Pov. Hiccup

~Muitos minutos depois do beijo. Em sua casa~

Eu acho que é assim que eu deveria me sentir, nós não nos falamos mais, não nos falamos. O universo virou um furacão.

Mas eu não consigo parar de pensar em nós.

Não consigo desver aquele beijo, não consigo desver Astrid não me reconhecendo. E não consigo desvê-la me rejeitando. Eu nunca me senti confortável com o seu silêncio, mas eu não a escuto mais em lugar nenhum. Tudo acabou mesmo?

Eu queria que o vento trouxesse alguma mudança, alguma mudança boa, que pudesse me tirar do fundo do poço.

Astrid sumiu assim como minha paciência com tudo que está acontecendo, sinceramente, bem que minha mãe avisou...

Minha mãe.

Eu deveria ter ido visitá-la há muito tempo atrás, mas que idiota e sem coração fui. Eu já perdi meu pai e agora, mesmo com minha mãe viva, sinto que a estou perdendo também.

Eu não quero perdê-la, ela é minha mãe.

Minha mãe, a única certeza que tenho nesse mundo de medos e receios gigantescos. Ela é minha única certeza.

E eu não fui visitá-la.

~~~

Entrei pela porta do hospital, que não era bem um hospital, nós Vikings não precisávamos disso, tanto que Flynn foi parar no sofá da minha casa mesmo desacordado. Nós somos assim.

Mas minha mãe não estava comigo em casa, ela estava ali, naquela casa improvisada, sozinha.

Era raro alguém ir para lá, mas pelo que eu soube por Bocão, sua cabeça não estava bem ainda para que voltasse para casa. Mas ela, querendo ou não, era a mulher do chefão. Do meu pai...

Bocão tinha medo de que ela surtasse.

E ele estava certo, se ela estivesse lá fora no momento em que a neblina os atingiu, ela teria enlouquecido de vez e eu não sei se eu conseguiria suportar perdê-la também.

Minha mãe estava lá, em uma cama branca, coberta pelos lençóis que pareciam transmitir um pouco de cada alma que já havia deitado ali e de cada alma que não havia saído viva.

Pare de pensar, Hiccup, pare.

Para ela eu sempre serei seu pequeno Soluço. E isso me conforta. Crescer não é tão bom quanto eu pensava.

–Mãe? - chamo-a. Ela estava de olhos fechados e seus punhos estavam cerrados, mas ela parecia em paz - Mãe? - chamo-a novamente, indo para perto da cama.

Seus olhos mexem-se um pouco e ela respira, como se estivesse guardando a respiração para depois. Aquilo me assusta.

–Filho? - ela ainda não abriu os olhos - é você mesmo?

–Sou eu, mãe...

Ela sorri, em alívio e abre os olhos devagar, mas está olhando para frente, não para mim.

–Eu não posso te ver. - ela baixa os olhos.

–Se quiser eu vou mais pra frente e...

–Não, filho... Eu não consigo ver nada. - encaro-a, seus olhos pareciam normais.

–Mãe, para de brincar comigo. É sério.

Ela suspira fundo, uma pequena lágrima começa a rolar por sua bochecha, ela procura minha mão com a dela e eu a seguro.

–Eu não sei como aconteceu, meu amor - ela direciona seus olhos para o teto. - tudo o que vejo é a neblina branca, que cobre minha visão, não importa o quanto eu mexa meus olhos.

–Não fala isso, mãe - comecei a me desesperar - Céus mãe, não fala isso, é mentira...

–Soluço - ela agarra minha mão com mais força para que eu me acalme, há liderança em sua voz - não é mentira, você precisa acreditar em mim e precisa achar algo por mim.

–Como assim? - chego mais perto dela.

–Soluço, minha cegueira é psicológica, estão usando minha mente, eles estão me controlando. - ela aperta mais minha mão e esta começa a doer com sua força - E eles usaram minha mente para me atingir, não querem que eu leia... Ele não quer que eu leia...

–Ler o que? - pergunto, talvez alto demais, mas nesse ponto não consigo nem me ouvir mais. - eles estão te controlando? Eles quem?

–E... - sua voz falhou antes mesmo de começar. - Não posso lhe falar, filho, ela está me vigiando, mentalmente. Eu não posso fugir da minha própria mente. Leia o livro, Soluço.

–Qual livro? Mãe, você precisa me dizer! Eu preciso te ajudar! - eu estava implorando. Seus olhos eram apenas grandes órbitas esverdeadas, e só, agora que eu os observei bem.

Não havia um pingo de vida neles.

–Pode ao menos me dizer aonde está, mãe? - imploro, já sentindo meus olhos marejarem.

Ela respirou fundo.

–Dentro do seu coração, há algo em que você depositaria toda a sua confiança. - Ela segura minha mão mais forte e me puxa para mais perto, sussurrando - E em meu coração há um lugar que eu depositaria minha confiança, esse lugar nunca foi Berk. O livro, meu amor, está entre nós dois.

–Entre nós dois... - paro um pouco raciocinando, é claro! - Sua caverna! Mas... Eu não consigo mais chegar lá, nem com os dragões, nem com o mapa, não dá.

–Então acho que você precisará de ajuda. - ela sorri e uma ideia ilumina minha cabeça.