Not Strong Enough

Capítulo Dezessete


Capítulo Dezessete

– Cameron, você pode me ajudar? – Novamente, ouvi uma voz enjoada murmurar, interrompendo mais uma vez Cameron e eu que falávamos qualquer besteira referente ao nosso futuro.

Constatei rapidamente se tratar de Valerie.

Ele grunhiu.

– Não poderia pedir para o Thomaz? – Indagou o rapaz ao meu lado, falhando ao tentar tirar a pontada seca de sua fala.

Através de uma fresta aberta na barraca, vi Valerie olhar-nos contrariada.

– Cameron... – Ela voltou a falar.

– Vai de uma vez! Se eu escutar a voz dessa vadia de novo, juro que pulo no pescoço dela e arranco as cordas vocais – sibilei, enterrando minha cabeça no travesseiro, porém ainda parecia que a voz daquela garota ricocheteava em meu crânio, arranhando meu cérebro e torturando-me aos poucos.

Ele riu.

– Eu já volto – murmurou Cameron roçando seus lábios nos meus instantes antes de sair da barraca.

Ouvi os passos dos dois se distanciando aos poucos, enquanto murmuravam frases que não me importei em prestar atenção.

Olhei o visor do meu telefone. Eram quase três horas da manhã. Eu ainda sentia-me aterrorizada com o incidente com a maldita cobra em minha barraca – da qual nunca mais poria meus pés - e fazia cerca de meia hora que eu tentava dormir, porém sem muito sucesso, pois à cada cinco minutos ou Valerie ou Katherine, ou ambas, vinham até aqui para pedir a ajuda de Cameron para qualquer coisa trivial. E as vozes daquelas garotas me davam nos nervos!

Aconcheguei-me mais no travesseiro, sentindo minha cabeça latejar enquanto o perfume de Cameron invadia meus sentidos. Deixei-me fechar os olhos, sentindo cada vez mais meu corpo desligar-se da realidade. Tudo o que eu queria agora era dormir por algumas horas.

...~{[...]}~...

Braços quentes me rodeavam possessivamente, infiltrados por dentro dos meus enquanto mãos seguravam meus dedos, prendendo-me ao corpo que ainda dormia.

Eu me sentia acordando aos poucos, naquele estado de semiconsciência onde temos noção de tudo ao nosso redor, porém ainda não sentimo-nos despertos o suficiente para sequer abrir os olhos. Senti algo se mexendo ao meu lado, e logo beijos sendo distribuídos na parte exposta de meu pescoço.

Com muito sacrifício, abri meus olhos, dando de cara com dois orbes azuis esverdeadas me encarando. Instantaneamente sorri.

– Bom dia – murmurei ainda sonolenta.

– Bom dia – disse ele no mesmo tom, somente encostando seus lábios nos meus do modo mais suave que podia imaginar.

Naquele momento, sentia-me como uma boba apaixonada em um patético clichê americano de filmes adolescentes. Ri com o pensamento.

Separei-me de Cameron à contragosto.

– Tenho que ir escovar os dentes – avisei, encaminhando-me em direção à porta da barraca, pronta pra sair.

Cameron fez um bico com os lábios, olhando-me com os olhos pedintes para que eu ficasse.

Ri.

– Não se preocupe, eu já volto. – Pisquei, e antes que eu pudesse mudar de ideia vendo o olhar que ele me lançava, simplesmente lancei-me para fora da barraca de Lucy, sendo recebida pela brisa gelada da manhã.

Lentamente caminhei em direção às minhas malas, que, por sorte, havia deixado do lado de fora de minha barraca na noite anterior para que Cameron e eu dormíssemos mais confortáveis, antes de toda àquela confusão começar.

Peguei minha escova de dente e o enxaguante bucal na mala, fora algumas peças de roupas e coisas de higiene pessoal, e quando estava prestes à fechar a mala, mudei de ideia. Olhando ao meu redor, vi que todos ainda dormiam e instantaneamente sorri para o nada.

As tietes da Meredith me pagariam.

Tranquilamente, com a cara mais inocente do mundo, caminhei em direção à uma barraca rosa-shocking, abrindo apenas uma fresta dela para ter certeza que ali dormiam Katherine e Valerie. Sorri sozinha, enquanto jogava uma daquelas tenebrosas aranhas de plástico dentro da barraca das duas e logo após utilizava um tubinho daquelas colas instantâneas para lacrar o zíper da barraca.

E isso era ainda apenas o começo. Elas ainda me pagariam por terem colocado uma cobra em minha barraca na noite anterior.

Como se nada tivesse acontecido, peguei minhas coisas e encaminhei-me até o banheiro de um quiosque aparentemente abandonado que Lucy e eu havíamos achado no dia anterior, do qual tivemos de limpá-lo e agora estava em condições de uso. Rapidamente escovei os dentes, penteando meu cabelo em seguida e trocando de roupa, vestindo um short jeans com a barra desfiada e uma camiseta preta do Guns N’ Roses, e como estava com uma brisa ainda gelada, joguei uma camisa de flanela quadriculada vermelha por sobre o corpo.

Pronta, voltei a caminhar em direção ao acampamento, fazendo questão de passar ao lado da barraca rosa chock e chutá-la, com a intensão de acordar alguma das garotas ali dormindo, e rapidamente escutei um gemido de dor vindo dali. Em alguns minutos as duas já começaram uma briguinha estúpida sobre quem havia batido em quem e eu simplesmente voltei a caminhar, jogando as coisas que carregava em minha mala e logo após indo em direção à barraca de Lucy.

No meio do caminho escutei gritos e virando-me em direção à eles, pude perceber pelo movimento em determinada barraca as duas garotas desesperadas tentando fugir dali, sem qualquer resultado, o que só as fazia gritar mais alto.

Gargalhei.

Meu objetivo estava concluído.

Com o humor melhor do que eu previra, voltei à barraca de Lucy, dando logo de cara com Cameron com a cabeça para fora da barraca tentando decifrar de onde vinham os gritos.

– O que está acontecendo? – Perguntou por fim, após desistir de descobrir por si próprio.

– Katherine e Valerie dando chilique porque uma delas quebrou a unha – murmurei divertida.

Cameron fez uma careta, porém quando seus olhos pousaram sobre minha camiseta, ele abriu um sorriso preguiçoso, com os olhos brilhando de modo travesso.

– Você está me devendo uma camiseta. Sabia disso né?!

Dei uma risada desdenhosa.

– Até parece que eu vou comprar uma camiseta nova pra você, só porque fui eu que cortei a sua camiseta favorita.

O sorriso dele aumentou.

– Então acho que vou ficar com a camiseta que você está como recordação. – Ele piscou, enlaçando minha cintura com os braços e me puxando para dentro da barraca.

Explodi em uma gargalhada espalhafatosa.

– Você não tem jeito mesmo, Cameron.