Os cavaleiros de bronze embarcaram num jatinho da Fundação Graad, rumo ao norte.

— Ainda não entendi porque o Grande Mestre não deixou que Isabella nos teletransportasse até lá – resmungou Betinho quinze minutos depois de decolarem. O jatinho, porém, voava o mais rapidamente possível, não dando brecha para reclamações dos outros cavaleiros.

— Acalme-se – disse Rina. – O Mestre e a Srta. Saori querem todos os cavaleiros de Ouro e de Prata por lá enquanto viajamos. Na ausência dos nossos mestres, os cavaleiros de Ouro renascidos ocuparão temporariamente os lugares deles. Eles querem fortificar a segurança interna e externa do Santuário a todo custo.

— Isabella não é como eles – disse Matt. – Ela é uma guerreira, como nós. Garanto a vocês que ela prefere atuar na linha de frente.

— Mesmo assim, ela está num nível acima do nosso – insistiu Rina. Todos olharam para ela. – Acreditem, eu a conheço melhor do que vocês. Isabella é forte e durona, não pensem que ela é frágil. É mais sensato deixa-la no Santuário, para não corrermos riscos de perder mais uma forte guerreira.

Matt suspirou, concordando silenciosamente, recostando-se em seu assento, razoavelmente tranquilizado. Olhou pela janela do jatinho.

Não viam mais o Mar Mediterrâneo ao longe, vasto, calmo e misterioso. Passavam por montanhas, rios, campinas, atravessando todo o continente.

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Era muito difícil para Thiago reclamar do frio. Com o clima ameno com que se habituou na Grécia e no Japão, o cavaleiro de Cisne esqueceu-se de como era o clima terrível do norte. Já fazia vários meses desde que havia visitado Asgard pela última vez, e o contato com nações que conviviam com o sol durante a maior parte do ano havia mudado sua forma de vida.

Agora, no entanto, Thiago estava ansioso. Iria rever um de seus locais de treinamento, da época em que estava aprendendo a ser um cavaleiro. Talvez visse seus antigos vizinhos, se eles não tivessem virado picolé em sua ausência. Contudo, ele nunca havia imaginado que voltaria para lá com uma missão de salvamento para cumprir.

Foi quando ele sentiu. A cabine do jatinho onde se encontravam ficou fria de repente. A temperatura havia caído sem aviso.

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Gustavo olhou pela janela. Lá embaixo, tudo era branco. A neve estendia-se por montanhas, campos, vales, e os rios estavam congelados. Tinham chegado ao extremo norte da Europa.

— Asgard – anunciou o piloto da fundação. Rapidamente, eles sentiram o jato descer rumo ao solo.

Os cavaleiros de bronze viram-se em um mundo coberto de neve. As árvores só eram reconhecíveis pelos troncos longos. Tudo o que seus olhos enxergavam estava tingido de branco. Ainda assim, era uma visão bela. Exatamente como Thiago se lembrava.

— Certo – disse Betinho. – Sabemos o que fazer. Temos que procurar pela princesa Freya...

— Cavaleiros de Atena! – eles ouviram uma voz chamar. – Aqui!

Eles se viraram. Uma garota loira de olhos azuis, e muito bonita, vinha correndo em direção a eles.

— Talvez você tenha cochilado, gênio – disse Rina, dando um tapa na cabeça de Betinho. – Mas lembro-me perfeitamente da Srta. Saori nos dizendo que haveria alguém para nos receber.

Betinho massageou a parte de trás da cabeça onde levara o tapa. Seu irmão, porém, mirava a garota que acenava para eles ao longe. Enquanto eles iam em direção a ela, Thiago a reconheceu.

— Natasha – disse quando ficou defronte à garota.

— Thiago – ela sorriu para o velho amigo, incentivando-o a avançar. – Há quanto tempo. – Ela olhou para os outros quatro, meio envergonhada. – Teremos tempo para conversar depois. Vou levá-los a um lugar seguro com o meu irmão...

Um vulto alto saiu de trás de uma árvore. O homem também era loiro e de olhos azuis, e usava uma armadura branco-azulada.

— Sou Alexei – disse ele. – Sou o chefe dos Guerreiros Azuis que protegem a terra sagrada de Graad Azul. Estamos sendo oprimidos pelos Guerreiros Deuses. Vou guiá-los até o nosso esconderijo.

Natasha e Alexei seguiram em frente, com os cavaleiros de bronze em seus calcanhares, lutando com dificuldade contra a neve que dificultava seus movimentos.

Enfim, eles chegaram a uma cabana no meio da floresta de neve. Alexei fez sinal para os cavaleiros de bronze, já com suas armaduras, entrarem com Natasha.

A cabana não era muito grande por dentro. Uma lareira ao fundo ajudava a amenizar o clima duro da casa. Numa poltrona, uma mulher com os braços enfaixados era atendida por uma garota.

— Esta é Flair – disse Natasha, sentando-se numa cadeira e indicando a garota ajoelhada que tratava os ferimentos da outra. – E esta é Freya. Princesa de Asgard.

Flair ergueu a cabeça e sorriu para Thiago e os outros. Era idêntica a Natasha, exceto pelos olhos verdes. Freya era muito mais bonita do que Natasha e Flair. Seus olhos eram castanho-esverdeados e irradiavam calma e paz para o exterior. A harmonia presente em seu sorriso pareceu envolver os cavaleiros de Bronze.

— Cavaleiros de bronze – saudou Freya. Ela se levantou, meio desequilibrada, amparada por Flair. – Que a paz esteja com vocês, que vieram de longe para nos ajudar.

Alexei entrou e fechou a porta, impedindo a neve de entrar. Estivera vigiando o exterior da casa para ver se estavam sendo vigiados. Ninguém ousou quebrar o silêncio que se seguiu à sua entrada, na pausa de Freya.

— Minha irmã Hilda foi capturada e aprisionada – continuou ela, aflita e triste. – Sem suas preces, como já devem saber, o gelo de Asgard irá derreter, e o nível dos oceanos irá aumentar, causando caos e trevas para o resto do mundo. Escutem com atenção, cavaleiros.

Rina deu um peteleco em Gustavo e Matt deu um em Betinho. Ambos estavam quase babando diante de Freya e, no caso de Gustavo, por causa de Flair também. Os dois se recompuseram, mas Freya não notou nada.

— Minha irmã foi privada de seus sentidos. Está encerrada em uma espécie de prisão. E só há uma coisa capaz de libertá-la. A espada Balmung.

Rina levou as mãos à boca para abafar uma exclamação de admiração. Thiago fez sinal para que ela não interrompesse.

— A Espada Balmung só aparece quando as safiras de Odin são unidas. São sete os Guerreiros Deuses, são sete as safiras de Odin. Derrotando um Guerreiro Deus, vocês obterão uma safira de Odin.

Simples de entender, complicado de fazer. Era o que pensavam os cavaleiros de Bronze.

— Tenho fé em vocês – disse Freya. – Vi o quanto Thiago lutou para tornar-se cavaleiro. Vi o quanto seus mestres lutaram para salvar Asgard nas duas ocasiões em que vieram aqui. Tenham cuidado, porém. Estão na terra do gelo. É a terra dos Guerreiros Deuses. Eles creem que não serão derrotados aqui.

É verdade que isso já aconteceu, pensou Freya com amargura. Mas daquela vez eles lutaram com sua própria força. Agora eles têm o Imperador do Inferno ao lado deles.

Freya dispensou os cavaleiros de Bronze, após pedir-lhes mais uma vez para que salvassem sua irmã e sua terra. A princesa foi deitar-se, e Alexei conduziu os cavaleiros de volta à floresta.

O Guerreiro Azul os conduziu até as ruínas de um pequeno altar, onde outrora houvera um templo. Atrás deles, os fiordes empurravam geleiras em direção ao mar. À frente deles erguia-se uma colina. Ao longe, eles podiam divisar as ameias de um vasto e alto castelo.

— Valhalla – informou Alexei aos garotos. – É aqui que deixo vocês. Não posso deixar a princesa Freya sozinha por muito tempo. Boa sorte.

Logo os contornos de Alexei haviam sumido em meio à neve. Os cavaleiros de Bronze se entreolharam.

— Será que ainda dá tempo de voltarmos? – arriscou Betinho, fingindo preocupação. – Estou tremendo de frio.

— Não diga bobagens – disse Thiago. – Já enfrentei temperaturas piores do que isso.

— E nós assumimos esta missão – disse Rina. – E aquele jatinho já foi embora. Não iremos nos acovardar agora.

Betinho olhou meio sem jeito para os outros quatro.

— Só estava brincando – disse em tom de desculpas.

— Bem, tá resolvido, então, né? – disse Matt. Os outros concordaram.

Os cinco subiram a colina. No topo dela, depararam com um vale longo. E foram andando entre os montes cobertos de neve.

Nem haviam chegado ao meio do caminho quando algo que parecia uma pedra caiu de cima do vale no solo defronte a eles. Quando a neve baixou, eles viram um homem de três metros de altura, brandindo um machado, barbudo, de armadura escura.

— Sou Thor de Phecda, a estrela Gama, um Guerreiro Deus. – Sua voz era grave e cortante. – Encarregado de liquidar vocês.