No Rugido Do Leão

Aduial in Cair Andrüd


A vila em pouco tempo estava ainda mais encantadora do que antes: potes cheios de vagalumes pendurados nas casas e em postes; os cogumelos brilhavam, com seus tons de vermelho, verde e azul; flores brancas em todos os canteiros, jardins e nos cabelos das moças; e no meio da vila, uma grande mesa de madeira, compridíssima, coberta com uma grande toalha branca de linho fino e cintilante. E sobre a mesa, muitos arranjos de flores brancas, e as mais bonitas e diferentes iguarias que já se viram: flores de cenouras, tortas, bolos e pudins de nabos e batatas, doces coloridos com cebolas, tudo muito apetitoso, e seu sabor surpreendia qualquer um que enxerga tais alimentos como para apenas sopas e temperos. E no centro da mesa, uma enorme árvore branca, feita de gengibre.

Caspian surpreendeu-se ao notar o quanto ele e suas primas pareciam camponeses nativos dessa vila, com flores brancas nos cabelos trançados das moças e um cogumelo pequeno e brilhante em sua própria lapela.

Kuller e Medalyne se misturaram aos outros e logo desapareceram de vista, deixando os três a olhar a agitação e as danças, naquela sensação incômoda de quando vamos a uma festa onde não conhecemos ninguém.

– Você está engraçado. - Samantha comentou, de repente.

– Quem, eu? - Caspian perguntou.

– Aham. Nunca tinha visto você prender o cabelo. Ainda mais com ramos de trepadeiras. - ela continuou. - Ficou engraçado para mim.

– Bom, suas roupas também são engraçadas. - Caspian revidou - Nunca vi uma garota usar saias que brilham!

– Não é culpa minha! - Samantha começou a bater em sua saia - São vagalumes! Pousaram em minha roupa!

– Vagalumes trazem sorte aqui. - Passo Largo se aproximou deles, assustando-os.

– Ora ora... Justamente quem eu queria ver... - Caspian disse, cínico - Como vai, Passo Largo? Ou deveria dizer Gildarion II?

– Do que ele está falando, PL? - Belle cruzou os braços.

– Quando pretendia nos contar? - Caspian o acusou.

– Contar o quê? - Samantha assustou-se.

– Esse seu protegido nos escondeu suas origens! - Caspian brigou.

– Ele não é meu protegido... - Sam resmungou.

– Não escondi nada! - PL retrucou.

– Mas não está respondendo a pergunta! - Belle falou - Responda logo, do que Caspian está te acusando?

– Eu mesmo respondo! - Caspian cortou - Esse cretino é descendente de Aragorn!

As meninas olharam para Caspian em um pequeno lampejo de dúvida, mas ao olharem para a cara de espanto de PL, a certeza se fez presente.

– Por que não me contou? - Samantha quase chorou.

– Não era relevante. - PL respondeu naturalmente.

– Seu cretino! Você nos usou só pra voltar pra casa! - Samantha gritou.

– Isso não! - Passo Largo gritou - Bom, quer dizer, no início sim, mas...

Samantha estalou um belo tapa no rosto dele, fazendo-o se calar. E ela saiu correndo, com as lágrimas de raiva nos olhos.

– Isso é culpa sua! - PL se revoltou.

– Minha culpa?! - Caspian assustou-se.

– Ela não teria feito isso se você não começasse com essa história! - PL brigou.

– Se você tivesse dito a verdade, com certeza ela não estaria furiosa! - Caspian respondeu.

– Chega! - Belle interviu - Isso tem que parar. Caspian, como você descobriu?

– Nosso anfitrião me contou. - ele respondeu.

– Tinha mesmo cara do Kuller isso! - PL riu, furioso.

– E você, rapaz! - Belle chamou-lhe a atenção - Confirma ser verdade o que ele disse? E não minta pra mim, ou eu arranco seus dentes!

PL olhou para ela, pensando um pouco. Mas, por fim, disse apenas:

– É, é verdade. - ele suspirou.

– Eu sabia! - Caspian respondeu. - Minha vontade é a de te esganar aqui e agora!

– Acho melhor não, Caspian. Ele deve ter muitos parentes por aqui. Eles podem defendê-lo. - Belle respondeu - E além disso, Samantha vai gostar de ter esse prazer ela mesma.

Na mesa para o jantar, todos na vila estavam acentados, e serviam-se animadamente. Eldarion não se encontrava ali, afinal já era muito velho e doente, quase a ponto de morrer. Mas em seu lugar na cabeceira, estava a mulher que eles viram cuidar de Eldarion. Seu nome era Milifrey.

Milifrey era a mãe de Gildarion II, casada com Kaern, o pai. Ela era a líder da vila de uns anos para cá, e cuidava e regia os cidadãos com mãos firmes, especialmente as moças, que deviam estar sempre arrumadas, e dispostas a ajudar. E também que o nome Gildarion havia sido uma honenagem de Kaern a seu irmão mais velho, um dos primeiros a morrer com a peste. Pelo menos, foi o que Kuller contou para Caspian e Belle durante a refeição. Ele também contou que era o irmão mais novo de Katherine, também filho de Eliza, e que Medalyne era sua sobrinha, mas não era filha de Katherine. Contou que Eliza era filho de Gailnaur, segunda filha de Aragorn.

Kuller era um rapaz muito inteligente, e que gostava muito de estudar e pesquisar. Tornou-se o guardião do conhecimento na vila, e com isso, a posse de todos os livros.

De repente, ele se levantou, e pediu que Abelle cuidasse de Medalyne por alguns minutos. Eles acharam estranho, mas depois, muitas moças e rapazes começaram a se levantar e voltar para suas casas apressadamente, e fechavam as portas e janelas. Caspian e Abelle decidiram voltar para a casa de Kuller, onde encontraram Samantha entretida na mesma tarefa, enquanto ele se encarregava de trancar uma porta com uma chave dourada, e depois com muitas cadeiras.

– Rápido, Caspian, me ajude! - Samantha pediu, acordando o primo da hipnose.

Abelle observava a correria, segurando Medalyne em seu colo, que cobria as orelhas com as mãos. Kuller trancou a porta da frente, e parece que isso era a única coisa que ele poderia fazer.

De repente, sentiram uma forte onde de impacto, um estrondo muito forte, que fez com que eles se desequilibrassem.

– Rápido! Se encostem nas paredes! Sentem nos sofás! - Kuller ordenou.

Samantha subiu em uma prateleira, e Caspian sentou no sofá ao lado de Belle. Kuller sentou-se em uma cadeira enorme de balanço, e Medalyne correu para ele e o abraçou. Um segundo estrondo estremeceu o lugar, e os primos acharam que aquilo era um terremoto. Quem dera se fosse. E então, parou.

– Acho que acabou... - Caspian sussurrou.

Mas então, eles ouviram um grito. E outro, e outro. Muitos gritos desesperados, vindos de muitas casas da vila. Vozes femininas, masculinas, idosos e jovens, adultos, gritos e berros desesperados. Medalyne cobria os ouvidos, e Kuller a embalava em sua cadeira, dizendo frases ridículas como "está tudo bem", "não é nada", "vai passar" e coisas do tipo. Os corações dos primos nunca ficaram tão angustiados em toda a viagem. Mas agora, era tarde demais para fugir ou fazer qualquer coisa. A peste havia começado.