Katniss -

Eu estava na sala de espera olhando para meu tênis all star branco meio surrado enquanto os balançava em sinal de nervosismo. O cheiro de hospital não me deixava enjoada como deixava meus irmãos, que sempre reclamavam quando chegávamos.

Dessa vez Blaine veio também. Ele tinha pavor de hospitais, nem mesmo quando estava muito doente ele vinha, inventava desculpas até mesmo quando quebrava algo arrumava uma maneira de fugir. Mas dessa vez abriu uma exceção para ver papai. Finalmente abriram as visitas a ele depois de algumas semanas internado, e não perderíamos por nada. Ben me chamou para vir de tarde, mas não tivemos como ir na hora marcada pois Blaine tinha que estar no trabalho às duas da tarde, então mudamos para oito da manhã, assim eu perderia as primeiras quatro aulas, mas poderia voltar para as duas ultimas.

Blaine me cutucou, avisando-me que ja poderíamos entrar. Ele me deu um crachá de visitante que teríamos que usar a todo momento, e depois entregá-lo na recepção.

Caminhamos por um longo corredor com Blaine segurando minha mão e Ben com o braço sob meus ombros me trazendo para mais perto. No fim daquele corredor que parecia não acabar nunca, havia um elevador, no qual entramos e Blaine apertou o 5' andar. Quando saímos do térreo e passamos pelo primeiro andar, o elevador apitou. O mesmo aconteceu no segundo andar. Senti minhas mãos suarem, até Ben segurar meu rosto.

– Kat, não saia de perto de mim okay?

Eu apenas assenti, segurando suas mãos.

Blaine sabia que eu me fragilizava muito quando o assunto era meu pai e ele passou os dedos pela minha trança, se aproximando de mim. Fiquei abraçada a meus irmãos, sentindo o frio na barriga tanto pelo nervosismo, quanto pelo elevador subindo.

Pim... Terceiro andar.

Silêncio

Silêncio

Pim... Quarto andar

Aquele silêncio torturante permanecia até o quinto andar, quando a porta abriu e demos de cara com uma pequena recepção e logo atras um corredor enorme branco.

– Bom dia. Meu nome é Blaine Lawrence Everdeen. Viemos ver..

– Quarto 512, quase no fim do corredor - Falou a secretária sem retirar os olhos do computador, com uma ignorância que sinceramente quase a soquei.

Meu irmão bufou e saímos a procura do quarto de meu pai. Não foi difícil de achar pois grande parte dos quartos tinham enfeites nas portas, e como meu pai tinha acabado de ser transferido para este quarto, havia apenas a numeração.

Antes de entrarmos, coloquei uma foto da família na porta que eu havia trago na mochila, emoldurada com um porta retrato de madeira que meu pai mesmo havia entalhado.

Ben entrou e o cheiro do hospital se tornou mais forte. Blaine reclamou, mas aquilo não me incomodou.

A medida que entramos, vi meu pai deitado na cama como uma estátua com a coberta cobrindo-o até o peito, o qual nem parecia se mexer ao respirar. Em seu rosto pálido haviam cortes que penso serem mais profundos do que aparentam. Seu nariz estava realmente feio, todo pocado e com gase. Seus braços também estavam bem arranhados, o esquerdo pior do que o direito, pois teria usado-o para tentar amortecer a queda. Consequências: clavícula deslocada, duas costelas quebradas e um braço quebrado. Mas ao menos está vivo.

Estava também com um tubo no nariz que o ajuda a respirar. Seu pulmão foi perfurado por um vidro da janela do caminhão que bateu e ele estava sem a jaqueta de moto, que lhe proporcionava mais proteção.

No acidente também bateram dois carros de família, onde duas crianças morreram e três adultos, deixando um bebe orfão e dois adolescentes sem a mãe. Ver papai fragilizado daquela forma me corroía por dentro.

Senti meu rosto ferver e as lágrimas rolarem pelas minhas bochechas, meu coração parecia não estar ali, meu sangue gelou e prendi o ar, quase involuntariamente.

– Kat, vamos beber uma água - Blaine falou comigo e segurou meus ombros com firmeza, como se esperasse que eu desmaiasse a qualquer momento.

Eu apenas assenti e seguimos para o corredor onde havia um bebedouro com copos descartáveis. Enchi um com água bem fria e engoli em duas goladas.

Blaine riu - Calma Pirraça. Se beber muito vai querer ir ao banheiro.

Dei um meio sorriso e tentei me recompor, mesmo sabendo que meus olhos estariam vermelhos e meio inchados. Entramos juntos e Ben estava conversando com meu pai, conversavam em tom baixo e meu irmão estava com os olhos meio avermelhados e segurando uma das mãos de papai.

– Kat, pode vim - Ben sorriu para mim me chamando.

Cada passo que eu dava para perto da cama, mais meus pés pesavam, o ar pesava e minhas lágrimas pesavam sob meus olhos e escorriam. Peguei uma prancheta que ficava pendurada ao pé da cama, a qual mostrava detalhes do paciênte. Garanth Lawrence Francione, ou apenas Gary, como preferia ser chamado. Sua ficha vinha com uma série de ferimentos os quais pareciam não acabar: Costelas quebradas, braço quebrado, pernas praticamente esfoladas com uma queimadura de terceiro grau, entre outros tantos pontos que me fizeram ficar pior ainda pelo meu pai.

Ben saiu do banquinho para que eu pudesse sentar ao lado da cama e ouvi-lo. Papai passou a mão pesada pelas minhas bochechas na tentativa, em vão, de secar minhas lágrimas que não paravam de escorrer. Segurei com as duas mãos a dele e chorei, apoiando a testa na ponta de seus dedos quentes

– Desculpe papai. Era pra eu estar ai no seu lugar, sinto muito...

Meu coração batia tão rápido e tão forte que pensei que meu peito iria estourar, mas ao mesmo tempo não parecia estar batendo. Minha culpa pesou naquela hora. Papai soltou uns murmuros os quais eram a tentativa de falar. Ele dizia "não fale assim" e "você ainda tem muito o que viver".

– Você também tem muito o que viver pai. Muito... - Eu chorava e ouvia meus irmãos fungando atrás de mim. Eles estavam tão tristes quanto eu com a situação que se passava.

– Kat... eu a amo filha - Dizia meu pai com os sons que fazia, mas que era compreensivel.

– Eu também o amo papai - Falei soluçando em meio aos prantos.

Ele falava como se não fosse conseguir falar outra vez. E talvez não falasse...

Chorei por alguns minutos, os quais Blaine beijou a testa de papai, um dos poucos lugares que não haviam muitos ferimentos, e falava com ele. Não consegui entender muito da conversa pois meus soluços de choro estavam altos e sentia meu corpo tremer.

Senti as mãos de Ben passando pela minha cintura e por tras de meus joelhos, me pegando no colo e me colocando num sofá no canto do cômodo. Permaneci ali encolhida com a cabeça no colo de meu irmão, sem conseguir parar de chorar enquanto a culpa me consumia.

Em alguns minutos uma enfermeira entrou e avisou-nos que alguém deveria permanecer ali com papai, ao menos um de nós pois deveria ter um acompanhante. Blaine ficou na parte da manhã, mas teria que ir trabalhar de tarde. Ben teria que ir para a faculdade e eu ainda era menor de idade.

– Mas e se eu trouxer alguém comigo? - Falei com a enfermeira do lado de fora.

– Se ele for da família pode. - Ela respondeu

Pensei rápido. Um familiar... Eu não conhecia ninguém que pudesse vir comigo, a não ser... - e meu namorado? Ele é maior de idade.

– Bem, se só há ele, então pode.

Suspirei aliviada. Agora só faltava um namorado que pudesse ficar comigo no hospital.

Nessa hora, meu celular tocou e tirei-o do bolso do short. Na tela, o nome Peeta Mellark tremia avisando a chamada.

Não custava tentar né?

– Oi Peeta - Atendi

– Peeta? Nada de Mellark? Está bem Kat? - Ele falou simpático

– Peeta - Minha voz vacilou e ele deve ter percebido que eu estava prestes a chorar. - Vem pro hospital por favor... - terminei a frase com a voz mais fina do que de costume.

– Sim, vou agora. O que aconteceu com você? - Sua voz soava realmente preocupada

– Eu realmente queria que fosse comigo...

– Ja estou no carro Kat. Em 10 minutos estou ai okay?

– Okay - Falei ja quase sem voz pelo choro.

Como prometido, em dez minutos ele chegou pelo elevador, apressado e visivelmente preocupado. Eu o esperava do lado de fora do quarto, sentada numa cadeira e quando o vi chorei mais. Não sei bem o por que, mas naquela hora ele era um ponto em que eu precisava me apoiar.

– Ei Kat. O que aconteceu? - ele perguntava me abraçando, mas eu so sabia chorar.

Chorei tanto que cheguei a molhar um pouco da camisa branca em gola V que ele usava junto com um jeans escuro, quase preto e um sapato preto.

Ben conversou com ele, explicando a situação e eu consegui engolir o choro e contar a Peeta meu plano. Ele fingiria ser meu namorado para que eu pudesse ser acompanhante de papai quando os meninos e minha mãe não pudessem ficar. Por incrível que pareça, ele aceitou.

Ficamos sozinhos no corredor sentados ao lado da porta.

– Por que aceitou tão depressa? - Perguntei

Ele sorriu, um sorriso que me causou borboletas no estômago - Eu sei que precisa, para ficar com seu pai. E gosto de sua presença. Tenho estado entediado ultimamente.

Soltei um sisinho e mordi a parte inferior da bochecha - Obrigada.

– Por nada - Ele falou mexendo na ponta da minha trança.

– Kat, ja estamos indo. Eu sei que vai perder as aulas de hoje, mas te ajudo com as matérias, pode ser? - Falou Benjamin beijando minha testa.

– Tudo bem - Falei

– Papai está dormindo por causa dos remédios e deve acordar só no fim da tarde. Qualquer coisa liga - Blaine disse e beijou minha bochecha, cumprimentou Peeta e vi meus irmãos desaparecerem por trás das portas do elevador.

– Agora somos só nós dois - Peeta comentou com um sorriso galanteador que me deixou encabulada.

O que seria de mim ali?