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Gritos eram a única coisa que preenchia a enorme mansão Mikaelson. Os sons de jarros quebrando, paredes sendo destruídas. O ciclo de brigas entre todos era interminável, uma discussão se iniciava desde um grão de arroz fora do prato até mesmo sobre as noites de lua cheia. Tudo era motivo para que o ódio fosse despejado sobre toda a família a todo o instante e isso os dividiu como nunca, Natalia fora a mais afetada, a falta de costume e a irritação era tamanha que sua personalidade explodia peito a fora.

A rejeição de seu primeiro amor lhe feria o peito com força, a estima, os pensamentos bons, nada mais disso parecia existir na jovem. Se sentia um verdadeiro fracasso, talvez por toda a eternidade Elijah seria o único homem que a amaria, o único homem que poderia enfrentar Niklaus sem que ela visse sua vida se esvair diante de seus olhos como vira naquela única vez. Natalia sentia dor, muita dor ao notar que ele jamais iria contra o irmão ainda mais em uma situação tão delicada quanto vinha sendo nos últimos dias.

– Natalia. – Niklaus invadiu o quarto dela vendo os olhos vazios, os cabelos bagunçados desgrenhados e a expressão de cólera, seus ouvidos doíam, seu coração doía – Venha jantar.

– Não. – fora enfática e o olhou sentindo o corpo ser dominado pelo ódio, Niklaus conhecia aquela expressão como ninguém e soube que seus problemas só estavam começando.

– Quem lhe machucou?

– Você! – ela gritou apontando o dedo no rosto – Por todos esses anos foi você!

– O que eu fiz? – ele berrou de volta lhe fazendo doer os ouvidos e quando menos esperou foi atacado de maneira selvagem por Natalia que pulou sobre ele os derrubando no chão com um imenso travesseiro com o qual tentou o sufocar sem sucesso e então ela passou a o espancar com o travesseiro de maneira agressiva fazendo um som alto, ela jogou o travesseiro longe fazendo com que diversos cálices caíssem da fronha e aproveitou para pegar um deles e começar a bater nele com força fazendo o som da pancadas ecoarem pelo quarto. Estava em cólera, Klaus parecia se divertir vendo ela ser rejeitada, decidiu acatar os conselhos de Valerine somente dessa vez.

– Eu não tenho amigos! Eu não tenho alguém que me ame! Eu não tenho uma família de verdade e eu nunca vou ter! – começou a o espancar com as mãos – Por que você é um psicopata maluco! Doente! – berrou e ele a jogou para cima com força a fazendo cair sobre a cama.

Klaus a olhou com o rosto com manchas roxas, as marcas de unhas pelo rosto e as pedrarias do cálice grudados nas bochechas. Ele sentiu o ódio lhe consumir em brasas, mas não sabia o que fazer, não tinha ideia do que fazer. Se fosse Kol ali, ele o espancaria assim como faria o mesmo com Finn e o mesmo com Elijah, mas se tratava de sua filha. Ele não sabia o que fazer, então respirou várias vezes tentando controlar o difícil gênio com toda a força sobrenatural que possuía e então apontou o dedo para a cara dela.

– Desça imediatamente antes que eu mande Finn vir te buscar. – a ameaçou e saiu batendo a porta.

Natalia respirou fundo sentindo as mãos doerem e então as olhou vendo as manchas de sangue de Niklaus, se sentia patética, queria ser poderosa tanto quanto eles, queria ser forte, destemida e fazer o que bem entendesse. Ela crescera com pessoas assim, vivera com pessoas assim, fora educada e guiada por pessoas assim. Era mais do que justo que fosse assim, que se tornasse forte e a altura de seus inimigos, mesmo que vivessem sob o mesmo teto. Natalia tinha que crescer, não viveria mais sob a tirania e os cuidados excessivos de Niklaus e de sua família.

Ela não tinha sangue de vampiro no organismo, nunca o tivera e agora era o momento mais do que ideia para o ter. A jovem correu em direção ao próprio banheiro e machucou o próprio rosto com as unhas, sabia que a dor que sentiria seria horrível, mas ela tinha de fazer isso o mais depressa possível. Mal sabia dos malefícios do vampirismo.

Agarrou a bandeja com as louças do café da manhã que Rebekah levara para ela e se dirigiu para a escada no hall, as mãos tremulavam e ela se questionou se deveria mesmo fazer isso, estava com medo de o fazer, mas sabia que era necessário. Era a sua sobrevivência, sua felicidade. E então sem pensar em absolutamente em nada ela jogou o corpo para frente, as louças caíram para frente se espatifando em centenas de pedaços e o corpo dela caiu sobre os milhares de cacos de vidro que lhe perfuraram a pele enquanto ela rolava escada a baixo sentindo a dor aumentar mais ainda. O grito de dor fora o suficiente para que todos corressem para o local encontrando a jovem jogada no chão virada para cima com centenas de cortes no corpo e um imenso na barriga evidenciado pela blusa branca, Kol olhou e desapareceu em pânico.

Natalia tremia incapaz de abrir os olhos, a luz do lustre acima dela a deixava desnorteada, sentia o toque quente de Klaus em sua testa a medida que seu sangue esvaia e então veio o que tanto queria, ele sabia que ela iria morrer e deu-lhe a vida de volta. O sangue lhe inundou a boca deixando-a com gosto de ferro, Natalia tentou abrir os olhos, mas estava impossibilitada sentindo um sono a atingir com força.

Klaus a segurou contra o peito e levantou a blusa dela retirando o imenso caco de vidro de sua barriga vendo que ela continuava imóvel, Elijah se aproximou extremamente preocupado e a olhou por cima do ombro de Niklaus tentando fingir despreocupação, mas não era possível. Os ferimentos estavam se curando de forma muito lenta e a pele esbranquiçada juntos dos lábios azulados estavam os assustando, Klaus parecia completamente em estado de choque sem reagir a nada, como se ela já estivesse morta.

O moreno o empurrou para longe e pegou Natalia nos braços, a colocou na cama macia e Rebekah surgiu colocando dezenas de cobertores sobre ela e ligando o aquecedor ao lado da cama, a loira suspirou e arrancou a bolsa de sangue das mãos de Elijah e enfiou a agulha no braço de Natalia. Kol agira rápido como se soubesse da necessidade e logo chegara com a bolsa de soro em mãos entregando para Rebekah que prontamente as colocou sem parar por um único segundo.

Aos poucos Natalia começou a se recuperar, e os batimentos ficaram mais fortes, embora Rebekah achasse que isso ainda não a tirasse de um caso de risco.
...

Quando Natalia acordou apenas uma rosa estava ao seu lado, era vermelha de cheiro forte, mas ela ainda sentia o cheiro doce do perfume de Elijah quase imperceptível para ela. A jovem olhou para o próprio braço e arrancou as agulhas se sentindo entorpecida, sentia a coragem que lhe restava se esvaindo a medida que a chuva torrencial iniciava.
Suspirou e olhou para o próprio corpo vendo que usava um vestido escuro, o levantou notando que o imenso corte havia desaparecido e então ergueu os olhos sabendo que havia dado certo.

Natalia só precisava dar continuação ao que havia começado, andou cambaleante pela mansão tentando passar despercebida, o barulho da chuva era tão alto que ela não conseguia ouvir nada e duvidava que os outros vampiros o fizessem. Natalia passou pelas janelas escurecidas devido a noite e fracamente iluminada pela lua. Subiu o máximo que conseguiu e foi em direção a varanda que ficava sobre o chão de concreto, o medo de ter apenas uma coluna quebrada e a dor intensa enquanto era curada a encorajou a subir no parapeito e escalar os telhados até o ponto mais alto.

Olhou para o chão sentindo o medo lhe assolar e então saltou sem pensar em absolutamente nada, apenas se jogou e seus olhos se fecharam antes mesmo que chegasse ao chão, o coração parou antes mesmo que ela o tocasse. Sua transformação agora quase completa. E então o único som que ecoou por todo o local fora o suficiente para despertar toda a mansão, Klaus foi o primeiro a encontrar dominado pelo terror e pela dor, não sabia se o sangue que lhe dera seria o suficiente para que ela voltasse.

Os joelhos dele bateram com força
fazendo um estalo alto, ele a tocou e evitou mexer no corpo mole e sem vida de Natalia. Rebekah parou logo atrás tapando a boca com as mãos e escondendo o rosto no peito de Kol que apenas tinha os olhos fixos na sobrinha morta, Finn se quer ousou sair para a chuva e Elijah apenas se dispôs a olhar da varanda enquanto dolorosamente dava as costas engolido pela dor e arrependimento.