POV’S THOMAS

– Eles estão aonde?! – indago, ainda meio sonolento.

– Perto da sede. Rápido, estamos sem tempo! – Zart se volta para trás e foge.

– Merda. Não temos tempo pra isso.– digo, preparando-me pra correr.

– Não podemos deixa-los. – ela diz, segurando meu braço.

– Eu sei mas... Droga, fique aqui! Vou atrás deles.

– Mas e quanto a você?

– Eu vou ficar bem. Newt? Newt!

Me viro a tempo de ver o loiro sumindo no meio das árvores.

– Oh, merda! – exclamo, correndo atrás dele.

Sigo Newt por algum tempo, mas não consigo alcança-lo. Quanto mais eu corro, mais distante eu pareço estar dele.

– NEWT! Newt, por favor! – grito puxando todo o ar dos pulmões. Mas não há resposta. Sinto o chão tremer, e as árvores ameaçam ceder a qualquer momento. De repente, escuto um estrondo seguido por um grito com uma voz um tanto mais aguda.

– Aaaaaahhhhhhhhhh!!!!

– Chuck?! – exclamo, correndo em direção aos gritos.

– Thomas, socorro!

– Chuck, cadê você?!

– Socorro! Thomas!

Paro ao me deparar com uma fumaceira que me cega temporariamente.

– Thomas! – escuto a voz dele novamente.

Começo a tossir e meus olhos lacrimejam com a poeira. Quando minha visão se estabiliza, consigo ver Chuck caído ao chão, esmagado por um pedaço de concreto. Seus olhos tomados pelo medo me fitam enquanto ele chora de dor.

– Chuck... – exclamo, me ajoelhando ao lado dele.

– Eu não consigo sair! – ele diz, tentando arrastar.

– Merda, Chuck! Cadê o Minho?!

– Eu falei pra ele correr! Argh!

– Thomas! – escuto a voz de Newt.

– Newt! Estamos aqui!

– Onde?! – ele grita novamente.

– Newt, siga minha voz!

– Thomas, cadê você?

Em questão de segundos, vejo a silhueta de Newt, olhando para todos os lados.

– Aqui! – balanço os braços desesperadamente. Newt vira o rosto e parece notar, correndo em minha direção.

– Tommy! – ele exclama, chegando perto de mim.

– Me ajuda! – peço, segurando uma parte da pedra. Newt segura a outra extremidade.

– No três! Um! Dois! Três!

Faço força pra cima, e a pedra se move.

– Se arrasta! – grito pro menor.

– Aaaah! – ele grita novamente ao sentir a pedra fazer força sobre ele novamente. O chão treme outra vez, e escutamos um grunhido de verdugos.

Newt arregala os olhos, e sua respiração fica mais ofegante do que a de Chuck. Ele se volta para o garoto, mas não diz nada.

– MINHO! – Ele grita, olhando pros lados. – MINHO!!!

Demora algum tempo até que alguém responda.

– NEWT! – escutamos a voz do asiático.

– MINHO! AJUDA!

– Newt, onde você tá?!

– MINHO, RÁPIDO!

Em alguns segundos, Minho vem correndo ao nosso encontro.

– Chuck... – ele murmura, se ajoelhando.

– Vamos empurrar! – Ordena Newt.

Newt e Minho pegam a extremidade lateral do concreto, e eu fico do outro lado, segurando algumas barras de metal que saem de dentro da pedra.

– Empurra! – grito, puxando o concreto. Newt e Minho empurram os escombros e Chuck agarra a grama, rastejando pra fora. Um verdugo surge em meio ao caos, chocando-se contra as árvores que estão a poucos metros de nós.

– CHUCK!

– Aaaarrghh!!! – O garoto grita com todas as forças, libertando-se finalmente. Puxamos ele pela camisa, levantando-o e fugindo da criatura.

A clareira foi totalmente destruída. Enquanto aceleramos em direção as portas, vemos o lugar deteriorado por causa das paredes em ruínas. Vemos a enfermaria, a casa dos mapas, o dormitório, tudo esmagado pelo concreto e infestado por verdugos.

– Não parem! – grito.

– Minho, por onde vamos?! – indaga Newt.

– Aqui! – ele exclama, deslizando pro lado esquerdo. Seguimos ele por cerca de alguns minutos. Newt manca bastante, mas continua correndo rápido tentando acompanhar nosso ritmo. Escutamos uma explosão, e o chão treme, fazendo Newt tropeçar e perder um pouco de velocidade.

– Cuidado! – Minho grita. O chão treme mais uma vez, e a parede à esquerda desmorona, forçando-nos a nos espremer para o outro lado. Escuto Newt grunhir e o som de algo se estatelando no chão.

– Newt?! – indago, virando-me. Vejo o loiro caído um pouco mais adiante. Por sorte, ele não foi atingido por um concreto, mas há algo errado.

– Grrr...ugh... – sinto ele gemer, dobrando o joelho e pousando as mãos sobre ele.

– Amor, o que foi?

– Minha perna...

– O que há de errado com ela?

– Thomas, eu não consigo... Eu não consigo continuar. – vejo as lágrimas brotarem nos olhos dele, escorrendo por suas bochechas rosadas.

– Hey... tá tudo bem. Vem Newt, precisamos sair daqui. – puxo-o de leve. Minho e Chuck se entreolham, sem saber o que fazer.

– Thomas... – ele murmura, levantando a barra da calça. Vejo uma cicatriz latente na altura do joelho dele, e me assusto ao ver o roxo que se formou pela extremidade.

– Vamos, Newt. Nós temos que ir. – tento tranquiliza-lo, acariciando seu braço.

– Tommy, eu...

Levanto Newt e fico de costas, dobrando os joelhos.

– Thomas...

– Rápido, Newt. Estamos ficando sem tempo.

Ele assente e pula nas minhas costas, abraçando meu pescoço. Seguro as pernas dele e as prendo ao meu corpo, tomando cuidado para não feri-lo mais.

– Precisamos chegar até as lâminas. – diz Minho. – O Ben deve ter levado Teresa e os outros pra lá. Thomas, eu sei que Newt está nas suas costas mas você precisa correr o mais rápido que conseguir. Tudo bem?

– Thomas, você não...

– Eu aguento. Vamos. – interrompo Newt seguramente.

POV’S NEWT

A dor crescente imobiliza minha perna. Agora Thomas era responsável por duas vidas, e ele sequer tinha culpa de qualquer coisa. Um erro que eu cometi no passado agora botava a vida de nós dois em risco, tudo por causa da minha fraqueza.

– Tommy... – eu continuava a insistir. – Tudo bem, você não precisa.

– Nós lutamos juntos, nós morremos juntos. – ele me diz. – Nós somos uma dupla. Não vou desistir de você.

– Mas...

– Newt. Nós dois sabemos. Iremos fazer isso juntos.

Me calo. Não adianta questionar. Ele mantém uma boa velocidade, não havia notado sua habilidade antes. Minho e Chuck tomaram frente, mas ainda estão ao nosso alcance. Me sinto aliviado ao ver Minho em seu estado ‘‘normal’’ de sempre, aqueles surtos devem ter sido uma fase ou algo assim. Não demora muito para que cheguemos à um lugar repleto de... lâminas de metal gigantescas. O chão continua a tremer e as paredes por trás de nós desabaram em sua maioria. Não vai demorar muito para que o labirinto inteiro seja destruído.

– Pra que lado, Minho? – Thomas grita pro asiático.

– Consigo ver os outros lá na frente! Venham!

Seguimos ele por mais alguns metros até chegar aos outros. Há uma passagem suspensa até um muro de concreto, e é o único lugar que aparentemente não caiu ainda.

– Nós temos que correr! – Thomas exclama.

– Newt, tá tudo bem? – Teresa se aproxima de nós, colocando a mão sobre minha perna machucada.

– É. – respondo, mexendo a perna. – Mas dói.

Novamente, Minho toma frente, e ao parar em frente à passagem de concreto, sentimos um zumbido estanho.

– Quietos! – Minho grita, aquietando a algazarra. O zumbido fica mais sonoro, e todos começam a se entreolhar, procurando de onde o insistente barulho vem.

– Espera aí.... – murmuro. – Minho, o cilindro está na suas costas?

– Que cilin... Ei! – Ele exclama ao sentir Caçarola o pegar bruscamente por trás e puxar o cilindro de seu colete. De súbito, o concreto se move, e três portas se abrem à nossa frente, revelando um buraco circular lá no fundo.

– Mas que...

Não tive tempo de concluir a frase. O chão por baixo dos pés de Thomas cedeu de repente, e afundamos alguns centímetros. O concreto que nos suspendia rachou por completo, e parte da estrutura começa a desabar. Solto um grito ao ver mais de três clareanos despencarem com o chão. Thomas pula comigo nas costas para o outro lado, caindo sobre os joelhos e me derrubando junto.

– Pra trás! – Gally grita, correndo para perto de nós. Teresa e os outros fazem o mesmo, e o chão desaba em seguida. A porta circular se abre e saltamos para dentro dela. Tudo fica escuro de repente, e os estrondos parecem se aproximar cada vez mais. Um clarão invade o breu, e rapidamente esvaziamos o local. Um corredor extenso e tomado pela fumaça se forma a nossa frente, e ninguém hesita antes de correr desesperadamente por ele. As paredes a nossa volta racham, e o chão continua a tremer. Minho corta para a direita e invade uma porta, guiando-nos por um lugar escuro e largo.

– Corre, Chuck! Corre! – Gally grita para o mais novo, que tenta acompanhar nosso ritmo. Gally se joga contra uma porta de vidro à nossa frente, abrindo passagem para que todos nós nos libertemos. A luz do lado de fora nos cega por alguns instantes, mas a sensação de liberdade que nos invade o peito nos permite continuar a correr. Por fim, um último terremoto nos derruba ao chão, e sentimos a superfície gelada em nossas mãos e braços, e segurando a mão de Tommy, assisto ao labirinto desmoronar bem na nossa frente.

O choque em que nos encontramos se instala logo após o fim da adrenalina. Ao nosso redor, há quilômetros de gelo e neve, misturados com a fumaça que o desmoronamento provocou. Nos reunimos cautelosamente, olhando um para o outro sem saber o que fazer.

– E agora? – pergunta Minho, cruzando os braços. Gally olha para nós franzindo as sobrancelhas, também incrédulo diante do que acabara de acontecer.

– Eu não sei. – ele responde, colocando as mãos no bolso. – Mas temos que sair daqui. Não é seguro.

– Woah, como assim não é seguro? O labirin... a prisão já era. Acabou. – Caçarola coça a cabeça, encarando Gally.

– Quem nos colocou lá deve ter escapado, e nos encontrarão novamente. Temos que seguir.

Olhamos para o horizonte, apreensivos.

– E o frio? – pergunto, colocando o capuz.

– Daremos um jeito. – ele diz.

Seguimos em frente. Thomas me envolve com um dos braços, cabisbaixo, e eu o abraço de volta. Acabou, toda aquela tortura havia finalmente terminado. Três anos da minha vida preso naquele lugar, e foi só Thomas chegar para mudar tudo completamente. Nós devíamos tudo à ele.

***