Era época de chuvas. Nós acordávamos com o som gostoso da água batendo na janela e caindo na rua. Eu preparava o café enquanto você ficava deitado no sofá. Depois ia para a faculdade. Horas e mais horas de aulas. Quando voltava para casa, mais horas e horas de estudo. Você trazia uma caneca de chocolate quente e outra de café amargo. Sentava-se a meu lado na escrivaninha e examinava papéis e fotografias. Após o fracasso na Sêmita dos Saqueadores, tornou-se mais cauteloso. Disse que encontraria os olhos a qualquer custo. Disse, não. Jurou.

Eu sabia que era só uma questão de tempo até você ir embora. Às vezes, ficava parado diante da janela, segurando meu café. Observava a paisagem cinzenta. Um céu plúmbeo como a tristeza em seus olhos. E me surpreendia quando sentia seu toque por trás de mim, fosse passando o braço em minha cintura, fosse encostando a testa em meu ombro.

Até te conhecer, acreditava só gostar de mulheres. Pietro fora um grande amigo, mas só. E você... Você era diferente. De um jeito bom e de um jeito ruim. Eu me preocupava tanto, tanto. Queria tê-lo sempre por perto. Eu amava você. E ainda amo.