-Ai, Caroll, fizeste um show ali dentro!
Havena dança enquanto diz isto.
-Obrigada, Havena. Acho que hoje bati o meu recorde: três voltas à escola em três segundos. E consegui levantar três carros no ar ao mesmo tempo. Agora quando a enfermeira me pediu para medir a energia negativa da sala… - Caroll olha para mim na dúvida.
-Nem me fales, pensei que ias rebentar! Depois do feitiço que a Raquel fez, que, deixem dizer, era bastante poderoso, a sala deve ter ficado cheia de energia.
-Ah, nem foi assim tão mau – Consola-me Thata – a diretora não te expulsou, nem nada disso. É apenas um castigo de três dias.
-Sim, mas que vai fazer-te faltar ao baile… - Diz Havena muito triste, enquanto nos abre a porta do prédio.
-Qual baile? – pergunto subitamente interessada
Caroll bate-me na cabeça.
-Au!
-Alô! O baile de boas vindas!
Thata olha para mim com ar de marota.
-Se não estivesses a olhar para o Ken, tu terias ouvido tudo…
Dou-lhe com força na cabeça, mas coro porque é verdade.
Subimos as escadas até ao meu quarto e da Caroll e ficamos até tarde a comer bolos e a beber chá.
Quando as meninas se vão embora para os seus quartos (a Thata é companheira de quarto de uma rapariga chamada Erays, e Havena de uma menina chamada Peggy) eu e Caroll ainda conversamos um bocadinho sobre as coisas que “perdi”, enquanto olhava para o Ken.
-Então, as turmas júnior do dia têm de usar roupa roxa e a da noite verde; as turmas sénio do dia roupa azul e a da noite vermelha. Depois de amanhã vai haver um baile de boas vindas, onde os rapazes convidam as raparigas. As turmas são formadas pelo mesmo tipo de criaturas, mas á aulas em que várias criaturas se juntam. E não podes lançar feitiços contra os outros alunos. Mais alguma coisa?
-Não.
-Então, cama!
Me enfio debaixo das cobertas. Depressa adormeço, e começo a sonhar que estou num cemitério.
Espera aí, um cemitério? Que raio faço eu num cemitério?
Olho em volta para ver se reconheço alguma coisa.
Avisto um castelo e um bosque, ambos com um aspeto velho, mas no entanto cuidado.
-Brrrr…. Que frio. – Lamento.
Começo a andar em direcção ao castelo, observando o céu. O arqueiro, o cisne, o Leão…. Espera, são as mesmas constelações, mas estão em lugares diferentes! Algo não está bem…
Bato á porta e vejo que está aberta. Entro cheia de medo. Parece um daqueles filmes de terror, em que toda a gente grita: Não entres! Não entres!, mas nós não podemos ouvir e entramos na mesma.
Estou numa grande sala, cheia de pó e apenas com uma cadeira. Nem um único som.
-Está aí alguém?
A minha voz é repetida mil vezes, e quando para, fico com um mau pressentimento.
Começo a recuar até á porta, mas alguém me agarra nos ombros e puxa-me para trás.
-Ah! – A dor é horrível. Levo as mãos aos ombros e sinto um líquido quente empapar a minha camisa. Sangue. – Mas o que…
-Raquel… - Olho para trás para o que me agarrou.
Não é humano, mas também não é um fantasma. É uma criatura feita de fumo, e que agora, com o meu sangue nas suas mãos, começa a queimar.
“Mas como é que o fumo pode queimar?”
“Alô, há um homem atrás de ti com o teu sangue nas mãos, e tu preocupas-te com o facto de o fumo não queimar?”
“Tens razão.”
Peço desculpas á minha consciência e começo a correr.
Passo pelo cemitério sem parar e vou até ao bosque. Há um caminho e seria óbvio se eu fosse por ali, mas por outro lado, não me quero perder. Vou pelo caminho de terra batida e acabo ao pé de uma sepultura.
-Mary Magdalaine. Nem uma única flor…
Ok, eu sei que é falta de senso apanhar flores enquanto se é perseguida, mas aquela coisa pode ter ficado para trás!
Começo a apanhar margaridas e rosas brancas, até que levo uma pancada na cabeça e fico a ver estrelas.
Perco os sentidos durante uns segundos e quando volto a mim estou eitada numa poça de sangue, e a criatura está a lutar com alguém.
Observo aquela pessoa tão bonita, que luta mas parece que dança.
Mel. Não sei porque, mas sinto que é ela.
A criatura lança-a para longe e volta a dar-me com algo na cabeça.
Acordo sobressaltada e alagada em suor. Há alguém que grita ao longe, mas estou demasiado assustada para perceber quem é. Há uma luz muito forte que me impede de ver bem, mas aos poucos começo a aperceber-me das coisas.
Caroll que grita e chora por mim. O fogo mesmo aos pés da minha cama. Uma sirene que pede aos alunos para saírem imediatamente da escola. O homem feito de fumo ao lado da porta.
-Caroll! – Grito.
Caroll contorce-se na sua cama cheia de medo do fogo.
-Dá-me a mão! – Peço-lhe.
Ela abana a cabeça.
-Não! Ele vai-me devorar…
Ignoro o facto de um vampiro ter medo do fogo, salto para a sua cama e puxo-a até à varanda. Abro a porta e pergunto:
-Tens vertigens?
Mais calma, Caroll responde:
-Não.
-Ótimo, porque vamos saltar.
Antes que ela possa dizer que não, mando-me da varanda abaixo, rezando para que saiba o feitiço de voo.
Abraço-me com força a Caroll que grita e começo a murmurar palavras incompreensivas para um humano (a menos que saiba latim). Começo a sentir a energia a sair de dentro de mim e quando aterramos no chão estamos dentro de uma bolha de borracha. Furo-a e vejo se não me magoei.
-Estás bem, Caroll?
-Sim.
-Nada magoado?
Ela nega com a cabeça. Olha para mim assustada e depois para Nathaniel que corre desesperado.
-Estão as duas bem?
Dizemos que sim.
-Ótimo, porque vamos precisar da vossa ajuda.
Olhamos as duas para a escola que arde e subitamente o medo desaparece.
-O que podemos fazer para ajudar? – Pergunta Caroll
-Tu podes vir comigo buscar água á praia, e tu Raquel, sabes fazer um feitiço de água?
Fico muito nervosa…
-Eu ainda não domino a arte de fazer aparecer objetos… - Nathaniel faz uma careta – Mas sei transformar pedras em balões de água!
-Perfeito, vamos então Caroll.
Começo a correr até à escola. Viro-me para trás e vejo Nathaniel levantar voo com Caroll às costas. Nathaniel tem asas?
“Concentra-te Raquel.”
“Sim, pois.”
Ponho-me ao lado de várias raparigas que lançam água para a escola e começo a invocar o poder de transformação.
-Pedras, virem balões!
As pedras à minha volta incham e transforma-se em balões.
-Balões de água! – Ordeno chateada.
Os balões ficam mais pequenos e pesados, com o peso da água dentro. Começo a mandá-los para a escola, mas recuo e piso algo.
-Ai, peço imensas desculpas… - Digo enquanto me baixo para apanhar o que pisei – acabei de pisar o seu… braço?
Olho para a pessoa ao meu lado e vejo que é verde, com a maior parte dos ossos á mostra e roupa rasgada.
-Ah!
-Calma! – Diz uma rapariga ao meu lado. Tem cabelos negros e uns loucos olhos pretos. – O meu nome é Pandora, e esse aí ao teu lado é um morto.
Fico ainda mais apavorada.
-E o que é que faz aqui um morto?
-Está a apagar o fogo. – Ela estende-me a mão e eu aperto-a – Eu sou uma necromante.
-Fixe… - Digo meio assustada
Ela olha para os balões á minha volta.
-Importas-te? Eu e o Bone ficámos sem água.
Aceno que sim com a cabeça.
-Quem é o Bone?
Um esqueleto aparece por detrás dela com um smoking vestido.
-Chamou, menina Bovary?
Ela aponta para o esqueleto e eu ignoro o facto de ele ser um mordomo.
Continuamos a apagar o fogo durante muito tempo. Quando todas as chamas estão extintas, todas as bruxas, fadas e elfos se juntam para reconstruir a escola.
-Todos para dentro! – Grita a diretora com o cabelo a deitar fumo.
Uma rapariga abre as mãos e um jacto de água “apaga” o cabelo da diretora.
-Obrigada, Erays.
Começo a ir para cima, mas vejo algo que me detém.
Vou até á parte de trás do prédio e vejo Mel sentada a ver a lua. Sento-me ao seu lado a observar também.
Reparo que tem um corte na cara, e que a pele está a ficar arroxeada como se tivesse andado a lutar. Será que o meu sonho… Olho para os meus ombros e vejo que tenho a marca de unhas.
Tento mudar o assunto na minha cabeça e distrair-me.
-Não vens para cima? – Pergunto.
Ela nega.
-Vou ficar aqui a ver lua.
-Porquê?
Passam alguns minutos até que ela me responda.
-Não te parece, que ás vezes, quando olhas para ela é como se soubesses as respostas ás tuas perguntas?
Olho para a lua e vejo que de facto é verdade. É como se ela me dissesse que à algo ou alguém de quem eu devo lembrar-me, e várias perguntas começam a aparecer na minha mente.
Como; porque é que aquela coisa me atacou?
O que queria ela de mim?
Foi ela que começou o fogo? E porquê?
E pior, uma pergunta que me assombra e que não tem nada a ver com o que aconteceu. E que é: porque é que tenho a sensação que a minha mãe é humana?