Novamente Alice

Poder & Reencontros


Alice
Abri os olhos, sentindo a luz me incomodar, o céu azul acima de mim me fez deduzir que, obviamente, não estava mais no calabouço, ainda piscando os olhos comecei a me levantar, mas senti alguém me impedir:

— Calma mocinha, você já se esforçou demais! - Eu olhei para o lado vi o jardineiro de cabelos e olhos azuis e logo atrás os outros dois. Todos os três com olhares curiosos.

— Como-

— Você desmaiou e te trouxemos aqui! - White me interrompeu, aparecendo ao lado do jardineiro menor, ele parecia um pouco emburrado.

— White! O que aconteceu? - Mas ao invés de responder a minha pergunta, que pareceu irrita-lo, ele simplesmente virou a cara e se afastou um pouco de nós. — Ei!

— Não se preocupe... - Disse o Jardineiro de cabelo e olhos verdes e eu o encarei com dúvida, pude notar que o cabelo dele era um pouco mais ondulado do que o dos outros e que possuía alguns fios azuis perdidos por entre os verdes. —Ele apenas está chateado!

— Tá tudo bem, ele é assim mesmo, logo passa! - Disse o de cabelo verde e olhos azuis, este parecia sempre sorridente, seus olhos eram incrivelmente brilhantes, ele provavelmente deveria ter a minha idade.

— É isso ai, ele é teimoso, mas acredito que um dia ele supere isso. – O de cabelos e olhos azuis tinha um sorriso gentil, porem seus olhos pareciam transmitir uma enorme preocupação. — Ele estava preocupado mesmo, só que nunca vai admitir isso, é algo a ver com orgulho ferido.

— Eu ouvi isso, Loke! - White gritou de onde estava e o jardineiro apenas piscou pra mim.

— Mas alguém me diz oque aconteceu? – Tentei soar natural, ou o máximo possível.

— Você nos salvou - Uma voz respondeu atrás de mim, uma voz que eu conhecia muito bem. Em um primeiro momento pensei que estava sonhando acordada, mas a empolgação do jardineiro mais novo me provou que não estava ficando louca.

—Olha pra trás! Olha! – Ele pediu, saltitando, o mais velho acabou tendo que segura-lo para que ele não pulasse mais.

— Você foi incrível, filha!


Eu me levantei e me virei, sentindo algumas lágrimas caírem sem permissão, meu pai sorriu de um jeito doce e ergueu os braços, sem pensar em mais nada eu apenas corri para abraçá-lo.

— Estava preocupado com você. – Ele murmurou, afagando meu cabelo, eu apenas o abracei mais forte. — Mas acho que você esta mais do que bem não é mesmo?

— Não diga bobagens. – Resmunguei e ele sorriu. —Pensei que não te veria mais, fiquei com medo. – Admiti, sem me preocupar se outras pessoas estavam vendo.

—Que lindo! Cinne me abraça? – Ouvi a voz do jardineiro mais novo.

—Eu não!

—Loke?

—Certo! Certo! – O mais velho resmungou e ouvi a risada do meu pai.

Afastei-me um pouco, ainda sorrindo, olhei nos olhos do meu pai e meu sorriso aumentou, quanto tempo fazia que não olhava assim nos olhos dele?

Desviei o olhar para o jardim ao redor, era bem bonito, muitas flores pequenas e coloridas o enfeitavam e ele estava completamente vazio, meu olhar passou por tudo e parou em White, ele me encarou por um segundo e logo desviou.

Me lembrei então do que ele havia dito mais cedo sobre não ter mais uma família ou uma casa para voltar. E ainda assim ele estava ali, me ajudando a reencontrar minha família e me ajudando a voltar pra casa.

—Está tudo bem filha?

Voltei minha atenção ao meu pai e sorri. —Sim, aliás, que história é essa de eu salvei? Eu sou inútil, não salvo nem a mim mesma.

—Nossa que direta! – Um dos jardineiros comentou, eu apenas o encarei e dei de ombros.

—Sou realista! Se isso fosse um conto de fadas eu seria a princesa que fica presa no castelo. – Parei um instante e devo ter feito uma careta, porque todos começaram a rir. —Ai não... Que horror esperar numa torre. Pai? Me da uma espada?

— De qualquer forma... – Meu pai parecia tentar não rir. —Eu também não entendi, só sei que quando você me abraçou uma forte luz invadiu aquele lugar, eu não sei como, mas você nos salvou!

Fiquei o encarando por um tempo, depois olhei para os outros, que pareciam levar o assunto a serio. —Eu- Mas antes de terminar eu mesma acabei me interrompendo com uma crise de risos. —Céus... – Consegui dizer, me apoiando no meu pai. —Eu nem... Eu não salvo nem... – Estava ficando sem ár.

— Certo a gente já entendeu! - White reclamou, se aproximando do suposto Loke, eu tive que respirar fundo algumas vezes. — Depois de tudo isso que seu pai te contou, Ann- Ele se interrompeu, mas logo continuou — A rainha de copas e o Ás sumiram e nós decidimos sair de lá antes que eles voltassem.

— Saíram sem ser vistos? - Perguntei e dessa vez foi meu pai quem respondeu:

— Por algum motivo não havia mais tantos guardas no caminho!

— Então nós reparamos que algo estava estranho, todos na cozinha estavam com cara de enterro, não entendemos oque aconteceu... - Começou o jardineiro mais novo, montando um bico. — Como sempre somos os últimos a perceber tudo.

— E então foi quando notamos que vocês estavam saindo da cozinha e resolvemos ajudar. - Prosseguiu o jardineiro de cabelo e olhos azuis.

— Obrigada é... - Só então que eu lembrei que nem sequer os conhecia, céus era desastrosamente vergonhoso ter uma crise de risos frente a estranhos. Pensar novamente nas palavras do meu pai me fez querer rir novamente, mas, por sorte, parecendo ler minha mente o mais velho exclamou:

— Eu sou Loke! - "Como eu suspeitava".

— Eu sou Cinne - Disse o de cabelo e olhos verdes.

— E eu sou Tolke - Completou o de cabelo verde e olhos azuis.

— Ah! Prazer eu sou...

— Alice! - Os três disseram em coro e eu ri um pouco.

— Alice do que você se lembra? - White me perguntou e eu comecei a pensar:

— Bem eu também não entendo o que aconteceu direito, só sei que quando ele ergueu aquela espada, meu corpo se encheu de energia ou algo tipo e eu perdi o controle, não me lembro de te começado a correr, só lembro de abraçar o meu pai, e bem... Eu senti como se a energia estivesse transbordando de mim e então uma luz forte surgiu e ai eu me senti fraca e acho que desmaiei. - Eu respondi um pouco pensativa.

— Ótimo, nada que já não soubéssemos! -White concluiu me encarando fixamente e novamente tive aquela vontade ligeira de chuta-lo de um lugar bem alto só que dessa vez ao som de uma bela sinfonia gótica.

— Será que... -Começou Loke fazendo com que eu voltasse minha atenção a ele.

— Essa Alice pode usar... - Continuou Cinne apontando o dedo para mim.

— Magia? - Concluiu Tolke animado, pra variar, esse menino parecia ligado em uma fonte infinita de energia.

— Ma... Magia, eu? - Perguntei novamente querendo rir.

— É possível! - White concordou.

— Mas... Eu?

— Bem... Alice sempre foi mesmo especial! - Disse meu pai, antes de começar a lembrar do passado e entrar em seu próprio país das maravilhas.

— Magia do coração talvez... Celeste? - Refletiu Loke.

— Considerando a situação em que estávamos, pode até ser! - Concordou White.

— Magia do coração? O que é isso? Pensei que toda magia viesse do coração. E vem, não vem? - Perguntei.

— Sim, mas nem sempre no mesmo sentido. - Respondeu Cinne.

— Como assim? Quer saber não importa!

— Mas que tipo de magia do coração estaria falando? - Perguntou Loke aos outros, me ignorando completamente.

— Magia do amor? - Tolke supôs.

— Amor? É talvez o Amor pela família tenha liberado a magia! - Considerou Cinne!

— Ei gente, vocês estão mesmo considerando essa possibilidade? - Perguntei, mas fui ignorada de novo — Vou considerar isso como um sim então. - Disse desanimada enquanto eles seguiam discutindo as possibilidades do meu "poder".

Eles prosseguiram falando e eu apenas permaneci parada, olhando para os passarinhos que voavam, um era colorido, outro era azul, comecei a segui-los com os olhos, até sumirem. Então me sentei novamente no banco e comecei a imaginar qualquer coisa abstrata.

Será que meu cabelo estava muito embolado?

Meu sapato estava me incomodando, preciso de um novo.

Para onde os passarinhos foram?

—Alice?

—Que? – Voltei a realidade, focando em Cinne dessa vez.

— Vamos sair daqui! - White disse ainda de costas e saiu andando. — Vamos levar seu pai a alguém que possa cuidar dele.

— Quem? - Perguntei o acompanhando e puxando meu pai junto.

— Até a Duquesa!

— Duquesa?

— Tchau Alice - Se despediu Loke sorrindo e acenando para mim, eu acenei em despedida e os três voltaram a seus afazeres de sempre, queria conhece-los melhor, mas entendia que esse não era o melhor momento.

— White, quem é essa duquesa? - Perguntei quando nos afastamos do jardim.

— Uma aliada, na verdade tá mais para uma comandante.

— Comandante?

— É uma longa história, mas o que importa agora é que precisamos da ajuda dela.
— Entendo.
— Mas essa duquesa é mesmo de confiança? - Perguntou meu pai.

— Claro que sim, eu acho... - White respondeu um pouco pensativo.

— Como assim? - Eu perguntei revoltada e ele apenas deu de ombros e respondeu:

— Ora, ela é nossa melhor opção certo! Eu não posso fazer nada se nunca sei quando ela está de bom humor, ela muda do nada sabe! Talvez isso seja mal de mulher, mas ela ás vezes se irrita e especialmente comigo, não sei ué, ela me assusta. - Ele disse indignado, sussurrando a ultima parte e eu tive que me controlar pra não cair na risada, nunca esperei ouvir essas palavras dele, depois de um tempo ele suspirou se acalmando.— Agora Dr. Henrique preciso saber aonde estão os outros que os soldados trouxeram com você?

— É verdade pai, cadê o tio Marcos e a Judith?

— Eu... Eu não sei direito, só me lembro que aqueles homens invadiram um pouco depois que você saiu e então eles levaram sua mãe para fora da casa e eu corri até eles, alguns tentaram me impedir mas Marcos me ajudou, ele sempre foi bom de luta, então eu sai, mas era tarde de mais, ela.. ela já- Ele estava a ponto de chorar e nós paramos de andar, eu o abracei, sei que isso não dava fim a dor, mas era tudo que eu podia fazer.

— Eu sei pai, não precisa falar mais nada - Eu disse enquanto ainda o abraçava, ele me olhou e abriu um pequeno e triste sorriso, depois encarou White, que até agora apenas nos observava.

— Eu percebi que os homens ainda não haviam me notado então voltei para dentro, mas Marcos e Judith já tinham sido levados e não havia mais ninguém, eu fiquei perdido e me distrai, por isso não vi os outros soldados se aproximarem e me prenderem, depois disso só me lembro de acordar naquela cela escura.

— Entendo... Talvez eles estejam presos em alguma cela no quarto da rainha.

— Espera... A rainha tem celas em seu quarto? - Perguntei tentando imaginar a cena, White me olhou com cara de nada e respondeu:

— Sim, para poder vê-los sofrer dia e noite, sabe, ela ama ver os outros sofrer então os deixa sempre por perto. - Eu estava aterrorizada com a ideia, não conseguia em pensar que alguém que possa ser assim, mesmo sendo ela e o pior aquele coelho infeliz falava como se fosse algo normal.

— Nossa... Isso... - Eu comecei, mas sinceramente não sabia oque dizer sobre aquilo.

— Bem, mas de qualquer forma vamos andando, temos que chegar o mais rápido possível e não temos todo tempo do mundo - White nos apressou me fazendo voltar realidade.

— Tá, mas aonde vamos achar essa duquesa?

— Não faço a mínima ideia! - Ele respondeu normalmente.

— O QUE? - Eu gritei e ele apenas deu de ombros, voltando a andar na nossa frente — Ei! Espera, explica isso direito! - Mas ele simplesmente fingia que não me ouvia e me ignorava — WHITE! - "Coelho maldito!"