–Acho que mudei de ideia.

– Não, você vai gostar, prometo.

–Ah, não vou, não.

–Você mesma disse que não queria o portal. - diz Jack.

–E você acha que isso vai ser melhor que o portal?

– Eu não acho, eu tenho certeza. - Jack diz.

Um trenó puxado por inúmeras renas, sai de dentro de duas portas gigantes.

Não, não é um trenó, esse era o trenó. O melhor trenó que eu já vi no mundo.

O trenó do papai noel não é tão velho quanto eu pensava afinal.

–Tá, só uma voltinha - digo maravilhada.

–Ha Ha, todos gostam do meu trenó. - Norte diz enquanto entramos e nos acomodamos. - Melhor apertarem os cintos.

–Pera, cadê os cintos? - pergunto procurando desesperada.

–É só uma expressão - ele diz rindo e chicoteando a corda que puxa as renas, fazendo com que elas comecem a andar super rápido. Estamos muito rápido mesmo.

E voamos.

Me seguro em tudo que consigo, no caso o banco, arranhando ele. Até ver que não era bem o banco que eu estava arranhando, Jack estava do meu lado e eu cravava as unhas em seu braço.

Soltei imediatamente, ele já tinha gritado, mas com o vento eu não havia escutado. Me sinto um pouco culpada ao ver que doeu, mas ele não se importou muito, logo passou um de seus braços por mim e me segurou até que o trenó estivesse parado.

E onde paramos? Eu também não sei.

Um lugar rosa?

Assim pode talvez ser descrito esse mundo desconhecido.

Norte volta pro... Norte. Polo norte. E nós nos encaminhamos até um dos inúmeros castelos rosas, azul e dourado.

–Jack, onde estamos?

Mal pude terminar minha pergunta e uma coisa colorida passou voando por mim e abraçou Jack.

–Jack! - era a fada dos dentes.

Ele não precisava nem dizer, dava pra perceber, ela tinha asas e parecia um beija-flor, mas o rosto era de garota com olhos violeta e cílios da mesma cor, até bonitinha.

Ela começou a mexer nos dentes de Jack.

–Fada, por favor - ele tentava falar.

–Ai, sempre tão limpinhos, não é mesmo meninas? - Algumas mini fada dos dentes apareceram, bem pequenas, do tamanho da palma da minha mão. Eram a versão da fada, só que bem menor.

Elas assentiam com a cabeça e voavam em volta de Jack, principalmente uma pequininha.

–Fadinha! - disse jack feliz a abraçando com as palmas da mão. - senti saudades.

A fada do dente esperou eles se abraçarem, sorriu e apoiou uma das mãos em seu ombro. Ela estava flutuando.

–Você nunca mais me visitou, desde pitch que não te vejo - ela pareceu um pouco abalada.

–Me desculpe Fada, eu precisava cuidar da Anna e aí...

–Ah, que linda a Anna, tão adorável, - ela faz uma posição sonhadora - os dentes dela são tão brancos também, a tempos não vejo seus dentes, ela já deve ter ficado grande e...

–Fada - Jack a interrompeu.

–Ah sim, desculpe, de novo meu ataque dos dentes.– ela fala fazendo movimentos de aspas em seus dedos.

–Não é isso, - jack sorriu - é que preciso te apresentar... - ele fala e acena para que eu me aproxime, só agora ela parece me notar.

–Olá. - Ela diz e seu sorriso murcha um pouco, quase imperceptível na verdade.

–Oi. - Digo, nem me esforço em sorrir. Por mais que eu queira.

–Bem, fada essa é a Elsa, Elsa essa é a fada dos dentes.

–Lembro de você, deu um trabalho pra minhas fadinhas porque seu travesseiro era sempre gelado. - ela fala sorrindo e virando um pouco a cabeça como um cachorrinho pedindo comida.

–É, talvez eu tenha um problema relacionado a gelo, desculpa. - falei sem mudar de expressão.

–Você é igual ao Jack Frost, eu sei disso. - ela continua sorrindo.

–Como você... - franzo a testa, então lembro do cilindro. - o cilindro...

–O que tem o cilindro?, - ela faz sorri mas vejo preocupação em seus olhos.- eu tenho o seu cilindro - ela fala e olha para Jack como se tentasse entender algo, depois para mim. - mas... por que você... - ela abre e fecha a boca como se quisesse falar algo, mas desiste. - por que veio até aqui?

– Preciso ver meu cilindro, preciso ver meu passado.

Ela olha para o chão mais preocupada. - Eu sei o seu passado mas... - Fada franze a testa e encara Jack - No que você estava pensando Jack? - ela diz de forma chorosa - Não sabe que isso não é uma boa ideia? Elsa, - ela se vira pra falar comigo - O cilindro não vai lhe dar todas as respostas, e pode interferir em seu futuro e...

–Não ligo, eu preciso entender meus pesadelos e lembrar quem está neles.

–Esse é o problema. - ela morde o lábio inferior. - Vai por mim, você não vai querer ver quem está em seus pesadelos.

–Mas por que não? - estou elevando minha voz um pouco agora e todos os cantos ao meu redor estão congelando.

Ela para de flutuar e fica em pé na minha frente.

Olha para mim com aqueles olhos cor de violeta, Jack poderia facilmente ter se apaixonado por ela, acho que o sentimento seria recíproco se assim fosse. Pensar nisso dói.

–Porque ver esse cilindro pode significar duas coisas, - ela fala calmamente com a mão em meu ombro - Paz...ou destruição. Se você lembrar, - ela olha bem nos meus olhos - você irá acreditar, e não é isso que queremos.

Relaxo um pouco mas só aparentemente, perco o fôlego e minha cabeça está a mil, penso em tudo ao mesmo tempo e não acho resposta, olho para o chão revistando tudo por onde o gelo já havia se propagado.

Por que eu não deveria acreditar? E mais, acreditar no que? Em quem?

–Eu não quero... - falo grossa - ter mais pesadelos, quero saber como fiquei assim, se nasci assim - impino meu nariz um pouco - preciso ver meu cilindro.

–Elsa - Jack fala e pega na minha mão, me puxando. - Eu gostaria de falar com você, antes de você ver seu cilindro. - ele está sério.

Continuo encarando a fada, e não sei porquê, mas acabo deixando uma lágrima escapar, de súbito meu coração congelado dói, e um calafrio percorre minha espinha. Algo ruim.

A fada quer mesmo meu bem, mas ao mesmo tempo, isso irá me fazer mal.

Preciso do cilindro.

"Não deixe que a vejam chorando, seja a boa menina que sempre precisou ser."

Mas por que? Por que tinha que ser a boa menina? Por que fui a única da família a nascer assim? Jack Frost teve que morrer pra ser guardião do gelo, eu não, eu nunca fui normal.

A escuridão sempre me acha no momento que eu mais preciso da luz.

Me vejo sendo guiada por uma infinidade de azul e rosa em direção a um bosque verde, por uma mão gelada.

Uma mão que até poucos dias era desconhecida, e que agora se tornou o meu único ponto de apoio.

E o único que eu queria ter como um porto seguro.

Onde eu possa descansar sem sentir medo.

~•~