Novamente Alice

Queen, Trevas & Luz


Alice


Aproximei-me de White e ele "desembainhou" a espada, neste momento uma voz soou no escuro:


—O bom filho a casa torna! - A voz era feminina e até um pouco perigosa, parecia espontânea e jovem, mas com uma frieza abominável, num instante as tochas foram se reacendendo uma a uma. — Será que devemos festejar?


Uma jovem que não devia ter mais que uns vinte anos foi revelada pela luz, era ruiva de olhos intensamente vermelhos e frios como o gelo, mas um gelo que poderia ter sido feito de sangue. Ela usava um vestido vermelho longo e rodado, totalmente luxuoso, com vários símbolos de copas desenhados de preto e bordas brancas, a tiara que usava era negra e seu sorriso me causou arrepios.


— Que... Quem é você? – Criei coragem e perguntei, ainda assimilando a aura negativa, ela pareceu me notar pela primeira vez.


— Ora! Não vai me apresentar a sua amiguinha? - Seu tom era de puro sarcasmo e como, obviamente, não houve resposta, ela prosseguiu: — Ai, coelhinho, o que eu faço com você? Pois deixe eu me apresentar... - Ela saiu de onde estava e andou com graça até perto de uma das celas. ao me encarar novamente, o sorriso sarcástico deu lugar a um sorriso feroz e o olhar frio se tornou um olhar assassino. — Mary Anne, este é meu nome, mas sabe... Ninguém me chama assim! Eu tenho um... Apelido. Pode adivinhar qual é?


Não era complicado supor, somente pelo olhar dela, seu tom de voz e sua pose ficava fácil, era o tipo de pessoa que acreditava ter o mundo em suas mãos.


—Vo...Você é a rainha de copas?


—Brilhante, minha jovem Alice! – Ela ergueu as sobrancelhas. —Ou achou que eu não saberia quem é você?


Ela era diferente de tudo o que vi até agora, eu tinha a impressão de que seu maior dom era despertar o pior de nós, como se ela sugasse tudo o que há de bom e deixasse o que há de ruim para trás.


— White... - Eu o chamei e ele me olhou como se tivesse acabado de voltar à realidade. — O que vamos fazer? - Sussurrei enquanto encarávamos a rainha.


— Eu cuido disso! - Ele disse voltando a vida.


— Mas... - Não me parecia justo deixa-lo com a pior parte de novo, mas ele já estava se aproximando dela.


— O que foi agora Anne? Cansou do luxo e veio dar um tempo no calabouço? - "Ele quer morrer", pensei, ela o encarou com raiva, mas depois sorriu respondeu ironicamente:


— Resolvi arrumar pessoalmente seu futuro lar coelho tonto.


— Ora! Não precisava se incomodar, eu já me ajeitei em outro canto.


— Não seja tolo, meu amado bichinho, outra prisão não seria como essa.


— Eu não ousaria roubar o seu futuro lar, Querida Mary Anne - White sorriu confiante e a rainha parecia querer fuzilá-lo com os olhos, mas logo se recompôs e sorriu exibindo dardos, daqueles joguinhos de mira eu acho, três em cada mão. — Ah... Então será assim agora! Quanta falta de hospitalidade Anne, Você não sabe mesmo ser uma boa anfitriã! - Ele mal acabou de falar e já apontou a espada para ela —Lute limpo e quem sabe eu posso facilitar um pouco - "Ele definitivamente esta querendo morrer", pensei.


Porém a rainha lançou três dos dardos, mas não nele, em mim!
Quando vi, eles já estavam bem perto, fechei os olhos e tentei fugir, mas eles estavam perto demais, só vi quando White me empurrou para trás, entrando na minha frente e pegando dois dardos com a mão direita e um com a esquerda. — É acho que não vou poder facilitar. - Ele murmurou, fingindo decepção.


— Não seja tão hostil, bobinho, lutas limpa não tem graça!
Ela gargalhava e lançava dardos atrás de dardos, eles surgiam um atrás do outro na mão dela, chegaria a ser fascinante se eu não fosse o alvo, tive sorte que White desviou todas com a espada, mas ainda assim tinha cada vez mais a impressão de que não seria suficiente.

— Oque foi? Esqueceu-se de como se luta? Ah! Por favor, coelho você é melhor do que isso!


— Cala essa boca! - Ele investiu contra a rainha, que desviou e fez surgir uma espada cor de vinho em sua mão, ela o atacou, mas White impediu que o acertasse, usando sua espada para defender.
— Oh! A magnifica Cristális, a espada feita de cristal celestial, usada por aqueles que dominam poderes celestiais! Até hoje não sei como conseguiu. Seria-me tão útil, mas fazer o que? Magia celestial é para poucos!
— E vejo que você dominou muito bem a magia das trevas, Vossa Majestade! – White parecia se controlar para não entrar em uma luta séria, seu olhar volta e meia se desviava para a cela. Mas por quê? Cada vez mais eu entendia menos tudo o que acontecia.


— Isso é verdade! - Ela sorriu maliciosa. — Sabe o melhor de tudo é o poder que ela tem sobre os outros, sobre este mundo... Veja você, sempre tão apático e frio, agindo assim, sem pensar, isso não normal querido.


— Eu vejo, vejo o que faz comigo, vi o que fez com seus inimigos, vi o que fez com minha irmã, vi o que fez em você e vi oque você fez neste mundo.


— Ah! Lebre, sempre tão preocupada, tão confusa e tão estressada! Tão fácil de ser manipulada. – Ela riu baixinho. — Um ótimo exemplo do que não precisamos nesse mundo, no meu mundo, este será o meu país das maravilhas, e receio que devo agradecer-lhe por dar um fim nela! - White a fuzilava com os olhos e eu também, como ela podia ser tão fria? — Oh! Mas coelhinho não se sinta mal, ela ia acabar sem cabeça mesmo. - White segurou a espada com mais força, pensei que ele fosse a atacar de vez, mas novamente ele se segurou. — Não vê que é inútil, essa luta, essa conversa, o que quer que faça, é inútil, quer uma prova?


— Dispenso! - White estava na defensiva e tanto ele como eu sabíamos que a pergunta dela havia sido retórica.


Ela apenas sorriu e ergueu a mão esquerda, fazendo surgir uma chave dourada, ao pegar a chave a rainha apontou para a cela que White tentou se aproximar antes. A rainha se aproximou da cela e entrou, White olhou para a cela em dúvida e eu fiz o mesmo, um segundo depois a rainha saiu com uma pessoa e a jogou no chão.


— Era isso que você procurava não é? Sinto muito, mas por enquanto só tenho um a lhe oferecer.


— O que você pretende? - White perguntou cauteloso.


— Ora! Vou dar uma motivação maior a sua amiga, veja Alice, não o reconhece? - Eu fixei bem o olhar na pessoa, ele parecia cansado e suas roupas estavam um pouco rasgadas, ele não conseguia nos encarar, era como se ele tivesse sido preso a anos, estava assustado, confuso, diferente, mas pude ver que se tratava do meu pai.


— Pai! - Estava prestes a correr para abraçá-lo quando White me impediu — White? Mas...


—É perigoso, ela é imprevisível, não vá! - Ele sussurrou e eu o encarei com lágrimas nos olhos.


— Agora, vou mostrar a vocês! - A rainha falou estalou os dedos fazendo o mesmo homem que nos atacou na minha casa aparecer.

— Ás!


— Majestade! - Ele se ajoelhou diante dela, com um pouco de má vontade, não era algo evidente, mas por um segundo senti uma pequena onda de raiva vinda dele.


— Levante-se! E mostre para eles que é inútil ir contra as minhas leis. - Ela nos lançou um olhar vazio e prosseguiu — Nada de ajudar criminosos a fugir - Eu a encarei assustada e ela sorriu ferozmente — Está vendo esse homem?


— Sim, majestade!


Então ela disse as únicas palavras que eu mais temia ouvir:


— Corte-lhe a cabeça!


Meu coração disparou e tudo começou a perder o foco, o homem não pareceu se abalar.


— Se é o que deseja!


Ás desembainhou uma espada negra e a ergueu, meu coração disparou e meu corpo já não me obedecia. Eu comecei a correr, senti que White tentou me impedir, mas naquele momento nem ele podia me parar.


— PAI! - Eu gritei quando o alcancei e o abracei.


— ALICE! - O grito de White é tudo o que me lembro de ter ouvido. E então não vi mais nada além de uma forte luz alcançar a todos, acho que White corria na minha direção, mas não sei direito, porque pouco tempo depois tudo escureceu.