November 12th

Mas Amores Estão Sempre Indo e Vindo


— Não! – Bobbi exclamou.

Steve a abraçou de lado e sentou-se com ela em um sofá próximo. Os olhos de Peggy estavam arregalados e seu ouvido zunia num barulho irritante.

Hunter levara Bobbi pra longe dali, visto que ela começou a ter um ataque de pânico e histeria.

Natasha abraçava Clint tão forte e o homem devolvia na mesma intensidade.

Coulson não podia conceber. Sua cabeça se recusava a processar as palavras dos médicos a sua frente.

— Sinto muito. – um deles disse e colocou uma mão em seu ombro.

Phil não conseguia ouvir nada a sua volta. Ele recostou na cadeira e sentiu as lágrimas acumularem em seus olhos antes de escorregarem rosto abaixo.

Ele sentiu seu corpo balançar e tremer. Steve veio até ele e o abraçou fortemente e Phil escutou um soluço e um urro de dor e sofrimento, só depois percebeu que provinha de si.

Rogers o apertou mais e ele deitou a cabeça no ombro do amigo e chorou, molhando a camisa do loiro.

Todo seu corpo tremia e ele sentia uma dor tão forte. Um sentimento de perda, impotência e tristeza tão imensos que o deixava tonto.

Steve o ajudou a se sentar novamente, uma vez que tinha puxado Phil para ficar de pé, para receber o abraço. O mais novo segurou a mão do amigo e colega de elenco, que sofria tanto naquele momento.

Coulson encarava o vazio, lágrimas ainda desciam por seu rosto e sua respiração estava descompensada.

Ele ficou de pé de novo, de repente e olhou para o loiro sentado.

— Eu... – ele respirou fundo para engolir o choro e conseguir falar com clareza. – eu preciso vê-la Steve...

***

Skye o obrigara a trocar de roupa. O terno do casamento estava completamente arruinado pelo sangue dela e... e ele não poderia entrar no necrotério naquele estado. Então, sua agente, com pesar e olhos também cheios de lágrimas, lhe entregou uma nova muda de roupas, e apesar de não colocar em palavras, lhe assegurou que não jogaria as peças sujas no lixo sem a permissão dele.

Phil parou em frente à porta. Leu na plaquinha o nome da sessão e respirou fundo antes de empurrar um dos lados da porta dupla.

Ouviu a mesma fechar em um click e encarou o ambiente a sua frente. Ele já tinha estado num local parecido, quando seu pai morrera, então sua mãe o deixara também, tempos depois. No entanto, ele não lembrava o quão gelado era ali, ou o quão apertado o coração dele ficara dentro de seu peito.

Não tinha outra alma viva ali e o homem agradeceu pela falta de testemunhas. Coulson não precisava de pares de olhos vigiando seu sofrimento.

A passos curtos, se aproximou da única maca com um corpo sobre. Sua respiração ficou, por alguns segundos, presa em sua garganta, e o choro, que sessara instantes antes, começava a escapar-lhe sem controle novamente. Os orbes azuis brilhavam com a luz fluorescente forte do cômodo e ele soltou o ar profundamente antes de colocar a mão esquerda sob o lençol branco, que bloqueava sua visão dela.

Lentamente, Phil tirou apenas a parte do pano que cobria a cabeça da amada. Um soluço deixou seu peito quando ele encarou os olhos, para sempre fechados de Melinda.

Percebeu uma banqueta de metal próxima, e sem soltar a mão que havia entrelaçado na dela, puxou o banco e sentou-se um pouco inclinado, afim de ficar mais próximo.

Soltou um longo suspiro, no fim entrecortado com sua respiração e o choro preso dentro de si. Levantou a mão direita em direção ao rosto dela. May estava tão singela. Expressão calma. Ele já tinha a visto assim por diversas vezes, enquanto a mesma dormia. Apertou os lábios numa fina linha, na intenção falha de segurar as lágrimas. Sua mão esquerda segurando a direita dela. A mão adornada com os dois anéis, estava sob seu peito, pálida, fria.

Phil beijou-lhe a testa, próximo de onde começava o cabelo castanho dela, encostou seus narizes, assim como haviam feito horas antes naquele mesmo dia.... beijou levemente a boca dela.

Melinda parecia estar dormindo, no entanto, o homem não sentiu a pele quente, não viu o sorriso de canto ou a cor dos olhos da amada.

— Mel... – sentia-se fraco, sua voz falha. Apoiou a testa junto à dela e deixou suas lágrimas pingarem no rosto que tanto amava e que não veria nunca mais. Mão tocaria nunca mais. Sentia-se tão fraco, impotente, sem chão... em seus piores pesadelos, jamais havia imaginado nada parecido. Sabia que não era sua culpa, mas não conseguia se perdoar por tê-la perdido. Por um momento o pensamento de que, se não a tivesse conhecido, ela ainda estaria viva, passou por sua cabeça, mas ele sacudiu-o para longe. Ele não podia mensurar a preciosidade do tempo que tiveram juntos. A história de ambos tinha siso tão curta, e terminado de forma tão dolorosa, mas não deixava de ser menos épica por isso. – Melinda... – ele iniciou novamente. – eu sei que nãp deixei de te lembrar que te amava todos os dias, mas... – ele passou uma das mãos pelo cabelo dela. – eu sinto como se não tivesse sido o suficiente... – um suspiro pesado lhe tomou por um momento. – eu amo você. Pra sempre, sempre, sempre e... – a correnteza vinda dos olhos azuis molhavam o lençol branco sob ela. – o que eu vou fazer sem você, meu amor? – inquiriu, mesmo sabendo que não obteria resposta alguma. Pegou as duas mãos dela nas suas agora. Ficou de pé, beijou-a pela última vez e tirou os anéis do dedo anelar esquerdo da esposa. – eu não quero te deixar, Melinda... não quero dizer adeus. – tornou a acariciar as madeixas castanhas dela. – eu amo você. Pra sempre, Mel...

Phil apertou as mãos dela uma última vez e cobriu o rosto que mais amava no mundo com o fino lençol branco. Virou-se e saiu da sala sem olhar para trás, sabia que se o fizesse, não conseguiria deixá-la ir.

***

O cortejo de May passara como um borrão para Phil.

A imprensa estava em peso em todos os lugares que ele ia. O seguiam como abutres, querendo noticiar e registrar sua perda, sua tristeza.

Bobbi e Skye tinham cuidado de todos os detalhes, por que ele não tinha condição alguma.

Clint o tinha obrigado a ficar em sua casa, dizendo que num momento como aquele, Phil não podia ficar sozinho.

E assim como dois dias atrás, todos seus conhecidos estavam em seu casamento, agora todos trajavam preto, rostos infelizes, inchados e vermelhos, e encaravam o caixão preto, esperando que o padre desse seu discurso fúnebre.

Ele escurou a marcha ser tocada ao fundo, indicando que o caixão seria baixado, mas ele não conseguiu reunir forças para se levantar e dizer um último adeus. Ele já tinha o feito. No necrotério.

Tudo passara como um borrão, recebera as condolências diversas vezes, até que pediu que Steve o deixasse em casa. O loiro o estava levando até a residência de Barton, mas Phil pediu que o levasse para casa.

Coulson prometeu a Steve que ligaria na manhã seguinte, informando-o de que estava vivo e que acaso ele ligasse e Phil não atendesse, ele arrombaria a porta da mansão. O viúvo apenas assentiu e saiu do carro.

Viúvo.

Riu amargo da peça cruel que a vida pregara nele.

Fechou a porta da mansão e adentrou mais fundo a casa fria.

Estava perdido. Se sentindo vazio. Tudo de bom havia sido tirado dele.

Caminhou sem direção exata e parou na academia. Abriu a porta de correr e seu coração apertou-se no peito.

Lembrava de discutir com ela sobre como mudariam aquele cômodo. Agora, Coulson nem sabia se teria forças para entrar ali novamente. Mesmo assim, ficou de pé, no meio da academia. De sapato sobre o tatame. Nada importava agora.

Encarou o horizonte à sua frente. O céu estava limpo e inteiramente azul. O sol brilhava alto no meio do céu. O clima zombava do seu estado de espírito.

O pior dia para se amar alguém era o dia em que se perdia a pessoa amada.

***

Mais alguns dias se passaram, mas o homem não fez questão de contá-los.

A cada dia um de seus amigos vinha até ele.

No primeiro dia, fora Steve. Ele tinha preparado alguma coisa na cozinha, deixado os restos na geladeira, pedindo que Phil comesse sempre que lembrasse. Rogers sabia que Coulson não teria vontade.

No segundo dia, Skye, Bobbi e Hunter vieram. Os dois últimos para se despedir. A loira prometendo que cuidaria de qualquer coisa envolvendo a imagem póstuma da amiga, mesmo de longe, o dizendo que estava indo morar no Reino Unido com Lance. Ela precisava do espaço. E ele sorriu fracamente, um pouco feliz por ela estar seguindo com a vida de alguma forma.

Skye, estranhamente, não falou muito, mas com uma mão em seu obro e um sorriso triste, ela assegurou-lhe que ele poderia tomar seu tempo em luto. Tudo estaria lá, da mesma maneira, bem... quase, quando quisesse voltar. Caso quisesse voltar.

Eles também deixaram o desjejum daquele dia. Que ele sabia, fora comprado na cafeteria predileta dele e de May.

Seu gato, Cap, tinha sido sua única companhia, junto às terríveis lembranças, por pelo menos três dias seguidos. Phil não conseguia dormir direto e quando Natasha e Cllint vieram visitar, o padrinho trouxe uma caixa de comprimidos.

Xannax.

O trio quase não falou nada. A presença da ruiva e de seu namorado sendo o suficiente para trazer mais memórias dolorosas.

Natasha entregou-lhe a tiara que Melinda usara no casamento e Phil lhe abraçara tão forte depois do gesto, que Romanoff quase perdera o ar.

Antes de irem embora, ela lhe entregou um saco preto grande. Com a etiqueta: “vestido da noiva”.

Sob o efeito dos calmantes, naquela noite Coulson sonhou com o salão, cheio de flores, música ao fundo e o corpo quente, vivo, de Melinda junto ao seu, dançando lentamente, como se o mundo não existisse ao redor.

De manhã, com o rosto molhado pelas lágrimas, ele se deu conta de que tinha apenas lembrado de seus últimos momentos com ela em vida.

Duas semanas depois, ainda era difícil respirar. A mansão estava mais espaçosa do que nunca e ele se pegou arrumando uma mala de mão, a casinha móvel de Cap e a o saco preto, contendo o vestido de noiva, agora livre das escuras manchas de sangue, contudo, ainda rasgado, uma vez que os médicos tiveram que retirá-lo do corpo... ele pausou a colocação de roupas na pequena mala. Soltou um suspiro e balançou a cabeça para tirar as imagens macabras da cabeça.

Colocou seguramente a casinha de Cap no banco do passageiro de Lola, sua mala no chão do carro. Trancou a casa e acenou para o vigia na portaria do condomínio, quando passou por ele.

Cumprimentou com outro aceno de cabeça o porteiro do prédio de Melinda. Com a bolsa com o gato e a mala, ele subiu pelo elevador, depois de deixar Lola segura na vaga que May lhe reservara na garagem subterrânea.

Saiu do elevador no andar de costume.

Pegou as chaves, com as mãos trêmulas e entrou no apartamento.

O ar lhe faltou por alguns instantes quando encarou o ambiente, em suma consumido por cores claras, do jeito que ela havia deixado.

As janelas estavam fechadas, mas as cortinas permaneciam abertas, da maneira que Melinda gostava. No sofá, a bolsa dela, tanto a do laptop, quanto a normal.

Coulson abaixou-se e abriu a portinhola, liberando Cap para andar pelo ambiente.

Seu celular vibrou no bolso. Já havia notado que o aparelho fizera isso demais vezes naquela manhã, mas não tinha se dado o trabalho de olhar o que era. No entanto, com a insistência, Phil encarou a tela e viu o nome de Tony Stark aparecer.

Deslizou o dedo, mas não o cumprimentou ao colocar o telefone no ouvido.

— Nós o encontramos Phil. – ele se lembrava de que Tony, sua esposa, Pepper e Nick, tinham tomado a frente em ajudar a capturar o monstro que... – o maldito se matou. Tiro na boca. – Tony parecia nervoso. – eu sinto muito, Coulson... – Phil ouviu o moreno suspirar do outro lado. Tony disse mais alguma coisa sobre depoimentos, mas Phil só registrou quando a ligação se encerrou. Talvez ele tinha respondido o amigo, mas não conseguira registrar aquilo também.

Olhou a sua volta, absorvendo tudo o que existia ali.

Faltava alguma coisa.

Faltava alguém.

E ele sabia exatamente quem era.

Essa pessoa tinha cabelos castanhos, na altura das costas. Olhos igualmente castanhos, brilhantes e amorosos, porém não deixavam de ser debochados, quando queria. Senso de humor peculiar, lábios doces e sorriso encantador. Um talento nato para a atuação. Um talento nato para tudo que se propusesse a fazer.

Inclusive amá-lo.

Fizera isso com maestria, e Phil não poderia ter sido mais feliz.

Perambulou um pouco pelo apartamento. Encontrou-se na cozinha. Colocou a chaleira no fogo, como fazia na maioria das manhãs que passara ali com ela. Preparou o chá favorito dela. E apreciou o sabor que tinha sentido nos lábios da esposa por tantas vezes. Era o mais perto que chegaria deles agora.

Sentou-se no sofá, depois de alguns minutos. Encarou a TV e arqueou uma sobrancelha, quando viu uma luz piscando no aparelho embaixo dela.

Ligou a tela grande, antes escura e quase engasgou com o chá quando encarou Melinda na televisão. Não era um filme, ou algum comercial. A imagem estava pausada e ele alcançou o controle na mesa de centro para iniciar o vídeo.

Phil...

Ele a viu sorrir na imagem. Se ajeitou no sofá.

Se você está vendo isso agora, nós já voltamos da lua de mel dos sonhos e estamos muito bem casados.

Ela levantou a mão que possuía o anel azul de safira.

Coulson a ouviu suspirar alegremente em vídeo. Seu coração bateu mais forte. Não podia descrever a saudade que sentia dela.

Nós já temos tudo que pedimos e muito mais! Você me faz mais forte e mais feliz, eu te amo desde nossa primeira troca de olhares, quando você me ligou naquela manhã, em que eu me convidei para tomar café com você.

Ela sorriu na tela com a memória. Ele também, sozinho no sofá.

Eu não conseguia pensar em um presente de casamento pra você, então resolvi ficar em frente a uma câmera, uma das coisas na qual sou boa, para te lembrar o quão importante você se tornou pra mim... e o quão ansiosa eu estou, para passar o resto dos meus dias com você.

Bem-vindo ao começo das nossas vidas.

Eu te amo!

Ela terminou lhe mandando um beijo e soprando-o depois. Sua mão tapando a câmera foi a última coisa que ele viu antes de seus olhos o traírem, enchendo-se de lágrimas mais uma vez por aqueles dias.

***

Novo post de PhilCoulson no Instagram.

Na foto, ambos sorriam um para o outro, a mãos com os anéis no rosto dele a com o buquê estendida até o chão. Ele curvado em cima dela e ela com as costas arqueadas. Atrás deles os convidados comemoravam com as mãos para cima e pétalas emolduravam as bordas da foto, as mesmas jogadas pelos presentes ao fundo.

O pior dia de se amar alguém, é quando você o perde.

Primeiramente, quero agradecer por todas as mensagens de apoio, orações e energia positiva que vocês estão mandando em minha direção, na direção dos entes queridos de Melinda.

Ninguém está preparado para dizer adeus assim. Anda mais da forma como tudo aconteceu.

O dia mais feliz da minha vida, se tornou também, o pior.

Eu perdi o amor da minha vida, vocês perderam um ídolo incrível e talentosa. E isso dói tanto. Eu sei. Tem dias que respirar é difícil e todas as vezes que eu fecho os olhos, eu vejo o sorriso dela, sempre tão disposta, qualquer uma das coisas mais simples, me lembram May, e de como eu gostaria que ela estivesse aqui para que fizéssemos essas pequenas coisas juntos.

Vocês são pessoas incríveis por permanecerem do nosso lado até aqui e eu tenho apenas mais um pedido a fazer: não deixem a memória dela morrer.

Assistam seus filmes, revejam suas entrevistas, subam tags relacionadas a ela, façam suas edits, seus fanvids, tudo o que sempre fizeram. Enalteçam sua vida, para que ela sempre seja lembrada pela criatura incrível que ela foi.

Sei que um dia nos encontraremos, Melinda. E eu mal posso esperar.

Com amor,

Phil.

***

Notas: Eu nunca escrevi uma oneshot tão longa. E claramente, foi a que mais me emocionei produzindo. Demorou bastante pra terminar, por que eu queria muito escrever, mas não sabia qual fandom usar. Até que veio perfeitamente cada cena na minha cabeça, com Melinda e Phil. Eu chorei em muitas partes, por que meus olhos recém operados, doíam pra valer, mas eu simplesmente não conseguia parar meus dedos de se moverem pelo teclado.

E eu sou muito grata a qualquer força, que pesquei bem fundo dentro de mim, para terminar essa fic.

Essa história, esse mês, marca minha “carreira” de ficwriter desde 2006, lá quando eu não sabia nem como se fazia isso direito.

Eu ficarem imensamente feliz com qualquer forma de feedback de vocês! Favoritando, recomendando, comentando, deixando kudos, bookmarks, tudo de acordo com cada site. Hell, mandei um e-mail um DM no twitter, uma mensagem no Tumblr, ou no instagram!

Obrigada, por ter chegado até aqui!

Feliz fic nova!

xx

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.