O tom escarlate em seus olhos arregalados era o prelúdio de uma história que eu não queria viver. As palavras não saíam de mim. Havia apenas aquele terror vermelho em suas faces pálidas. As lágrimas começaram a cair. Foi a primeira vez que te vi chorando.

Senti o impacto no peito com uma força brutal. Senti seus dedos agarrando minha camiseta, entrelaçando-se no tecido. Você chorava. Chorava de soluçar. E, mesmo sem dizer nada, eu me via gritando. O que estava acontecendo? O que estava acontecendo com você?

Eu não percebi. Os dias eram tão iguais. Faculdade. Estágio. Telefonemas da minha mãe. Você. Era puxativo. Sempre voltava para casa cansado, mas quase sempre você estava bem ali, sorrindo para mim. E eu me sentia em casa.

Mas, então, você saiu como de costume e voltou daquele jeito. Chorando... Eu preferia que gritasse comigo! Que ficasse com raiva, que me chamasse de idiota. Ver você chorando me destruía demais...

A porta continuava aberta, e nós parados ali, você chorando, eu, sem ideia do que fazer. Eu queria que gritasse comigo... Mas você não disse nada. Afastou-se de mim. Dormiu sem mim. Sem explicações.

Na manhã seguinte, você me abandonou de vez.