Enquanto isso, Tom e Bauer continuavam a caminhar túnel adentro, desavisados sobre a ausência de Dipper ali com eles.

Um silêncio constrangedor já estava a se desenrolar nos últimos cinco minutos, o que fez Tom finalmente se manifestar de tanto incômodo:

— Então... há quando tempo está preso?

— Não me lembro. Você se lembra de quanto tempo estava preso?

Thomas retraiu, sabia exatamente sobre o que o outro se referia embora não soubesse como.

— Um membro da antiga Rebelião não conseguiria se safar das garras da Guarda por todo este tempo se não estivesse se escondendo — esclareceu Bauer, sem tirar os olhos da frente. Porém, esgueirou o olhar para o bracelete no pulso de Lucitor. — Não com esse brinquedinho aí no seu braço.

Thomas supirou. Não sabia se deveria continuar a falar.

— Como conseguiu? Onde esteve?

— Na base secreta. Desde que a primeira batalha civil caiu, eu mal tirei os pés de lá.

— Então é verdade? A base secreta dos rebeldes não é um mito?! — uma sobra de animação finalmente apareceu na voz de Bauer.

— Sim. Existe. E ela é mesmo não rastreável.

— Ouvir isso parece um absurdo, sabia?

— Bem, eu sou a prova viva, devo ter vivido por mais de 30 anos lá.

— Não estou falando da base.

Thomas olhou para ele com curiosidade.

— Estou falando de... — Bauer deu uma travada, quase tímido. — De saber que ainda existisse alguém da Rebelião de pé. Que ainda exista alguém que acredita. Esperança parece a maior lorota pra mim.

Ficar sem silêncio nunca foi tão tortuoso para Lucitor.

— Desculpa — respondeu Tom finalmente, sem nem perceber o que tinha acabado de falar, olhando para os próprios pés enquanto caminhava. De um momento para o outro, sentiu-se solto. Pela primeira vez em mais de trinta anos, teve a sensação de realmente falar com alguém. Falar de verdade, com alguém que lhe entendia, que podia fazer o mínimo de ideia sobre o que ele tinha passado. Claro, Dipper havia se mostrado ótima companhia, mas, no fim do dia, ele ainda continuava sendo meramente seu pupilo e meramente humano, desprovido da vivência de anos de exclusão e ostracismo do Mindscape. Bauer era o contrário. Pela primeira vez, mesmo que por aquele breve instante, Tom sentiu a facilidade para falar. — Com tudo que vivi, com todos os anos em que passei refletindo sobre isso, eu acabei treinando a mim mesmo para nunca lamentar. Mas, quando você foi o responsável de um movimento que carregava nas mãos o futuro de tantos seres e acabou falhando do jeito que a Rebelião falhou, você não pode evitar um pouco de culpa de vez em quando.

— Sente saudades? Deles? Lutar contra esses filhos da puta?

— Todo santo dia. — Thomas nunca teve tanta certeza de algo saído da sua boca.

Bauer sorriu de canto de rosto. — E se eu te dissesse que talvez o seu esforço não tenha sido todo em vão?

A frase ecoou no interior de Tom e, por um segundo, só existiu ela dentro de sua mente.

— Como assim? — Voltou a reerguer a cabeça.

— O Índigo que você nos trouxe. Achamos que ele pode ser a chave pra sair dessa merda toda.

— O Dipper?

— Sim, ele não é o Índigo de Bill Cipher?

Thomas derrapou o passo, chocado.

— O quê? — Virou para trás à procura do amigo. — Dipper, por que não me falou disso antes?

Silêncio. — Dipper...?

Os dois olharam para o chão e analisaram as pegadas, só haviam os rastros dos passos de Bauer, Narigudo e Tom.

— Acho que ele se perdeu — explicou Tom confuso a Bauer.

— Vamos atrás dele.

*

Saindo do corredor, Dipper passou a seguir a dupla da garota libélula e do garotinho salamandra.

Os dois pararam em um dos claustros de camas improvisadas. A Libélula deitou o pequeno na mais próxima.

— Descansa agora, ok? — aconselhou ela. — Vou procurar algo pra conseguir diminuir a dor.

Ela saiu. Dipper ficou sozinho com Milo, mesmo que este não soubesse dele. O menino salamandra virou de lado, levantou sua bonequinha na altura dos olhos e sorriu através da dor. Mesmo que pálido e claramente delirando, o afeto dele era perceptível. Milo começou a acalantar para o protótipo da sua futura Índiga e para si.

Pines fora acometido por uma vontade imensa de tocar no pequenino. De compartilhar e lamentar de sua dor. De dizer qualquer coisa. Seu coração doía de um jeito no qual ele ainda não havia experimentado. Por mais incrível que parecesse, Dipper havia descoberto uma dor que ainda não sabia ter sentido.

Foi quando ele teve a maior realização desde que pisara no Mindscape:

Ele não estava mais doendo por si próprio.

Durante todos esses anos, todo esse tempo, Dipper esteve tão enfurnado em sofrer pelas desventuras da sua vida que ele nem parou pra perceber nas da vida dos outros. Claro, já chorara por Ford, por Bill, por Mabel, mas não era a mesma coisa. Aquelas pessoas estiveram, de um jeito ou de outro, diretamente ligadas às infelicidades dele.

Essa vez era diferente.

Dipper não era exclusivo.

Aquele lugar. Aquelas pessoas. Todos, em conjunto...

Todo mundo doía.

Começou a chorar.

Afastou-se dali o quanto antes, pois sentiu que começaria a gritar. Chegou nos túneis, percebendo agora o quanto eles eram apertados, o quando o deixavam sem ar, claustrofóbico. Estava numa caixinha de fósforos. Andava de um lado para outro, sem sair do lugar. Perdera tanto tempo. Tanto tempo se lamentando quando existiam outras pessoas naquelas condições.

Sua Ursa Maior ardia, parecia querer puni-lo, castigá-lo.

Pensou em Cipher.

Todo aquele tempo e era por isso que Dipper e Stanford eram tão importantes para Bill. Eles eram a sua única chance de ter uma liberdade, uma vida de verdade. E todo aquele tempo Dipper o afastou. E, por causa da influência de Time Baby, Ford o afastou também. Bill os amava de verdade. Não teria como não amar quem é literalmente a sua vida, quem é literalmente é a saída dos seus sofrimentos. Bill deu tudo pelos dois. Abandonara totalmente a sua forma física por causa de Dipper e Ford. Passara por aquela tortura até não ter mais nada que dar. E, mesmo assim, Bill falhou. Duas vezes. Com dois Índigos. Em duas linhas temporais diferentes. Só para terminar voltando para este mesmo lugar...

Era quase como... como se Bill não tivesse falhado, mas Dipper tivesse falhado com ele.

Precisava encontrá-lo. Agora.

Saiu em disparada na direção em que Bauer e Thomas tinham ido. Desceu todo o túnel até os pulmões arderem, cansados de tanto ficarem sem ar. No caminho, bateu com Tom e os outros.

— Dipper! — exclamou Tom.

— Onde está o Bill?! — Dipper arrancou fora a capa de invisibilidade, deixando à mostra seu pranto.

Os olhos de Bauer se arregalaram em reconhecimento.

— Você viu, não viu?

— Viu o quê? — Tom perguntou, desconcertado.

— Ele está no final deste corredor. — E, antes de abrir espaço para que o garoto passasse, curvou-se sobre o ouvido dele, pousou a mão no ombro de Dipper e consolou: — Sinto muito.

Dipper não deu confiança e continuou correndo.

Não teve noção de tempo. Quando notou, o túnel havia se aberto para uma longa sala improvisada. No chão, estavam ladeados diversos corpos cobertos por trapos. Dipper correu, de olhos na fileira, inspecionando rapidamente cada um deles, torcendo para que não encontrasse um garoto loiro em meio aos monstros mortos. Do outro lado, os ecos apressados dos passos de Bauer, Narigudo e Tom vinham atrás.

Rodou em torno do próprio eixo. Olhando por toda parte quando, de repente...

— Carneirinho...

O estômago de Dipper congelou. Sentiu-se no primeiro carrinho de uma montanha-russa, sentado no lugar da frente, no final da subida, naquele exato momento em que, em suspense, o carinho para um segundo antes da descida antes de cair.

Ele virou na direção da voz.

E o carrinho despencou. A cena atingiu Dipper feito uma lufada violenta de vento, penetrou as janelas da sua alma e revirou e destruir as suas estruturas além da arrumação.

Cipher estava deitado em quase posição fetal sobre uma lona esfiapada. Nu a não ser por um pano encardido e fedorento enrolado em volta da sua cintura. Os cabelos, gordurosos. O corpo, mais fino e pálido do que ele já tinha visto antes, coberto de hematomas, vergões vermelhos e roxos, e feridas absurdas que só não estavam abertas por estarem cobertas por barro para poderem atrasar o inevitável e iminente estado de putrefação.

Era ainda pior do que Pines havia visto na visão que tivera na caverna.

Sua mente pareceu dar um curto-circuito, pois, entre o pique de um desconhecido intervalo, Dipper viu-se ajoelhado diante de Bill, a cabeça dele acomodada em seu colo.

Cipher deu um sorriso dolorido, uma tarefa que parecia requerer de toda a força restante do loiro. — Você... voltou.

— Por favor, Cipher, não se esforce. Por favor.

Mas Cipher não desfez o sorriso. Invés disto, tomou alguns longos segundos para conseguir levantar a mão trêmula na altura do rosto de Dipper e descansar seus dedos no seu perfil. Bill deu o seu possível para afagar o rosto do garoto.

— Eu sabia... você iria vir... — A voz ia se apagando, virando um balbucio embriagado, e os olhos de Cipher começavam a ter dificuldade para se manterem abertas.

Houve uma fisgada no peito de Dipper.

— Charlie, me desculpa. — As lágrimas caiam do seu rosto no que se afogava nos soluços, a sua marca de nascença brilhava azul sem que ele notasse. — Me perdoa, de verdade.

As pupilas lilases cintilam com um fiozinho de luz.

— Fizemos o que pudemos — soou a voz amparadora de Bauer a alguns pés de distância. — Mas ele apanhou muito dos outros monstros assim que chegou aqui. Quando o acolhemos ele já estava, bem... nessas condições. Eu... — Bauer se cortou, estranhamente acanhado de novo. — Sinto muito.

Tom arquejou espantado, olhando para a cena com angústia. Lentamente, se aproximou dos dois amigos. Mais de perto, foi capaz de ver o número de costelas quebradas do loiro. Lucitor voltou a fitar Bauer com repulsa.

— Isso não é um lugar para alguém do estado dele ficar! Junto com todos esses mortos, ele pode pegar uma infecção séria estando num corpo humano. O que estão pensando?!

Bauer desviou o olhar, culpado. Narigudo, sem poder produzir voz, curvou as sobrancelhas para formar uma expressão de dó. Após um momento de vergonha, o troll revelou:

— Será que você ainda não notou? Este lugar onde estamos não é o nossa “alinha médica”... é a nossa dispensa.

O ar pareceu ser sugado do lugar.

Tom ficou olhando para os dois em choque.

— O... Bill... dispensa...

— É — disse Bauer — Não temos nenhum tipo de auxílio médico por aqui se você ainda notou. Alguém no estado desse cara não vai sobreviver aqui por muito tempo. É um fato, já passamos por isso antes – damos o nosso máximo para reverter, mas só acabamos atrasando.

— Vocês... vêm se alimentando da sua própria espécie? Estavam esperando Bill Cipher morrer para poderem servi-lo numa bandeja?! — explodiu Dipper.

— Olhe em volta, rapaz! Não estamos na porra de um hotel! Você acha que aqueles merdas da Guarda se preocupam em nos dar alguma coisa de comer? — Abaixou o tom de voz, percebendo a seriedade: — Não é nada pessoal. O único motivo pelo qual pegamos ele foi por ser um novato. Sempre pegamos os novatos e os já mais machucados pra garantir que não nos apeguemos a eles. Temos que sobreviver.

— Por que me trouxeram aqui, então?! Por que já não adiantaram a mentira e falaram que ele já morreu?! Por que me arrastaram até aqui?! Queriam me ver sofrer?! É isso??

Thomas hesitou em tocar Dipper ou não, com a mão pairando sobre o ombro do pupilo. — Dipper... eu sinto muito. — Thomas disse isso porque, sinceramente, o que mais havia para poder ser dito? Só lhe restavam isso, como sempre restava dentro daquele mundo: lamentar.

— Não — Dipper cortou antes mesmo de Thomas poder terminar. — Bill Cipher não vai morrer, eu não vou permitir isso.

— Dipper, você ouviu o que ele disse, nesse lugar...

— Foda-se! Eu vou embora do Exílio com ele agora, você me leva de volta pra minha dimensão que eu garanto resolver isso!

— Não é tão simp...

— Thomas, já fizemos o que tínhamos que fazer por aqui. Vamos agora! Estou mandan...

— Dipper! — O ganido rascante de Charlie recuperou a atenção do garoto. Tudo voltou ao silêncio para que ele pudesse falar. Bill ainda continuava sorrindo. — Tá tudo bem.

— Não, Bill, não está. Olha pra você!

— Está, sim, Dipper. Por favor, eu não quero desperdiçar esse momento. Eu odeio ter você brigando comigo.

Se palavras pudessem ser afiadas como facas, as de Bill agora seriam a lâmina de uma guilhotina. Dipper por pouco não perdia a cabeça. Lá já estava ele quase pensando em si de novo.

Verdade. Se Bill estivesse mesmo partindo, aquela não era a hora para fomentar um barraco. Dipper já esteve brigando com Bill durante uma vida inteira. Todo o tempo em que o demônio esteve ao seu lado, momentos esses em que Pines poderia ter aproveitado de formas bem mais proveitosas, foram gastos com intrigas e discussões. E agora, no seu leito de morte, onde Dipper finalmente percebera o quanto havia desperdiçado a presença de Charlie na sua vida, não poderia dar espaço para mais um desgaste.

Se houvesse uma coisa certa a se fazer naquele instante, era fazer pelo menos um momento – nem que fosse apenas o único – entre os dois valer a pena. Seria agir com Bill como a pessoa que ele realmente era: alguém que lhe amava.

Dipper engoliu saliva, rascante. E, envergonhado, recomeçou com placidez: — O que quer que eu te faça, Bill? Diga qualquer coisa.

Bill suspirou de prazer, acolhendo-se ainda mais no colo de Pines.

— Canta — pediu baixinho, fechando os olhos. — Canta pra mim.

Após um momento de surpresa e perdição, Dipper consegue esboçar um sorriso. O primeiro desde que se lembrava.

— Claro — concordou com a voz vibrante, equilibrada na corda bamba do choro.

Respirou fundo um, duas, três vezes até sentir que sua mente não estava mais tão nublada pela ansiedade para que iniciasse:

Você diz..

Que o preço do seu amor é um preço que não está disposto a pagar

Tu choras

Em seu chá que arremessa no mar

Quando me vê passar

Por que tão tristes?

Lembra-se de que fizemos um trato quando você foi embora

Agora, está me irritando

Lembrem-se de que, apesar de nosso estranhamento, eu sou o seu homem

Cipher fechou os olhos, mas sem tirar o sorriso deleitado sob a influência da música. Dipper prosseguiu no canto mais suave em que conseguia:

Você voltará

Em breve verá

Você vai se lembrar

De que pertence a mim

Você voltará

O tempo dirá

Você se lembrará que

Direito te servi

Mares se erguem

Impérios caem

Estivemos ambos nesses

Altos e baixos

E quando um empurro virar um empurrão

Eu mandarei um exército inteiro

Pra te lembrar do meu coração...

Fraco, Bill sorria apenas com o olhar. Sua resposta era clara: Obrigado. Mas a sala havia morrido no silêncio.

Dipper lembrou-se de quando vira Stanford morrer durante a primeira linha temporal. Do quanto a sua cabeça parecia prestes a explodir de tantos pensamentos que irrompiam ao mesmo tempo. De como o mundo inteiro parecia despedaçar à sua volta. Agora era diferente. Dipper já estivera num mundo despedaçado há muito tempo.

Institivamente, Pines curvou-se ainda mais sobre o loiro. E, quase sem perceber, com as mãos dos dois lados do seu rosto, ele tocou a sua testa na de Charlie.

De mansinho, o formigamento sob a sua marca de nascença despertou e tomou conta de todo toda sua cabeça, então, seus braços, seu peito, pernas... tudo. E, quando finalmente abriu os olhos, segurou-se para não deixar o queixo cair:

Tudo brilhava. Seu corpo, as paredes, o chão...

Era como mais cedo, quando ele havia, misteriosamente, invocado nas cavernas aquela janela azul de magia que o permitira observar Bill à distância. Raízes luminosas de energia brotavam da aura azul que ele emitia, alastrando-se entre a terra e interligando ele e Cipher. Então, sentiu uma pressão de dentro da sua Ursa Maior, como se algo estivesse sendo sugado dele. Parte daquela energia saiu através da marca de nascença de Dipper e atravessou a pele de Cipher, entrando na sua cabeça e, aos poucos, deixando o corpo dele também brilhando.

Os dois reluziam na mesma frequência.

Os ossos de Bill estalaram, voltando para os seus respectivos lugares. E, como se assistisse a um vídeo transmitido em alta velocidade, Dipper viu uma por uma todas as feridas do loiro se fecharem e cicatrizarem instantaneamente.

Thomas soltou um arquejo impressionado de longe.

Abra os olhos”, o comando veio automaticamente na mente de Dipper, persuadindo a realidade a obedecer à sua vontade. E, como num passe de mágica, as pálpebras de Bill se abriram de uma vez, suas pupilas fulgurando ardentes na cor forte do lilás. Repleto de vida.

— D-Dipper?! — sobressaltou Bill, incrédulo, com a voz surpreendentemente saudável e olhando para os lados, meio que sem entender onde estava, desperto de uma sonolência. — Eu... estou vivo?!

— Sim! — vibrou Dipper, as lágrimas de volta aos seus olhos. — Sim, você está vivo! Sim, Charlie! — Apertou Bill com força e sacudiu-o sem se preocupar se poderia voltar a machucá-lo.

Bill o abraçou de volta. E os dois ficaram ali por um instante que pareceu um minuto completo. Bill está aconchegante, seu corpo pulsava vivo!

— É por isso que lhe trouxemos aqui — pronunciou Bauer finalmente.

Dipper se virou na direção dele, encontrando o troll o admirando com um sorriso sabichão.

— Como eu estou conseguindo fazer magia aqui? — perguntou Pines, olhando para Bauer e Thomas com complicação.

— Não é magia, não exatamente — Bauer sacudiu a cabeça, emocionado. — É o elo que liga vocês. Nunca ouviu falar da energia que conecta os Índigos com seus criadores? Afinal, Cipher é parte de você e você dele. É algo que já está dentro de todos de vocês, mas é muito raro um de vocês conseguir botar isso em prática. Lindo!

— Como eu... pude fazer isto? — Dipper continuava em choque, olhando para sua mão cintilante e para o rosto sorridente e confuso de quem estivera morto um minuto atrás.

— Sei lá. Inexplicável. — Bauer deu de ombros. — Mas sabemos que tinha a maior possibilidade de você conseguir fazer uma coisa dessas. Muitos de vocês, Índigos, são feitos clandestinamente do mesmo tipo de energia que a Guarda usa para sua artilharia. A doma do Exílio que bloqueia a magia também é feita desse mesmo material.

— Espera — Thomas virou para Bauer, subitamente consciente em meio à sua igual surpresa. — Tá dizendo que o Dipper pode fazer magia aqui?

— Não. Não pode. Isso que ele fez não é magia, é a antimatéria de magia. É algo fisiológico que a espécie dele tem biologicamente falando.

Os olhos de Tom se arregalaram, pressentindo aonde Bauer queria chegar. — Vocês querem usá-lo — falou em voz alta sem se dar conta. — Se o Dipper pode fazer isso então... significa que ele também pode quebrar a barreira. Ele pode desativá-la!

Bauer riu em voz alta, extremamente satisfeito. — Muito esperto...

— Bauer — Thomas continuou. — O que vocês estão tramando aqui?

O troll virou o olhar determinado e corajoso para Lucitor. E, transbordando de bravura e confiança, soltou:

— Você falou que tinha saudade de reviver os seus bons tempos de rebelião... O que acha de ter todos os monstros renegados do Exílio como seu exército?