Respirações misturadas, pesadas. Lábios colados hesitantes em se separarem, como se fosse à última vez que se encontrariam.

Era a última vez, pelo menos em um longo tempo.

Abri os olhos encontrando os seus azuis, estudando-me de modo deliquescente, como se pudesse absorver-me para levar-me consigo.

—Eu volto Emma. Volto para você. – prometeu mais uma vez, forçando-me a manter contato visual com ele, afagando meu rosto. – Espere por mim. – implorou.

—Eu irei Killy. Vou esperar inquieta e ansiosamente... Sempre que sentir saudade, pense que é o melhor para você e não será para sempre.

Palavras trocadas em forma de sussurros na penumbra como de costume, quando escapávamos de nossas casas para nos encontrarmos no campo de trigo. Mas agora elas estavam acompanhadas de lágrimas que se misturavam, enquanto Killian e eu nos beijávamos na tentativa de dizer um “até logo”, que talvez significasse um “adeus”.

—Eu não quero deixá-la. – o garoto que me envolvia, apertou-me ainda mais contra seu peito. – Não quero ir, Emma.

—Você não pode perder uma oportunidade como essa por minha causa, Jones. Seu tio está disposto a bancar seus estudos, a cuidar de você como se fosse filho dele. Está dando uma chance para que tenha um futuro melhor do que terá se permanecer aqui, cuidando de uma fazenda que não é sua, fazendo serviços por algumas moedas, quando você tem capacidade para muito mais. Se eu tivesse alguém rico em minha família, disposto a dar-me isso que você está tendo a chance... Não hesitaria duas vezes em dizer “sim”. Não pense em mim, Killian. – beijei suas lágrimas, esfregando meu nariz no seu. – Vou ficar bem. Estarei bem aqui, esperando-o. Eu prometo.

Killian beijou meu rosto, seu corpo tremendo de encontro ao meu, enquanto me deitava no chão e se aconchegava em meu peito, ajeitando o ouvido bem no meu coração.

Ficamos desse modo, abraçados bem fortes, tentando não deixar nenhum espaço entre nós, até que senti o corpo dele se acalmar e sabia que as lágrimas tinham cessado. Fiz cafuné em sua cabeça como eu sabia que gostava, tendo um leve vislumbre de seus olhos fechando-se preguiçosamente de cansaço. Deixei que cochilasse por um tempo, gostando de segurá-lo daquela forma, pelo menos uma vez.

Vi o céu mudar de um cobertor negro, para cores mais claras, formando um degradê, e os raios do sol começavam a fazer esforço para nascer.

Ergui um pouco o rosto de Killian e beijei sua testa, repetidas vez para acordá-lo, tirando os fios que caiam, sentindo a suavidade de sua pele em meus dedos.

Jones abriu os olhos parecendo desnorteado por um instante ao me encontrar ali, então sorriu, escondendo o rosto em meu peito, respirando profundamente.

—Não deveria ter me deixado dormir. – falou com a voz rouca e falha, pigarreando para tentar limpar a garganta. – Desperdicei um bom tempo que poderia ter passado com você.

—Gostei de observá-lo e segurá-lo desse modo... Só Deus sabe quando poderei fazer novamente.

Jones se ergueu sobre mim.

—Que não demore muito. – falou, clamando meus lábios para si. – Precisamos ir. – murmurou, observando a grande bola de luz amarelo alaranjada surgindo.

Assenti, sentando-me e aceitando sua mão para me levantar.

—Até logo, Killy. – despedi-me dele com um sorriso para não quebrar novamente. Estava me matando por dentro imaginar ficar sem meu garoto de olhos azuis, saber que eu não o encontraria mais uma vez quando a noite chegasse. – Tome cuidado.

Beijei sua bochecha uma última vez, dando-lhe um abraço apertado.

—E não me esqueça, quando ver, aquelas dondocas mimadas que possuem lindos vestidos nos salões de baile.

—Impossível esquecê-la, Swan. Eu a amo e nenhuma dondoca mimada que possuí lindos vestidos será capaz de mudar o que sinto por você.

—Ótimo... Eu também o amo. – fiquei na ponta dos pés para beijá-lo rapidamente. – Tenho que ir que logo antes que meus pais acordam.

—E logo eu preciso partir. – Killian entrelaçou nossos dedos e ficou por uns minutos observando nossas mãos unidas. – Eu volto Emma. Prometo que volto para você, apenas seja paciente.

Forcei-me a soltar nossas mãos, caso contrário, ficaríamos ali para sempre, tentando nos despedir e nunca indo embora.

Era o melhor para ele.

—Eu serei Killy. Prometo para você que estarei aqui, esperando-o. Bem aqui.

Jones me presenteou com um sorriso e eu joguei um beijo para ele, saindo correndo em direção oposta de volta para minha casa, olhando brevemente para trás e encontrando-o ainda no mesmo lugar, os ombros caídos.

Meu peito se apertou e forcei minhas pernas a continuarem e ignorarem a vontade que todo o meu interior sentia de dar meia volta e retornar para ele.

Killian Jones havia prometido voltar. Eu o teria de volta.

Ele nunca quebrara uma promessa antes, mesmo as mais bobinhas que fazia.

Não quebraria uma tão importante como essa.