Night Stories Monday

Yakusoku - Shichigatsu Nanoka - Nureta Kutsu


[Anos atrás - Itália.]

"Ei, olha! É a bruxinha malvada!"

"Que meeeeedo eu tenho dela. Hahahaha!"

"Ela e o irmão são aberrações. Fazer o que? Foram abandonados até pelos próprios pais."

"E ele fica sempre grudado nela, dizendo ser um cavaleiro real que tem a missão de proteger a princesa encantada."

"Bwhahahahahahahahahaha!"

"É sempre bizarro ver a mão dela escrevendo enquanto ela dorme nas aulas."

~x~

"Já chega... Eu não aguento mais..." Os soluços vindos do quarto de Sara quebram o coração de seu irmão gêmeo, Michele.

"Sara. Eu prometo que vou te proteger. Até o fim." Michele jura.

Com o tempo, outras crianças passam a temer Michele, depois que ele quase finca uma faca em um dos garotos que tiravam sarro de sua irmã.

Me desculpe, Sara. Eu não queria que você sofresse tanto por minha causa. Me desculpe. - Mirai

~x~

[Tempo Atual - Academia Clockstrings]

Sara está feliz nessa escola. Ela tem amigos, seu irmão e namora em segredo uma garota russa de cabelos ruivos curtos. e sente algo estranho sempre que vê Yuuri Katsuki, o bad-boy mais famoso da escola. Não que ela tenha coragem de contar para todo mundo pois seu irmão idiota jamais iria permitir que ela namorasse alguém.

Neste exato momento, Sara está em uma mesa, junto com Mila Babicheva, Isabela Yang e Yuuko Toyomura. Mas a atenção dela está em Yuuri Katsuki, que está sentado em uma mesa sozinho e com as pernas cruzadas em cima da mesa. Deve ser legal demais ser um delinquente capaz de dar medo em todo mundo. Mas o ódio que o medo se transforma é esmagador.

"Observando de novo o bad-boy da escola, Sara?" Isabela pergunta, e Sara percebe que as três a olham seriamente.

"É um crime, por acaso?" A italiana pergunta, dando língua para elas.

"Para sua segurança, sim." Yuuko responde. "Afinal você não gostaria de ser alvo de bullying por causa dele, não é?"

Sara começa a se tremer, relembrando do bullying que sofreu no passado. Ela respira fundo, tentando se acalmar.

"Não é como se eu realmente gostasse dele." Ela diz, e franze a testa ao notarem as três arregalarem os olhos.

"Não é como se eu realmente gostasse dele? De quem está falando?" Ela escuta a voz de seu irmão e se vira, assustada.

"Michele! Quantas vezes já te disse para não escutar minhas conversas?!" Ela grita, se colocando de pé.

"Não me venha com isso, Sara! Responda minha pergunta!" Michele diz, a agarrando pelos ombros.

"Ops, SisCon está ativado." Yuuko sussurra para Mila e Isabela.

Isabela dá risadas, mas Mila apenas observa os dois irmãos, que agora gritam um com o outro e atraem a atenção de todos na cafeteria da escola.

"Sou eu." Mila diz alto, se levantando da cadeira e se aproximando de Sara. "Eu fingi ser um garoto dias atrás para ajudar uma amiga com um stalker e Sara acabou me vendo. Não é, Bels?"

"Eh? Aaaah, sim. É verdade." Isabela diz, surpresa por ter sido envolvida na conversa desse jeito.

"Nas você é uma mulher." Michele franze a testa para Mila, estranhando aquela conversa.

"Que é faixa preta em Aikido e Krav Maga." Mila responde, cruzando os braços.

Mas antes que Michele ou outras garotas se intrometessem, eles escutam.

"Pare de se exibir, velha caduca."

Oh. Yuri Plisetsky. O punk russo.

"Aww. Qual é o problema, Yuri? Deixa ela em paz." Sara comenta, fazendo o loiro a olhar com ódio.

"Cala a boca, bruxa." Ele diz, a fazendo arregalar os olhos.

Imediatamente, Michele Crispino literalmente voa em cima do russo, lhe dando um soco na cara.

"Michele, pare!" Sara grita, vendo o irmão receber uma cotovelada e um soco no peito.

Sara nota que Katsuki mexe no celular e se levanta, colocando as mãos nos bolsos da jaqueta de couro preta que veste por cima do uniforme escolar. E então, ele se aproxima dos dois, os olhando com deboche. Com a perna direita, ele chuta Michele de cima de Yuri, ambos já com os rostos marcados pela agressiva luta.

"Você também, é?" Michele avança para socar ele, sendo derrubado ao ser chutado no calcanhar.

Sara percebe que Mila agarra e tampa a boca do punk russo, obviamente para evitar que ele cause mais confusão. Mas agora seu irmão está enfrentando o delinquente da escola. E ela não aguenta mais isso.

"Já chega!!" Ela grita, fazendo o japonês parar de dar o um novo chute no irmão dela, e o fazendo ser socado por ele. "Michele!"

Naquele momento, professores Nikiforov e Giacometti se aproximam para interferir. Logo, Plisetsky e Babicheva são levados pelo professor de biologia para ver a professora Baranoskaya.

"Gêmeos Crispino. Katsuki." Professor Nikiforov diz, seriamente. "Venham comigo para a diretoria."

Surpresos, os irmãos o seguem. Katsuki os acompanha um pouco mais atrás. O professor não fala nada durante toda a jornada. Quando os três entram na sala que está vazia, o professor tranca a porta.

"O que..." Michele começa a falar, mas é interrompido.

"Ah, calem a boca." E eles se assustam ao sentir a garganta fechar. "Hm. Muito melhor."

E para o choque deles, a voz vem de Yuuri Katsuki, que se aproxima deles.

"Eu posso ver que algo prende seus sentimentos nela. Algo anormal e poderoso demais, que está se alimentando do seu desejo de proteger sua irmã." Yuuri diz, olhando para Michele Crispino. "Transformando esse desejo em obsessão. Obsessão que te faz enxergar apenas o que lhe importa e que se dane o resto. Obsessão que faz sua irmã se sentir solitária, por não ter com quem conversar normalmente."

Michele se coloca na frente da irmã, para proteger ela de qualquer crueldade que Katsuki deseje fazer, apesar de estar confuso pelo professor não se mexer e ele não poder falar mais nada.

"Esta manhã, recebi um certo pedido de ajuda de uma entidade." Katsuki olha para Sara, franzindo a testa para ela. "O nome da entidade se chama Mirai."

Sara arregala os olhos, pois Mirai é o nome que sempre surge no final das escritas absurdas que ela encontra quando acordava.

"A entidade me pediu ajuda para lidar com a energia ruim que envolve seu irmão, que atingiu um nível maior do que ela poderia aguentar. E ela estava usando a psicografia para se comunicar com você e te alertar sobre Michele."

"Psicografia?" Professor Nikiforov pergunta, surpreendendo os gêmeos por estar falando normalmente.

"Psicografia é um termo da religião espírita, usado para médiuns que, inconscientemente, colocam no papel mensagens de entidades. Como você fazia com Mirai, Sara." Yuuri explica, olhando do professor para ela. "Oh, e antes que me esqueça. Me desculpe, mas eu sou gay então não posso namorar você. E não se esqueça de agradecer à Babicheva por ter te ajudado. E Michele, não se mexa."

Michele, que avançava para Katsuki novamente, para de andar, completamente apavorado.

"Mirai deseja que eu anule sua mediunidade. Você quer isso, Sara Crispino?" Katsuki pergunta, e a garota tenta falar, em vão.

Ela afirma com a cabeça, claramente chateada. Yuuri Katsuki se afasta até entrar em uma porta e retorna com uma espada japonesa na mão, para o pavor de Michele. O japonês retira a lâmina da bainha e rapidamente a usa na garota, que está assustada. E então Katsuki usa a espada no irmão dela também. Ambos não possuem nenhum corte, apesar de sentirem na pele a frieza da lâmina. Katsuki guarda a espada na bainha e entrega para o professor Nikiforov.

"Eu permito aos Bons Espíritos livrarem do Espírito malfazejo que se ligou aos irmãos Crispinos. Se é uma vingança que ele pretende exercer, em conseqüência dos males que lhe teria feito outrora, vós já os permitistes sofrerem o suficiente pela própria culpa. Possa o arrependimento dele fazer merecedor do vosso perdão e de ser livre desse sofrimento. Mas, seja qual for o motivo, eu suplico a vossa misericórdia para ele. Facilitai-lhe a senda do progresso, de que se desviou pelo pensamento de fazer o mal. Possa eu, de meu lado, retribuindo-lhe o mal com o bem, e encaminhá-lo a melhores sentimentos."

Uma forte ventania surge, apesar das janelas estarem fechadas, e ambos começam a se sentir mais leves.

"Esqueçam tudo o que aconteceu aqui. Michele, nada mais te prende à sua irmã. Deixe ela viver a vida dela, mas nunca a negue quando ela quiser conversar com você. Sara, sua infância deve ter sido triste, pelo modo como reagiu ao ouvir Yuuko Toyomura falar sobre bullying. Seja forte, por si mesma, pelo seu irmão, e por Mirai. Agora que ela não precisa se preocupar em te proteger do seu irmão, não há mais necessidade dela estar por aqui."

Yuuri destranca a porta e os observa sair da sala. Nos corredores, Michele e Sara se entreolham.

“Eu não preciso de você.” Sara diz, se virando e se afastando dele

“Faça como quiser.” Michele também se afasta, indo para o lado oposto ao dela.

...

Naquela noite chuvosa, ambos os irmãos, desejam abandonar a escola, não imaginando que o outro está fazendo a mesma coisa. O que eles não sabem é que isso faz parte da provação que eles precisam passar.

~x~

De volta a diretoria, Yuuri guarda a espada na estante dele. Mas ele está se tremendo. Victor, que o observava, pergunta.

"Você está bem?"

"A história de Sara é parecida com a minha. Ambos tivemos infâncias complicadas por causa de nossas habilidades e sofremos bullying por isso." Yuuri solta um suspiro e o olha. "Eu me pergunto como seria minha vida se eu tivesse pedido para Minako-sensei retirar meus poderes de mim."

"A única coisa que eu sei é que eu estaria em uma situação complicada, afinal eu acredito que foi graças à sua Kotodama que minha inocência foi provada." Victor diz, se aproximando dele. "E também posso dizer que Toyomura, os Leroys, e todos os outros alunos e professores, que você ajudou sem esperar nada em troca, lá no fundo sentem a mesma coisa. Não importa se você se apagou das memórias deles, mas isso é o que eu penso."

Yuuri, que o olha com surpresa, pisca duas vezes antes de abrir um leve sorriso e inclinar o rosto um pouco para a direita.

"Muito obrigado." Ele diz, e Victor percebe que ele está com as bochechas rubras. "Muito obrigado mesmo, Victor."

O professor russo, que está na frente dele, de repente fica de joelho no chão, com outro erguido para apoiar o braço direito.

"Eu irei falar tantas vezes necessárias. Eu sei que Lília me mandou ficar de olho em você e você mesmo me permite estar ao seu lado, sempre que necessário. Mas desde o momento que você implorou para mim não te esquecer, eu já havia me decidido, inconscientemente, em ficar ao seu lado até o fim. Esta é minha promessa para você."

Victor percebe que o rosto de Yuuri fica cada vez mais vermelho e ele o olha com surpresa. E então, ele leva a mão para a boca, abafando uma risada.

"Yuuuuuuri~!!" Victor exclama, confuso.

"Desculpa mas não consegui aguentar." Ele diz, ainda rindo. "É só que você, nessa posição, falando de promessas de ficar ao meu lado, está me parecendo que você está me pedindo em casamento."

E então Victor finalmente percebe que ele estava falando a verdade.

"Ai meu deus!" Ele exclama, se pondo de pé. "Me perdoe, por favor."

"Está tudo bem." Yuuri diz, sorrindo. "Muito obrigado, Victor. Eu precisava mesmo escutar isso de alguém."

...

Quando Victor sai da diretoria, Yuuri decide falar algo que veio na sua mente quando o viu de joelhos.

"Victor?" Ele pergunta, o olhando através da porta semi-cerrada.

"Hm?" O russo se vira para o olhar, de sobrancelha erguida.

"Eu só não aceitaria seu pedido de casamento porque ainda não chegamos a namorar. Tchau." Ele diz, tão rápido que mal dá chance de Victor entender o que ele falou antes de fechar a porta e a trancar.

Victor, congelado, se pergunta se o que escutou não foi um sonho.