— Chegamos. - Jay sorriu pagando o motorista e acordando Gil que havia cochilado em seu ombro no caminho.

— Aqui não é a escola. - o loiro falou desnecessariamente, com a voz arrastada de sono enquanto descia do carro. — O que a gente tá fazendo aqui?

— Você disse que sentia falta de dormir no navio, então... Te trouxe pro porto. Qual vai ser? Jolly Roger ou... Seja lá qual for o nome do navio da Uma.

— Lost Revenge. – Gil comentou, bocejando. — Vamos nele, tá mais limpo. E tem mais gente.

Com mais gente, Gil queria dizer todos os outros piratas. Alguns optaram por continuar estudando em Dragon Hall ou na Serpent Prep., as escolas da Ilha. Outros já haviam largado os estudos há muito tempo e não sentiam a menor vontade de retornar.

Agora, todos os marujos do Lost Revenge estavam festejando, cantando e dançando ao som dos mais diversos instrumentos. Gil sentiu seu corpo despertar ao som do clássico “Yo Ho” que os piratas adoravam. O sangue corria rapidamente em suas veias, seu coração se acelerava ao som da música e os olhos brilhavam com a luz de velas acesas no convés, iluminando a noite.

Um dos piratas mais altos soltou um assovio que fez todos pararem a festa.

— Senhor LeGume! – Big Murph se aproximou e fez um breve floreio em reverencia. — E veja quem trouxe! Fala, Jay!

Jay e Murph trocaram um cumprimento de mão.

— Que papo é esse de senhor? – Gil uniu as sobrancelhas, pensando que ainda devia estar com muito sono e deveria ter ouvido errado.

— Bem na ausência da capitã e do senhor Gancho, você é quem dá as ordens. Então deve ser tratado com respeito.

Gil esfregou os olhos e sorriu com a surpresa. Por essa ele não esperava! Sempre se considerou mais como um marujo qualquer que não tinha voz e nem fazia muita diferença no meio da tripulação.

Ok, quando Harry assumiu o posto de capitão temporário enquanto Uma estava fora da Ilha, ele tinha se tornado o imediato, mas, nunca levou isso muito a sério porque sabia ter sido um milagre Uma tê-lo aceitado na tripulação. Também sabia que ela só o mantinha por perto porque ele fazia qualquer coisa para agradar e a garota gostava disso.

— Ah, gostei disso.

— Alguma ordem da capitã? – Jonas perguntou ajeitando a echarpe vermelha por cima do casaco preto. — Harry veio aqui a pouco tempo falando que o senhor Smee iria ensinar-nos a navegar, mas não deu previsão nenhuma de quando.

— Estamos parados a tanto tempo! - Bonnie se meteu, mexendo no avental branco que usava por cima do jeans esfarrapado. — Eu não aguento mais! Vamos zarpar em breve, não é Gil?

— Ah… - Gil imaginou ficar o mês parado sem nenhuma previsão de saída e imediatamente se sentiu mal pelos amigos. Por mais que sentisse falta do navio, sabia o quão era cansativo e irritante ficar andando de um lado para outro do convés sem nada pra fazer e nem lugar para ir. — Ainda não sei quando vamos sair, Bon. Mas, o Smee só vai começar a nos ensinar quando a Jolly Roger tiver limpa então...

— Considere feito, então! - Jonas sorriu com sua arrogancia tipica. — Podemos começar amanhã!

— Não precisam, tenho certeza que Uma e Harry vão vir para ajudar também... - Gil tentou intervir, mas os piratas já estavam animados com a ideia, então resolveu deixar pra lá. — Então, qual a razão da festa?

— Qualquer uma. - Big Murph disse passando a mão pelo cabelo raspado. — Terminamos um presente para a Uma, limpamos o Lost Revenge inteiro, logo o senhor Smee virá nos ajudar com a navegação e estaremos em alto mar. Qualquer motivo é um motivo pra festa.

Como se tivesse ouvido um chamado, um dos piratas mais novos se aproximou de Gil segurando uma sacola de veludo azul claro que era fechada por cordas douradas.

Gil a abriu e viu que dentro tinham várias coroas e pulseiras de conchas.

— Pra Uma? - adivinhou. O marujo que mal devia ter doze anos completos só fez que sim com a cabeça antes de ir correndo pra trás de Big M. — Ela vai gostar. Eu vou deixar no meu quarto e levar pra ela amanhã. Agora… Eu não queria atrapalhar a festa então… Vamos voltar ao que importa!

Uma pirata com vestido preto e verde jogou uma gaita para Gil, o loiro demorou a reconhece-la sem as roupas de camponesa, mas tinha quase certeza que era Desiree, a cruel e encrenqueira amiga de Uma.

Enquanto ele corria pra guardar o presente de sua capitã, a festa recomeçou rapidamente.

Piratas sacaram suas espadas e começaram uma dança no mínimo perigosa, em que elas eram jogadas de um para o outro, manobradas e colidiam fortemente, marcando o ritmo da música.

Alto, baixo. Direita, esquerda.

Separavam-se em grupos que formavam rodas, as pontas das espadas se encontrando no alto enquanto giravam e em seguida se separavam em pares.

Espadas colidiam novamente, alto, baixo, direita, esquerda, cada um girava para um lado e os parceiros eram trocados repetidamente. Na marcação correta, um parceiro encostava a espada no pescoço do outro, então com um rodopio a espada era afastada. Se girassem daquela forma para o lado errado, com certeza machucados sérios seriam causados e todos estavam cientes, mas ninguém se importava, confiando plenamente na capacidade de seus pares de seguir a coreografia.

Gil voltou para o convés, tocando sua gaita num ritmo alegre e frenético, dançando entre os colegas e se esquivando dos golpes de espada. O ritmo e a animação apenas cresciam e se espalhavam pela tripulação e pelo navio, que parecia ter vida em meio ao silêncio dos demais navios no Porto da Bela.

Jay dava risada, apenas observando tudo com certo fascínio, encostado contra um mastro. Desiree então o puxou para dançar com ela. E a cada vez que era a hora de trocar de parceiro, ela dava um jeito para que eles continuassem dançando juntos.

A animação continuou por um tempo, então, quando Gil viu Jay e a garota encrenqueira, a música que tocava foi diminuindo de ritmo e os instrumentos ao redor começaram a seguir. Poderia ser estranho ouvir os demais seguindo o ritmo de uma gaita, mas, ali dentro fazia sentido, era como um siga o líder e no momento o líder era Gil.

A dança foi se tornando mais lenta, as espadas colidiam com mais suavidade, fazendo um barulho mais baixo e várias vezes nem chegavam a se tocar. Os rodopios se tornaram morosos e as trocas de parceiro foram ficando cada vez mais tardias e lentas.

Quando a música estava quase parando e os piratas já começavam a trocar olhares confusos, Gil riu e voltou a tocar de forma rápida, como a tripulação gostava.

Jay se enrolou um pouco, mas com algumas manobras rápidas e a sua experiência como ladrãozinho, conseguiu fugir de sua parceira de dança e ir pra perto do gaitista.

— Hey, eu tô morrendo de sono. - sussurrou no ouvido de Gil. — Tem algum lugar aqui em que eu possa dormir? Essa festa não tá com cara de que vai terminar tão cedo.

Não era bem verdade, ele estava com sono, mas com certeza conseguiria aguentar até o fim da festa. Mas, imaginar passar a noite inteira tentando despistar Desiree, era o bastante para fazer Jay querer desistir da festa.

O filho do Gaston assentiu, guardando a gaita e guiando o garoto escada acima. Quando os músicos pareceram que iam parar, fez um sinal para que continuassem tocando, os piratas que dançavam nem repararam a breve pausa ou a saída do gaitista.

— Eu ia sugerir meu quarto. - Gil falou enquanto abria uma porta. — Mas é péssimo, metade da tripulação dorme no mesmo canto. E não me atrevo a entrar no quarto da Uma, então, a gente pode ficar no do Harry, ele não vai saber mesmo.

Jay fez careta, mas, o quarto de Harry era bonito. As paredes de madeira eram pintadas de vermelho e a iluminação suave. A cama era enorme e tinha um tapete de couro de crocodilo no chão. O lugar cheirava ao perfume forte do pirata. Um aroma estranho e irritante que por alguma razão fazia Jay pensar em loucura, o que, diga-se de passagem, combinava perfeitamente com Harry Gancho.

Gil riu se jogando na cama. — Ah, qual é? Eu não acredito que aquele egoísta tinha uma cama dessas! E todos esses chapéus! – ele olhou admirado para a enorme quantia de ganchos na parede, cada um com um diferente modelo de chapéu pirata, e ficou realmente tentado a roubar um ou dois.

Porém descartou a ideia quando se lembrou de que não teria onde esconder e que Harry acharia facilmente.

Repentinamente e com certo desconforto, ainda parado de pé no meio do quarto, Jay notou que a cama era de casal. Uma enorme e dura cama de casal, com um colchão velho e lençóis vermelhos desbotados e desfiando.

— Você dormia aqui com Harry?

— Não. - Gil achou graça da pergunta. — Harry é tão possessivo com a própria cama, quanto é com aquele gancho dele. E você sabe como ele é com o gancho! Vem cá! É confortável... Para os padrões da Ilha.

Jay hesitou antes de tirar os sapatos e se deitar ao lado de Gil. Aquilo era muito mais do que ele poderia querer ou imaginar. Estava na cama com Gil… Talvez, com um pouco de sorte, algo pudesse acontecer…

De repente o loiro se levantou como se tivesse lembrado de algo e começou a revirar o baú de tesouros que Harry tinha ao pé da cama. A maioria das coisas não passava de tralha que ele havia furtado ao longo dos anos na Ilha, mas, havia algo especial ali.

Gil voltou a deitar na cama, segurando uma garrafa que achara ali dento, a bebida já devia estar estragada depois de tantos anos guardada, mas, ele dava um pequeno gole sempre que podia. Era a última garrafa de cerveja que fora vendida na taverna de suas tias antes de Gaston transformar o lugar em uma academia.

E também era do último lote de cervejas que Laurette ajudou a fabricar. Ainda era possível ler o selo "Three Blond Girls" na garrafa.

— Quer? - questionou, oferecendo um gole para Jay.

— Isso ainda presta?

— Não faço ideia, mas a gente sempre comia coisa estragada na Ilha, então não importa. - Gil riu, dando de ombros. — E ainda tem o mesmo gosto.

Aquilo foi o bastante para convencer Jay.

— Você não me contou algo que ninguém sabe. - Gil falou de repente enquanto fechava a garrafa e a colocava no chão, antes de voltar a se deitar. — Conta.

Jay segurou uma risada, pensando que aquela pergunta não poderia ter vindo em melhor hora e passou a mão pelos cabelos loiros do garoto a sua frente, observou-o cerrar os lábios antes de retribuir o carinho.

— Eu estou gostando de um garoto. – falou por fim.

O rosto de Gil se fechou numa careta, Jay achou graça e já ia concluir, contando quem era o garoto, quando o loiro disse:

— Sério? Legal. Vou dormir agora.

E se virou na cama, dando as costas pra Jay.

“Não é possível.” O moreno pensou. “Como ele pode ser tão lerdo?”

Era para ser fácil, era só Gil perguntar quem era e Jay poderia responder calmamente "você". Mas, não!

Ele se perguntou se aquilo poderia ser um sinal que o loiro não estava a fim. Torcia para que não fosse isso, mas a suspeita crescia dentro dele.

O havia chamado para um encontro, havia vindo para um navio pirata, e agora estava na mesma cama que ele. E nada parecia surtir efeito algum em Gil. Parecia que ele estava num efeito de “tanto faz” que Jay não conseguia compreender.

Sim, era lindo o jeito maravilhado de Gil com as flores, borboletas, frutas e doces, mas... Embora tudo parecesse impressioná-lo, estranhamente, Jay estava começando a pensar que estava na lista de coisas que não era capaz de surtir esse efeito nele.

Quer dizer, Gil gostava de como ele pulava por aí, dos bonecos de treino que fazia, mas... Ele queria mais! Queria conseguir impressioná-lo mais do que isso!

E é claro que ele podia simplesmente falar logo e beijá-lo, mas, algo o impedia. Como se os mesmos instintos que lhe diziam para não roubar os casacos de pele da Cruela lhe dissessem para não fazer isso ainda.

Gil era uma pessoa suave e... Lenta demais, tinha o pressentimento de que era melhor tentar se aproximar devagar. Era como tentar entrar na caverna no alto do rio, onde o Tic-Tac se escondia com o amado tesouro do Capitão Gancho. Tinha que ter paciência ou acabaria perdendo a mão e virando parente de consideração do Harry.

Como se tivesse apenas que seguir o ritmo que ele estabelecia, e infelizmente para Jay, o ritmo de Gil era uma música lenta e longa sem amassos ou beijos.

— Certo... Boa noite, cara. - murmurou, fungando e tentando não espirrar.

O cheiro do quarto estava realmente fazendo o nariz de Jay coçar e o gosto azedo e adocicado da cerveja das Bimbettes fazia sua língua formigar de um jeito engraçado, mas seu estomago não parecia ter gostado da bebida e se revirava um pouco, no mesmo ritmo da maré que batia no casco e fazia o barco balançar de leve. Ele esperava não acabar vomitando, seria uma forma horrível de arruinar ainda mais o clima.

— Boa noite… Jay?

— Hum?

— Valeu por hoje… A gente devia repetir isso algum dia.

Jay sorriu, passando um braço ao redor da cintura de Gil. — Com certeza! Tem muita coisa em Auradon pra você ver ainda.

— E fora de Auradon. - Gil lembrou. — Nas florestas e outros reinos.

— É, também. E a gente vai ver isso juntos...

— Eu vou ter que te ensinar a navegar porque não vou ficar fazendo tudo sozinho, não, não.

— Primeiro você vai ter que aprender a navegar sozinho, então. - Jay resmungou, beliscando a cintura de Gil.

— Boa noite, Jay! – o garoto murmurou, com voz irritada, enquanto tentava esconder o rosto vermelho.

Atrás dele, Jay sorria.

—... Harry estava falando pra todo mundo que vocês iam para a Terra do Nunca. - murmurou.

Gil se virou para ele, deitando a cabeça em seu braço. — Uhum, assim que aprendermos a navegar direito vamos para lá.

— Hum... Então, quando você voltar... Imagino que não vá querer passar lá de novo e... - Jay hesitou, sem saber como concluir. Ele tinha combinado de ir a Terra do Nunca com Gil, mas, também sabia que o garoto preferiria ir com Harry e Uma como sempre tinha planejado.

— A gente pode deixar pra ir lá depois. - Gil murmurou, fazendo bico. — Quando eu combinei com você, ainda não sabia que o Harry tava combinando pra irmos lá. Foi mal.

— Tudo bem.

— Eu ia gostar muito de ir com você! É só que... E, te chamaria pra ir com a gente, mas tenho certeza que Harry odiaria levar você na Jolly Roger. Mas, quando a gente voltar, podemos ir direto pra Agrabah... E eu posso trazer algum dos tesouros que o Capitão deixou escondido na Ilha do Nunca! - sua voz trazia um pouquinho de desespero, como se temesse o que Jay podia achar sobre isso.

Jay achou meio engraçado isso. Imaginar Gil com medo de deixá-lo chateado era divertido. Sempre foi o tipo relaxado e era muito difícil realmente irritá-lo. Ele imaginou que por estar acostumado a conviver com Uma e Harry, Gil tinha dificuldade de perceber que nem todos se estressavam com tanta facilidade quanto seus capitães.

— Pode ser. - suspirou por fim, contente pela viagem com Gil ainda estar de pé, de certa forma temeu que os piratas decidissem viajar pelo mundo todos juntos e ele se reduzisse a segunda opção do loiro ou algo assim.

A expressão no rosto de Gil era de quem havia sido pego de surpresa. Quem estava esperando olhares feios e recebeu sorrisos. Jay adorava causar essa expressão no rosto do garoto.

— Alguma previsão de quando vão ou quanto tempo vão ficar lá?

— Nenhuma. - ele suspirou. — A gente tenta ir com a maré. Mas, assim que eu voltar, a gente sequestra a Jolly Roger e dá o fora.

— Eu acho que pode ser melhor a gente só pegar alguma lancha real emprestada com a Mal.

— Ah, é. A gente pode fazer isso. - o loiro deu risada, se ajeitando melhor e deitando a cabeça no peito de Jay. — Agora, boa noite e sonhos maléficos.

— Bons sonhos, Gil. - Jay riu, passando um braço pela cintura do garoto e fechando os olhos para, finalmente, dormir.

***

Voltaram a escola de manhã, assim que os portões abriram, duas horas antes do café da manhã.

— O que acha de sairmos de novo segunda? - Jay perguntou enquanto subiam as escadas para os dormitórios.

Gil ia responder que sim, mas se lembrou das aulas extras que Evie havia organizado para ele.

— Que tal na próxima sexta? - tentou, torcendo para que fosse uma boa.

— Eu tenho um jogo na sexta. - Jay respondeu, abaixando a cabeça. — Você vai ir me assistir não vai?

— Hã… Eu não sei…

— Por favor. - Jay parou à porta do dormitório do loiro. — Se você não for, pra quem eu vou dedicar o gol da vitória?

Gil riu, sentindo as bochechas quentes.

— Nesse caso… Vou tá na primeira fila.

Jay sorriu, passando a mão pelos fios loiros do colega.

— Promete?

— Claro. - Gil murmurou, parecendo tentar decidir se colocava os braços em torno da cintura de Jay ou não, aproximando e afastando a mão, nervoso.

Jay iria beijá-lo naquele momento. Estava decididamente convencido a fazer isso e parecia finalmente um bom momento para avançar, mas, de repente, Gil bateu com a mão na testa.

— Ah, droga! Eu esqueci o presente da Uma no navio! Eu sou um idiota!

Corta clima total e cruel. —... Outro dia você pega. - Jay falou, tentando acalma-lo e afastando as mãos dos cabelos do garoto.

Gil suspirou balançando a cabeça de um lado para o outro.

— É o jeito, acho... Bom, eu vou tentar dormir mais um pouco. Até depois.

Mais uma vez, Jay se sentiu murchar. Qual é? Tudo aquilo e nem uma bitoquinha? Nem um beijinho na bochecha? Que triste.

— Tá bom, cara. Se cuida.

— Você também.

***

— Eu estava pensando... – Uma começou se sentando com os amigos para o café-da-manhã. — O Harry não é um daqueles caras antiquados que acham que é o cara que tem que convidar pra sair ou pedir algo é?

Mal uniu as sobrancelhas. — Pergunta pro Gil. Eles namoraram, ele deve saber.

— Se eu soubesse onde ele... Ah. Olha os pombinhos. – ela achou deu um meio sorriso enquanto Jay e Gil voltavam da fila da cantina, trazendo bandejas cheias. — Gil, o quão antiquado o Harry é?

— Ele tem um relógio de bolso. – respondeu simplesmente.

Tipo... Não é preciso dizer muito mais que isso.

Uma suspirou, mexendo na comida sem comer. Gil ergueu os olhos para a garota, tentando entender o porquê de ela estar bicuda com aquilo.

— Ele gosta de você. Seja lá o que estiver pensando não vai chatear ele. – completou.

— Falando nele, onde ele tá? – Carlos perguntou.

Gil continuou olhando para Uma, tentando imaginar o que ela estaria pensando em fazer. Mas, por fim deu de ombros, resolvendo deixar para lá, fosse o que fosse, não iria demorar a acontecer mesmo e quando acontecesse, ele acabaria sabendo.

Se consolando com esse pensamento, resolveu responder a pergunta do filho da Cruela.

— Foi falar com a Audrey para saber se pode entrar no grupo de música. – Gil deu de ombros, comendo uma maçã. — Os Gancho são bons tocando piano.

— Então... Quando vocês vão limpar a Jolly Roger? – Jay perguntou de repente, dando um susto em Gil.

Uma sorriu.— Vamos começar nesse final de semana.

— Vamos? – o loiro parecia surpreso.

— Vamos, Gil. – Uma bufou, revirando os olhos e fazendo um gesto de descaso com as mãos. — O final de semana inteiro e nem pense em tentar escapar, vamos precisar dos seus músculos.

— Ah, ta bom então! – Gil sorriu, sempre ficava feliz quando os amigos precisavam dele para qualquer coisa. — A gente vai ter muito trabalho.

— Se quiser a gente pode ir ajudar. – Mal ofereceu.

— Hum, não. – Uma sorriu de lado, com certo escárnio. — Eu te adoro Mal, mas... Deixe a limpeza dos navios para os piratas.

— Jay, vai comer isso? – Gil apontando para as uvas na bandeja do garoto.

— A gente pode dividir. – ele deu de ombros.

— Eles até dividem comida, que melosos. – Carlos zombou.

Jay jogou uma uva no cabelo do amigo enquanto Gil, vermelho, ria para si mesmo.

***

— Hey. – Uma segurou Gil pelo braço quando estavam perto dos armários, ela estava saindo da aula de artes e ele da aula de química, ambos a caminho do almoço. Gil parecia meio tonto, como se o conteúdo da aula tivesse torrado seu cérebro. — Posso falar com você rapidinho?

— Por que não poderia?

—Tá, é... Esquece por um instante esse negócio todo de capitã e marujo, ok? – ela pediu, olhando em volta de forma ansiosa, se Harry aparecesse iria ter que deixar aquela conversa para depois. Não queria falar aquilo na frente de seu imediato. — Preciso te fazer uma pergunta e preciso que me responda como um amigo. Só como amigo.

— Ok... – Gil respondeu, incerto, coçando o cabelo.

— Eu sei que você e o Harry terminaram, mas eu quero ter certeza de que estaria tudo bem pra você se por um acaso a gente começasse a namorar. Responda com sinceridade. Estaria tudo bem?

Gil franziu a testa, pensando a respeito por um momento.

Ele sabia que o Harry gostava da Uma desde sempre, mesmo quando eles namoraram, sabia que era da Uma que Harry verdadeiramente gostava e isso nunca o incomodou. Nem quando estavam juntos aquilo o perturbou, não era nem mesmo algo com que tivesse que lidar.

Na verdade, Harry e Uma juntos era tão certo, que para ele parecia simplesmente natural. Como café preto como sua alma vendido na Ilha dos Perdidos e os grafites de “Vida Longa ao Mal.”, como flores e céu azul em Auradon. Apenas uma parte comum e natural da vida.

Se eles oficializassem isso e finalmente começassem a namorar, seria assim tão diferente do que sempre foi?

— Eu... Na verdade, gostaria. – deu de ombros. — Por quê? Ele te pediu em namoro?

— Na verdade... – Uma deu um meio sorriso sapeca. — Eu vou pedi-lo. Só queria ter certeza que pra você está tudo bem, não queria que as coisas ficassem estranhas entre a gente. Mesmo sabendo que você já tá interessado em outra pessoa. – ela riu.

Gil também deu risada e concordou com a cabeça, dando um abraço em Uma, que foi pega de surpresa, mas, retribuiu.

O cabelo dela cheirava a mar. E a polvo. Mas, não cheirava mais a camarão. Isso era bom.