(Tema de abertura: "Quem Irá Nos Proteger" - Vanessa da Mata)

Cena 1: Casa da família Gonzaga/Sala de estar/Interno/Dia:

DIOGO: Cleiton, foi mal a demora.

CLEITON: Que isso, Diogo. Sem problemas! O que houve?

DIOGO: É porque o carteiro é novo aqui no bairro e aí, ele acabou deixando correspondências erradas aqui.

CLEITON: Que absurdo! Eu pedia a cabeça desse incompetente.

DIOGO: O que? Mas ele é novato, coitado!

CLEITON: Mas nada justifica serviço mal feito. Pelo menos pra mim!

(Ele aponta para o próprio peito se fazendo de correto)

Cena 2: Top Brás Administradora/Bairro Santo Antônio/20° Andar/Sala 4/Interno/Dia:

OLGA: Robert, deixa de ser rebelde, não estou te pedindo nada demais!

ROBERT: Você me chamou aqui pra isso?

OLGA: Por acaso isso vai te custar algum braço? Hein? Vamos, me diga.

ROBERT: Mãe, eu não vou falar com ele por sua causa.

OLGA: Você não gosta de mim. Eu já sei. Olha, é muito triste isso, o filho não gostar de sua própria mãe, só querer vê-la por baixo, sabia que isso é desonra?

ROBERT: Acabou? Vou embora.

OLGA: Sabia que eu te pari?

(Ele faz cara de paisagem)

ROBERT: Me poupe do seus discursos, mãe.

OLGA: Não adianta. Por mais que eu tente, por mais que eu queira mudar, você e o Narmo sempre estarão contra mim. Já é lei!

ROBERT: Nada a ver, eu só não vou manipular o meu pai para acobertar um erro seríssimo que você fez. Se você quer corrigir isso, sabe exatamente o que tem que fazer.

OLGA: Você não sabe o que diz, acha que soltando essas blasfêmias pode me fazer cair no seu jogo, mas isso nunca vai acontecer.

ROBERT: Quem está querendo fazer joguinhos aqui não sou eu.

OLGA: Como?

ROBERT: Olha só mãe, se quer mudar não comece por desculpas e sim, por atitudes.

(Ele sai da sala da mãe que fica bem emburrada)

Cena 3: Banca de jornais/Bairro Caiçara/Externo/Dia:

ADÉLIO: Aqui está. Obrigado!

(Ele entrega o dinheiro e sai com a revista)

CLÁUDIO: Você ainda não se libertou disso.

ADÉLIO: Disso o que?

(Cláudio aponta para a revista)

ADÉLIO: Cláudio! É o meu trabalho.

CLÁUDIO: Ah, vai me dizer que aquele pessoal vai mesmo te aceitar como funcionário?

ADÉLIO: Está dizendo que não sou bom o bastante para eles?

CLÁUDIO: Estou dizendo que você não merece ficar perdendo seu tempo com os problemas de gente… Menos favorecida. Já basta os que temos de graça!

ADÉLIO: Sabe que você está certo? Tirando um detalhe.

CLÁUDIO: Qual?

ADÉLIO: Que o meu trabalho não é perder tempo tentando arrumar os problemas cometidos por pessoas menos favorecidas.

CLÁUDIO: Ah não? Então é o que?

ADÉLIO: Você acha que o fato de uma pessoa nascer sem o movimento das pernas vai fazê-la se sentir um problema em relação aos outros? E que por isso essa pessoa é menos favorecida?

CLÁUDIO: Mas Adélio, essa pessoa não pode andar, e muito menos correr.

ADÉLIO: Cláudio eu desisto de tentar fazer você entender isso. Talvez daqui a alguns anos.

(Ele sai andando)

CLÁUDIO: espera aonde você vai?

ADÉLIO: Estou indo conversar com o Diogo e o Robert.

CLÁUDIO: Ótimo! Eu vou com você.

ADÉLIO: Cláudio, pelo amor de Deus! Deixa de ser sem noção. Você acha que eu vou deixar você ir na casa dos meus amigos sendo que um deles estava afim da garota que você beijou?

CLÁUDIO: Hein? Mas do que…

ADÉLIO: É isso mesmo, eu vou sozinho!

Cena 4: Top Bras Administradora/Bairro Santo Antônio/20° Andar/Sala 4/Interno/Dia:

(Em seu escritório, Olga pega seu smartphone e liga para Narmo que recebe a sua ligação, mas não atende. Então ela tenta outra, e outra, e mais outra vez. Porém, sem sucesso. Revoltada, a mulher joga o aparelho em cima da mesa passando as duas mãos pela cabeça).

Cena 5: Casa da família Gonzaga/Sala de estar/Interno/Dia:

CLEITON: Você sabe que eu sempre achei esta casa bonita? Confortável, tão arejada… Deve ser o máximo!

DIOGO: Ah, é muito bom morar aqui.

CLEITON: Eu conheço vários cômodos. A sala de jantar.

DIOGO: Mas a sala de jantar é o cômodo mais famoso da cidade. Dona Olga sempre faz questão de realizar as festas de família lá.

(Eles riem)

CLEITON: A varanda também é um lugar que transmite muita paz!

DIOGO: É verdade.

CLEITON: Mas o seu quarto eu não conheço.

DIOGO: Não? Mas você já foi lá.

CLEITON: Não fui não. Nem no do Robert. Nunca tive oportunidade de conhecer o quarto de vocês. Saber das memórias que guardam lá, dos segredos...

DIOGO: Pode ficar tranquilo. Você ainda vai conhecer essa casa inteira.

CLEITON: Sempre tive curiosidade de saber como é a vista da sua janela. E da do Robert também. De ver os armários, roubar alguns sapatos...

DIOGO: Desse jeito você vai acabar levando a minha casa embora.

(Ambos riem de novo)

Cena 6: Edifício Astorga/14° andar/Lourdes/Suíte/Interno/Dia:

DANIELA: VAI! VAI! VAI!

(Cláudio começa a gemer)

DANIELA: ANDA! FORÇA! FORÇA! FORÇA!

(Alguns minutos depois)

CLÁUDIO: Ah… Nunca me doei tanto!

(Daniela se espanta)

DANIELA: O que? Você era virgem?

CLÁUDIO: O que?! Não. Estou dizendo que nunca tive um momento tão intenso como esse.

DANIELA: Claro! Foi a nossa primeira vez.

CLÁUDIO: Primeira e última ou, primeira de muitas.

(Eles se encaram)

Cena 7: Casa da família Gonzaga/Sala de estar/Interno/Dia:

DIOGO: Adélio!

ADÉLIO: Diogo.

(Eles se cumprimentam com um aperto de mão)

DIOGO: Esse é o Cleiton, vocês se conhecem?

ADÉLIO: Ah, não! Muito prazer.

CLEITON: Igualmente. Vocês se conhecem há muito tempo?

ADÉLIO: Digamos que sim, nos conhecemos num curso que nós fazíamos juntos de computação.

DIOGO: Sim, eu me lembro. Aliás, nunca mais usei o que aprendi naquelas aulas!

(Diogo ri)

CLEITON: Que interessante.

ADÉLIO: Bem, eu espero não atrapalhar vocês.

DIOGO: Que nada, a gente já tinha combinado.

CLEITON: Bem, então eu posso ir, caso haja..

DIOGO: Que nada, fica também. Adélio combinou de vir aqui pra gente jogar conversa fora.

(Eles riem)

ADÉLIO: Verdade. E sobre o que vocês estão falando?

CLEITON: Estávamos fazendo uma retrospectiva de nossas vidas.

DIOGO: Nosso assunto ultimamente só tem sido esse!

ADÉLIO: Me encaixou bem nessa área.

DIOGO: Adélio é estagiário de fisioterapia.

CLEITON: Ah… Não diga.

ADÉLIO: É verdade. Eu faco faculdade, então eles exigem! Mas hoje em dia todo curso pede... virou lei!

(Diogo ri)

CLEITON: Então acabamos de arranjar um novo assunto. Me conte, porque você escolheu a fisioterapia, Adélio.

(Adélio e Diogo se sentam)

ADÉLIO: Bem, desde garoto eu sempre me importei com a questão do próximo saber se virar diante das circunstâncias. Fosse para algum dever de casa, ou esporte de educação física.

(Cleiton finge interesse)

ADÉLIO: Aí com o tempo isso cresceu, na medida em que eu me abria para as oportunidades, aí comecei a fazer serviços voluntários…

Eles conversam ao som de “Jardins da Babilônia” Kid Abelha - 00:37 á 01:41

Cena 8: Cabana pôr do Sol/Santa Maria/Externo/Dia:

(Walessa está sentada, á frente da cabana pensando em vários fatores que marcaram sua vida, deixando escapar uma lágrima de seu olho direito)

Cena 9: Edifício Astorga/14° andar/Lourdes/Suíte/Interno/Dia:

(Daniela levanta da cama e coloca um roupão)

CLÁUDIO: O que foi?

DANIELA: O que foi o que?

CLÁUDIO: Porque você está se levantando?

DANIELA: Porque eu tenho outros compromissos.

CLÁUDIO: Mas Daniela, foi tão bom!

DANIELA: Se liga Cláudio, eu não tenho só você na vida.

(Cláudio fica sem reação diante da tirada)

DANIELA: Cláudio.

CLÁUDIO: Oi...

DANIELA: Melhor você se arrumar. Ha não ser que queira ficar aqui sozinho.

(Cláudio levanta desolado)

Cena 10: Casa da família Gonzaga/Sala de estar/Interno/Dia:

CLEITON: Eu também sou vítima, tah?

(Ambos riem)

DIOGO: O Cleiton mata a gente de rir.

ADÉLIO: Adorei esse caso. Posso fazer um blog pra botar na internet?

(Diogo cai na gargalhada)

CLEITON: Você pode fazer um blog de assuntos gerais.

ADÉLIO: Assuntos gerais?

CLEITON: Sim, botando novidades sobre todos nós! Opa, mas que ideia fantástica. Você pode falar desse meu caso, da sua historia com a fisioterapia, do casamento do Diogo que está chegando...

(Diogo para de rir)

CLEITON: Não seria bom, Diogo? O blog seria um pedaço de todos nós!

DIOGO: …

ADÉLIO: Bem, eu disse isso, mas foi brincando. Até porque nem tenho paciência pra essas coisas.

CLEITON: Que pena. Mas se você mudar de ideia pode contar com a minha ajuda. Eu preciso ir ao banheiro, só um momento!

(Cleiton sai)

ADÉLIO: Foi mal Diogo, se eu soubesse que iria acabar nisso, nem teria comentado.

DIOGO: Tudo bem! Ele não disse por mal. Além do mais é a pura verdade. Eu vou me casar com a Clara!

ADÉLIO: Mas você ainda não esqueceu completamente da Lara.

(Cleiton passa pela porta do quarto de Diogo)

CLEITON: Eu preciso inventar um modo de trazê lo para cá. Daqui a pouco esses ovos começarão a feder, sendo capaz daqueles criados malditos acabarem limpando tudo sem que o idiota perceba, acabando com a graça do meu plano.

Cena 11: Consultório de terapia/Portaria/Bairro Serra/Externo/Manhã:

(Narmo está saindo do consultório de terapia quando se depara com Olga o esperando de carro na calçada)

NARMO: O que você está fazendo aqui?

OLGA: Te esperando. Vim te buscar!

NARMO: Olga, o que você quer?

OLGA: Me desculpar com você!

NARMO: Você sabe muito bem com quem deve se desculpar!

OLGA: E se eu disser que também quero resgatar meu casamento?

(Narmo olha para a esposa)

Cena 12: Casa da família Gonzaga/Sala de estar/Interno/Dia:

DIOGO: O que nós não fazemos nessa idade, não é?

ADÉLIO: Verdade. Eu, você e o Robert aprontávamos demais!

DIOGO: Aprontávamos?

ROBERT: Eu não aprontava nada!

ADÉLIO: Robert!

(Diogo ri)

ROBERT: Pelo contrário, eu acobertava.

(Robert ri)

ADÉLIO: Enfim, nós três reunidos aqui novamente.

DIOGO: Verdade, depois de tanto tempo!

(Cleiton aparece)

CLEITON: Perdi algo da festa? Robert!

ROBERT: Cleiton! Eu não sabia que você também estava aqui. Então pelo visto agora somos um quarteto!

(Todos riem)

DIOGO: Estávamos nos descontraindo.

ROBERT: Estou percebendo. Parece que nem sentiram minha falta!

DIOGO: Ih olha o drama, alá!

CLEITON: Porque não conversamos em outro lugar então, na varanda…

ADÉLIO: Verdade, vamos?

CLEITON: Pensando melhor, acho melhor irmos para algum dos quartos. Para não corrermos o risco de… Olga!

DIOGO: É mesmo, vamos para o meu.

ADÉLIO: Mas a sua mãe está no trabalho, não é Diogo?

(Cleiton fecha a cara para Adélio)

DIOGO: Não, mas o Cleiton está certo! No meu quarto a gente vai poder conversar com mais privacidade, vamos!

(Todos se caminham em direção ao quarto de Diogo)

CLEITON: Deus, que janela!

(Diogo ri)

DIOGO: Agora você vai conhecer a minha vista.

ADÉLIO: Diogo que quarto grande! E eu achando que estava bom com o meu.

CLEITON: O guarda roupa dele não parece moderno, Adélio?

ADÉLIO: Moderno?

ROBERT: Povo cheguei! Fui ao meu quarto antes deixar a mochila.

CLEITON: Robert, eu estava falando com o Adélio, como que o armário do Diogo é moderno veja!

ROBERT: Sim! Sendo que parte do mérito é dessa cor marrom no tom de madeira torrada. Ela deixa o ambiente leve com o móvel.

DIOGO: Robert entende tudo de cores, arquitetura…

ADÉLIO: Mas aqui, o que você guarda de tao grande aqui dentro?

DIOGO: Nada demais, por quê?

ADÉLIO: Porque essa porta parece estar fazendo um sacrifício enorme pra ficar fechada.

CLEITON: Adélio tem razão, Diogo. Parece que ela está estufada pra fora.

DIOGO: Mas não tem nada demais.

(Ele puxa a porta e desmonta um bolo de roupas rasgadas, com pedaços de papel lambuzados com ovos quebrados pelo chão do quarto surpreendendo Diogo, Robert, e Adélio, que observam o estrago por um tempo)

ROBERT: Diogo, que bagunça é essa?

DIOGO: Eu não sei... Está parecendo mais uma explosão camuflada.

(O jovem fica perplexo)

ADÉLIO: Está um cheiro horrível. Esses ovos pelo visto que estão podres!

DIOGO: Mas quem fez isso? E por quê?

(Ele agacha e começa a mexer nos pedaços de papel pegando em seguida nas roupas rasgadas, todas labuzadas pelos ovos quebrados. Cleiton olha para o rival, desmoronado ao chão e se esforça para conter o riso)

(Congela em Diogo. Toca Hero - Thick As Thieves).

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.