Tatsuo olhou para frente olhando cada movimento que Kenshi fazia ao caminhar a frente com seu filho e pensava se seria bom confidenciar o que aconteceu a noite passada, mas sua falta de confiança nos que a cercavam a impedia de dizer qualquer palavra. Torcia para que Kenshi não comentasse nem verbalmente e nem mentalmente nada do que houve. Não queria mentir para Cassie, mas também não queria falar o que a senhora Yuri lhe falou.

— Se não quiser falar, tudo bem – falou Cassie segurando a alça da sua mochila – não vou ficar chateada.

Os passos de Tatsuo continuaram firmes e seu olhar no chão, mas não queria deixar Cassie sem respostas então soltou:

— Foi algo particular.

Cassie abriu a boca com intenção de dizer algo, mas logo fechou sorrindo sem mostrar os dentes. E seguida disse pousando uma das mãos no ombro da japonesa:

— Olha, você deve achar que eu sou intrometida demais, né? Pode falar para eu parar quando eu tiver assim.

— Cassie, não se preocupe com isso. Você teve coragem de me perguntar. Tenho certeza que o Takeda ficou curioso em saber também.

As duas riram aguçando a curiosidade de Takeda que olhou para trás e perguntou, pois fez questão de não ler as suas mentes:

— Do que estão rindo?

— Coisas de meninas – respondeu Cassie enlaçando o braço nos de Tatsuo.

A japonesa queria recuar, mas sabia que magoaria Cassie por esse ato e por isso não o fez. Tatsuo tinha certa dificuldade de fazer amizades com facilidade e Cassie tentava quebrar essa parede sem querer e estava conseguindo.

A cada 1 hora paravam alguns minutos para descansar e a conversa era pouca, apenas o necessário, pelo menos por parte de Tatsuo. Só que em uma dessas paradas Cassie pediu para que esperasse-a, pois precisava ver algo.

— Quer que eu vá com você? – perguntou Tatsuo preocupada.

— É algo rápido – respondeu a moça indo em direção a alguns bambus.

Takeda por sua vez falou que ia atrás de algo para comer e ali ficou apenas Kenshi e Tatsuo a sós novamente. Ela verificava se os cadarços de suas botas estavam bem amarrados sentando em uma pedra. Sabia que Kenshi iria sentar ao seu lado e foi o que aconteceu.

— Tatsuo, eu queria pedir desculpas por ontem – ele começou.

Ela não sabia o que dizer, pois por mais que ela desejasse aquele momento entre os dois vinha ao mesmo tempo um sentimento contraditório de fechar o coração. Mas aquele sentimento entre os dois era tão forte que não tinha garantias de que manteria fechado por muito tempo. Olhou para Kenshi e disse:

— Não há o que desculpar.

— Como assim?

Tatsuo se ergueu, seu rosto estava próximo do de Kenshi e respondeu:

— Uma hora ou outra isso iria acontecer.

Kenshi deu uma risada e concordou com Tatsuo, mas perguntou:

— Mas por que você foge?

— Tenho medo que não dê certo e também não quero me apegar a ninguém.

— Você tem medo de perder quem ama assim como perdeu seu marido e filhos.

Naquele momento ela recordou que Kenshi era um telepata e não viu outra saída a não ser concordar com ele. Kenshi continuou:

— Não posso comparar minha dor com a sua, pois também perdi quem eu amava. Mas penso que temos que olhar para frente agora. Assim como tenho certeza que Suchin desejaria isso para mim, assim com Takeo também desejaria.

A conversa foi interrompida por Takeda que trouxe algumas frutas que havia comprado de um comerciante que morava nas proximidades. Kenshi pegou uma das frutas, sentiu seu aroma e deu um sorriso:

— Quer Tatsuo? - ele perguntou oferecendo para ela.

— Estou sem fome - Tatsuo respondeu - Obrigada.

— Vamos guardar para comer depois- disse Kenshi indicando a bolsa que Takeda levava para colocar os frutos.

Tatsuo começou a olhar ao redor e perguntou onde Cassie estava, pois fazia um bom tempo que ela havia saído de onde estavam. Não demorou muito para que ela chegasse.

— Perdoem-me pela demora - disse Cassie com as mãos em rendição.

— Estava preocupada - disse Tatsuo.

— Está tudo bem agora - falou Cassie depois de uma piscadela.

Yamashiro deu um sorriso depois de um suspiro.

— Vamos continuar o caminho, mulheres? - perguntou dando uma olhada para trás.

As duas sem responder acompanharam os rapazes que entraram em uma trilha fechada.

Passaram-se os três dias nessa trajetória e a cada passo que davam Tatsuo sentia que estava prestes a realizar uma de suas maiores missões de sua vida. A missão não era apenas em ir ao clã Dragão Vermelho, era uma questão mais pessoal, uma luta interna entre uma Tatsuo fechada ao amor com uma Tatsuo loucamente apaixonada por alguém que mal conhecia.