No Rugido Do Leão

Capítulo 14 - Sim.


Samantha caminhava a passos rápidos. Não acredito que estou fazendo isso! A Lua ainda brilhava lá fora, ainda mais majestosa do que momentos atrás. Parecia rir-se dela. Pobre mocinha! talvez pensasse, Tão nova para se envolver nos laços do coração! A cada passo, a claridade daquele astro ficava mais intenso, sinal de que o lado de fora estava mais próximo. Será que a Lua já se apaixonara alguma vez? Acaso o Sol talvez tivesse roubado seu coração, assim como Pedro roubara o de Sam?

Ela abriu as portas do jardim. Lá estava ele, o canalha que lhe tacara uma pedra na testa. Se bem que, agora, ele não parecia tão odiável assim. Estava parado, defronte a um grande canteiro de lírios brancos, plantados ali por ela, e que brilhavam como pequenas estrelas, iluminando as roupas alvas que ele usava. Ele seria uma estrela, um cometa resplandecente.

– Estou aqui, imbecil! - Samantha gritou, furiosa – Que quer? Acaso não me machucou o bastante?

– Pensei que você demoraria!– ele se riu - Nunca foi rápida, pelo menos...

– Só quando quero matar alguém! - ela respondeu, entre dentes.

– Quanta raiva neste delicado coração! – ele disse, docemente - Por que minha flor me odeia tanto?

– Se eu fosse sua flor você não tacaria pedras em mim! - ela choramingou.

Passo Largo virou-se, assustado. Sua pedra atingira ela? Como? Ele sempre teve mira tão boa...

– Pela Estrela Vespertina! - ele se aproximou – Me perdoe!

– Não me toque! - Samantha esquivou-se – Já me feriu o suficiente!

Ele se aproximou dela. Ele tinha o perfume de rosas silvestres. Segurou a mão dela levemente, puxando-a para baixo, para revelar o corte e o fino fio de sangue que saía da testa dela.

– Oh minha flor! - ele disse em idioma comum, ao ver o estado daquilo. - Já volto.

Passo largo caminhou para além do canteiro, para uma parte escura do jardim. Retornou de lá com um punhado de ervas verdes com pequenas flores brancas, um simples matinho que se cata por aí. Ele se aproximou da fonte do jardim e mergulhou seu punhado de mato nas águas puras e cristalinas. Depois, se aproximou de Samantha, esmagando o mato molhado com as mãos. A mistura em suas mãos era repulsiva, e um líquido verde escorria por entre seus dedos.

– O que pretende fazer com isso? - Sam perguntou, já adivinhando a resposta.

– Colocar na ferida. – ele respondeu.

Essas três palavras fizeram a garota correr como louca. Ele não ia colocar aquilo na testa dela, não mesmo. Que coisa repulsiva!

– Samantha!! - Passo Largo gritava, olhando para todos os lados. - Isso vai te fazer bem! Pare de se esconder!!!!!!!

Ela correu para trás de alguns pinheiros decorativos. Sentia-se como uma menina de 10 anos, em um jogo de esconder. Seu coração pulsava rápido, mas seus lábios se abriam em um sorriso. Ele olhou para o lado direto. O jardim estava vazio. Apenas o som da água jorrando na fonte era mais alto que o de sua respiração.

– Onde ele está? - ela sussurrou, ofegante.

Então, sentiu-se ser imprensada contra o pinheiro, ele tinha prendido o movimento de seus braços, deixando-a indefesa. Perfeita para ele.

Aqui. - ele sorriu.

Passo Largo ergueu a sua mão e colocou aquela pasta nojenta na ferida dela. O sumo verde da planta escorria pela sua testa, fazendo-a se contorcer de nojo. Ele apertou a mistura com os dedos, e Samantha gritou de dor. Ele esperou mais uns segundos, e então a soltou.

Samantha correu para a fonte e lavou a fronte nas águas límpidas e cristalinas. Ela esfregava freneticamente, querendo muito que aquilo saísse logo. Que coisa nojenta! Passo Largo aproximou-se dela, rindo do desespero da garota.

O que era isso que você passou em mim??? - Samantha fazia caretas de nojo e repulsa.

– Athelas. Folha do Rei. - ele falou, como se fosse óbvio.

– Folha do rei? Por que pôs isso em mim??? – Samantha arregalou os olhos.

– Como assim?– Passo Largo arqueou a sombracelha - Athelas é a melhor erva para se tratar de feridas e aliviar a dor.

– Sério? – Sam estava impressionada – Aqui é usado para alimentar porcos!

– Que desperdício! – Passo Largo falou.

Samantha olhou seu reflexo na água. Sua testa estava suja com o sumo da planta, mas não tinha nem cicatriz. Era a recuperação mais rápida que ela já tinha visto.

– Seus conhecimentos são impressionantes. – ela disse, meio ressentida - Espero que eles te ajudem nessa jornada.

Passo Largo olhou para o rosto de Sam. Agora ele compreendia o que estava realmente acontecendo. Sua doce flor estava magoada com ele. Não queria que ele partisse, não agora, não assim. Mas ela era orgulhosa demais para admitir.

– Você é muito importante para mim, minha flor de Lóthien. Sem você, eu sequer estaria vivo. – ele segurou seu rosto, fazendo-a olhar em seus olhos - Mas eu preciso partir. Minha hora é chegada.

– Por que você quer ir embora? – uma lágrima rolou pelo rosto dela - Foi algo que eu fiz? Perdoe-me, por favor, eu imploro! Mas não parta!

– Oh minha querida! – ele a abraçou – Você só me trouxe alegria. Cada momento que eu passei com você foi único e especial. Por favor, entenda, eu tenho que partir!

Passo Largo passava seus dedos nos fios loiros da cabeça de Samantha. Jamais pensou que a veria chorar. Ela era tão doce, tão gentil, não merecia sofrer assim. Será que não há outro jeito?

– Mas... talvez eu não precise partir sozinho... – Passo Largo sussurrou, fazendo Samantha erguer a cabeça.

Um brilho de esperança encheu o olhar da moça.

– Lady Samantha... – ele sussurrou, mais para ele do que para ela - Acaso não gostaria de viver outra aventura?

– Sim. – ela suspirou - Eu quero partir com você.