgá-lo.Passou-lhe pela mente que se estava partindo para evitar se apaixonar novamente, então não precisava mais se preocupar. Apenas estar na companhia de Harry iria protegê-lo muito bem.

Mas sentia-se muito irritado para ceder agora, e o temperamento explosivo de Harry estava alcançando novas alturas.

— É assim que sua firma geralmente trabalha? — ele exigiu saber. — Assume um trabalho, o faz por algumas semanas, então o chefe desaparece e deixa o trabalho para seus subordinados? Suponho que há outro trabalho esperando-o, e você vai fazer os dois ao mesmo tempo. Bem, deixe-me esclarecer que eu não vou tolerar...

— Como você ousa? — Draco o interrompeu gritando. — Você deveria ter vergonha de si mesmo, dizendo uma coisa dessas para mim.

Harry ficou constrangido.

— Certo — admitiu. — Eu fui longe demais.

— Longe demais — concordou Draco.

— Retiro minhas palavras, mas não minha oposição. Como vou saber que você voltará?

— Porque sou um homem de palavra — respondeu ele indignado. — Quando pego um trabalho, eu o completo. Quando digo que vou fazer alguma coisa, faço, e o que estou dizendo agora é que vou para a Inglaterra.

— Se você for, irá contra minha vontade.

— Posso viver com isso — devolveu ele irado e saiu da sala antes que Harry pudesse responder.

Draco viu Scorpius quando estava atravessando o corredor e pediu-lhe que o seguisse até o quarto dele.

— Sinto muito. — disse ele quando entraram e fecharam a porta —, mas houve mudanças de plano. Você vai comigo.

— Eu não vou levar as alianças no casamento — protestou ele, olhando em volta desesperado.

— Tudo bem, você não vai fazer isso. Está combinado. Agora, ponha algumas roupas na mala.

— Mas você disse que eu podia ficar aqui.

— Não mais.

Draco foi para o próprio quarto e acabou de arrumar suas coisas, apressado, sentindo mais raiva a cada momento. A recusa de Harry em ser razoável, tanto quanto a arrogância que demonstrara, o tinha deixado furioso.

A batida que soou à porta parecia levemente insegura. Ainda ofegando de raiva, ele abriu-a. Harry estava parado ali.

__Posso entrar?

Draco deu um passo atrás para que ele passasse, e fechou a porta em seguida.

— Você ainda está falando comigo? — perguntou ele.

— Apenas o necessário.

— Suponho que eu mereço isso — disse Harry com expressão arrependida. — Draco, por favor, perdoe meu acesso de nervos. Não sei o que deu em mim. É claro que você deve ir, se... se achaque é necessário.

Em face ao óbvio arrependimento de Harry, a raiva dele se dissolveu. Draco o encarou, mãos na cintura, o rosto revelando irritação.

— Como você pôde acreditar que eu não voltaria?

— Soa loucura, eu sei — admitiu ele. — É apenas que o que está acontecendo lá fora é tão importante para mim, e naturalmente importa que o chefe esteja presente.

__ Pai — disse Scorp entrando —, eu preciso empacotar meu... — Ele parou, vendo Harry.

— Você também? — disse Harry espantado. — Mas certamente você não vai querer ir embora quando está começando a cavalgar tão bem?

— Eu estava originalmente esperando deixar Scorpius aqui — confessou Draco. — Mas então...

— E espero muito que você deixe — interrompeu Harry. — Você sabe que ele ficará bem, e Lilían ficaria solitária sem ele.

— Isso seria melhor — admitiu Draco. — Obrigado. Tudo bem, scorp, você pode desfazer a mala.

— Mas você acabou de me mandar fazer a mala.

— Bem, agora você vai ficar, então pode desfazê-la.

Em silêncio, o menino olhou de um para o outro e bateu na própria testa.Tarde daquela mesma noite, Draco estava em Londres, instalado no Hilton London Bankside, imensamente aliviado de ter se distanciado de Harry. O arrependimento dele tinha sido bem-vindo, mas não apagara a memória da discussão dos dois. Não quando ele vira um lado dele que o chocara. Um homem que exigia as coisas do seu próprio jeito como um direito, que podia ser friamente autocrata com qualquer um que ousasse desafiá-lo.

Draco supôs que era inevitável na posição de Harry, mas aquilo era novo para ele, e o fez perceber que linha tido sorte em poder escapar.Realmente gostaria de consultar o Museu Britânico, embora talvez fosse menos urgente do que parecia. Passou três dias lá, trabalhando arduamente.

Todas as noites, telefonava para Scorp, pronto para retornar de imediato se ele parecesse infeliz. Mas a voz animada de seu filho sempre o cumprimentava.

— Como está Harry ? — perguntou ele educadamente na terceira noite.

— Ele está um pouco preocupado no momento — observou Scorp. — Acho que tem ações em uma companhia aérea.

— Ações em uma... Scorpius, sobre o que você está falando?

— As companhias áreas estão em greve. Todos os aeroportos do país estão fechados.

— Oh, sim. Acho que vi alguma coisa no noticiário ontem à noite. Ele está por perto para que eu possa lhe falar um minuto?

— Não, ele saiu para a noite — respondeu Scorp.

— Oh, bem, não importa.

Ele iria dormir fora? Draco perguntou-se quando desligou. Mas não era problema seu.