No light, no light

Luzes neon iluminam passados sombrios


—Não tenho absolutamente nada para vestir!

Gaby Badica jogou três vestidos coloridos no chão, quase arrancando os cabelos.

Apesar de ser um gigantesco eufemismo, o desespero da garota era quase palpável. Revirando os olhos, a outra menina loira levantou-se da cama e parou em frente ao grande armário aberto, estudando suas opções com concentração.

—Aqui: vista essa saia azul e ponha essa blusa de seda branca. E aqueles saltos dourados para completar.

A garota mais velha olhou com admiração para o semblante calmo da amiga.

—Ally, você deveria ser consultora de moda. Eu estaria perdida sem sua ajuda.

As duas riram e logo Gaby foi se trocar.

A guardiã Janine Hathaway continuava em pé em um dos cantos do grande quarto de hotel, fingindo que não existia.

Naquela noite, sua protegida Gabriella iria a uma festa num clube noturno do Cairo, famoso ponto de encontro para jovens Moroi no meio do deserto. E a guardiã estaria lá para acompanhar a ela e a sua amiga, Alicia.

Era a primeira vez que Stan a deixava sem instrução na companhia de duas Moroi para proteger. Para tornar o desafio ainda mais emocionante, não haveria a proteção do sol.

O céu do Cairo assemelhava-se a um imenso tecido azul escuro, bordado com milhares de estrelas. Nunca Janine lembrava-se de ter visitado um lugar onde a noite fosse tão bonita.

Certa vez percebera em si mesma uma particularidade em comum com os sanguinários Strigoi: ambos amavam a noite. Talvez por ter sido criada no regime noturno dos vampiros, sentia-se sempre mais disposta, calma e protegida sob o brilho das estrelas.

—Tudo bem com você, Janine?

Voltando sua atenção para a Moroi sentada na cama a sua frente, a ruiva sorriu.

—Tudo certo. E com você, Ally? Ansiosa para o casamento da sua prima?

Alicia Zeklos, a neta mais nova da rainha Ekaterina havia sido sua colega de sala durante os vários anos em que estudara na Academia São Vladimir. Ela e Janine costumavam estudar juntas para os exames e também gostavam de conversar na biblioteca depois das aulas.

Sempre simpática e bem humorada, era fácil criar uma amizade com Alicia.

Mesmo que manter contato com antigas amigas tivesse ficado mais difícil após a graduação, Janine ficava contente sempre que podiam se encontrar e por a conversa em dia.

—Estou tão animada! Eu ainda não conheci Hathor, mas Claire diz que ele é um verdadeiro príncipe.

A empolgação de Alicia era contagiante. Sua prima mais velha, Claire Zeklos, estava noiva de um rapaz egípcio extremamente rico e bem relacionado que tinha conhecido durante uma viagem de férias à Turquia. A festa e o casamento seriam naquela mesma semana e praticamente toda a Corte Moroi tinha sido convidada. Era por esse motivo que o Cairo fervilhava com tantos vampiros.

—Além disso, – continuou Gaby, que agora já vestida, maquiava-se em frente a uma penteadeira com um espelho redondo – dizem que ele tão rico que é dono de uma dúzia de prédios em Dubai. E que o vestido da Claire foi feito sob medida por uma estilista francesa e é bordado com diamantes.

Alicia revirou os olhos verdes.

—Isso definitivamente não é o mais importante. Eles estão extremamente apaixonados: Claire não fala de outra pessoa que não seja o noivo há meses! Eu queria ter metade da sorte da minha prima em encontrar um homem tão perfeito...

Janine riu, divertida. Já a risada de Gaby era mais irônica que qualquer outra coisa.

—Vocês não pensam em se casar? – a inocência romântica de Alicia chegava a ser fofa.

—Guardiãs não se casam. Vocês vêm primeiro.

Janine não se sentia triste por ter que admitir isso. Já tinha se acostumado com a ideia de que nunca viria a ter uma família. Se pensasse bem no assunto, não era o tipo de mulher que abriria mão de sua carreira por um marido e filhos.

Claro, havia realmente guardiões que se casavam, mas era algo extremamente raro. O senso de dever estava impregnado demais no pensamento dos dampiros.

Ally, no entanto, pareceu ficar triste por ter trazido esse assunto à tona. Deu-lhe um olhar comovido como um pedido de desculpas e virou-se rapidamente para a outra amiga.

—E você, Gaby?

A outra continuou a ajeitar o cabelo loiro, sem se virar. Pelo espelho, lançou para Alicia um olhar que se dirige a uma criança que diz uma bobagem muito grande.

—Você sabe muito bem o que penso das suas idéias românticas, Alicia.

—Ah, não me diga que não está nem um pouquinho animada com todo esse clima de romance e festa.

Gaby parou de retocar o batom vermelho para dar uma gargalhada, dessa vez sincera.

—Talvez só o clima de festa baste para mim.

Suspirou antes de continuar, mais séria do que Janine jamais a vira ficar.

—Já completei vinte anos. É esperado que eu me case, obviamente com outro jovem da realeza. Assim, aumento minha posição na hierarquia da corte. Seria um milagre se me cassasse com um homem que amasse ou pelo qual estivesse apaixonada. Talvez o casamento funcione por alguns meses, ou se tiver sorte, alguns anos. Provavelmente, teremos filhos que vão crescer mimados e se sentindo muito importantes. E quando meu marido se cansar de mim, vai começar a me trair com garotas mais novas e passar a noite com prostitutas de sangue. Mas, de qualquer forma, nada me impede de traí-lo também.

Alicia estava com a boca aberta, chocada pela visão tão pessimista e nada romântica do futuro que a amiga tinha construído para si mesma.

Vendo a expressão horrorizada de Ally, Gaby logo deu outra risada e logo se levantou. Guardando o estojinho de maquiagem dentro da bolsa, ela emendou com uma piscadela:

—Mas tudo bem. Todos os homens são iguais: o coração deles é um buraco escuro. Mas as mulheres não são muito melhores.

Janine raramente conseguia ler os sentimentos das pessoas que a cercavam. Gostava, no entanto, de pesar suas ações e falas de maneira lógica, buscando explicações racionais para a maneira como se comportavam.

Não fazia muito tempo que era a guardiã de Gabriella Badica, mas enquanto saiam do quarto, pensou que a situação que a Moroi descrevera não estava nada bem para ela.

Podia perceber que, por ter crescido em um ambiente cercado de hipocrisia, Gaby tentava se convencer que aquilo era natural. Mas, obviamente, era algo que ela não aceitaria se acreditasse que tinha uma escolha.

—Você tem uma última chance de largar esse livro e tentar ser uma pessoa normal por uma noite.

O irmão gêmeo de Gaby, Hugo Badica, desenterrou a cabeça do livro que lia estirado no sofá da sala.

Os dois compartilhavam o mesmo cabelo loiro ondulado e os olhos azuis claros. Mas toda e qualquer semelhança acabava na parte física; eles sempre tinham sido opostos em praticamente tudo.

Gaby era comunicativa, extrovertida e amante de festas. Por outro lado, era raro um dia em que Hugo largava seus livros para estabelecer contato social com qualquer outro ser vivo. Mas apesar de falar pouco, era simpático e geralmente estava sempre sorrindo.

Os gêmeos eram apenas dois anos mais velhos que Janine e Alicia e não tinham mudado nada desde a época da Academia.

—Athos está finalmente contando seu passado para Dartagnan.

Gaby suspirou, dando-se por vencida.

—Acho que isso foi um não, meninas. Bem, nós vamos indo. Não espere por nós acordado.

Janine pensou que esse conselho de nada valia, pois ele provavelmente prolongaria sua noite até ter terminado Os Três Mosqueteiros.

Antes que tivessem saído, Hugo sentou-se rapidamente no sofá e disse com um meio sorriso tímido:

—Você está bonita, Janine.

Perto de Gaby e Alicia, que pareciam duas modelos, Janine estava se achando bem sem graça. Naquela noite, tinha mudado do seu típico visual de guardiã minimamente, dando-se ao trabalho de apenas passar um delineador preto nos olhos e um batom escuro.

Com um pequeno sorriso, ela agradeceu o elogio. Ficando para trás enquanto as Moroi deixavam o apartamento, chamou Hugo, que já havia se voltado novamente para a história de Dartagnan.

—Só para você saber, Athos é meu mosqueteiro favorito.

—O meu também. Ele tem um passado meio sombrio e gosto de pessoas misteriosas.

Janine riu.

—Boa noite, Hugo. E tenha uma ótima leitura.

Ele olhou para ela e sorrindo desejou-lhe uma boa noite de volta.

Fechando a porta atrás de si, Janine suspirou. Alicia e Gaby esperavam no corredor, apoiando-se na parede em frente a ela.

—Bem, acho que meu irmão estava tentando te cantar.

—Você não precisava dizer o óbvio, Gaby. – Alicia revirou os olhos enquanto continuava a andar até o elevador.

Se tivesse que adivinhar, Janine diria que Ally tinha uma quedinha mal resolvida por Hugo Badica.

No entanto, Gaby não percebeu nada, e ainda não tinha terminado de brincar com a situação. Com um sorriso, provocou Janine mais uma vez:

—Só pra você saber, eu aprovo a relação de vocês dois totalmente.

Acompanhando Alicia, Janine também revirou os olhos azuis.

Não havia qualquer tipo relacionamento possível ali. Hugo era muito bonito, era preciso admitir. Também era inteligente e sempre gentil.

Mas era um garoto da realeza e por mais que fosse difícil aceitar, provavelmente teria uma vida cercada de hipocrisia parecida com a que a irmã acabara de descrever.

Não eram mais garotos da Academia, procurado diversão. Agora ela era a guardiã Janine Hathaway e um dia ele seria Lord Badica. O esforço simplesmente não valia a pena.

Mas acima de qualquer posição que Hugo ocupasse na Corte Moroi, Janine não se sentia disposta a se ligar a qualquer homem no momento presente. Muito menos se tal homem pertencesse a uma antiga família real de vampiros.

Foram necessários muitos problemas e muito sangue perdido para que Janine percebesse que não deveria se deixar envolver por palavras bonitas, presentes e promessas.

Afinal de contas, ela era apenas mais uma dampira destinada a seguir ordens. E já tinha seu próprio perseguidor misterioso que sempre voltava para atormentá-la com seus olhos negros.

Ao chegarem à porta do hotel cinco estrelas, Alicia ligou para um número de telefone escrito em um papel amassado.

O calor do dia já havia se esvaído quase completamente e a noite do Cairo estava, como sempre, amena e estrelada.

Logo um táxi chegou e não foi difícil perceber que o motorista era Moroi. Ally se adiantou e conversou com o homem durante alguns segundos. Depois, fez um sinal para que as outras duas garotas entrassem no carro com ela.

Ficaram em silêncio em todo percurso, que durou aproximadamente quinze minutos. Ao chegarem em frente à um condomínio fechado em um bairro afastado da capital, o homem abaixou o vidro do carro e trocou algumas palavras com o porteiro de plantão.

Também ficou claro que ele era Moroi. Assim que o portão foi aberto, o carro percorreu mais alguns metros até um prédio escuro, do qual vinha o som de música eletrônica.

Depois de pagar o motorista, as três saíram do carro. Como uma mãe preocupada, Janine avisou antes que batessem na porta:

—Tentem se comportar, por favor. Não estou com vontade de carregar duas Moroi bêbadas de volta para o hotel.

Alicia, que já tinha recuperado o bom humor, riu da piada.

—Fique tranquila, Jenny. Eu nunca bebo.

—Viu só? Você vai ter que carregar só uma Moroi bêbada. – Gaby piscou e deu uma gargalhada.

Assim que bateram na porta, um Moroi bem arrumado e sorridente apareceu. Ele era jovem e era óbvio que já estivera bebendo havia um bom tempo.

—Qual é a senha?

Gaby e Alicia trocaram olhares confusos.

—Como assim? Não tem senha.

O garoto riu e deu espaço para que elas passassem.

—Parabéns, essa é a senha.

‘‘Ótimo, nosso anfitrião é do tipo bêbado engraçadinho. ’’, pensou Janine.

Aquela seria uma noite bem longa.

A música lá dentro estava absurdamente alta e o espaço, absurdamente cheio. No primeiro andar, havia uma enorme pista de dança onde jovens Moroi se mexiam ao ritmo da música. Envolta da pista, casais se agarravam contra a parede.

O mais repugnante para Janine foi ver lindas dampiras circulando sedutoras junto aos rapazes vampiros, escondendo as marcas de mordidas que carregavam no pescoço. Aquelas eram as prostitutas de sangue.

Todas elas tinham o mesmo olhar vazio e viciado que um dia ela mesma quase tivera.

Havia também escadas que subiam para mais dois andares, que sua curiosidade não permitiria que deixasse de descobrir para que serviam.

Antes que as três tivessem andado pouco mais que um metro, o mesmo rapaz que abrira a porta voltou acompanhado de mais duas garotas Moroi tão bêbadas quanto ele. Uma delas carregava uma bandeja com três copos do que Janine presumiu ser Blue Lagoon.

—Para entrar, todo mundo precisa beber. – o garoto disse com uma pretensa autoridade.

Gaby virou o copo sorrindo, como se não fosse nada demais para ela. Dando de ombros, Ally imitou a amiga, fazendo uma leve careta ao terminar.

Ao chegar sua vez, Janine cruzou os braços e colocou sua melhor cara de guardiã séria no rosto.

—Não posso beber. Eu sou uma guardiã.

Uma das garotas fez um muxoxo de pouco caso, pouco se importando com sua designação. A outra riu e balançou os longos cabelos castanhos para longe do rosto.

—Ah, qual é! Estamos todos nos divertindo aqui!

—Na verdade, estou aqui a trabalho.

—Olha, gata, não precisa se preocupar. Suas Moroi estarão completamente a salvo aqui dentro. Temos nosso próprio pessoal de segurança.

O garoto completou o argumento fazendo um gesto amplo com os braços, englobando toda sala. Dando mais uma olhada, Janine conseguiu perceber guardiões extremamente silenciosos montando vigia nos cantos. Aquele era realmente um clube só para a mais alta elite Moroi, então era óbvio que haveria gente para cuidar da segurança ali.

Além do mais, era só um copo e ela já havia lutado contra Strigoi com o nível de álcool no sangue bem mais alto que esse.

Pegando o último copo da bandeja, tomou a bebida de uma só vez, fazendo com que sua garganta ardesse de uma forma conhecida e até agradável para ela.

Os três Moroi anfitriões comemoraram e a garota que segurava a bandeja logo lhe disse:

—Eu sabia que você tinha mais coragem do que queria demonstrar.

Ainda com o rosto impassível, Janine respondeu enquanto continuava a andar ao lado de Gaby e Alicia:

—Vocês já conseguiram o que queriam. Agora calem a boca e fiquem longe de mim.

A Moroi pareceu extremamente ofendida e gritou para ela com ar superior:

—Olhe como fala com a gente, garota! Nós somos Moroi e você é só uma guardiã.

—Ah, é mesmo? Pensei que estivéssemos todos nos divertindo aqui.

Rindo, as três chegaram até o começo da pista de dança.

—Eu sei que meu dever é proteger vocês, mas se me obrigarem a dançar, mato as duas.

Alicia e Gaby caíram na risada.

—Ah, não começa! O que aconteceu com aquela garota que sempre arrasava nas festas da São Vladimir?

—Queremos a antiga Jenny de volta! – Ally puxava seu braço como uma criança que quer obrigar a mãe a entrar em uma loja de brinquedos.

—Vou pensar nesse caso. – Janine piscou para as amigas– Quero dar uma olhada em como está a segurança lá em cima. Nem pensem em sair daqui! Vou ficar de olho em vocês.

Deixando as duas na pista de dança, Janine subiu as escadas para o segundo andar. O ambiente era pouca coisa mais iluminado que a sala que havia deixado, mas pelo menos, a música era mais baixa. Assim, era possível conversar com outra pessoa sem ter que gritar.

O bar ocupava toda parede de trás, ficando perto da escada. Algumas mesas estavam dispostas de forma que fosse possível observar a pista pela sacada envidraçada.

Poucas pessoas encontravam-se ali, já que a maioria apenas subia para pegar bebidas e descer novamente para o andar de baixo. E depois de alguns drinks, não era mais tão seguro subir aquela escada a toda hora.

A última escada ficava praticamente escondida por prateleiras cheias de garrafas de bebida alcoólica e estava completamente escura. Chegando ao final, Janine empurrou a porta lentamente assim que viu que esta estava somente encostada.

Luzes neon coloridas e fumaça de cigarros davam ao ambiente um ar exótico. A música era bem mais suave e pufes confortáveis estavam dispostos por todo cômodo. Ao longo de outro corredor, havia uma nova sequência de portas.

Mas o que tirou sua respiração por um segundo foi ver a cena degradante que seus olhos azuis encontraram. Estirados nos pufes vermelhos, havia homens Moroi bebendo o sangue de prostitutas de sangue que gemiam de prazer.

Em uma grande poltrona próxima a ela, uma garota de mais ou menos dezesseis anos estava completamente dopada. O pescoço descoberto mostrava a marca de incontáveis mordidas. Da mais recente, ainda escorria um filete de sangue, que manchava o decote de seu vestido branco.

Tudo que queria naquele momento era abraçar aquela menina e levá-la para longe dali. Mas antes que pudesse dar o comando às suas pernas, que haviam se tornado extremamente pesadas de uma hora para outra, um Moroi com a blusa aberta e o cabelo bagunçado inclinou-se novamente para a garota, sussurrando-lhe algo ao ouvido.

A garota abriu um largo sorriso bobo no rosto e estendeu os braços para ele, que lambeu o sangue que continuava a correr do seu pescoço. Vendo que ele preparava-se para lhe dar outra mordida, tudo que Janine pôde fazer foi gritar para que parasse.

Os outros casais não se incomodaram, mas o homem rapidamente levantou a cabeça, e os olhos de Janine encontraram os seus. Eram da cor do ouro, porém mais duros que aço. Ele sorriu, mostrando as presas, fazendo com que seu estômago doesse.

Sem que tivesse tempo para pensar no que acontecia, viu o homem encaminhar-se como uma flecha na sua direção.

Estava perto o suficiente para que ela sentisse o cheiro forte de álcool e tabaco nas suas roupas amassadas. Seus caninos sujos de sangue estavam à mostra, ameaçadores. Ele segurou seu braço com força e Janine percebeu um sentimento que não tinha há tempos tomar conta de cada célula de seu corpo: a maior e mais pura sensação de pânico.

—Ora, ora... O que temos aqui? O que uma garota tão corajosa e bonita como você faz metida nesses trapos de guardiã?

—Tire as mãos de mim! – conseguiu gritar, tremendo de medo e fúria e tentando se desvencilhar.

Se fosse um Strigoi, ela teria conseguido se defender. Teria puxado a estaca e lutado como uma guardiã destemida. Mas agora, com aquele Moroi sedento pelo seu corpo e seu sangue, o máximo que ela podia fazer era reter as lágrimas que enchiam seus olhos.

O homem a puxou para mais perto e apertou seu braço com mais força ainda. Seu rosto quase tocava o dela e Janine sabia que depois sua pele ficaria marcada com os dedos dele. Rindo, ele usou a outra mão para soltar seu cabelo e puxar sua cabeça para trás, expondo o pescoço limpo de mordidas.

—Quer dizer que além de corajosa e linda, você também é selvagem? É exatamente isso que me atrai em uma mulher...

Quando o viu se abaixar, Janine esperava pelo pior. No entanto, ele não a mordeu, limitando-se a passar a língua por sua pele nua. Seu corpo retraiu-se por completo quando sentiu uma de suas presas roçar um ponto logo abaixo de sua orelha.

Completamente enojada, deixou que uma lágrima de raiva caísse sobre sua bochecha.

—Não chore ainda. – ele sussurrou em seu ouvido, fazendo com que se arrepiasse de medo – Eu ainda nem comecei a brincadeira. Acredite, você pode até pensar que é forte, mas no final vai estar implorando para ser mordida. Vocês dampiras são todas iguais.

—Não vou implorar por nada! – cuspiu as palavras, sentindo sua raiva voltar e dar lugar à parte do pavor que sentia. – Me solta!

Ele deu outra risada fria e puxou sua cabeça de volta, fazendo com que olhasse dentro de seus olhos de gelo.

—E quem vai me obrigar? Você?

—Eu vou. Solte-a. Agora.

Janine conhecia aquela voz, embora parecesse muito diferente do que já ouvira. Era baixa, fria, perigosa. Praticamente um sussurro cheio de veneno. Qualquer pessoa sensata não seria capaz de descumprir a ordem dada por ela.

Uma chama se acendeu dentro da guardiã, fazendo com que encontrasse forças para revidar.

Aquela era a voz de Ibrahim Mazur.