No Ritmo do Amor

Dores do Passado.


– Não a quero em minha vida! Completei me sentido com a raiva que lutei tanto para afastar de mim, mas era mais forte do que eu jamais fui. – Não a quero!

Paulina permaneceu em silencio, ainda continuávamos abraçados e sentir seu calor me acalmava.

– Você não pode simplesmente apagá-la de sua vida, meu amor! Finalmente ela disse. – mas pode superá-la! Completou quando eu não disse nada. – mesmo que não queira ela é sua mãe, mesmo que não o mereça como filho ela sempre será seu sangue!

Ouvir isso era como ouvir uma sentença...

– Eu posso ser filho dela, mas a desprezo, a desprezo com todo meu coração pelo mal que ela me causou! Disse me afastando para olhá-la. – Não quero vê-la novamente, não quero vê-la nunca mais em minha vida. Disse com os olhos úmidos.

– Você é bem melhor que isso, Carlos Daniel! Paulina me disse enquanto acariciava meu rosto de forma carinhosa, seus olhos verdes me observando com preocupação, amor...

– Eu... eu... Não sou assim... Dizia tentando engolir o nó que apertava minha garganta. – sinto tanto decepcioná-la, meu amor! Completei a olhando nos olhos.

– você não me decepciona! Ela disse calmamente, sua voz era tão baixa e serena – eu sei quem você é! Completou sorrindo. – e por isso me apaixonei por você! Concluiu com um sorriso nos lábios.

– Como pode saber se às vezes nem mesmo eu tenho certeza de quem sou! Disse buscando uma resposta.

– Você é o menino doce que Helena Bracho salvou! Disse Paulina com lagrimas nos olhos. - esse menino ainda existe ai dentro! Disse tocando meu peito, meu coração acelerou com suas palavras, ainda doía pensar naquele menino, doía pensar em Helena Bracho... E senti meus olhos arderam com as lagrimas – Porque a sua mãe de coração mostrou o mundo maravilhoso que você poderia ter! Explicou com um sorriso em meio as lagrimas que molhavam seu rosto.

Não conseguia mais segurar toda dor que sentia e deixei que as lagrimas viessem sem vergonha que Paulina as vissem, ela estava ali e somente isso me importava agora.

A abracei ainda mais forte enterrando meu rosto em seu pescoço e inalando seu perfume. Não sei quanto tempo passamos assim, mas naquele momento sentir o carinho e amor de Paulina era a única coisa que precisava para amenizar a dor que rasgava meu peito.

Tinha planos melhores para essa noite, não queria que as coisas terminassem assim.

– eu sei que você não vai me decepcionar! Paulina sussurrou em meu ouvido antes de se afastar para me olhar nos olhos. – agora vamos, que já esta ficando tarde! Disse se afastando. Senti a ausência de seu calor, mas não protestei e a segui em silencio ate nosso quarto.

## Manhã seguinte##

Quase não dormi essa noite, Não conseguia afastar da minha mente aquela mulher em meu escritório.

O dia La fora começava a clarear, uma neblina espessa cobria os jardins da mansão e o sol começava a aparecer timidamente mandando o frio da manhã embora

Mesmo tentando concentrar-me no nascer da manha não conseguia afastar de minha mente a imagem daquela mulher, ela estava tão diferente do que me lembrava... Pensava também na conversa que paulina e eu tivemos na noite passada, Paulina tinha fé em mim, assim como Helena Bracho um dia tevê.

– não quero, não posso perdoar aquela mulher! Disse a mim mesmo.

Enquanto tentava encontrar uma forma de esquecer todos os acontecimentos das ultimas 24 horas e voltar a seguir meus planos sem sentir essa angustia que apertava meu peito olhava Paulina que dormia serenamente ao meu lado.

E mesmo em meio a tanta tristeza não queria decepcioná-la, não poderia.

Fui tirado de meus pensamentos com meu celular tocando atendi rapidamente não querendo acordar Paulina, me levantei e segui para o corredor.

– Do hospital? Perguntei alarmado.

– sim, senhor... Ligo porque uma paciente deseja muito falar com o senhor! Explicou a mulher do outro lado da linha.

– quem? Perguntei ainda confuso.

– Ela diz ser sua mãe, senhor Bracho! Explicou.

– Não desejo vê-la... E por favor, não voltem a me chamar! Disse me sentindo irritado.

– mas senhor... Chamou a mulher do outro lado apreensiva. – a senhora esta em seus últimos momentos! Explicou.

– Não me importo! Disse desligando o telefone.

Ainda permaneci parado no corredor, a respiração irregular... Ela estava morrendo e queria falar comigo, eu nunca poderia imaginar isso quando a vi ainda ontem em meu escritório me pedindo perdão, ela esta morrendo.

Deus, eu não suportaria vê-la novamente...

– Carlos Daniel! Disse Paulina ao me encontrar parado no corredor. – você esta bem? Perguntou me olhando.

–Meu amor! Disse surpreso ao vê-la ali, nem ao menos percebi sua aproximação, estava com a cabeça longe.

Permaneci em silencio, tantas coisas se passavam por minha cabeça naquele momento e saber que aquela senhora estava morrendo mudava algo dentro de mim, ela queria meu perdão para morrer, talvez tenha se arrependido, as pessoas tem o direito de errar... Mesmo que esse erro tenha causado tanto mal.

–Meu amor... Você pode... Hãm... Pode-me... Disse nervoso. – você pode me acompanhar a um lugar? Perguntei a olhando suplicante, precisava de sua força.

– claro que posso! Ela disse me olhando com preocupação. – aonde vamos? Perguntou seriamente.

– ao hospital! Disse seriamente.

– você não se sente bem? Perguntou alarmada.

– Não, eu estou bem! A tranqüilizei rapidamente. – é que... Aquela senhora que foi ao meu escritório ontem, ela esta morrendo! Expliquei a olhando seriamente, sem saber o que pensar como me sentir...

Paulina se aproximou me abraçando... Respirei aliviado, eu não estava sofrendo por perder algo que nunca tive... Estava sofrendo por ter de encarar meu passado novamente, me sentia confuso, não sabia como me sentir diante dessa noticia.

– Não quero ter raiva dela! Eu sussurrei pensativo. – ela esta morrendo!

– você pode deixar que ela vá em paz, meu amor! Paulina disse se afastando para me olhar nos olhos e enquanto me observava com preocupação acariciava meu rosto de forma carinhosa. – somente você pode dar a ela a paz que veio buscar ao te procurar depois de tantos anos! Completou me oferecendo um pequeno sorriso.

Eu nada disse... Não sabia como poderia dar a aquela senhora paz... Meu perdão não poderia dar a ela a paz que buscava ou poderia?

– Acho melhor nos apressarmos! Eu disse quebrando o silencio, não queria ter de pensar agora nesse assunto.

– Claro! Paulina disse se afastamos e juntos voltamos para nosso quarto.

Arrumamos-nos em completo silencio a imagem daquela senhora em minha sala ontem não saia de minha cabeça, a forma como ela me olhava... Céus, porque não podia deixar de pensar em alguém que me causou tanto mal? Me perguntava me martirizando com lembranças.

Mal toquei em meu café da manhã e depois de ligar para a empresa avisando que pela manhã não poderia comparecer e pedir que minha secretaria cancelasse todas minhas reuniões eu e Paulina saímos para o hospital, descobri o endereço retornando ao numero que me ligaram essa manhã, ela estava no Hospital publico.

Nenhuma surpresa. Pensei.

Paulina e eu seguimos o caminho inteiro em silencio, mas vez por outra paulina me lançava um olhar preocupado...

– Bom dia... Me chamo Carlos Daniel Bracho! Me apresentei na recepção do hospital, Paulina permanecia a meu lado me dando força e eu era muito grato por isso, talvez não pudesse fazer isso sozinho. – Procuro por... hãm... pela senhora... disse de forma nervosa sem saber como me referir a ela. – Procuro à senhora Ema Cristina Guzman! Disse com a voz embargada.

Depois de tantos anos ainda me lembrava daquele nome, o nome que lutei durante anos para apagar de minha memória, o nome que jamais pronunciei em voz alta agora me soava estranho... pensei irônico

– Um segundo senhor! Disse a enfermeira enquanto procurava em sua prancheta pelo nome da pessoa que eu buscava. – senhor Bracho, o senhor terá de me acompanhar, por favor! Pediu a senhora me olhando com cautela.

Concordei e seguimos a enfermeira pelo corredores do hospital, meu coração batia veloz em meu peito em antecipação, logo estaria cara a cara com meu passado e não sabia se me sentia preparado para encará-lo novamente.

– Senhor Bracho! Disse uma senhora alta de meia idade, cabelos cinzentos e olhos azuis muito claros, ela me olhava cheia de curiosidade – sou a doutora Rosália Lopez! Apresentou-se de forma seria.

– Muito prazer, doutora! Disse apertando sua mão. – essa é minha namorada, Paulina! As apresentei e elas se cumprimentaram.

– Fico contente de que tenha decidido vir... disse a doutora me olhando nos olhos. – sua mãe esta muito mal! Explicou me observando.

Me mexi inquieto com a forma próxima com que a doutora se referia a aquela senhora e eu. Não conseguia chamá-la de mãe, para mim apenas helena Bracho era digna dessa titulo.

– o que ela tem? Perguntei olhando a medica de forma sisuda.

–AIDS! A medica foi curta e grossa.

Eu fiquei mudo, sem saber o que dizer, ela estava morrendo de AIDS... céus. Senti Paulina me abraçar quando me afastei da medica tentando me acalmar.

– AIDS! Repeti retribuindo a abraço de Paulina. – meu deus! Eu disse em um murmúrio, lamentando.

Eu verdadeiramente senti por aquela senhora, mesmo a odiando por ter me causado tanta dor não poderia desejar tamanho mal a alguém.

– infelizmente ela esta em um estagio muito avançado da doença, há anos ela vem lutando...

– quanto tempo? Perguntei olhando a medica nos olhos.

– 10 anos! Disse a medica seriamente ficando em silencio enquanto me observava com curiosidade. – ela passou esses últimos 10 anos falando do filho! Confidenciou a medica.

Senti minha garganta aperta com sua revelação.

– Posso vê-la? perguntei

– claro... pode me acompanhar? Perguntou enquanto passava por nos e seguíamos por alguns corredores.

O som do salto alto da doutora ecoava pelos corredores daquele lugar e sentia meu coração Bater mais forte a cada Martelada que a madeira do salta dava no piso... Paulina permanecia ao meu lado, sua mão entrelaçada na minha, me transmitindo sua força com seu toque...seguíamos em silencio pelos corredores.

Como ela estava internada na UTI tivemos que vestir uma roupa especial para entrarmos.

– Ema? Chamou a doutora de forma intima, afinal, se conheciam há muito tempo e pareciam ter se tornado amigas nesse longo período, eu observava de longe, sem consegui me aproximar do leito daquela senhora.

Meu coração batia tão forte...

– Doutora! Ela disse com a voz arrastada, ofegante, enquanto os aparelhos ligados a ela monitoravam sua freqüência cardíaca, um respirador artificial ao lado de seu leito subia e descia no ritmo de sua respiração.

– ele esta aqui! Disse a doutora lhe sorrindo. – ele veio, Ema! Disse segurando sua mão.

– M-meu filho! Disse a senhora se emocionando com a noticia. – ele veio me ver! Disse esperançosa.

– Eu disse que ele viria! Disse a medica sorrindo enquanto a olhava emocionada.

– onde ele esta? Perguntou a senhora de forma fraca, mas ansiosa.

– bem aqui! Disse a medica olhando para mim e eu obriguei meus pés a saírem do lugar, eles pareciam pesar uma tonelada.

Me aproximei da cama daquela senhora e céus, como ela poderia ter mudado tanto em apenas algumas horas? Me perguntava olhando seu rosto cansado de tanto sofrimento.

Ligada naqueles aparelhos, seu rosto estava mais Pálido que o normal...

– Meu filho! Ela disse me olhando nos olhos enquanto as lagrimas caia por seu rosto e caia no travesseiro.

Eu não sabia o que dizer...

– Ema! Eu me obriguei a dizer seu nome, deixando a ela claro meu rancor.

– Filho! Ela tornou a dizer, seus olhos brilhavam pela lagrima e meu corpo enrijeceu quando ela estendeu a mão em minha direção.

– Eu Não posso! Disse olhando no fundo de seus olhos e sai do quarto rapidamente andando a passos largos pelos corredores do hospital, Paulina me seguia tentando me alcançar, a única coisa que queria era sair dali, precisava sair dali... Pensei que poderia fazer aquilo, mas não posso, Não posso perdoar aquela mulher...

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.