​—Verônica! São tiros e estão vindo da casa da árvore!_uma onda de pânico submergiu Roxton._Eu sabia que não era uma boa ideia sair esta manhã._ imediatamente ele se recordou dos estranhos pressentimentos que o acautelaram anteriormente. Mesmo parcialmente ignorando-os, ele havia convencido a jovem caçadora de não se afastarem tanto de casa. Tinha com esta sugestão dois objetivos, o primeiro era o retorno rápido aos braços de sua amada Marguerite no final do dia e o segundo, o qual ele se negava a acreditar, era que por perto o caçador ficaria atento a algum sinal de perigo e conseguiria chegar a tempo de proteger seu amor.

​—John, acalme-se. Marguerite sabe se defender, além do mais ela está protegida pela cerca elétrica.

​Ele não deu atenção às suas palavras, girando os calcanhares, partiu em disparada para a casa da árvore ditando um ritmo que até meso a vivaz Verônica achou difícil de acompanhar. Em pouco tempo estavam diante do portão que para desespero de John encontrava-se aberto. Gritou pelo nome de Marguerite enquanto alcançava o elevador.

​—Oh, Deus… está destravado._ disse atônito para mulher que o seguia logo atrás. Acionou o dispositivo para que descesse. Até então, John não havia percebido o quanto isso era demorado.

​Deixando de lado seu cavalheirismo característico, Lorde Roxton postou-se primeiro que Verônica na engenhosa máquina. Passou-se mais um tempo, que John considerou uma eternidade, e finalmente estavam no topo da residência aérea na qual habitavam.

​—MARGUERITE!!_ gritou a plenos pulmões assim que colocou os pés para fora. Seu rifle estava em mãos, engatilhado e pronto para destruir qualquer perigo que a ameaçasse. Entretanto, o que ele estava prestes a enfrentar não poderia ser abatido com projéteis de polvora.

​O lugar estava silencioso, mas, John reconhecia aquele silêncio, era a paz que antecedia o caos. O caçador desceu as escadas esquadrinham o ambiente. Estava pronto para lutar contra homens lagartos, trogloditas, mercadores de escravos, piratas e até mesmos os aterrorizantes dinossauros, os venceria com facilidade, entretanto, era despreparado para o que lhe esperava logo a frente: o seu passado.

​O rosto delicado e emoldurando em cabeleira ruiva foi reconhecido imediatamente. John ainda tinha a arma em punho, sabia que não havia motivos para usá-la, mas, estranhamente ele se sentia seguro em posse dela. A mulher sorriu quando o reconheceu também. Não podia ser verdade, “o que ela estava fazendo ali depois de tanto tempo?”

​—Violett?_ sua voz entonou uma mistura de surpresa, dúvida e desconfiança, com notas de desespero.

​—John, meu amor, a quanto tempo! Não acredito que finalmente o encontrei._ a mulher correu para o seu abraço com entusiasmo de quem reencontrava o amor de sua vida.

​O homem aceitou, ainda que de forma fraca, tal demonstração de afeto. De fato, a surpresa do momento o impediu de tomar qualquer outra atitude, porém, do outro lado da sala, uma pessoa observava a cena examinando cada resposta corporal de Roxton. O íntimo de Marguerite desejava que não fosse verdade, queria que Violett não fosse quem dizia ser, entretanto, diante da recíproca de John, não haviam dúvidas de que se conheciam e eram íntimos.

​Quando soltou-se dos braços da esposa, John procurou ansiosamente com os olhos, onde Marguerite estava. E então ele a encontrou. Roxton a conhecia tão bem, e por isso lhe feria tanto ver na vastidão azul de seu olhar a decepção. Ele quase podia enxergar os blocos de concreto, que outrora lhe custou tanto trabalho para desmantelá-los, se erguerem novamente em volta das defesas dela. Não podia culpá-la por isso, de certo modo ele havia traído sua confiança, como tantos outros a fizeram antes. Porém, algo estava errado. Nunca foi desleal aos seus sentimentos por Marguerite. Ele sim foi casado com Violett, mas, isto era uma situação já resolvida. “O que ela fazia ali depois de tantos anos e ainda se apresentando como sua esposa?” Perguntou-se novamente.

​—Violett, o que você está fazendo aqui?_ era preciso consertar todo o mal entendido antes que se tornasse uma confusão maior.

​—Ora, John, essa não era a recepção que eu esperava._ disse a moça em tom brincalhão._ O que imagina que eu esteja fazendo aqui? Não é natural que depois de tanto tempo uma esposa sinta falta do seu marido? Todos acreditavam que você estava morto, menos eu. Eu sabia que estava vivo, meu coração dizia isso.

​—Marido?_ Verônica que até então se mantinha calada achou que era o momento de entender o que estava realmente acontecendo.

​—Sim, Verônica! Lorde Roxton nos omitiu que era o provedor de uma família._ a voz que durante toda a noite o fazia juras de amor agora estava carregada de mágoa disfarçada de sarcasmo._Lady Roxton me contou quão encantadora foi a cerimônia de casamento. Era primavera em Avebury, não é mesmo?_ a cada palavra que pronunciava faíscas de ódio eram lançadas sobre John, e o homem via diante de si o vislumbre da mulher que conheceu há três.

​—Marguerite, deixemos de lado as formalidades. Trate-me por Violett que eu pretendo chamá-la pelo seu primeiro nome, se não se incomodar.

​—De maneira nenhuma, milady… quero dizer, Violett._ talvez para a jovem visitante fosse difícil distinguir, mas, para John e Verônica era claro o cinismo com o qual a herdeira se portava.

​—Querido, por que não apresenta sua exótica amiga?_ o ar aristocrático e julgador britânico podia ser reconhecido a quilômetros. Violett era uma autêntica nobre inglesa.

​—Violett, Verônica é minha amiga sim e não é exótica._ ele a repreendeu._ Essa é a Srta. Verônica Layton e graças a ela estamos vivos até hoje.

​—John, não foi minha intenção ofender sua amiga._ defendeu-se estendendo a mão em direção na direção da mulher loira._Srta. Layton, é um prazer conhecê-la. Serei eternamente grata por ter salvado a vida do meu John._ a pequena mão de Violett tocou o peito do caçador com carinho ao mesmo tempo que debruçava a cabeça em seu peitoral em um singelo abraço.

​Ele tentou se esquivar, mas era tarde demais. Marguerite havia visto o amoroso gesto e isto era mais do que ela era capaz de suportar ou fingir indiferença. Ela própria tinha sido a dona daquele colo horas antes, era quase insuportável ver aquela cena e ao mesmo tempo controlar o maremoto de sentimentos que devastavam o seu coração. Determinada a não demonstrar fraqueza ou ciúmes, a herdeira fez o que sabia fazer de melhor: fugir.

​—Acredito que o casal tenha muito que conversar e precisam de privacidade._ ela se recusava a mirar o caçador por medo que seus olhos traíssem suas palavras._Preciso continuar… bem… continuar o que eu… apenas continuar… _sem esperar despedidas ou impedimentos ela entrou no elevador dando comando para que descesse.

​Roxton teve por impulso impedi-la, não podia deixar que partisse sem ouvir sua explicação, entretanto, conhecendo-a, sabia que seria impossível fazê-la ouvi-lo neste momento. Desistiu da ideia de segui-la de imediato, mas, isso não o proibiu de disfarçadamente caminhar até a varanda e observá-la adentrar a selva em disparada. O nobre caçador sentiu seu peito contrair, culpado por ter feito sofrer a mulher que amava e a qual jurou proteger. Por outro lado, sua mente tentava achar uma alternativa pra fazer com que Violett entendesse que seu casamento com ela foi um erro. Já haviam se passado dez anos desde o seu afastamento e ainda sim ela não aceitava tal decisão. Se condoía pelo fato da moça ter atravessado meio mundo para encontrá-lo, mas, isso não mudava em nada a situação entre os dois.

​Ouvia ao fundo a voz entusiasmada da mulher ruiva contando a Verônica sua odisseia até encontrar a casa da árvore. Nada disso o interessava. Tudo que ele queria era afagar Marguerite em seus braços e convencê-la de que a amava mais que a qualquer coisa, mais do que a si mesmo.

​ De relance algo chamou sua atenção, pendurado no gancho ao lado do dispositivo de elevação estava o coldre que Marguerite carregava tão femininamente em volta da fina cintura. John foi tomado por sensação de angústia não mensurável. O amor da sua vida estava sozinho, triste e desarmado no lugar mais inóspito que poderia existir. Se algo lhe acontecesse sabia que não poderia viver com esta culpa.

​Em um ímpeto característico de sua personalidade, Roxton cruzou a sala sem dar explicações.

​—Querido, aonde você vai?_ perguntou carinhosamente Violett notando que o marido pretendia sair.​

​Sem dar atenção a como a esposa receberia tal informação, ele apenas respondeu sem sequer olhá-la.

​—Vou buscar Marguerite.