Night Stories Monday

Anata Hitori Dake - Tatoeba Asa no Bustei Te - Ukibukuru no Motte


Um menino de cabelos negros está sentado em um assento no trem que sai da estação de Hasetsu e segue em direção a Fukuoka. No colo dele, uma mochila cheia com roupas, lanches e água que ele comprou com o dinheiro que roubou de seus pais, e ele fica constantemente de cabeça baixa. Muitos passageiros se entreolham ao notar que ele está sozinho, e alguns mais bravos se aproximam dele para saber sobre ele.

"Menino, você está bem?"

"Cadê seus pais?"

"Qual é o seu nome?"

O menino olha em volta, apavorado com as pessoas que estão perto dele. Mas ele passa a olhar em direções que não há ninguém, e isso meio que assusta as pessoas também.

Quando o trem chega na estação de Fukuoka, ele embarca em outro trem, que desta vez vai para Osaka. Desta vez, ele segura a bolsa de uma moça, para dar a entender aos outros de que ele estava com ela. Do outro lado da mulher, um garoto usando um uniforme escolar está sentado, o tempo todo olhando para a janela. Yuuri se assusta quando um homem de terno se senta no lugar em que ele está, assim fazendo com que seu corpo atravessasse o do garoto.

Oh, esse garoto é um 'deles. O menino imediatamente deduz, observando o garoto por entre o corpo da mulher ao seu lado.

"Sakura." Ele escuta, e se surpreende ao ver aquele fantasma derramar lágrimas.

O menino morde o lábio, se perguntando se ele tem esse poder para ser capaz de ajudar nesses tipos de caso. Quando vê que a estação de Osaka está chegando, ele engole seco e fica a esperar a mulher ao seu lado se erguer. Quando ela faz isso, ele se levanta e, colocando a mochila nos ombros, fica logo atrás dela e dá dois passos, imediatamente agarrando o garoto pela manhã do uniforme escolar.

"Eh? Espera… o que? O que está havendo? Quem é você? Como consegue me tocar? Eu já morri…"

Como ele é um fantasma, ele não pesa nada e graças a isso, o menino o leva até o banheiro masculino da estação, onde ele entra e tranca a porta. Yuuri retira a mochila das costas e dela, pega um lápis. Ele sobe na tampa da privada e com o lápis, começa a escrever na parede.

Yuuri.

O menino aponta para o nome, e então para si, olhando para o garoto seriamente.

Eu posso ver e ouvir você.

"Yuuri." O fantasma diz, surpreso. "Você pode mesmo me ver?"

Yuuri afirma com a cabeça, continuando a escrever.

Não posso falar.

Conte-me sobre você?

"Meu nome é Tachibana Rin. Eu morri há cinco anos atrás, vítima de um acidente de trânsito. Eu fui atropelado por um carro branco que ultrapassou o sinal vermelho. Era de manhã cedo e eu estava indo para casa de uma amiga, a acompanhando até nossa escola. Ela se chama Sakura." O garoto começa a dizer e arregala os olhos ao ver o que o menino escreve.

Namorada?

"Não, não!" Ele exclama, ficando com o rosto corado. "Eu gostava dela, mas ela já tinha um namorado que era mais velho e mais legal do que eu."

Tachibana Rin solta um logo suspiro, de cabeça baixa.

"Eu descobri, depois que morri, que era ele quem dirigia o carro. Além disso, ele estava embriagado e com uma outra mulher, mas ele mentiu para a polícia junto com a mulher. Eu queria ser capaz de me vingar dele, mas não há nada que eu possa fazer."

Qual é o nome dele? Onde eu o encontro?

"Morisaki Takao. Eu posso te mostrar onde ele fica uma boa parte do tempo."

O menino observa o jovem homem chamado Morisaki e quando vê que ele está sozinho, ele se aproxima dele e finge se jogar na perna dele.

"Me larga, moleque!" Morisaki exclama, o empurrando com a perna.

O menino cambaleia para trás e o olha com seus grandes olhos castanhos escuros. Ele então abre um sorriso.

"Vá para a polícia e conte tudo de ruim que fez." Ele diz, para o choque de Tachibana, que se vê acompanhando Morisaki até a estação policial mais próxima, onde o humano vivo conta que não só atropelou e matou Tachibana Rin como também usava os cartões do pai para fazer compras caras e fazia a mãe tomar soníferos para poder transar com ela.

Os policiais se assustam com as confissões de Morisaki e ele é preso e investigado devidamente.

"Muito obrigado, Yuuri." Tachibana Rin diz, bagunçando os cabelos dele. "Agora, se pelo menos eu pudesse escrever uma carta para Sakura e para os meus pais…"

Ele se interrompe ao ver o menino tirar um caderno da mochila e o abrir, se sentando no chão e o colocando no colo. O menino olha para ele, piscando duas vezes e o fazendo dar risadas.

"Você é um bom menino, Yuuri." Ele diz, fazendo o menino dar de ombros e começando a escrever o que o fantasma lhe diz.

O menino observa uma garota pegar a carta que ele escreveu e a levar para dentro de casa. Ele então segue caminho, em direção ao apartamento dos pais de Tachibana Rin. Ele se abaixa para colocar a carta por debaixo da porta, quando a porta se abre, o assustando.

"Eu sei… Hmm?" A mulher na frente pergunta, vendo ali na porta um menino assentado. "Olá, pequenino. Em que posso ajudar?"

Yuuri então estende a carta para ela, que arregala os olhos ao ver o nome do filho ali.

"Querido!" Ela exclama, começando a se tremer. "Vem aqui, rápido!"

"O que?" Um homem com a aparência cansada se aproxima, franzindo a testa.

"Esse garoto trouxe uma carta de Rin-chan!" A mulher exclama, abrindo o envelope e começando a chorar ao ler a carta. "É dele sim! Olha, ele me chama de Kaa-chan."

"E Tou-chan." O homem diz, com a voz rouca, ao ler a carta também. "Você é Yuuri?"

O menino afirma com a cabeça, ao mesmo tempo que sua barriga começa a roncar.

"Eu não sei como você chegou a conhecer nosso Rin-chan a ponto de ter uma carta dessa, mas ele nos pede para te ajudar e é isso que vamos fazer." O homem diz, fazendo o menino arregalar os olhos.

"Tome um banho primeiro. Acredito que ainda temos roupas antigas de Rin-chan que você pode usar. Então você pode comer e passar a noite aqui. Amanhã iremos te levar para casa." A mulher diz, fazendo o menino olhar para ela com surpresa.

"Está tudo bem, Yuuri. Tem umas coisas que eu quero que você fique, agora que eu não posso mais me aproveitar delas." Tachibana Rin diz, e Yuuri afirma com a cabeça. "Meus pais pretendiam doar, então não tem problema você pegar.’’

...

Coisas como roupas, alguns brinquedos, um iPod com diversas músicas japonesas e internacionais, lanches e… um envelope com dinheiro?

"Eu não gastava muito a mesada que meus pais me davam e eles estão bem financeiramente. Eu acredito que você precise mais do que eles, então nada mais justo do que você ficar com esse dinheiro. Além disso, algo me diz que você tem seus motivos para estar em um sozinho em um trem." Tachibana Rin comenta, sentado em sua cama, observando o menino ajeitar tudo na mochila. "Você vai ficar bem, sozinho?"

O menino olha para ele, inclinando o rosto. Respirando fundo, ele escreve em um papel

Eu não sei.

Eu não tenho para onde ir.

Pessoas têm medo de mim.

Eu tenho medo de mim mesmo.

"Oh, Yuuri. Tão jovem e carregando um peso tão grande nas costas." Tachibana Rin observa o menino se deitar em sua cama, todo encolhido. "Está tudo bem agora."

E com o som dele cantarolando uma música, o menino fecha os olhos e adormece.

Na manhã seguinte, os pais se deparam com o quarto do filho deles sem o menino, e na mesa, um papel com os dizeres: Obrigado por tudo. - Yuuri.

~x~

Na manhã de uma pequena cidade montanhosa no interior do Japão, um menino muito magro, de cabelos negros bagunçados, rosto pálido, usando roupas largas cumpridas, rasgadas e sujas, desembarca de um ônibus. O menino, com uma expressão fria no rosto, olha em volta e começa a andar pela estrada, franzindo o rosto enquanto procura por algo. Ele para de andar ao sentir (e ouvir) sua barriga roncar alto e retira a mochila de suas costas, pegando de dentro dela o último chocolate que tem.

Ele respira fundo, abrindo a embalagem e começando a comer o chocolate, atravessando uma pequena ponte que corta um rio. Sentindo suas pernas se cansarem, o menino se encosta na parede, retirando novamente a mochila das costas e se sentando no chão. O menino abre a mochila novamente e bebe o resto de água que tem, e acaba se deitando em cima da mochila, cansado. Ele fecha os olhos, querendo apenas descansar um pouco, mas acaba caindo no sono.

Quando ele acorda, ele se surpreende ao ver que está sentindo um vento agradável em seu rosto, e ao abrir os olhos, se vê sendo carregado nas costas de um homem, que cantarola uma música.

O menino se assusta, e se mexe bruscamente, fazendo com que o homem se assuste e quase o solte.

"Tenha calma, garoto." O homem diz, dando risadas. "Eu estou te levando para a minha casa, porque não achei certo alguém tão jovem como você dormindo no meio da rua em pleno verão. E já é quase meio-dia."

Oh.

Pelo visto ele dormiu mais do que pretendia.

O menino encosta a bochecha esquerda no ombro dele, o olhando seriamente. Então ele ergue o braço direito e com o dedo indicador, traça um kanji escrito na cor azul escuro na bochecha do homem, o fazendo parar de andar.

"Você consegue ver?" O homem pergunta, girando o rosto e olhando para o menino. "Entendo. Então é você."

O homem continua a andar, ainda carregando o menino.

"Meu nome é Zenki, Pequeno Senhor das Palavras. Eu e meu parceiro estávamos esperando pela sua presença. Embora… eu acredito que você não seja capaz de aguentar nós dois nesse momento." O homem diz, soltando um longo suspiro. "Isso não é nada bom."

Eles chegam em um templo, onde são recebidos por um outro homem, que está varrendo a entrada.

"Goki. Temos um problema." O homem que carrega Yuuri diz, e o menino olha para o outro homem, que o olha com o rosto franzido.

"Ele é…"

"Nosso futuro mestre."

"Mas ele ainda é uma criança!"

"E aparentemente, tem sobrevivido sozinho por um bom tempo."

"E agora?"

"Devemos pedir ajuda a Okukawa. Ela é uma das poucas pessoas capazes de treinar ele adequadamente."

"Eu irei até ela."

E para a surpresa do menino, o homem que estava varrendo a calçada se envolve em chamas azuis e desaparece. Ele é levado para o interior do templo, onde recebe água, comida e toma um banho decente.

E então, quando ele menos espera, se depara com uma mulher de longos cabelos castanhos claros usando um belíssimo quimono preto com flores de cerejeira estampado, ao lado dos dois homens.

"É ele." A mulher diz, franzindo a testa para o menino. "Eu finalmente encontrei você."

Então o menino se assusta ao ver os dois homens se transformarem em monstros. Mas então, ele abre um sorriso. E naquele momento, Yuuri Katsuki acorda ao se sentir ser lambido no rosto pela Poodle que ele resgatou do mundo dos mortos horas atrás.

Makkachin.