Nova Vida,Novos Sentimentos

Primeiro dia,primeira angústia


Axl me deu um beijo na testa, e ajeitando os cabelos ruivos disse:

– Se cuida hein,Frances.Não vai bater a cara em nenhum mural de avisos, e se você der mole pra algum urubu eu vou cair na porrada. – ele riu.

– Fica sussa Axl,eu já tenho 15 anos,bobão. – Ergui as sobrancelhas,tentando irritá-lo.

Ele porém,nem ligou,mal viu um rabo de saia e já saiu a abordando,perguntando com uma falsa inocência aonde ficava sua sala.

Suspirei, e disse alto.Bom,alto o bastante pro Kurt e uns outros muleques ouvirem.

–Infelizmente irmão a gente não escolhe né...bendita árvore genealógica-eu ri, e olhei para os olhos azuis aguniçados de Kurt.

–Vai Frances,não adianta rogar e fazer reza braba pra despachar seus irmãos queridos,nós vamos estar sempre por perto. – Kurt disse,rindo e bagunçando meu cabelo, o que me irrita muito. – Mas,vamos lá que a gente ainda tem que descobrir onde é nossa sala.

Andamos pelos corredores,lotados de olhos inquietos,nos encarando.

Haviam jovens de todos os tipos. Magrelos,obesos,asiáticos,patricinhas,cristãos,tão fiéis que tinham bíblias embaixo dos braços.

Mas,me parecia que todos eram iguais em uma coisa:futilidade.

“Será mesmo que eu vou conseguir me adaptar aqui?” Era tudo o que eu conseguia pensar.

A forma que as líderes de torcida paqueravam Kurt era incrivelmente tonta. Na verdade,não sei se posso usar o termo “paquerar”, era mais uma insinuação.

Por sorte,Kurt não liga para essas coisas,ele apenas sorriu. Finalmente,depois de diversas encaradas, e alguns comentários do tipo

“Rapaz,quem são esses dois?Devem ser novatos.” “Hmmmm,mas que pitéu.” E por incrível que pareça, “Nossa,que gata.” O que eu acho que não era para mim.

Conseguimos achar o mapa da escola, onde mostrava,para nossa sorte, a sala do primeiro ano, que ficava no corredor á direita em que estávamos.

–Frances...fedeu fétidamente. – Kurt olhou para mim, e pela gíria alienada, logo vi que coisa boa não era. Com o olhar desapontado,suspirou e continuou.- Tem duas salas do primeiro ano. E pelos meus cálculos,alías,pela informação aqui dos alunos,eu tô em uma e você em outra.

“VISHI,AGORA JÁ ERA. TO SEPARADA DA UNICA PESSOA QUE CONHEÇO NA ESCOLA.”

Pensei, e tive que falar quase a mesma coisa.-Kurt,já elvis – Usei a pior gíria que encontrei.

– Mas tudo bem, eu vou ficar bem,a gente se vê ás 10,no intervalo.Tchau brother. – Eu ri, brincando com ele, e abanando uma de minhas mãos.

Ao pousar minha mão na maçaneta, senti meu coração quase sair pela boca. Suspirei pesadamente, fechei os olhos por um instante,juntei a coragem, e entrei.

Não fiquei tão surpresa ao ver um professor,de uns 40 anos de idade,pançudo, com óculos,o qual a armação era imensa, me olhar e sorrir.

– Você deve ser...Kurt Warner?

KURT????? RAPAZ,ESSE PROFESSOR PRECISA DAR UMA OLHADINHA NO DICIONÁRIO DE NOMES.

Me contive pra não rir, e respondi,apertando com força minha mochila.

–Não...esse é meu irmão.Eu sou Frances Warner. –tentei não corar,mas foi impossível.

Após uma avalanche de risadas da classe inteira, o professor se desculpou, e disse que eu poderia me sentar.

Enquanto caminhava para o fundo da sala, observei com cautela o resto da classe, que me fitava sem desgrudar os olhos.

Nenhum daquela classe me chamou a atenção,todos eram como imaginei: Loiras siliconadas passando maquiagem,jogadores de futebol americano com músculos de touro,que faziam uns comentários sobre mim não muito agradáveis,nerds excluídos no canto da sala, e..

.Assim que me sentei,peguei um livro e comecei a fingir que estava lendo,pois não queria que as pessoas da sala me vissem corada,sendo que ainda não haviam desgrudado seus olhos de mim.

Ouvi um barulho que vinha da porta.

“Salva pelo gongo.” –Pensei.

Alguém tinha chegado atrasado. E esse alguém me fez levantar a cabeça,e esquecer os olhos inquietos que me fitavam. Assim que ele entrou,o professor franziu a testa,e fez um gesto que reprimiu o comportamento do aluno que acabara de chegar

–Bonito,hein,senhor Brian?-O professor disse, se referindo ao jovem.- Um ano inteiro chegando atrasado,não basta? Vai ficar depois da aula,pra ver se aprende a se comportar como gente.

Não entendi porque o professor agiu desta forma,por causa de um simples atraso.Mas,permaneci calada.

O menino mal ligou para o que o professor disse, e balbuciou alguns resmungos que eu pude compreender com clareza.Leitura de lábios é comigo mesmo.

“Maldito professor.Quero ver quando mandarem esse babaca embora.Despresível.” Ele olhou para o chão e pronunciou mais alguns xingamentos, que mais pareciam macumba.

Encarei o menino sem ligar se ele estava percebendo ou não.Ele era magrelo, tinha os cabelos longos e negros, e um piercing nos lábios. Não consegui ver a cor dos olhos direito,mas pareciam castanhos.

Olhos por sinal,muito rápidos,pois quando fui encarar seu rosto novamente, deparei-me com o mesmo me encarando de forma brutal.

Corei, e ele nada demonstrou. Apenas sentou na carteira ao lado da minha,e penteou o cabelo com as mãos,olhando para o nada.

Algo me chamou a atenção naquele menino.Ele parecia diferente.Ele era curioso,e atormentado também.A aula mal havia começado, e já tinham valentões jogando papéis nele,e até alguns pregos.

Ele,nada fazia,apenas olhava para baixo,ou para o nada, e anotava algumas coisas em seu caderno.Pareciam...poemas ou letras de música.

Parei de encará-lo, e comecei a anotar as coisas que o professor ditava.

Quando vi, havia um bilhete dentro de meu caderno.“Gata, você é muito sexy, quer comer comigo no intervalo?” Aquelas palavras soaram para mim,como piada.Eu ri sozinha, e olhei para trás, a procura de quem tinha escrito aquilo.

Não foi difícil achar o autor do bilhete.Era um loiro,musculoso,de pele bronzeada e olhos verdes. Ele piscou para mim, e apontou para o bilhete,levantando uma das sobrancelhas.

“Mal começou o dia e já vem uma coisa de louco dessas.” Pensei, enquanto fiz um gesto que mostrava um “depois a gente conversa.” Mas pra mim,era mais um “nunca te vi na vida e estou com medo”.