A polícia nos cercou naquele breu, me prensaram contra a grade de um terreno, a lanterna que carregavam fez com que pudesse ver Sanji ao meu lado, igualmente irritado. Eles lhe deram uma escorada com cassetete e reagi raivoso, ninguém bate no sobrancelhas além de mim, mas só ganhei uma porrada no queixo e me senti arremessado para um lugar. Que no caso era o camburão, ficamos lá com as mãos algemadas como se fôssemos dois bandidos, mas éramos somente dois adolescentes querendo beber em paz num terreno baldio, pensando em como aquele lugar fedia e era tedioso. Não foi feito para ti, eu disse. Sanji riu e disse que também não foi feito para mim. Então, começamos a planejar uma fuga pra muito longe, onde aquele fedor saísse de nossas peles e que trocássemos de tênis por outro sem algum chiclete, assim poderíamos correr sem temer que voltássemos feito um Ioiô imbecil. Ficamos esperando os nossos pais na repartição e os policiais proibiram que nos falássemos enquanto isso, mas estávamos acostumados de ficar em silêncio a dois, nossos olhos já nos diziam tudo. Sanji me dava um sorrisinho, tentando me lembrar do nosso plano de fuga e eu o respondia com outro sorriso, mas não porque estava ciente, mas sim porque ele era muito bonito. Quando eu olhava pra ele, sentia algo inexplicável. Era como se Sanji viesse na minha direção com a silhueta brilhando, muito brilhante! Eu pensava até se ele havia mergulhado num barril de lixo nuclear, e talvez por isso era tóxico apenas dizendo algumas palavras ou me insultando com um apelido mais ridículo que o outro. Mas ele via algo em mim, assim como eu via algo nele. Nós dois não prestávamos. E ainda assim vejo algo nele, como ele vê em mim. Aquela cidade não era mesmo feita para nós, muito menos para fluorescentes.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.