CAPÍTULO 17

Decepção, Teresa demonstrava esse sentimento através do seu olhar. Ela havia entendido tudo errado, havia visto algo que não deveria ter acontecido. Eu queria esclarecer as coisas com ela antes que fosse tarde, mas só pelos seus gestos e atitudes percebi que ela já havia tirado conclusões precipitadas. Sua expressão que agora a pouco era de pura tristeza, deu lugar a uma de seriedade. Ela entrou no laboratório, foi até uma gaveta e trouxe de lá uma pequena lanterna utilizada por médicos, sem falar nada e muito menos me olhar, ela se aproximou de Brenda e começou a examinar seus olhos.

— Você não está enxergando nada ou ainda consegue distinguir alguma coisa, como vultos, por exemplo? – Teresa perguntou da forma mais profissional possível pra Brenda e essa, inesperadamente a empurrou com força pra longe.

— Você acha que se eu estivesse vendo alguma coisa iria deixar você se aproximar? Colocar a mão em mim? Tudo é sua culpa. VOCÊ ME DEIXOU ASSIM. Fez de propósito – Brenda gritava descontrolada.

— Ei garota, eu só estou tentando te ajudar, mantenha a calma – Ela falava muito tranquilamente, e aquilo estava me assustando – Eu nem toquei em seus olhos na cirurgia, então como você acha que eu fiz isso com você? Não viaja.

— Brenda, você tem um corte na sua cabeça, provavelmente na hora da queda a bateu em alguma pedra, então, aparentemente foi isso que causou a sua cegueira – Thaís disse enquanto Brenda chorava assustada.

— Então não tem volta? Eu vou ficar cega pra sempre? – O seu desespero estava me angustiando.

— Não tem como saber se você não se deixar ser examinada, e a única que pode te dar um diagnóstico é a Teresa. Então como é que vai ser? Você vai deixar ela te examinar e tentar achar uma solução pro seu problema ou vai continuar dando os seus pitis e ficar na escuridão pra sempre? – Thaís mais uma vez dizendo palavras doces para as pessoas.

Brenda não disse nada, então entendemos isso como uma permissão pra ser examinada. Teresa mais uma vez começou a verificar os seus olhos em silencio enquanto Thaís me fazia ameaças do outro lado da sala, demonstrando com as mãos as inúmeras formas de como poderia me matar, sem dizer uma única palavra. Ela realmente não era uma pessoa normal.

Após alguns minutos, Teresa começou a falar.

— Aparentemente você está com coágulos em ambas as pupilas e é por isso que não está enxergando.

— E isso quer dizer o que? Tem alguma coisa que possa ser feita? – Perguntei preocupado de que Brenda nunca mais fosse enxergar.

Teresa me olhou indiferente, realmente como se eu fosse alguém muito insignificante. Ela não respondeu a minha pergunta e voltou a sua atenção para Thaís.

— Eu preciso falar com Andrew e com a Ava antes de tomar alguma decisão – Ela estava preocupada, isso era visível – Eu já volto.

Ela saiu e eu sem pensar duas vezes fui atrás dela. Assim que viu que eu estava a seguindo, Teresa acelerou o passo, mas foi em vão.

— Da pra parar de me seguir? – Ela disse brava.

— Não. Nós precisamos conversar. Você entendeu tudo errado e eu quero esclarecer as coisas. Por favor, me escute, é importante – Disse segurando seu braço pra que não fugisse.

— O importante agora é o problema de Brenda. Thomas agora não é o momento mais apropriado pra conversarmos sobre nada. Eu tenho pressa. Preciso falar com Ava Paige pra tomar uma decisão antes que seja tarde demais.

— Seja tarde pra que?

— Se não agirmos rápido, Brenda pode ficar cega por definitivo e mesmo com todas as nossas desavenças, eu não quero que isso aconteça – Ela disse conseguindo se soltar de meu aperto e em seguido entrando em um cômodo que eu acreditava ser o quarto de Andrew.

Agora eu tinha absoluta certeza de que eu era um idiota por completo. Como eu pude duvidar dela tantas vezes assim? Ela jamais foi uma traidora, ela jamais quis o mal de alguém. Tudo o que ela fez e faz é pra ajudar o próximo, mesmo que pra isso as consequências sejam terríveis para si própria. Eu não tinha mais dúvida alguma de que Teresa Agnes é a pessoa mais altruísta que eu conheço.

Ela estava demorando muito pra sair daquele cômodo e então resolvi voltar para o laboratório. Brenda estava questionando Thaís sobre a nossa demora e está, estava sentada em uma poltrona nem dando ouvidos pra ela.

— Eu estou aqui, Brenda – Disse me aproximando dela e pegando em suas mãos.

— Que bom que voltaram, e ai, o que está acontecendo? Por que se tem que falar com Ava Paige?

— Eu não sei. Teresa se trancou em um quarto, provavelmente pra falar com ela. Não me deixou entrar – Disse um pouco envergonhado.

— Ela está no quarto do Andrew. Quando os dois se reúnem pra falar com a chanceler nem eu posso entrar, imagina você. – Ela disse isso enquanto olhava distraidamente pra pontas de seu cabelo. Essa garota sabia exatamente como provocar alguém.

Depois de algum tempo, Teresa voltou pra sala e a expressão de preocupação ainda continuava em seu rosto. Ia abrir a boca pra perguntar se ela estava bem, só que consegui ser ignorado bem antes disso acontecer. Ela passou por mim como eu não estivesse ali e foi falar com Brenda.

— Brenda, eu vou explicar o que está acontecendo e depois disse você vai ter que tomar uma decisão – Ela estava tentando ser o mais profissional possível.

— O que está acontecendo? Eu vou voltar a enxergar? – Brenda se desesperava de novo.

— Provavelmente você bateu a cabeça em alguma pedra quando caiu e isso vez com que se formassem coágulos de sangue dentro de suas pupilas.

— Mas coágulos podem ser retirados, não podem? – Thaís perguntou, também percebendo a tensão de Teresa.

— Sim se a cirurgia acontecer a tempo. Quanto mais tempo se demora, mais ele vai se solidificando nos olhos, até chegar ao ponto de não ter mais volta por ele ter corroído toda a retina.

Jamais pensei que algum dia iria ver a cena a seguir: Brenda, chorando, consegue achar as mãos de Teresa e lhe pede, ou melhor, lhe suplica socorro.

— Eu sei que nós nunca nos demos bem, mas, por favor, não me deixe ficar assim pra sempre. Me ajude. Você pode me operar, não pode?

— Brenda, eu juro que seu pudesse, te operaria agora mesmo, mas infelizmente não tem como. Não temos os materiais adequados, os medicamentos, o maquinário e eu não sou especialista nisso. Eu acabaria piorando a situação se tentasse te operar – Teresa falava com dor essas palavras. Ela realmente queria poder ajudar.

— Então não tem mais jeito. É isso? – Brenda soluçava de tanto chorar.

— Há uma alternativa, eu conversei com a chanceler e ela autorizou que você vá para a base do CRUEL fazer essa operação o mais rápido possível. Nós precisamos sair daqui hoje para que de tempo do Berg chegar lá a tempo de você ser tratada.

Todos ficamos surpreendidos com a notícia. Brenda parecia incrédula, Thaís pensativa e eu, bem, eu já não conseguia assimilar mais nada sobre isso.

— Digamos que eu aceite, como isso vai acontecer se o Berg está quebrado? – Brenda perguntou.

— Um dos guardas encontrou a peça que estava perdida há algumas horas atrás e ele foi correndo avisar ao Andrew.

Eu tinha certeza de que nesse pouco tempo que ficou longe, Teresa havia conseguido falar com Ava Paige, recuperar a peça ‘perdida’ e enganar o Andrew sobre isso. Ela se tornou a heroína mais uma vez em questão de minutos.

— Como eu vou ter certeza de que vocês não vão me deixar lá? De que o Berg vai voltar pra me trazer? – Brenda perguntou apreensiva e eu não tirava a razão dela. Confiava em Teresa, mas nos outros dois, não.

— Como eu já tinha previsto que você ficaria receosa sobre isso, fiz um acordo com Andrew. Ele vai deixar três guardas aqui como garantia de que você vai ser trazida de volta.

Assimilei tudo o que ela disse e cheguei à conclusão de que; primeiro: ela e o senhor perfeição iriam junto na viajem; segundo: Teresa não iria voltar mais, pois ela disse ‘você vai ser trazida de volta’ e não ‘nós vamos te trazer de volta’. Eu não podia deixar isso acontecer. Se ela partisse, eu nunca mais a veria. Nós nunca iríamos ter o nosso bebê. Eu seria infeliz pro resto da minha vida.

Precisava pensar em alguma solução. Eu precisava fazê-la ficar, o que era uma missão praticamente impossível, ou eu ir junto, o que não me agradava nem um pouco, mas mesmo assim decidi optar pela segunda alternativa. Sabia que ela não iria permitir minha ida tão fácil assim, então elaborei um plano que a deixaria sem saída.

— Deixar alguns guardas aqui não é garantia nenhuma, o CRUEL não perderia tempo em vir resgatá-los – Teresa me fuzilou com os olhos.

— Eu estou te dando minha palavra, Thomas, ela vai ser trazida de volta. Você não disse que confiava em mim?

— Em você eu confio. Eu não confio nos líderes do CRUEL, e lá, você não tem autoridade para desobedecer a uma ordem de Ava Paige. Se ela falar que o Berg não volta, você não vai poder fazer nada – Teresa não disse nada, pois sabia que era verdade – Então estou te propondo outro acordo, ao invés dos guardas, eu quero que a Thaís fique.

— O que? Você enlouqueceu seu merda? Da onde você tirou essa ideia idiota? Eu vou acabar com sua raça – Thaís veio em minha direção, possivelmente pra arrancar meus olhos. Sorte que Teresa a segurou a tempo.

— Não tem como deixar Thaís aqui – Ela disse, tentando segurar a garota que se debatia e falava palavrões direcionados a mim. Como uma pessoa tão pequena podia ter uma boca tão suja assim?

— Você faz tudo errado dessa sua vida de merda e eu que tenho que pagar o pato? Vai se ferrar otário. Vira homem primeiro pra depois vir querer tomar uma decisão. Ai se eu tivesse com minha arma aqui perto, teria atirado nisso que você chama de cabeça – Ela estava descontrolada, e eu torcendo pra que Teresa a estivesse segurando bem firme.

— Thaís, chega. Vai lá pra fora, você está muito alterada – Ela olhou pra amiga, tentando a acalmar – Você não vai ficar aqui, eu te dou minha palavra.

Com muita relutância, Thaís foi pra fora ainda me vingando.

— Tá vendo porque não posso deixá-la? Ela mataria todo mundo aqui antes do Berg voltar.

— Bem, então só tem uma solução. Eu vou junto. – Disse confiante.

— Nem pensar, você vai ficar e tomar conta da comunidade. Você é o líder aqui, não é? – Ela disse já apreensiva.

— Estou abaixo do Minho, então não tem problema.

— Eu quero que ele vá. Iria me sentir muito mais segura com Thomas perto de mim – Brenda se pronunciou. Admito que tinha até me esquecido que ela estava ali. Provavelmente os remédios que ela tomou para dor estavam fazendo efeito, pois ela estava bem sonolenta ou ao contrário Brenda também teria entrado na discussão.

— Está vendo, eu vou ser bem útil. Então você tem duas opções: ou a Thaís fica ou eu vou. O que vai escolher? – Disse orgulhoso de mim mesmo por deixá-la sem saída.

Claro que ela teria a opção de chutar o balde e decidir que não iria mais ajudar Brenda devia eu coloca-la na parede, mas como disse antes, Teresa é muito altruísta pra fazer isso. Por isso estou tão convicto assim.

— Você vai, mas é pra ficar de companhia pra Brenda. Eu não quero você arrumando confusão com ninguém do CRUEL, entendeu? Lá eles não pensariam duas vezes antes de te matar por alguma coisa imbecil que você disser.

Certifiquei-me de que Brenda estava dormindo pra falar o que eu realmente queria.

— Eu vou pra segurança de Brenda, mas principalmente pra poder ficar perto de você – Ela iria me interromper, mas eu não deixei – Escuta, você querendo ou não nós vamos conversar sobre NÓS dois e sobre o nosso futuro filho. Pois eu não vou desistir dele apenas por um mal entendido. Nós vamos ter esse bebê, Teresa Agnes.

— O que vai fazer, me obrigar? – Ela disse me encarando, pronta pra mais uma briga verbal.

— Jamais, mas eu tenho alguns dias pra te convencer de que é a coisa mais correta a se fazer, pelo mundo e pelo nosso amor. – Disse lhe roubando um selinho bem discreto.

E o ponto vai para Thomas. Teresa ficou sem saber o que fazer. Ela que antes estava na defensiva, agora estava sem reação, talvez não imaginando que eu fosse fazer aquilo. Totalmente sem graça, foi para longe de mim.

— Você tem duas horas pra arrumar suas coisas, enquanto isso vou falar com Gally, perguntar se aceita ir junto. Andrew acha que ele vai ser de grande serventia nos mostrando pela central os possíveis esconderijos do Braço Direito.

E assim ela me deixou sozinho na sala com uma Brenda totalmente adormecida, depois de um tempo resolvi ir fazer minhas malas, não sem antes ter certeza de que Thaís não estava me esperando do lado de fora com uma arma na mão.

Duas horas depois estava me despedindo dos meus amigos. Minho disse pra eu não me preocupar com nada no Paraíso e que esperava que realmente eu voltasse, Vanessa se agarrou em Teresa lhe fazendo jurar que voltaria ao menos para conhecer a sua menininha, Gally já estava dentro da nave, ele decidiu ir conosco, afirmando que ninguém conseguiria viver sem ele.

Assim que o Berg decolou, eu estava mais confiante do que nunca porque agora tinha absoluta certeza de que Teresa me queria ali. E sabe por quê? Na hora em que lhe propus a troca, ela poderia ter dito que Gally iria, que ele seria a garantia, mas não, ela preferiu ficar quieta e permitir que eu fosse junto.

Teresa Agnes me amava e mesmo sem dizer eu sabia que estava nos dando uma chance e dessa vez, eu não iria decepcioná-la.