A Decisão de Anúbis

POV Gale

A verdade é que a minha ficha só caiu quando eu ouvi a voz daquela deusa. Antes disso, havia vezes que eu pensava que tudo que eu estava passando nas últimas semanas fossem coisas da minha cabeça, um grande pesadelo também, eu sempre fantasiava que quando acordasse de manhã, eu iria estar em Panem, o que é bastante estranho, há um tempo eu daria tudo para estar fora de pena. Alguns julgamentos podem mudar.

Mas aqui estava eu, discutindo com uma deusa grega sobre o meu futuro e o do mundo, escutando sobre o plano dela. Um plano não, planos são feitos de estratégias e segredos, tudo muito organizado, aquilo estava mais para uma proposta. Acho que proposta ainda não é a palavra certa, uma proposta geralmente tem os dois ou mais lados envolvidos em um termo que vai gerar lucro para todas as partes. Não era esse o caso.

– Você ficou louca?! – Rony gritou, a voz dele reverberava por todo o corredor de um modo sombrio – Nós simplesmente não podemos aceitar isso.

Atena fechou a cara – Cuidado de como fala com um deus Weasley, está enfrentando forças maiores que vocês.

Uma sensação de queimação se assentou sobre meu estomago, mesmo parecendo fraca aquela mulher poderia nos destruir sem muito esforço, ela ainda era uma deusa, uma coisa que eu sequer pensei que podia existir, mas aqui estava na minha frente.

– Eu não entendo Atena – Anúbis falou calmamente, como esse garoto poderia estar calmo? – Geralmente os planos estúpidos são feitos por Hera, nós não podemos concordar com algo assim, é das nossas vidas que estamos falando.

– Para começo de conversa egípcio, você é um imortal, não pode ser mortal, no máximo sua essência vai ficar tão destruída que não poderá mais formar outra e bom, as coisas nesse mundo são imprevisíveis, não estamos mais vivendo no nosso mundo – Atena falou com um tom de arrogância.

Anúbis balançou a cabeça calmamente – Não Atena, você está pedindo muito, não há como fazer isso.

A deusa apenas nos olhou com ceticismo e indignação, mas simplesmente não havia como aceitar aquele plano. Atena havia passado dos limites não era só um plano para libertar os deuses da Prisão de Pain, era na verdade uma troca, uma terrível troca.

– Vocês não entendem a importância disso, certo? – Atena falou se aproximando mais das grades – Quando Pain realizou aquele maldito feitiço e trouxe todos nós para o mundo matriz, ele destruiu também a ordem do universo, o mundo está um caos e quando aquele desgraçado fizer o ultimo feitiço – A expressão de Atena mudou, ela parecia preocupada – Os deuses tem que ajudar a construir a ordem nesse mundo, sem isso a derrota de Pain é inviável, nós precisamos ser libertos!

– Mesmo assim Atena – Anúbis continuou falando, mas já demonstrando um pouco de irritação, ele também parecia controlar o medo que sentia daquele lugar – O preço para se ter isso é muito grande para nós, tem que haver outro jeito.

Atena bufou irritada – Você sabe que não há, desde a sua fuga e a de Cronos, Pain colocou uma maldição a mais, não há como quebra-la sem um preço.

Carter exasperou, ele parecia especialmente irritado com toda a situação e ainda mais com o plano de Atena, Rony se sentou no chão, sua cara estava quase tão vermelha quanto o cabelo, eu sabia que não era só a iluminação do lugar que estava deixando o rosto dele vermelho. Já passado alguns minutos conversando, eu conseguia ouvir outras vozes sussurrando vindas das demais celas do corredor, eu não queria ver o que havia nelas.

Os detalhes do plano de Atena passavam pela minha cabeça, aquilo tudo ainda sova muito louco, era um pedido louco na verdade, por que essa deusa achava que nós iriamos nos submeter a esse sacrifício para libertar ela e todos os outros deuses, não era algo justo.

– E Anúbis – A deusa quebrou o silêncio que havia se instaurado – Você terá que vir conosco, você ainda é um deus, olimpianos e egípcios terão que juntar forças para colocar esse mundo em ordem, isso inclui você.

Anúbis finalmente explodiu – O quê?! Eu não posso deixar Sadie, você não pode me tirar daqui, eu não vou sem ela!

A rapidez com que ele falou essa frase foi impressionante e a impressão que eu tive foi de que as vozes pararam de sussurrar quando Anúbis começou a gritar, como se estivesse tão impressionadas quanto eu pela explosão do garoto-deus.

Mas eu também explodiria, na verdade, estou quase prestes a fazer isso. Atena nos explicou que Pain fez a ilha Nublar ter sua própria força magica e é justamente a própria ilha que nos impede de usar magia, é a própria ilha que mantem os deuses e outras criaturas a mais presas, ainda de acordo com Atena, o único jeito de os deuses saírem da prisão, é uma troca com a ilha.

É nessa parte que as coisas se complicam, a troca em si e as consequências que isso pode trazer são terríveis, a troca que a ilha exigia pela liberdade dos deuses é que eles nos deixassem aqui presos, sem possibilidade de fugas, a não ser que cinco sacrifícios com sangue fosse feitos.

– Tudo isso é insano demais – Carter falou parecendo mais calmo – Não há possibilidade de fazer isso, nós simplesmente não podemos nos sacrificar por vocês.

Atena olhou para Anúbis – Você sabe que é o único jeito, mesmo que vocês consigam sair da ilha, não vai ter um mundo para o qual voltar e você sabe disso melhor do que eu, sem os deuses para colocar ordem, esse mundo irá sucumbir.

Anúbis olhou preocupado para nós, como se tivesse analisando a situação, mas não havia nada para ser analisado, certo? Ele poderia estar pensando em aceitar a proposta de Atena? Aquilo era muito arriscado, seria nossas vidas que estaria em jogo.

– Não sejam egoístas – A deusa falou se afastando da grade – O que é a vida de cinco pessoas contra a de milhões de pessoas?

– Desculpa dona Atena – Rony finalmente falou – Nós não vamos fazer isso, vocês deuses deem um jeito de sair daqui sem sacrificar a vida de outros, ninguém vai fazer parte disso – Ele se virou para Anúbis – Podemos ir embora daqui, prefiro tentar tirar aquele monte de pedra e voltar para cima.

Anúbis não respondeu, apenas olhava firmemente para a deusa presa, um arrepio passou por meu corpo, eles estavam tendo uma conversa silenciosa e algo me dizia que não ia sair nada de bom dali. Anúbis poderia estar pensando em considerar a oferta de Atena, não, ele não teria coragem de fazer isso, Sadie poderia acabar sendo um dos sacrifícios.

Anúbis franziu a testa – Existe um outro jeito não existe?

A deusa deu um forte suspiro – Sim, sangue divino por sangue divino, o sacrifício de um deus liberto para libertar os outros deuses, mas o único deus liberto é você.

– Não! – Falei em um tom mais alto do que pretendia assim que entendi o plano de Anúbis, ele iria se sacrificar – Você não vai fazer isso.

Ninguém falou nada depois disso, cada um entendendo qual era o plano de Anúbis, mas cada vez que alguém tentava protesta o garoto cortava qualquer tipo de reclamação dizendo que precisava pensar, mas pelo olhar que o garoto dava para Atena, ele já estava decidido sobre o que iria fazer, Rony olhava transtornado para mim e para Carter.

– Você não precisa fazer isso Anúbis, você já pensou em como a minha irmã vai ficar? – Carter falou gesticulando nervosamente com as mãos.

Anúbis se sentou no chão – É por ela que eu estou fazendo isso daqui, vocês não entendem? Os deuses precisam colocar ordem nesse mundo, se o caos dominar... receio que o nada mais existirá no universo, será um vácuo eterno, eu estou fazendo isso para ela ter um futuro.

Seria difícil convencer Anúbis do contrario, ele era um deus e em pouco tempo eu aprendi que eles podem ser muito cabeça-dura, eu conhecia Anúbis fazia quase um mês e ele em certos pontos era até bastante parecido comigo, era desconfiado e gostava de focar sozinho, eu não era tão próximo assim dele, mas a ideia de ver um amigo meu se sacrificando me fez lembrar de Katniss, em Panem ela também havia se sacrificado pela irmã e deu no que deu. Eu não gostava de amigos meus se sacrificando.

Katniss, onde será que ela está agora? Já fazia algum tempo que meus sentimentos por ela haviam diminuído, eu sentia um grabde carinho por ela e eu definitivamente a amo, mas eu não sei se do mesmo jeito que antes, algo em mim mudou quando eu vim para esse mundo, mas a impressão que eu tenho é que todo mundo mudou um pouco quando veio par esse mundo.

Talvez o motivo para eu esquecer Katniss as vezes, seja por estar gostando de outra garota, mas eu não gostava de pensar nisso, eu não quero me arriscar em outro relacionamento furado.

– Chegou a hora – Anúbis falou se levantando – Eu vou me sacrificar.

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POV Aria

Talvez bizarro ainda não fosse a palavra para descrever a situação em que eu me encontrava, talvez anormal seria uma ótima definição?

Como eu poderia definir uma conversa com um completo estranho que há alguns minutos atrás parecia etsra perto da morte, sem contar que essa conversa estava acontecendo dentro de uma caverna em uma ilha repleta de dinossauros, onde era quase impossível sair. Sem mencionar é claro o bebê T-Rex no fundo da caverna sendo cuidado por Luna e Connor, os dois pareciam fascinados pela criatura.

Hermione, Sadie, Bianca, Simon, o garoto novo e eu estávamos dispostos em uma roda no meio da caverna, cada um de nós ouvindo cada palavra que Jake dizia, o garoto definitivamente parecia saudável e forte e não doente e fraco, ele usava uma calça jeans e uma camisa cinza que eram provavelmente de Gale.

– Eu não lembro de muita coisa desde que eu acordei aqui, eu só lembro de escuridão e... – Ele juntou as sobrancelhas de modo pensativo – E meu nome, é como se todo o resto tivesse sumido da minha cabeça, eu não consigo me lembrar de mais nada.

Hermione cruzou os braços – E você simplesmente não se lembra de nada, só do nome?

O garoto assentiu – Eu tenho lapsos de memoria, mas nenhuma delas fazem sentido para mim, se a Luna não tivesse me explicado tudo, eu nem saberia onde estou.

Sadie e Hermione trocaram olhares desconfiados, eu não fazia mínima ideia do que elas estavam pensando, mas depois de tanto tempo nessa ilha eu passei a desconfiar até da minha própria sombra, acredito que as duas também estavam bastante desconfiadas da historia do garoto. Afinal, como não desconfiar de um garoto que aparece quase morto do nada no meio da floresta e horas depois está completamente bem, quase como se não tivesse acontecido nada.

Jake olhei para cada um de nós como se estivesse tentando descobrir e o que estávamos pensando, como ele olhou para sentir um arrepio, aqueles olhos dele não eram comum, a cor deles era muito forte, parecia até aquelas imagens modificadas por computador.

– Vocês não confiam em mim, não é? Acham que estou mentido – Ele perguntou quase sussurrando depois aumentou o tom de voz – Olha eu não tenho como provar a vocês que eu estou falando a verdade, mas eu juro que não estou mentindo.

Sadie deu um grande suspiro – Entenda, estamos num mundo onde não se pode confiar em ninguém, nós nem sabemos sua origem ok, mas isso não quer dizer que não vamos te ajudar, e bom não existe muitos lugares para ir nessa ilha, acho melhor você ficar com a gente, certo? – Ela olhou para cada um de nós em busca de confirmação, eu só fiz assentir, Simon e Hermione nem movimentaram a cabeça.

Jake deu um pequeno sorriso – Tudo bem, acho que eu só preciso de algumas roupas novas, não estou me sentindo bem com essas.

– Simon ajuda ele com as roupas – Hermione falou – Tem algumas que o Rony não usa.

Simon se levantou e logo depois Jake fez o mesmo, eu percebi que mão dele tremia o que me fez desconfiar que ele não estava tão recuperado assim. Fique olhando para o garoto tempo demais, algo sobre ele me incomodava e eu tenho certeza que eu não era a única, Bianca também lançava olhares estranhos ao garoto, eu estava deixando algo importante sobre ele escapar, mas eu não lembrava o que era.

Me levantei – Eu vou dar uma olhada no dinossauro.

– Isso é outro ponto que nós temos que conversar – Bianca falou fechando a cara – Nós não podemos ficar com um dinossauro que pode nos atacar a qualquer momento.

Revirei os olhos – Ah! Qual é? Ele ainda é um bebê, não pode nos matar e além de tudo, ele está ferido, se jogarmos ele por aí em qualquer lugar, algum predador pode mata-lo.

– Por ele ser ainda um bebê que ele não pode ficar muito tempo – Bianca falou irritada – Ele ainda é um predador!

– Não vou discutir com você, tenho problemas muito maiores que discussões idiotas – Falei virando as costas para ele e já indo em direção ao fundo da caverna, onde Luna e Connor estavam com o mini T-Rex.

Às vezes, o melhor jeito de lidar com Bianca é ignorar, geralmente funcionava, ela podia ter esse jeito meio chato, mas na maior parte do tempo era uma boa amiga. Ao longe pude ver Luna colocando alguma coisa sobre a perna do pequeno dinossauro, aparentemente ele tinha fraturado naquela região, o dinossauro parecia fraco demais para fazer qualquer coisa, por isso Connor de vez em quando jogava água na boca do animal.

– Novidades? – Perguntei quando cheguei próximo ao animal – Ele parece estar melhorando.

Connor bufou – O que é um grande problema, ainda mais se não soubermos o que fazer com ele, se ele melhorar, terá mais facilidade de grunhir, o som dele pode trazer animais.

Ajoelhei-me perto da cabeça do animal – A temperatura dele parece estar normal, quer dizer, não está tão quente.

– E desde quando você sabe qual a temperatura normal de um dinossauro? – Connor perguntou dando um meio sorriso – Não sabia que você era paleontóloga, Aria.

Revirei os olhos e depois voltei a olhar para o animal, eu nem sempre fui uma grande defensora de Manaus, mas desde que eu havia chegado a essa ilha, alo nos dinossauros me fascinavam, é claro que os herbívoros eram bem melhores de observar, mas os filhotes me fascinavam ainda mais, algo sobre o modo protetor que os dinossauros adultos tinham como os filhotes me fascinava.

Quando você pensa em dinossauros, você não os imagina como bons pais, simplesmente os imagina como terríveis lagartos assassinos, não é bem assim. Os raptores são o melhor exemplo de como os dinossauros podem ser protetores com as crias, caçam e matam qualquer coisa que se aproxime dos filhotes, são implacáveis quando se trata disso. E de alguma coisa Bianca tinha razão, manter esse dinossauro aqui é uma péssima ideia, as mãe do T-Rex deveria estar procurando pelo filhote.

– Deveríamos dar um nome para ele – Luna falou enquanto trocava um curativo que estava fazendo na perna do animal, era engraçado como a garota ficava concentrada quando fazia algo – Só para não ter que ficar o chamando de dinossauro.

Connor franziu a testa – Dar um nome? Ele não é um animal de estimação.

– Que tal Rex? – Falei – Ou é genérico demais?

Luna pareceu pensar, mas era difícil dizer qualquer coisa sobre ela – Não sei, que tal chama-lo de mafagando.

– E o que isso significa? – Perguntei juntando as sobrancelhas.

– Vocês pelo menos me ouviram? – Connor falou num de voz mais alto, mas logo abaixou para não chamar a atenção de mais ninguém – Bianca não está nada feliz pelo fato de vocês trazerem um dinossauro pro nosso esconderijo, o humor dela vai piorar quando ela descobrir que vocês deram um nome a ele.

Olhei por alguns segundos para Connor, só agora eu percebi o quanto o garoto havia mudado desde a morte do irmão, não sei dizer se ele amadureceu, mas ele definitivamente perdeu um pouco do humor que tinha antes, estar mais sério, fazendo cada vez menos piada. Há algum tempo Connor não perderia a oportunidade de irritar Bianca, agora, sem Travis, as coisas mudaram um pouco.

Então o animal começou a se debater e fazer grunhidos mais altos do que eu poderia imaginar, eu tentei acalma-lo, mas o dinossauro gritava mais e mais, tentei segurar cabeça e Travis e Luna seguravam o corpo, os barulhos que o animal produzia eram tão grandes que poderiam ser ouvidos por toda a ilha e o pior definitivamente estava chamando a atenção dos predadores.

Bianca chegou correndo – Por que é que ele está gritando tanto? Faça ele parar.

– Eu não sei por que ele tá assim, uma hora ele estava quase morto e em outra ele está começando a gritar e eu não consigo o fazer parar – Falei, o desespero começava a tomar conta de mim.

O garoto Jake se aproximou e olhou para o dinossauro, ele parecia hipnotizado pelo animal. Foi então que os rugidos começaram, a primeira coisa que eu pensei foi que o T-Rex pai tinha achado a cria e estava vindo buscar, mas aí eu percebi que vários animais estavam rugindo como loucos, e cada vez mais animais se juntavam ao coro de rugidos e mesmo estando dentro da caverna, o som era quase ensurdecedor.

– Mas que diabos está acontecendo?! – Ouvi Hermione gritar.

Foi então que eu vi os olhos de Jake revirarem e ele cair no chão se debatendo, quase exatamente como o pequeno T-Rex estava fazendo, Simon e Sadie tentaram segurar a cabeça do garoto, mas parecia que as convulsões dele só aumentavam, assim como a do animal, que também gritava e grunhia mais e os rugidos dos dinossauros pareciam mais fortes.

O silêncio que veio depois desses acontecimentos foi quase perturbador, de repente tudo tinha parado, os grunhidos do pequeno T-Rex, a convulsão de Jake, os rugidos dos dinossauros na ilha, tudo parou no mesmo segundo e depois veio um silencio perturbador, eu comecei a me tremer.

– O que foi isso? – Simon perguntou assustado.

Eu senti um aperto na minha mão e vi que Jake havia acordado e me apertava com uma força que quase me fez chorar de dor, os olhos acinzentados deles, agora estavam dourados.

– O selo foi aberto, o sacrifício foi feito, os deuses estão livres!