New Life.

Shit life.


Acordei no meio da noite torcendo para que não fosse de manhã para que meu pesadelo começace, olhei para o relógio e em uma hora eu tinha que estar no aeroporto, eu realmente não queria ir para aquele inferno, mas se eu não quisesse dar algum prejuizo a eles, eu teria que fazer aquilo. Dei um pulo da cama e tomei um banho longo e demorado.

Fiquei por alguns minutos me olhando no espelho que tinha atrás da porta do guarda-roupa. Eu era estranha, tinha cabelos pretos e por baixo era pintado, sabe naquela partizinha que quando prende, o loiro predominava? Então... Eu tinha um septo e era muito baixa e para piorar minha situação, usava óculos, ô vida.

Coloquei uma blusa do Nirvana provavelmente maior que eu, um shorts completamente detonado, uma camisa de flanela xadrez, preto e branco e meu all star preto. Ajeitei o septo e coloquei o pijama que usei na noite passada, na mala, daqui a algumas horas, eu estaria perto do homem que eu mais odiava.

(...)

- Vou sentir sua falta. - Disse abraçando a dona Ana e enxarcando a blusa dela.

- Eu também vou, apenas tente ser legal com o seu pai querida. - Ela desfez do abraço e falou enquanto eu ia abraçar o seu George.

- Eu prometo. - Menti secando as lágrimas.

- Última chamada para o vôo 214, Califórnia - Huntington Beach.

- Bom, é agora. - Sorri triste e dando um último abraço neles. Fui até o embarque e dei uma última olhada, um casal de idosos tão bonitinhos e tão caridosos, eu iria sentir muita falta deles. Por que tinha que ser tão dificil de dizer adeus as pessoas que amamos? Por que tem que ser assim? Por que as pessoas que odiamos temos por perto, e as que amamos estão tão longes por motivos idiotas. Entrei no avião e comecei a chorar baixinho ali mesmo, eu não queria falar tchau para o Brasil, foi onde eu nasci e fui crescida, era onde eu tinha amigos, onde eu tinha as pessoas que eu mais amava e era um país maravilhoso, calor, praia e comida boa, como alguém poderia querer sair de la? Muitas pessoas querendo sair de la por que reclamam do calor ou coisas do tipo e eu querendo dar a minha vida para poder ficar. Eu amo muito aquele pais, não quero e nem posso deixar tudo la, foram quatorze anos, quatorze anos convivendo com pessoas maravilhosas, construindo minha história e querendo esquecer aquele pai que tinha, e agora, esse mesmo monstro, resolve me considerar, afinal, o que deu na cabeça dele? Qual é a dele? Ele conseguiu viver esses quatorze anos sem culpa e sem se preocupar comigo, e de repente, do nada, ele resolve que pode ser um super pai? O que diabos tinha na cabeça dele?

POV's Jimmy.

- Vamo caralho, minha filha vai chegar. - Falei tacando uma almofada nos meninos para se apressarem, eu estava muito anscioso, iria ver minha filha pela primeira vez, eu deveria ter ido no banheiro umas trinta vezes por ansiedade, ficava imaginando o rosto dela, como ela era, se ela era parecida comigo ou com a Lea, eu estava muito feliz... Mas agora que perguntam " então por que deixou a Leana?" Eu tinha quatorze anos, não sabia o que fazia e nem o que queria, meus pais me ameaçaram a me botar pra fora de casa se eu aceitasse a Marjorie, eu realmente queria ficar com ela, queria ve-la crescer, eu realmente queria tudo isso, mas não era possivel, eu era um adolescente, não tinha casa, não tinha emprego e provavelmente nunca daria uma vida boa para ambas, mas também eu não queria deixa-la na mão, e quando eu vi, foi tarde demais, ela ja estava no avião para o Brasil, eu fiquei mal, eu realmente gostava muito dela... depois de alguns anos, eu comecei a ficar com várias vadias que se atiravam ou passavam na minha frente, comecei a fazer sucesso com a banda e agora eu tenho uma casa e dois cachorros, que por nós, não são nada comportados, e agora eu tinha minha filha do lado, o que seria melhor? Eu deveria ter feito isso antes, então soube que Leana morreu , eu não poderia fazer nada, infelizmente, então toquei em frente, e agora ganho meu dinheiro.

E por falar na Marjorie, ela deve me odiar ou estar ansciosa, assim como eu, para me conhecer?

POV's Marjorie

Acordei apenas quando o avião pousou e eu senti aquela brecada, me levantei sonolenta e fui pegar minhas malas, eu queria dormir, acho que não foi uma boa ideia ficar a noite inteira pensando em apelidos maldosos para dar para meu pai, ele merecia isso e um pouco mais.

Fui andando abobada e olhando aquela imensidão de pessoas passando, rabinos, mussumanos, prostitutas... Até que vejo um cara gigante, parecia ter um dois metros, completamente tatuado e usava maquiagem, era meu pai, uma noite antes eu tinha pesquisado como era o "The Rev" e pode acreditar, ele e os amiguinhos dele, eram bem estranhos, até me senti muito envergonhada ao ver que meu pai usava mais maquiagem que eu.

- James Sullivan? - Perguntei olhando para ele.

- Marjorie? - Ele disse de boca aberta.

- É, sou eu. - Respondi tentando não parecer seca e recebi um abraço que cara, quase me matoum tentei retribuir, mas não tinha a menor vontade e nenhum pouco de carisma. - Você ta me esmagando. - Disse sufocada.

- Ok, desculpe. - Ele sorriu bobão desfazendo o abraço.

- Vamos? - Falei pegando as malas e olhando para os amigos dele.

- Claro, mas quero te apresentar; Brian, Matt, Zacky e Johnny. - Ele apontou a cada um e dei um aceno baixo para eles.

O caminho no carro foi extremamente silencioso, bom, apenas para mim, aqueles caras não paravam de rir e gritar, estava me dando dor de cabeça.

- Bom.. se quiser... pode me chamar de pai, eu sei que é novo pra você... - Ele falou mas eu interrompi.

- Olha eu sei muito bem o que você fez com a minha mãe; tratou ela como uma vagabunda qualquer e depois deixou ela morrer e agora quer, não vai ser nada facil nem olhar pra sua cara, quanto mais te chamar de pai, realmente, me desculpe mas é a verdade. - Disse em português, como? Eu sai do Brasil mas o Brasil não saiu de mim, então antes que ele me perguntasse e eu magoasse ele, resolvi falar que não era nada, eu tinha que dar uma chance para ele, para aquela casa e para aquela nova vida.

Chegamos em casa e ele abriu a porta e logo dois pequenos labradores começaram a morder minha perna e antes que eu pudesse fazer alguma coisa para impedi-los eles me derrubaram no chão, puta que pariu viu...

- Dipsy, Nany - Aquele tal Brian gritou para os cachorros que na mesma hora sairam de cima de mim e me ergui sozinha.

Olhei um momento e aquela casa era enorme, tinha vários CD's e decorações digamos um pouco estranha, afinal, não é todo dia que se ve caveiras enfeitadas na parede.

O que tinha de errado com minha vida, aquela casa era estranha, eu não quero viver aqui.