New Mamodo Battle!

1. Who has the power?


Você sabe quem tem o poder?

Você sabe quem tem a força?

— ARGH! EU ODEIO ISSO, CARA! ODEIO!

— Acalme-se, por favor, Ayame-sama!

Um senhor carregava uma bandeja de prata com um prato com diversos doces e biscoitos, um jarro e uma xícara, todas as peças eram de porcelana branca com detalhes em preto. Dirigia-se calmamente até uma garota que esperneava em um dos sofás vermelhos com bordas douradas do espaçoso cômodo que poderia ser a casa de uma pessoa de classe baixa, ou até média, mas era o quarto dessa garota. Isso, um quarto.

Era um quarto com as paredes pintadas de uma coloração branca com alguns desenhos em vermelho e dourado. Algumas janelas espalhadas estrategicamente pelo espaçoso aposento com cortinas vermelhas que iam alcançavam o chão e tinham as bordas e os detalhes em dourado. Havia diversos moveis espalhados pelo cômodo e com a cabeceira encostada a uma das paredes entre duas enormes janelas se encontrava uma cama que dava para ocupar umas cinco pessoas ou talvez mais. Com travesseiros com a fronha dourada e um pesado edredom vermelho cobrindo toda a cama. Havia um enorme lustre de cristal no centro do quarto, mas que se encontrava com a luz apagada, afinal o sol iluminava muito bem todo o quarto.

O senhor abriu um sorriso para a menina que se endireitou no sofá que antes estava a espernear ao notar uma bandeja nas mãos de Kazuya, seu mordomo, empregado e mais o que ela quisesse que ele fosse. Um adorável sorriso tomou o rosto de Ayame que jogou os longos fios ruivos para trás.

— O que trouxe dessa vez Kazuya? — perguntou com curiosidade.

— O que minha senhora mais gosta — respondeu calmamente e colocou a bandeja sobre uma mesinha que estava de frente para ela. — Doces. E para acompanhar trouxe um pouco de chá.

— Como sabia que eu estava precisando disso? — perguntou divertida.

— Não é muito difícil adivinhar Ayame-sama.

A ruiva encarou o livro preto pousado calmamente no canto do sofá em que ela estava sentada e suspirou.

— Pra onde aquela criatura divina foi? — perguntou Ayame com o tom desgostoso.

— Disse que iria treinar. Exatas palavras: “Não é só porque estou fazendo parceria com uma humana fraca que eu vou ficar indisposto”.

— HUMANA FRACA? QUEM AQUELE FILHO DA PUTA PENSA QUE É? AH, MAS ASSIM QUE ELE COLOCAR OS PÉS AQUI NÃO VAI SOBRAR UM PEDAÇO DE ROUPA DELE PRA CONTAR HISTÓRIA! — berrou com uma expressão que causaria medo até no próprio Diabo. — Ou eu não me chamo Kuraitsuki Ayame!

O pobre senhor apenas pode assentir sem demonstrar o medo que por dentro sentiu. Por anos de convivência com a pequena Ayame ele sabia que muitas de suas ameaças não surgiam efeitos, mas as expressões dela com certeza causariam arrepios em qualquer um. Nem parecia ser uma menina que foi disciplinada de forma rígida e intensiva.

— Apenas coma Ayame-sama. Logo sua visita estará chegando e você precisa estar pronta — dizia Kazuya colocando o chá na xícara e a estendendo para a menina, que pegou prontamente. — E ele disse que logo estará de volta.

— Tudo bem — suspirou pesadamente bebendo calmamente o chá. — Véi, na boa... Como foi que eu me meti nisso?

— Ser-me-ia uma surpresa se você não tivesse se metido nisso, minha criança — comentou o velho senhor. — Bom, Ayame-sama, como você não precisa de nada, irei me retirar.

— Ok. Kazuya... Se a minha querida visita chegar, traga-o ao meu quarto, e se aquele desgraçado chegar mande-o ficar atento ao que poderá acontecer, e diga que se ele fizer graça eu mesma queimarei o livro. — Ayame pronunciou com toda doçura e serenidade que reunira naquele momento enquanto pegava um dos doces do prato.

— Sim. Com licença.

Uma hora e meia havia se passado desde sua conversa com Kazuya que já havia vindo ao seu quarto novamente, mas apenas para retirar a bandeja vazia e nisso ela estava no banho. Nesse momento a garota estava olhando por uma das diversas janelas do seu quarto que dava para ver certinho quem entrava ou saia da mansão dos Kuraitsuki, e ela observava um carro preto parar em frente as escadaria para a porta principal da casa. Kazuya estava esperando pacientemente e mantinha a porta aberta para os novos visitantes. Ayame abriu um sorriso calmo e virou-se de costas para a janela, encarando a forma que estava parada a alguns metros.

Os dois mantiveram-se em silêncio até que a figura moveu a cabeça levemente para o lado direito e Ayame se tocou de quem era por conta dos sapatos escuros, e da bermuda peluda.

—... SEU FILHO DE UMA BOA PUTA! — gritou. — QUEM TU PENSA QUE É PRA ME CHAMAR DE HUMANA FRACA, PUTA? — continuava a gritar sacudindo os braços exasperadamente.

—...

— E ainda fica em silêncio. Véi... Que porra eu fiz pra merecer essa batalha?!

— Derrotar a Zofis, talvez? — A voz era grave e bem profunda, e Ayame desviou o olhar da figura. — Ayame... Você acha que essa dupla nos será útil no futuro? — perguntou.

A ruiva abriu um sorriso extremamente divertido e brincalhão para a pessoa escondida no escuro.

— É claro que sim. E além do que... O humano dessa dupla é bem gatinho — piscou um dos olhos.

—... — continuou em seu silencio encarando firmemente a ruiva.

Ayame se moveu suavemente até uma poltrona que estava posicionada próxima aos sofás e a mesa que antes ela havia tomado chá. Era confortável e perfeita para ela, de estofado vermelho e detalhes dourados assim como todo o restante do quarto. Quase tudo no quarto era daquelas duas cores e a menina estava pensando em mudar, mas por enquanto tinha coisas mais importantes para pensar. Como o que, por exemplo? Essa nova batalha mamodo.

Ela nunca quis ter sido um dos humanos destinados a fazer par com uma criança demônio que queria se tornar o novo rei mamodo de seu mundo. Mas era o destino. Podia ter simplesmente recusado, mas não o faria... Ele havia salvado sua vida e prometera salvar uma pessoa. “Kaori-chan...”. Bufou e notou que o seu mamodo estava se aproximando quietamente e encostou-se a parede atrás da poltrona que estava sentada, os braços cruzados e o olhar sombrio.

— Se continuar com essa expressão você irá espantar a visita, Brago.

— Tanto faz — friamente rebateu.

— Seu...

— Ora Ayame, já basta eu ter que aguentar minha própria voz, não me faça ter que aturar a sua também. — A voz viera acompanhada do barulho da porta e a ruiva virou-se logo para lá.

— ICHI-CHAAAN! — exclamou enquanto erguia os braços. — É bom te ver, sabia?

O rapaz ali parado deveria ter já contatos seus dezenove anos, não somente pelo tamanho admirável – e invejável no caso de Ayame que sonhava em ser alta – mas pelo porte atlético que ele tinha. Se não visse o garoto apenas com bons olhos e uma vontade intensa de querer se alta a ruivinha já teria investido nele. Os cabelos eram quase tão vermelhos quanto os dela, de aparência curta e estavam um tanto bagunçados. Os orbes amarelos fitavam Ayame com um brilho sádico que estava quase sendo escondido pelos óculos de grau que se mantinha no rosto do rapaz, que o ajeitou rapidamente. Era realmente um rapaz bonito e passou-se pela cabeça da garota quantas meninas – e meninos – já deveriam ter caído aos pés daquele ruivo nem um pouco atraente, para não dizer ao contrário.

A Kuraitsuki gesticulou calmamente para os sofás e o viu entrar carregando consigo um livro bem parecido com o seu livro preto, sendo que o dele era laranja. E acompanhando ele uma garotinha vinha, parecendo admirada com as coisas ao seu redor. Tinha os cabelos de um azul-esverdeado bonito, mas com um penteado meio... Exótico e os olhos pareciam ser azuis. De fato era cada um que aparecia na sua frente que chegava a assustar e surpreender, mas se comparar aquela garotinha ao seu mamodo, ela era até normal demais e muito humana.

Os dois visitantes sentaram-se em um dos sofás. Os orbes amarelos fitavam ora a ruivinha e ora o mamodo encostado à parede, como se analisasse a situação. Poucos minutos no mais puro silêncio e três empregadas entraram no aposento, cada uma carregando uma bandeja que foi colocada na mesinha no centro de todos ali presentes. Duas das bandejas tinham pratos com guloseimas, doces e biscoitos, e a última bandeja tinha quatro xícaras e chá. Após ajeitarem tudo se retiraram rapidamente do quarto e a última coisa vista por elas foram dois ruivos atacando os doces.

Os mamodos ali presentes apenas encararam a cena com uma expressão do tipo “mais que porra é essa?”. Juntar aqueles dois não estava sendo uma boa coisa. Brago – se não precisasse de Ayame para usar as próprias magias – estava quase perdendo a paciência e explodindo tudo ali, além de baixar a porrada na garota.

Malditos humanos.”, pensara sem tirar a atenção dos humanos que se recompuseram.

— O que você quer Ayame? — perguntou o ruivo por fim levando um dos chocolates ainda presente nas bandejas até a boca e comê-lo. — Não é todo dia que eu recebo um chamado como se o mundo estivesse sendo invadido por um E.T ou estivesse acontecendo a Quarta Guerra Mundial!

— Ou seria a Terceira...? — perguntou-se baixinho Ayame. — Enfim, bom meu querido e adorável Ichigo Hisagi, apesar de saber muito bem que você é um maldito egocêntrico que nesse momento deve tá pensando em quantos doces tu poderia aguentar comer, eu quero te fazer uma proposta.

— Quanta consideração por mim — fingiu uma falsa expressão de tristeza que não durou muito. — E qual seria a sua proposta? Pelo amor de Deus, que seja algo de interessante.

— Quem sabe — deu de ombros. — Tem cigarros aí?

— Pensei que Vossa Majestade não gostava do cheiro de cigarro ou que aqui era proibido fumar — comentou Hisagi apalpando os próprios bolsos. — Não é nova demais para isso, Ayame?

— Já tenho dezesseis, então me deixa.

O rapaz estendeu um dos cigarros e o isqueiro para a garota que pegou e acendeu com rapidez, como se fizesse isso diariamente, mas não, ela via seu pai fazendo isso. E ela só fumaça assim porque roubava de seu também. Hisagi acendeu um cigarro também e encarou Ayame, esperando.

— Dá pra dar a continuação? Eu não tenho a vida toda pra isso — disse o garoto dando uma leve tragada.

— Ai, puta, calma — pediu Ayame balançando a mão. — Véi, esse povo não sabe que a presa é inimiga da perfeição?

— E a perfeição é inimiga da paciência — rebateu revirando os olhos.

Chaaaa~to* pra caralho você — resmungou apontando o cigarro para o companheiro que a olhou com sarcasmo. — Tá, minha proposta é a seguinte — pausou apenas para dar uma tragada em seu cigarro e depois sorriu com malicia para o ruivo. — Você e eu, uma dupla. Eu ajudo você e ela — apontou para a mamodo que bebericava o chá com calma. — E você me ajuda e ajuda ele — apontou para o seu próprio mamodo. — É pegar ou largar, querido egocêntrico. Que cê me diz?

*~*

O Takamine estava parado a alguns metros do colégio encostado calmamente a uma das árvores ali presentes e segurava o livro vermelho firmemente, tentando decifrar o que diabos poderiam ser o que estava escrito ali. Apesar de conseguir ler a parte que estava da cor vermelha, não entendia nada das outras coisas. E aquilo de fato o estava irritando demais. Mesmo não gostando de ser inteligente, ele já havia se acostumado a saber de tudo e entender tudo.

Ergueu os olhos do livro e fitou o garotinho louro correndo atrás de uma borboleta com um gigantesco sorriso no rosto. No dia anterior ele havia lhe contado tudo desde o que era até o que significava aquele livro, mas disse que não se lembrava do passado dele, apenas sabia daqueles detalhes por que eram as únicas coisas que ainda havia em sua mente. Mas o que significava aquilo? O que teria feito Zatch perder a memória? Suspirou pesadamente.

Fechou o livro e o guardou dentro de sua pasta, jogando-a por sobre seus ombros para que pudesse seguir seu caminho em paz. Sua mãe não reclamara por conta de ter chegado a sua casa com uma criança pendurada em suas pernas. A mesma havia adorado o pequeno Zatch e agora o mesmo morava naquela casa. Shou odiou a ideia... Estava tendo que dividir seu precioso quarto com essa criança que o assustava e que soltava raios pela boca! RAIOS. PELA. BOCA!

Mas do que adiantaria falar isso para a sua mãe? Ela não iria escutar e o chamaria de louco... Maldição. Shou fez uma careta de desagrado enquanto se aproximava da criança que segurava a borboleta e deu-lhe um tapa na testa, fazendo a borboleta voar e o menino cambalear para trás.

— Estamos indo embora — informou ao pequeno que o fitara desentendido.

— Unu... Você não tinha que esperar a Ino-san? — perguntou olhando para o maior com um semblante sério.

— Ai, é mesmo — resmungou passando os dedos da mão livre entre seus fios acobreados.

Os orbes azulados vagaram por todo o local procurando a menina de longos fios dourados que estava conversando animadamente com duas garotas, totalmente distraída. Se ela não fosse uma garota, Shou tinha a certeza de que estaria agredindo de alguma aquela criatura.

— Isso é um saco, né? — ouviu alguém perguntar e virou-se meio assustado.

Havia parado ao seu lado um rapaz com o mesmo uniforme que o seu e segurava calmamente a própria pasta. Já havia o visto vez ou outra, mas nunca se aproximou e o garoto também nunca fez essa questão. Ele era alto, vários centímetros mais altos do que seus lindos 1,73cm, mas não deveria ter mais do que quinze anos, via isso apenas por seus traços. Shou era um pouco mais velho do que ele, afinal havia completado dezesseis há poucas semanas. O garoto tinha o cabelo de tamanho mediano de uma forte cor escura, negros, e essa cor acompanhava seus olhos que eram igualmente negros que expressavam calma. Tinha a pele um pouco bronzeada o que Shou poderia ter estranhado, poucos eram os japoneses de pele bronzeada, mas não disse nada.

Era um dos garotos da sua sala, lembrou. O segundo mais inteligente – afinal Shou ainda estava em primeiro –, deveria ser um dos amigos de Ino, ou conhecido... Não o importava. Continuou a fitar o rapaz.

— Takamine, certo? — perguntara gesticulando para Shou. — Bom, sou Sawada Lawliet. — Fez uma pequena reverência ao garoto a sua frente.

— Takamine Shou — disse seu nome apenas por falar, pelo visto o tal de Sawada já sabia. Imitou os movimentos dele. — O que quis dizer com...?

— “Isso é um saco”? — adivinhou retornando a olhar para Ino. — Ino já me pediu para ajudá-la com Química, mas no dia eu fiquei horas esperando ela. A Ino não vai vir, eu aposto.

Zatch notou o olhar curioso que Sawada havia lançado a si.

— Você também entrou na luta Takamine?

— Como? — Estava meio desligado xingando a loura em mente. — Que luta?

— A luta para decidir o Rei Mamodo.

Paralisou e encarou meio surpreso o moreno que ainda expressava calma apesar de ter um brilho divertido no fundo dos seus olhos. Como assim ele sabia sobre isso? Shou deu um passo para trás e Zatch notou que havia um ar defensivo no mesmo.

— Ei, pra que essa reação? — disse Sawada erguendo as mãos. — Estou em paz e não quero lutar contra você. — prosseguiu abaixando calmamente as mãos. — E eu tenho certeza de que o Rops também não deve estar querendo isso.

Uma criaturinha pulou nos ombros do moreno. Não parecia em nada com Zatch, mas as linhas que pegavam de seu olho até o fim de seu rosto mostravam alguma semelhança. Havia um lenço laranja em seu pescoço e em sua cabeça uma espécie de “chapéu” vermelho com bolinhas pretas. Com certeza se fosse uma menina ali no lugar dele cairia de encantos por aquele mamodo. Até Zatch estava ficando encantado...

—... Então você...

— É eu também estou nessa luta e vou ajudá-lo a se tornar um Rei. — confirmou calmamente levando a mão direita até a cabeça do mamodo em seu ombro. — Creio que você também queira fazer o mesmo... Mas eu não vou lutar contra você — sorriu para o pequeno Zatch.

— Sawada-san... O que você sabe sobre... As batalhas? Sobre tudo? Eu gostaria que você me falasse. — pediu.

— Claro! — respondeu e deu de ombros. — Mas... E a Ino-san?

— Ah, que se dane a Ino, vamos logo.

*~*

Escondidos nas sombras de algumas árvores duas formas – uma feminina e outra masculina – encaravam o quarteto que caminhava calmamente pelo caminho entre as árvores de cerejeiras que ainda não havia desabrochado. O garotinho louro ia saltitante à frente. A garota escondida entre as árvores estreitou os olhos fixados no garoto de cabelos acobreados.

— O que faremos agora Akane? — A voz ao seu lado era suave.

— O que você quer fazer Wonrei?

— Eles não parecem ser pessoas ruins... — comentou e os orbes lilases do rapaz pousaram sobre a menina. — Vai querer lutar contra eles?

— Por enquanto não, eles podem estar fingindo... Que tal observarmos?

O rapaz assentiu e ambos moveram-se por entre as sombras, seguindo o mesmo caminho que as pessoas seguiam antes.

*~*

— Ganzu Akuru! — exclamou Hisagi.

Sua mamodo lançou esferas de água que foram em alta velocidade na dupla inimiga que estavam um pouco ofegantes.

— Vamos Reycom! — o garoto que acompanhava o outro mamodo disse segurando firmemente um livro azul. — Gikoru!

Estilhaços de gelos voaram em direção a Hisagi e Penny que sorria divertidamente, esperando os comandos de seu parceiro humano, e parecia despreocupada. O garoto com o mamodo do gelo estreitou os olhos.

— Ashirido! — ditou o ruivo. — Akuru Kiroro!

Um escudo de água bloqueou o ataque de gelo e ainda o absorveu. E assim que terminou lâminas de água cortante foram lançadas em direção à dupla. Reycom se postou protetoramente na frente de seu parceiro, que estava meio agachado no chão. Eles estavam perdidos, ele estava sem forças ou poder do coração para que pudesse rebater aquele ataque.

— Reycom! — gritou ao ver o mamodo receber todo o ataque. — Idiota! — reclamou erguendo-se e correndo para que pudesse segurar a criança que agora voava para trás por conta do impacto com o golpe em seu corpo. — Não era pra ter feito isso.

— Fiz pelo meu livro — disse Reycom baixinho se erguendo com um pouco de dificuldade.

— Pelo visto você não vai concordar com a maldita proposta, né? — perguntou Hisagi divertido. — Bom... Quem sou eu pra te forçar a algo — completou lançando um olhar meio sádico para cima da dupla no chão. — Eu não to a fim de queimar livros hoje e eu vou querer te enfrentar novamente, mas quando estiver mais forte.

— Tem certeza Higi-kun? — perguntou Penny com ambas as mãos na cintura e olhando também para os dois.

O ruivo olhou para a garotinha e revirou os olhos.

— Claro — respondeu e retornou a olhar para seus adversários. — Reycom, cuide desse livro — ordenou e viu o mamodo estreitar os olhos. — Ninguém pode queimar o seu livro além de nós, entendeu? Estou ansioso para enfrentá-lo em um futuro muito próximo. E até lá espero que se fortaleça. Não aceitarei uma luta menos do que emocionante. — Until next time.

— Você falando em inglês é irritante Higi-kun — alfinetou a menininha de madeixas azul-esverdeadas. — Ainda me pergunto como ninguém reclamou ainda.

— Não pedi sua opinião, bad hair — irritou-se Hisagi andando em direção oposta ao da dupla. — E não fala mal do meu inglês, child annoying!

— Blábláblá! Chato! — disse Penny sacudindo uma das mãos e caminhando ao lado do ruivo.

A dupla fitavam os dois se afastando e Reycom deixou-se respirar fundo um pouco satisfeito por ainda estar ali. O mamodo do gelo tinha um semblante inocente, era pálido. Tinha o cabelo azul, da mesma cor que o seu livro e estes eram arrepiados com uma pequenina mecha pegando-lhe o centro da testa, mas era tão pequena que nem fazia diferença. Os olhos eram como o próprio gelo, gélidos e duros, e de uma coloração acinzentada. Abaixo de seus olhos como se fossem olheiras havia sombras negras e havia uma linha até o fim de seu rosto, como as de muitos mamodos.

Seu parceiro humano era um pouco mais diferente de ele. Era bonito. Sua aparência mostrava que ele já não era mais uma criança, deveria ter quase a idade de Hisagi. Os cabelos eram negros que lhe alcançavam o queixo e repicados, que o deixava de uma forma bela e combinava consigo. Seus olhos eram de um azul muito bonito, e expressavam certa revolta por ter perdido, e estavam um pouco ocultos por sua franja. Ele era alto, não tanto quanto muitos que já apareceram nessa história, mas era. Um rapaz bonito e com certeza com uma personalidade cativante.

Reycom – apesar de não fazer muito tempo que estava junto de seu parceiro – sabia o quanto ele estava irritado e resolveu manter-se em silêncio. Gilbert Sakai quando irritado era agressivo e ele deveria estar pronto para explodir de ódio. Por quê? De todas as batalhas mamodos que eles enfrentaram até agora, todas foram ganhas. Gilbert confiava bastante em sua inteligência e senso para criar estratégias para a vitória. Mas haviam sido pegos de surpresa por aqueles inimigos e só estavam ali por vontade daqueles que enfrentaram. Reycom estava se sentindo um pouco irritado, mas sabia que Gilbert estava mais.

— Vamos voltar para o Canadá? — perguntou Reycom.

— Não. — respondeu erguendo-se calmamente e olhando para o livro. — Vamos continuar pelo Japão, e vamos nos fortalecer. Da próxima vez eu vou fazer aquele cara comer o chão. E eu preciso de tempo para me recompor.

— Péssima hora para ter um corpo que demora a sarar — comentou o mamodo erguendo-se meio trêmulo. — Isso é desvantagem para você, para mim, para nós.

— O fedelho eu faço meu possível, tá? — reclamou Gilbert querendo chutar o garoto que sorriu. — Vamos logo antes que eu de fato fique incapacitado e você não lute mais.

O mamodo deixou seu sorriso se pronunciar mais enquanto seguia ao lado do humano para que pudessem ir se recuperar. Sabia o quanto ele iria se esforçar para que ficassem mais fortes.

*~*

Duas garotas andavam pelo mesmo caminho que Gilbert e Reycom, só que para o lado contrário. Ela sabia o que estava acontecendo, na verdade havia visto tudo o que havia acontecido e estava surpreendida com a força do garoto ruivo. Não que ele tenha ganhado num piscar de olhos, mas conseguira vencer uma dupla que sempre vencia as batalhas que arrumava.

Sabia que provavelmente teria que enfrentar um deles, mas naquele momento ela estava curiosa para saber o que os dois tanto discutiram no começo da luta. Poderia ser culpa de uma curiosidade oculta em si não se sabe, mas ela queria saber e iria saber de um jeito ou de outro.

A garota maior jogou os fios negros para trás. Estes lhe atingiam a metade das costas, repicados, que naquele momento esvoaçavam com a calma brisa que estava a passar naquele momento. Sua pele era pálida e tinha uma aparência suave e macia, qualquer um poderia ficar tentado a tocar. Seus olhos – de um belo tom azul-claro – estavam pensativos, e no fundo deles havia um brilho de curiosidade para querer saber o que haviam falado. Por usar um sobretudo preto seu corpo não estava muito exposto, mas sua altura era algo surpreendente e Ayame – se estivesse ali – com certeza se enforcaria de inveja.

A garotinha que a acompanhava tinha as madeixas um pouco mais longas do que as de muitas crianças que você encontra por aí. Deveriam ultrapassar sua pequena cintura e tinham uma tonalidade rosada, mas um pouquinho escuro. Seus olhos estavam calmos e tinham um doce tom alaranjado, mas um pouco escuro. Avaliava calmamente a garota ao seu lado e como a mesma usava uma espécie de sobretudo – só que infantil. Não entendia o porquê da curiosidade dela, mas a acompanharia. Somente ela poderia lhe tornar Rainha do Mundo Mamodo.

— Sunny-chan? — chamou-a calmamente.

— Sim?

— O que você pretende fazer agora? Vai seguir aquelas pessoas?

— Não, Tio. — respondeu e tirou de suas vestes um livro laranja-avermelhado muito parecido com o livro dos mamodos. — Primeiro temos que fortalecer-nos e depois, somente depois vamos atrás deles. Ah não ser que eles venham atrás de nós. — Um sorriso irônico surgiu em seu rosto.

A menina assentiu e continuou a seguir sua parceira, que lhe segurou uma das pequenas mãos e apressou os passos.

— Vamos que eu tenho que comprar um novo jogo.

— De novo com isso Sunny-chaaan?

*~*

— Isso será interessante... — Uma voz infantil, porém ameaçadora soou pelas sombras de uma floresta.

— Muito interessante. — concordou uma voz tediosa acompanhou a primeira voz.

— Bem, temos que terminar com todos os outros para que eu me torne rei. — e uma risada maléfica e infantil soou.