Nightwalkers

Família nem sempre é apoio: Natalie Koslov


Muitos pensam que possuir dinheiro é sinônimo de plena felicidade, podendo adquirir qualquer coisa e até sentimentos. Só que Natalie detestava fazer parte daquele mundo de pessoas falsas, mundo este onde você é rebaixado se não possuir algum cargo milionário ou qualquer bem material luxuoso.
Infelizmente seu pai a obrigou adentrar pra sua cúpula de gente gananciosa, e não tinha outro jeito a não ser suportar cada risadinha forçada direcionada à ela.
Nikkolau Koslov era um magnata, havia erguido um império para que ninguém descobrisse os poderes de sua filha, o que deu certo, já que até então nada foi questionado.
As festas que ele dava era sempre regada a boa comida, bebida, decoração demasiadamente brilhante e na maioria das vezes, coberta por diamantes.
Natalie havia se afastado e bebia seu vinho, observando de longe, há tempos não sabia como era se divertir de verdade, já que passará maior parte de sua vida concordando com as ideias malucas de seu pai e seus investidores.
— O que aconteceu, florzinha? — Yvanna, sua madrasta com idade para ser sua irmã, que já estava completamente bêbada, perguntou assim que se sentou perto dela.
— Você está cheirando a álcool! — Natalie se afastou, não respondendo o que havia sido questionado.
— Seu pai disse para mim aproveitar, e estou. Não sabe o que está perdendo sentada aí, vendo a vida passar enquanto há vários homens ricos esperando por uma jovem, assim como você! — disse e em seguida, virou o último gole da bebida que estava na taça.
— Esses homens têm mais que o dobro da minha idade. — falou, com o seu cílios semicerrado e louca para dizer que não iria fazer o mesmo que ela havia feito com seu pai.
— Melhor ainda, um pé na cova... — deu risada, Natalie revirou os olhos e saiu dali, a deixando sozinha.
Ela queria ir embora, não suportava mais fazer sala.
— Nat? — aquela maldita voz fez com que ela se virasse lentamente, dando de cara com seu ex-namorado, cujo o mesmo a traiu com sua ex melhor amiga.
— Oi, Alex. — o cumprimentou, meio sem jeito.
— Quanto tempo, não? — ele começou a puxar conversa — Eu nunca mais te vi! Você está linda! — arfou, olhando-a dos pés à cabeça.
— É, eu não costumo manter contato com caras que me traem. — rebateu com sarcasmos.
— Isso é passado, Natalie. — Alex revirou os olhos.
— Não se preocupe, eu estava muito bem até agora. — disse sem paciência— Olha, da licença... — pediu, mas ele segurou seu braço. — Quer fazer o favor de retirar essa sua mão de mim? — falou olhando para o local comprimido pelos dedos dele.
— Me escuta. Por favor. É tudo que eu te peço... Me dá só mais uma chance. — suplicou, praticamente se arrastando aos pés dela.
— Lamento, mas restos não me complementam. — se arrancou de perto dele, a noite já estava ruim o suficiente para ainda acontecer aquilo.
— Natalie? Onde vai? — Nikkolau perguntou assim que a viu passando por ele.
— Eu vou embora, para a casa. — ela respondeu, indicando a saída.
— Não, você não vai. — ele a encarava, com uma expressão indiferente.
Natalie deu risada.
— Quer saber? Chega! — gritou, chamando a atenção de todos — Eu estou cansada de ter que lidar com tudo isso como se fosse prazeroso! Eu odeio essa vida! Odeio essa falsidade que te rodeia! Odeio tudo relacionado à sua maldita empresa, papai.
— Cale a boca. — Nikkolau segurava sua taça com força, pois as pontas de seus dedos estavam avermelhadas, demonstrando sua raiva.
— Não vou calar. — ela o enfrentou, pela primeira vez, e foi muito melhor do que esperava. — Tchau. — e então saiu dali, fazendo todos cochicharem e deixando-o envergonhado, tentando se explicar à todo custo.
Já estava decidido, não faria mais parte daquela zona chamada família. Sentia muito a falta da mãe, que nesse momento estava morando do outro lado do mundo, pois se cansou de viver junto de um homem inescrupuloso.
Agradeceria aliviada por ter parte em todo aquele circo, assim poderia se sustentar longe dele.
Não entendia a razão pela qual tudo estava dando errado para ela, sempre fora uma menina boa, que andava na linha, seguia regras, ficou anos estudando em um colégio interno, tudo à gosto do pai, mas não agora... Não mais.
Abriu a capota de seu conversível, querendo literalmente esfriar sua cabeça. Sabia que depois daquela festa, cabeças iriam rolar, só que não a dela.

Ao chegar na sua casa, subiu a enorme escadaria até o segundo andar, onde ficava seu quarto. Muitas garotas na idade dela já tinha um plano para o futuro, com tudo incluso, desde emprego até filhos. Só que como passou anos dependendo -não por obrigação- de seu pai, acabou que nunca planejou nada. Gostaria de voltar no tempo e refazer tudo diferente, porém mudar seu passado era impossível, ninguém pode mudá-lo, nem mesmo ela, com todo esse poder de ir e vir no tempo.
Caminhou até seu closet e arrancou duas malas, as derrubando no chão. Todos achariam loucura se vissem-na abandonado todo esse mar de luxo e ostentação, mas não servia de nada transbordar dinheiro e não poder transbordar a si mesma.
— Oh! Natalie? — Karen, sua avó, se assustou ao ver uma pequena desordem no quarto da neta. — O que está fazendo, queria? Por que tudo isso está jogado? — perguntou assim que se aproximou.
— Eu vou embora. — foi só o que respondeu, continuando o que estava fazendo.
— Como? — Karen achou graça — Embora? Mas não tem para onde ir... Ora, minha neta, vamos! Deixe disso. — pediu, Natalie a olhou séria.
— Olha vó, eu sei que a senhora sempre fica do lado daquele seu filho sanguessuga e espera que eu também fique, só que pra mim já deu! — pegou um amontoado de roupa e tacou tudo dentro da mala maior.
— Do que está falando? — ela seguiu Natalie com os olhos, ainda desentendida. — O que aconteceu?
Natalie então parou o que fazia e encarou sua avó.
— Nada. Só cansei disso tudo. — respondeu, passou a mão pelo rosto. — Já é hora de viver minha vida, não aguento passar mais nenhum minuto presenciando certas coisas acontecerem! A gente vive todo esse maravilhoso sonho do jeito errado, vocês só pensam em dinheiro, joias, casas, dinheiro! E eu? Onde entro nessa história? — se indicou com a mão.
— Você não tem para onde ir. — repetiu o que havia dito alguns minutos atrás, só que dessa vez não havia nenhum resquício de graça em sua face.
— A senhora realmente não me conhece. — balançou a cabeça negativamente, voltando a arrumar suas coisas.
— Seu pai não vai gostar disso.
— Sou maior de idade e tenho parte na empresa, ou seja, ninguém se importa se ele vai ou não gostar. — revidou aspira.
— É loucura! Você está totalmente impulsionada pelo momento! — Karen tentou fazê-la desistir. — Nikko não é tão ruim assim, às vezes, vocês jovens exageram.
— Que seja, não ligo mais. — ela pegou uma bolsa menor e colocou todos seus documentos, Rg, certidão de nascimento, passaporte e vários outros. — Bom... Acho que está tudo aqui. — falou consigo mesma.
— Não vai sair daqui. — Karen insistiu em fazer a neta desistir.
— O quê?
— Vai esperar seu pai chegar para conversarem. — se pôs como barreira na frente da porta.
— Não vou, não. — puxou suas malas consigo e colocou a bolsa pequena em um dos braços. — Eu vou sair daqui ou se não, posso muito bem dizer o motivo de tanto sucesso... Quer mesmo ver o império do seu amado filho e todas suas mordomias escorrerem por água abaixo? — ao terminar, Karen deu passagem para ela. — Foi o que pensei. — foi até a porta e girou a maçaneta, puxando suas duas malas maiores.
Desceu a escadaria com certa dificuldade, por conta das rodinhas da bagagem, ao chegar no último degrau, ela se depara com Nikkolau.
— Onde acha que vai com essas malas? Ficou maluca? Minha festa não precisa das suas baixarias! — começou a falar alto. — Anda, vamos... Diga que ceninha é essa.
— Estou saindo dessa casa, dessa cidade e da sua vida. — respondeu sem demonstrar o quão tensa estava.
— E como vai sair de todos esses lugares sem dinheiro? Afinal, tudo aqui é meu, inclusive essas malas, eu as comprei. — falou debochado.
— Quer mesmo que eu responda como vou sair disso tudo? Por que pelo o que eu saiba, você só tem essas coisas graças à mim e ao meu poder. Me deserda, e eu te deserdarei igual. — ela o confrontou na altura, e ele ficou sem saber o que falar. — Vovó também não soube o que dizer. — e só então prosseguiu até a saída, se dirigindo até a garagem.
— Você vai sofrer, Natalie. Você vai! — Nikkolau ameaçou a filha aos gritos, vendo-a saindo do seu campo de visão.
Ela abriu o porta malas colocando suas bagagens dentro, fechou e não esperou nem mais um segundo para poder ir embora dali, entrou no veículo colocando sua bolsa no banco do passageiro.
Por sorte, há alguns meses atrás ela havia alugado um flat, antes de tomar qualquer decisão, era lá que ficaria.