POV'S THOMAS

A maioria dos clareanos estão na fogueira. Mesmo estando de costas, dá para perceber a bagunça: os meninos gritam e riem alto, formando uma roda em volta de Gally e Alby. Mesmo que sejam companheiros, a luta deles é extremamente voraz, perceptível pelo impacto que os corpos fazem no chão. Aquilo me deixa mais ou menos tenso, até por que soa como se doesse, mas Newt parece nem se importar. Continua a comer calmamente, concentrado nos próprios pensamentos. A luz ilumina os cabelos dourados dele, junto com as bochechas rosadas.

Newt é alto, mas é magro demais (era o que eu achava até então, já que só havia o visto com aquele casaco branco). De qualquer forma, é excessivamente fofo. Aquele sorriso, aqueles lábios... Argh! Tenho que parar de falar. Acho que estou gamado. Tem apenas 4 dias que eu cheguei na clareira, mas mesmo assim, Newt consegue roubar toda a minha atenção só para ele. Por um instante a lembrança do primeiro dia aparece na minha frente, quando eu vi o rosto iluminado dele empunhando uma lança e me olhando com um ar curioso. Meus pensamentos são cortados pela doce voz de Newt quase sussurrando em meu ouvido:

- Tommy?

Balanço a cabeça e viro o rosto. Ele olha para mim sorrindo, ainda mastigando um pedaço de carne.

- Pensando em que? – continua.

Não digo nada, apenas sorrio de volta para ele. Ele continua me encarando, enquanto eu disfarço virando o rosto e mexendo na gramínea molhada com algumas gotículas.

- Você está meio estranho... – Newt insiste – Posso saber no que está pensando?

Olho para Newt de novo, e o rosto dele está mais próximo do meu. Os olhos dele estão fixados em mim, e ele ainda sorri com aqueles lábios extremamente desejáveis. Sinto uma vontade incontrolável de beijá-lo, mas não o faço. Ao invés disso, aperto a coxa dele provocando cócegas, e ele se contorce rindo. Depois, aponto para o céu e digo:

-Olha lá... corvos!

Newt olha para onde meu dedo aponta e eu, disfarçadamente, roubo o frango do colo dele e começo a comer.

- Corvos? Que corv... Ei!

Eu começo a rir, meio feliz por ter conseguido disfarçar. Continuo comendo, e ele coloca a mão dele sobre a minha, puxando a carne para perto da própria boca.

- Dividir é sempre bom – brinca ele, mordendo a carne também.

Continuamos comendo em silêncio, até que o frango acaba e Newt bebe um gole de uma bebida meio amarelada.

- Quer um pouco? – Oferece ele, passando o vidro pra minha mão.

- Da receita do Gally? Você é louco? Isso é horrível!

- É... eu sei. Nem eu entendo como consigo beber isso.

Eu continuo olhando para as paredes do labirinto, sem saber exatamente o que estou sentindo. Acho que é medo, mas também pode ser dúvida. Medo do que pode acontecer com todos nós se nos arriscarmos, e a dúvida do que nos espera. Acho que Newt percebeu minha expressão, mas não diz nada. Apenas deita a cabeça no meu ombro e segura na minha mão. Eu começo a rezar para ele não fazer mais nada, mas pelo visto, minha fé é muito pouca, pois ele escorrega a cabeça do meu ombro para o meu colo e se deita nele. Estou me esforçando aos extremos para não ficar excitado, mas parece até que Newt está fazendo de propósito. Pouso minha mão sobre a cabeça dele e acaricio seus cabelos, e lentamente ele fecha os olhos, caindo em um breve devaneio.

POV'S NEWT

A imagem de Tommy se aproximando surge diante dos meus olhos. Ele coloca as duas mãos sobre meu rosto, e posso sentir o frescor dos lábios dele quase tocando os meus. Fecho os olhos e me inclino para frente, como se quisesse agarrá-lo logo. Porém, não sinto mais nada. Quando abro os olhos Tommy está recostado no tronco, acariciando meus cabelos e com os olhos fechados, enquanto ainda estou deitado no colo dele. Droga.

Me levanto, e Thomas parece ter cochilado. As pernas dele estão meio dobradas, como se ele quisesse manter meu corpo imóvel ali, junto ao dele. Pego a bebida no pote e tomo um gole, um pouco frustrado por ter sido apenas um sonho. Poxa, eu estava quase lá! Tomo mais um gole e olho para Tommy, que respira suavemente, ainda cochilando. A bagunça lá atrás diminuiu um pouco, e Gally e Alby estão sentados junto a Minho enquanto eles conversam. Como para não acordá-lo, me levanto e vou até a casa dos mapas. Não há ninguém ali, e eu não estou sentindo tanto frio como nos dias anteriores. Tiro o casaco branco e a camiseta, deixando as armas junto com as roupas. Porém, quando vou desabotoar a calça, a voz de Tommy ecoa nos meus ouvidos, fazendo-me dar um pulo para trás.

- Opa, o que você está fazendo?

- O que você acha? – retruco, percebendo só depois o quanto fui grosseiro.

- Nossa, desculpa... – Tommy se vira, saindo dali. Porém, agarro seu braço.

- Não, espera. – digo eu, querendo me desculpar – Foi mal... é que você me assustou – continuo, trazendo Tommy pra perto de mim. Ele sorri, e eu não posso evitar de sorrir de volta.

- Tá tudo bem, Newt – diz ele, tirando os olhos do meu rosto e desviando-os para meu corpo.

- O que foi? – Pergunto eu, meio desconfortável.

- Não é nada, é só que... – Ele está realmente distraído – Nunca tinha te visto sem a camiseta então... não dava pra ver esse tanquinho e...

- Tommy? – eu não consigo conter o riso.

- Ahn? – Tommy me encara novamente, esforçando-se para olhar só nos meus olhos.

- Deixe de ser besta! – dou um soco de leve no ombro dele.

Eu estou meio sem graça, mas não se pode dizer o mesmo de Thomas. Pelo contrário, ele olha no fundo dos meus olhos, com aquele sorriso gostoso que ele tem. Ele se aproxima de mim, coloca a mão sobre meu ombro e continua me olhando nos olhos. Os nossos rostos estão bem próximos. Finalmente! FINALMENTE! Encaro Tommy de volta e me inclino para beijá-lo. De repente, uma voz mais aguda ecoa na porta da casa dos mapas.

- Hey, garotos!

Chuck. Puta merda, era Chuck. Eu abro meus olhos e lanço um olhar de ódio pro garoto, que nos olha com a maior inocência do mundo.

- Oh, hey Chuck! – Tommy disfarça.

- O que vocês estão fazendo? E Newt... porque está sem camisa?

‘‘Pra pegar seu amigo gostosão aqui’’, penso eu. Porém, respiro fundo e digo:

- Está calor... e essa blusa esquenta.

- Ah... – diz Chuck, com o maior ar de compreensão – entendo. Bem, vocês querem comer?

- Acabei de comer um frango – diz Tommy

- O meu frango – eu corrijo, sorrindo para ele– não estamos com fome, Chuck.

- Ah... então venham pra fogueira. Tem mais graça quando vocês estão lá...

‘‘Teria mais graça se você não tivesse aparecido para atrapalhar’’, penso novamente. Porém, continuo em silêncio.

- Nós vamos sim, Chuck. – diz Tommy, olhando pra mim – Certo, Newt?

A minha vontade de chutar alguma coisa (ou alguém, de preferência Chuck) cresce, mas eu gosto do pirralho. Mas, francamente, precisava ter aparecido agora? Pego minhas roupas e não digo nada, apenas passo direto por Thomas e Chuck e vou me deitar. De longe, dá pra ver Tommy sentado na fogueira, olhando para mim. Depois, ele vira o rosto e começa a conversar com Minho, e eu acabo adormecendo.