Eu estava só nos nervos, roendo minhas unhas enquanto abraçava minhas pernas. Os olhos da cara tudo estourados de inchaço, chorei pacas. Não via a hora do marimo chegar pra eu... chorar mais? Decidi fazer pipoca pra aproveitar sua companhia melhor. Fazê-lo só me ouvir seria algo deprimente e, como eu o conheço, iria embora antes de eu voltar a me sentir bem.

— Olha aí você preparando pipoca, no telefone parecia que ia morrer. — Zoro (o marimo) chegou de repente na minha cozinha, eu costumava deixar uma chave extra com ele. — Sabia que estava exagerando quando disse que ia se matar.

Eu dei um salto de susto e me virei para abraçá-lo. — Ô, marimo... — Continuava a chorar pacas. — O velhote de merda... o olhar dele...

— Termina a pipoca, depois conversamos.

Enquanto abraçava Zoro, sua barriga havia mesmo roncado. — Ok.

Ele devia estar com fome, então fui pro fogão terminar o preparo, mas não esperava (talvez esperasse sim, era de praxe vindo do marimo) que ele fosse no freezer atrás de bebida. Será que ele pensava que o chamei para uma festa de pijama e não pra me desabafar?

Me pergunto porque Deus quis que meu melhor amigo fosse esse.

Fiquei enfurnado na cozinha e quando voltei com as pipocas em mãos, a sala do meu apartamento era outra. Os coturnos de Zoro estavam jogados de qualquer jeito no ambiente, o próprio idiota se deitava num dos sofás enquanto comia amendoins (que não sei de onde veio) revezando a boca com o gargalo da garrafa. Pareceu-me uma visão do inferno por desapontar o velhote de merda.

A televisão estava ligada e exibia o jogo do Vascão, pronto pra perder de novo. Mas não tinha o que fazer quando era o nosso time do peito, então, nos orgulhávamos de sermos perdedores.

— Você está bem à vontade, né? — Eu joguei a vasilha de pipoca nele e me sentei na poltrona.

— Eu sei que nosso time só perde, mas por que essa cara de cu?

— Hãm? Tu esqueceu que você está aqui pra me alegrar?!

— Eu trouxe amendoim. — Estendeu o saco para mim e eu quase o agredi.

— Foda-se!! E me dá o controle dessa porra, não vamos ver o Vasco perder hoje.

— Ah, não!! Eu preciso ver o Vasco perder!!

Ele esperneava enquanto escondia o controle nas suas costas, mas com muito custo consegui pegá-lo para desligar a merda da Tv.

— Então, o que a princesa tem que é mais importante que o jogo do Vasco?

— Vasco vai perder de qualquer forma!! E você está aqui para me ouvir e me dar conselhos como todo melhor amigo faz.

— Sei... por onde começo?

— Me ouvindo?!

— Então, fala porra!!

— Deixei o trabalho e o velhote ficou decepcionado comigo...

Minha voz saiu chorosa, Zoro coçou o ouvido e cruzou os braços, ainda sentado no sofá.

— E daí?! A decisão foi sua! Você quem tem que se decepcionar ou não!

— Mas, marimo, Zeff contava com minha ajuda no Baratie.

Zoro revirou os olhos, acho que pensava que teria que repetir o óbvio novamente. — Você só está querendo ter o seu próprio restaurante. Aposto que aquele velho deve estar morrendo de medo que você se torne uma grande concorrência para o Baratie.

Pisquei os olhos, surpreendido. — Você acha isso possível? Não é tarde demais?

— Nada é tarde demais!! E tua vida tá miserável, porque você passou a vida toda querendo agradar os outros.

— Minha vida miserável? Eu agradando a todos?

— É, e com medo de viver!!

— "Medo"? — Eu ainda não tinha me dado conta que sentia tudo isso até ele me dizer, marimo às vezes era um gênio! (Mais tarde pensaria melhor e entenderia que ele só estava me lançando conselhos genéricos).

— A gente nunca vai agradar todo mundo. Principalmente família.

"Ainda mais quem tem pais mais rigorosos. Eu passei a vida toda tentando ser um filho perfeito para o Mihawk e isso só me deixou mais estressado. Hoje em dia eu vivo em função de mim!

Eu faço o que quero, quando quero, como quero e com quem eu quero! Ninguém me diz o que fazer e ninguém me diz o que eu devo sentir ou não e também eu..."

Zoro começou a falar de si mesmo a ponto de esquecermos que o foco da conversa era eu e Zeff (principalmente porque comecei a dar conselhos na sua relação com Mihawk), até o celular dele começar a tocar.

— Cruz credo, é o Mihawk! — Ele ficou exasperado ao ver o nome do pai na tela do celular.

— Qual é o problema?

— Disse a ele que ia comprar amendoim pra ver Vasco com ele, mas agora danou tudo. Sobrancelhas, vou nessa!!! Até mais!!! Espero que as coisas com você e o senhor Zeff se resolvam!!

Ele saiu disparado antes que eu pedisse ajuda pra limpar a bagunça que fez. Dei de ombros, pelo menos me sentia melhor.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.