New Legends - Cavaleiros do Zodíaco

Armadilha de Coral! A aliança improvável


Isabella havia sido chamada ao salão do Grande Mestre. Apresentou-se e se curvou diante de Shion para sua audiência inesperada.

— Fui informado de sua ida e de seu desempenho em Asgard, criança – disse o antigo cavaleiro de Áries. – Por ter presenciado parte de seu treinamento, posso afirmar que não fiquei surpreso com seu sucesso na missão.

— Hm, obrigada, mestre.

— Claro, não esperava menos de você. Mas é importante que ninguém saiba que os cavaleiros de Bronze tiveram a sua ajuda. Os outros cavaleiros de Prata e de Bronze podem se sentir incomodados caso fiquem sabendo que uma amazona recebeu permissão para sair do Santuário nestes tempos, mesmo que tenha sido para cumprir uma missão.

— Marin me falou algo semelhante, mestre. Sem falar que não pedimos permissão à Vossa Eminência. Eu peço desculpas...

— Não é necessário, minha jovem – retrucou Shion. – Marin só se adiantou em fazer algo que eu mesmo já tinha em mente. Mas vamos manter a discrição. Ninguém mais deve ser informado sobre sua última saída nem sobre a próxima. Você viu a reação da Fernanda quando ficou sabendo. Sorte nossa que ela decidiu não espalhar isso pelos quatro ventos.

— Não me importo com a opinião dela, Mestre... Espera. O que o senhor disse? Próxima saída?

— Sim, minha cara. Devido à sua performance na última missão, vejo que é a pessoa mais indicada para acompanhar os cavaleiros de Bronze enquanto eles estiverem no templo de Poseidon. Sem a sua presença e sem o que vou lhe pedir que faça, eles não terão chance de sucesso, mesmo que derrotem os Generais Marinas.

— E o que quer que eu faça, Mestre?

Shion se levantou.

— Quero que leve a Armadura de Libra com você para o templo de Poseidon. Só ela pode destruir os sete pilares que sustentam o templo para que o Pilar Principal, onde o hospedeiro de Poseidon se encontra aprisionado, seja destruído. Shiryu deixou a urna de sua armadura comigo para uma eventual necessidade... Como essa.

Ele fez sinal para que ela se aproximasse. Shion a conduziu para o interior do Salão do Mestre, onde havia uma pequena sala com doze pedestais, cada um deles sob o símbolo de uma das armaduras dos Cavaleiros de Ouro. O sétimo pedestal, contando da esquerda para a direita, estava ocupado com uma urna de armadura.

— Novamente, quero pedir que mantenha a discrição e não deixe que ninguém saiba de sua saída. – Shion pôs a mão no ombro da garota. – Marin e Shaina já foram informadas de sua partida, e vão te acompanhar até os portões do Santuário para que possa se teletransportar de lá.

— Vou ter que me teletransportar até o templo de Poseidon? Mas não sei onde ele se localiza.

— Quanto a isso, não se preocupe. Há uma passagem secreta para o templo submarino localizada em Asgard. Você poderá chegar rapidamente ao templo por meio dessa passagem. As princesas Hilda e Freya já foram informadas de que você passará por lá. A menos que não queira realizar esta missão.

— Sim, quero – ela se apressou em dizer.

— Então você tem passe livre para ir até Asgard. Uma vez que alcance a passagem secreta, você será transportada para o templo e terá que localizar os Cavaleiros de Bronze, para que a Armadura de Libra possa auxiliá-los. Peço que tome cuidado. Ao chegar ao templo de Poseidon, você estará em território hostil. O general Sorento está nos apoiando, mas não sabemos quantos outros guerreiros de Poseidon foram corrompidos por Hades. Esteja preparada para ataques repentinos enquanto estiver lá.

— Sim, mestre.

Ela pegou a urna da armadura e pendurou-a nas costas. Estava se dirigindo para a saída do Salão quando Shion chamou-a outra vez.

— Às vezes ainda me recordo da menina órfã que Tatsumi encontrou no Brasil. A menina que Kiki e eu acompanhamos durante o treinamento de amazona. Você cresceu tanto, Bella. Eu poderia dizer que me parte o coração mandar você numa missão dessas, mas acho que você será bem-sucedida. Da última vez que os cavaleiros de Bronze foram para o templo de Poseidon, seu mestre Kiki foi o responsável por levar a armadura de Libra para ajuda-los. Agora você estará literalmente seguindo os passos dele. Quando eu olho para você, ainda vejo aquela menina que a Fundação Graad adotou. O seu olhar continua o mesmo daquela época, mas você agora é uma mulher e uma guerreira. Cresceu e ficou tão bonita.

Isabella corou levemente, e sorriu para o velho mestre.

— Obrigada, Shion.

— E agora mesmo saindo em missão, faz questão de sair toda arrumada, mesmo com armadura. Posso perguntar para quem seria essa produção toda, minha jovem? – perguntou Shion.

A garota ficou arrepiada.

— Não é para ninguém em especial, Shion... É que eu gosto de me cuidar.

O Grande Mestre ergueu as sobrancelhas.

— Entendo... Faça uma boa viagem, minha cara.

Isabella se curvou novamente perante o Mestre e deixou o Salão.

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Isabella foi conduzida por Marin até o lado externo do Santuário, onde poderia se teletransportar para Asgard e encontrar a passagem secreta para o templo de Poseidon.

Ela não sabia, mas alguém estava observando atentamente os passos dela. Fernanda de Fogo estivera ouvindo a conversa entre Isabella e Shion momentos antes, escondida num canto na antessala do Salão do Mestre, aproveitando-se de que a porta do Salão havia ficado entreaberta durante a conversa entre eles. Depois acompanhou, escondida, a amazona de Taça enquanto ela se dirigia até a saída do Santuário.

Ao ver Isabella se teletransportando para longe dali, Fernanda tomou uma decisão. Depois de ser forçada a ficar no Santuário enquanto Isabella pôde ir para Asgard, a amazona de Aço queria mostrar que também tinha potencial.

— Não vou ficar para trás – disse consigo mesma. – O que ela pode fazer, eu também posso. Ela que me aguarde.

E ela pôs-se a colocar seu plano em ação.

...

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Chegando em Asgard, Isabella foi levada por Hilda e Freya até a passagem para o templo de Poseidon.

A passagem era um buraco cercado por neve com um redemoinho no fundo. Hilda colocou a mão no ombro da amazona.

— Você deve pular no meio do redemoinho e não fazer movimentos bruscos depois que entrar em contato com a água. Assim que você entrar nele, o fluxo da correnteza vai te levar ao templo submarino. Eu estimo que você deve levar cinco minutos para chegar até o templo.

— Obrigada, Alteza.

Isabella se virou para pular no redemoinho, mas a regente de Asgard a deteve mais uma vez.

— Eu quero agradecer mais uma vez pela ajuda de vocês, cavaleiros, quando estiveram aqui em nossa terra no mês passado. Os Guerreiros Deuses ainda estão se recuperando, mas, logo, logo, Asgard estará protegida de novo. Quando encontrar seus amigos, agradeça-os por mim... E espero que se saiam bem no templo de Poseidon.

— Obrigada, Hilda – disse Isabella. A princesa Freya saudou Isabella uma última vez, e a garota pulou no redemoinho.

A sensação era de estar sendo sugada por um aspirador de pó. Isabella sentia que estava sendo puxada de forma interminável, mas lembrou-se de não fazer movimentos bruscos, mantendo os braços colados ao corpo e as pernas presas uma à outra durante o percurso. Por milagre a armadura de Libra não se soltou de suas costas no meio da correnteza.

Então, o movimento da água a sua volta cessou de repente, e ela foi lançada para fora da água, ou pelo menos assim lhe pareceu. Ela aterrissou em solo firme (ou pelo menos foi o que lhe pareceu) em algum tipo de estrada. À sua volta, erguiam-se pequenos montes de corais em torno da estrada. No alto, onde deveria estar o céu, via-se o mar, como se uma cúpula envolvesse a área onde Isabella estava das águas. Ela deduziu que devia ter acabado de chegar à área do templo de Poseidon.

Ela ponderou sobre como devia proceder: como encontraria os cavaleiros de Bronze agora que estava no território de Poseidon, para levar a armadura de Libra até eles e ajuda-los a destruir os pilares que o mestre Shion havia mencionado. Contudo, um barulho vindo do alto a tirou de seus pensamentos.

Isabella olhou para cima e viu que o redemoinho que a trouxera até ali ainda estava aberto e ativo. Então, uma figura foi crescendo em meio ao redemoinho, até ser projetada para fora dele em direção ao solo, do mesmo jeito que ocorrera com Isabella poucos momentos antes. A amazona de Taça se afastou e contemplou uma silhueta humana aterrissar de quatro à sua frente, da forma como um felino pousaria após se lançar ao chão de uma grande altura. Infelizmente, ela não demorou a reconhecer a pessoa com uma armadura de Aço que acabara de se juntar a ela.

— Você – disse ela em tom acusador para Fernanda de Fogo. – O que está fazendo aqui? E como chegou até aqui, pra começo de conversa?

Fernanda se ergueu e abriu um sorriso provocador.

— Não vai falar da minha aterrisagem esplêndida? Gatos sempre caem com classe. – Ela dizia isso pois sua armadura tinha o formato de um pequeno tigre siberiano quando não era usada. – Bom, vou responder à sua pergunta. Eu vim ajudar, é claro. Estive seguindo você desde o Santuário.

— Como soube que eu viria para cá? – indagou Isabella, fuzilando a rival com o olhar.

— Sabe, você e o Mestre do Santuário deveriam verificar se a porta está fechada quando estiverem tendo uma conversa sigilosa.

— Esta é minha missão – frisou Isabella. – O Mestre me mandou aqui para auxiliar os cavaleiros de Bronze. Eu sou mais do que suficiente para essa tarefa.

— Ah, faça-me o favor – retrucou Fernanda. – Você realmente acha que será capaz de se defender enquanto carrega essa urna enorme nas costas? E se quando você encontrar os Cavaleiros de Bronze, eles estiverem sendo atacados por um exército? Como você acha que vai proteger a armadura de Libra e a si mesma, ao mesmo tempo em que ajuda os cavaleiros de Bronze?

— Você ainda não me explicou como conseguiu me seguir tão rapidamente até aqui, sendo incapaz de se teletransportar – disse Isabella, ignorando as perguntas da outra.

— Ah, foi fácil. Convenci a sua amiga, Marília, a me transportar. Ela gostou da chance de sair um pouco do Santuário. Até perguntei se ela não queria vir também, mas ela disse que os superiores iriam estranhar se três amazonas sumissem no mesmo dia, ainda mais em tempo de guerra. Ela me teletransportou até Asgard, aonde chegamos a tempo de ver as princesas orientando você sobre como chegar aqui. Além disso, ela me devia uns favores. Andei dando uns conselhos a ela sobre um cara e...

— Marília. – Isabella suspirou profundamente e fechou os olhos com amargura, ao mastigar o nome. – Quando eu voltar ao Santuário, ela vai escutar poucas e boas.

— Poupe seu fôlego – alertou Fernanda. – Você vai precisar dele para se defender contra os servos de Poseidon.

— Na verdade, vou precisar dele agora – rebateu Isabella. – Você não vai ficar mais nem um minuto aqui. Vou mandar você de volta pelo redemoinho e deixar você em Asgard enquanto peço para alguém do Santuário vir te buscar. Só espero que você ganhe uma boa detenção por abandonar o Santuário e tentar interromper minha missão. Se você não cooperar, Fernanda, vou ter que usar a força para te fazer cooperar.

— Ora, Taça, me poupe – retrucou Fernanda. – Eu já disse que vim ajudar. Não gosto nada de você, mas não é isso que está em jogo agora. Eu posso ser uma boa, hm, ajudante, enquanto você carrega essa bendita urna até os cavaleiros de Bronze, protegendo você de qualquer ameaça que venha a tentar te matar no caminho. Vamos, não acha que é uma boa proposta?

— Você mesma disse que não gosta de mim. Porque eu acreditaria que você poderia me ajudar?

— Tem razão, eu não gosto, mas o Matt gosta de você. – Fernanda azedou a cara ao afirmar isso. – Talvez, quando ele ver que eu te ajudei a ajudar a ele e aos outros, ele se lembre de que eu existo. Além do mais, seria uma pena deixar a pupila preferida do Mestre do Santuário perecer nas mãos das tropas inimigas, não acha? Ainda mais quando ele lhe confiou uma missão extremamente importante...

— É exatamente por essa missão ser extremamente importante que eu não posso permitir que haja qualquer chance, por menor que seja, de você estragar...

Isabella não conseguiu concluir sua argumentação. Naquele instante, o ponto da estrada para o templo de Poseidon no qual as duas amazonas se encontravam foi cercado por soldados de armaduras escuras, com aspecto semelhante a escamas de peixes, mas sem vida. Não eram como as armaduras dos cavaleiros, que contavam com cosmo e vida próprios. Aquelas armaduras não transmitiam vida, transmitiam morte.

— Ora, ora, duas amazonas desgarradas perdidas nos arredores do templo submarino – disse um dos soldados. – Devem fazer parte do grupo que Sorento trouxe para tentar impedir a morte de Poseidon. Serão uma boa oferenda para o mestre Hades. Vamos, rapazes, acabem com elas antes que nossa comandante chegue.

Os soldados pegaram em lanças e em correntes de ferro que estavam acopladas às suas armaduras. Eram tão escuras e gélidas quanto as vestimentas dos homens que cercavam Isabella e Fernanda.

— Você disse que queria ajudar. Eis aí sua chance de provar o que dizia – sussurrou a amazona de Taça para a colega.

Os soldados cercaram-nas de todos os lados e fizeram um círculo humano em torno delas. Isabella soltou a urna da Armadura de Libra das suas costas e colocou-a no chão, próxima de si. A armadura emitia um brilho cósmico que, por alguma razão, fazia os soldados recuarem, mas ela sabia que aquele efeito intimidador não duraria para sempre. Naquele momento, o mais importante não era proteger a armadura (que aparentemente conseguiria se virar sozinha contra aqueles reles soldados), e sim proteger a própria pele.

Enquanto Isabella recuava para longe dos soldados, suas costas encontraram as de outra pessoa. Fernanda e ela pararam ao mesmo tempo, congeladas no mesmo lugar, contemplando a situação na qual se encontravam.

— É melhor você ter raciocínio rápido, Taça. – Fernanda tinha um pequeno porém muito evidente tom de ferocidade em suas palavras.

— Como? – indagou Isabella, perplexa. A outra sorriu.

— Vamos ensinar uma lição a esses panacas.

Ágil como um felino, Fernanda esticou as mãos para trás e prendeu-as aos braços de Isabella, ao mesmo tempo em que se lançava para o alto, apoiando-se nas costas da amazona de Taça. Os soldados mal tiveram tempo de assimilar o movimento dela quando a amazona de Fogo gritou:

— Meteoro de Fogo!!

Os punhos e as pernas de Fernanda tornaram-se incandescentes e liberaram chamas contra os inimigos em forma de pequenos meteoros. Os soldados que estavam em frente a Fernanda, cerca de dez, ainda pegos de surpresa pela velocidade da amazona, foram lançados para trás com um impacto feroz, e caíram no chão da estrada do templo, produzindo algumas rachaduras ao entrarem em contato com o solo.

Fernanda, incansável, inverteu a posição em que estava com Isabella, e levantou-a no ar, ainda de costas para si, enquanto a amazona de Fogo sustentava a colega com as pernas indo de encontro ao chão.

— Vai, Branca de Neve! Mostre-nos sua magia! – provocou Fernanda para a outra garota.

Isabella não hesitou e mirou os soldados postados à sua frente com as palmas das mãos voltadas para eles.

— Revolução Estelar!!

Pelo menos quinze soldados foram jogados longe pelo impacto do golpe. Os demais soldados, já recuperados do susto, partiram para cima das amazonas. Fernanda soltou-se de Isabella e disse:

— Cada uma por si, princesa. Vamos ver quem derruba mais brutamontes!

As duas avançaram contra as tropas de Poseidon, corrompidas por Hades. Fernanda distribuía chutes, socos e golpes com uma agilidade similar a de um tigre siberiano. Isabella evocava pequenas Muralhas de Cristal para fazer seus inimigos se distanciarem, enquanto repelia os poucos que a conseguiam alcançar com suas técnicas especiais.

— Punho de Fogo!!— Fernanda evocou uma enorme labareda e destruiu as armaduras de metade dos soldados restantes com a força de seus punhos e as chamas que neles se concentravam.

— Extinção Estelar!!— Isabella atirou seu pó das estrelas contra vinte soldados e os fez ser sugados e reduzidos à poeira.

— Raio de Fogo!!— Fernanda atravessou uma fileira de soldados inteira com seus punhos cortantes, deixando as chamas consumirem-nos por dentro.

— Revolução Estelar!!— Isabella lançou seu golpe mais poderoso contra outra fileira de soldados, e os lançou para o alto com o impacto de suas explosões, fazendo-os cair de uma altura mortal e produzindo crateras no solo quando eles atingiam o chão.

Logo, todos os soldados estavam mortos, inconscientes ou reduzidos a pó, em torno das duas amazonas. Fernanda apagou as chamas de suas mãos e se voltou para a colega.

— Por incrível que pareça, nós formamos uma boa dupla – disse ela.

— Até parece... – retrucou Isabella olhando para a outra de cima a baixo com descrença. – Anda, se você realmente vai me acompanhar, vamos pegar a armadura de Libra e achar esses benditos pilares antes que...

Novamente, a amazona de Taça não conseguiu concluir a frase. Naquele exato momento, suas pernas e as pernas de Fernanda começaram a ser cobertas por conjuntos de corais, que encobriam seus membros inferiores lentamente, mas que subiam a uma velocidade alarmante, ainda assim.

Uma terceira coluna de coral se formou em frente delas, mais rápida a tomar forma do que as que subiam pelas pernas das duas garotas, e tomou traços humanos; mais especificamente, os de uma mulher. O coral se rachou, revelando uma guerreira de armadura semelhante às dos soldados que as meninas haviam acabado de enfrentar. A vestimenta dela também tinha um aspecto escamoso, e apresentava uma coloração vermelha, pontuada, contudo, por manchas escuras de cosmo maligno e sem vida, tais como as armaduras dos Cavaleiros de Ouro e de Prata que Hades havia trazido de volta à vida. A bela mulher era loira e contava com penetrantes olhos azuis.

— Ora, vocês duas causaram um estrago imenso. – A guerreira apontou para os soldados caídos com a cabeça. – Vocês, garotinhas insolentes, terão a honra de serem executadas por Thétis de Sereia, em nome do imperador Hades, por sujarem o templo submarino com o sangue de nossos soldados.

O coral de Thétis continuava subindo pelo corpo das duas garotas, e já tinha chegado à cintura delas.

— Então ela era a comandante da qual os soldados estavam falando – disse Fernanda. – Que tal bolar um plano incrível para nos livrar dessa agora, hein Taça?

Isabella sorriu perversamente para a antiga rival.

— Ora, Fernanda, você não precisa da minha ajuda para se livrar dessa. Mas, como sou bem legal, vou te dar uma dica para você se soltar.

Isabella elevou seu cosmo, e no mesmo instante, sua armadura começou a brilhar. O brilho, na verdade, era a armadura aumentando sua temperatura. Logo, o coral que subia por ela começou a rachar, e o brilho cósmico da armadura de Taça derreteu o coral que cobria sua guerreira.

— Não...! – exclamou Thétis ao ver aquilo, mas era tarde demais: Fernanda havia sacado o plano de Isabella e evocou suas chamas logo em seguida, queimando o coral de Thétis com um brilho feroz no olhar, até que os pedaços estragados do coral se partiram em inúmeras partículas após serem consumidos pelo fogo da amazona de Aço e baterem no chão da estrada que conduzia aos pilares do templo.

— Nada mau, Cinderella. – Fernanda olhou com respeito novo para a colega, e virou-se para a oponente. – Agora, vamos dar uma lição a essa sardinha.

— Suas imundas – sibilou Thétis para elas. – Como se atrevem a impugnar meu precioso coral... Não terei piedade de vocês. Tomem isso!! Cilada de Coral!!

Mais colunas de coral foram lançadas contra elas, mas Isabella estava atenta.

— Muralha de Cristal!!

A inexpugnável muralha cristalina surgiu diante delas, bloqueando o caminho dos corais de Thétis e fazendo-os se estilhaçar ao entrarem em contato com a superfície transparente do cristal. A comandante do exército Marina observou horrorizada enquanto seus corais eram reduzidos a pó.

— Sabe, eu costumo odiar essa maldita muralha – declarou Fernanda. – Mas, hoje, ela até que veio bem a calhar.

Isabella jogou os cabelos para trás, instigada pelo elogio da rival, e fitou Thétis com um olhar mortífero.

— Agora é a nossa vez, vadia. Revolução Estelar!!

— Punho de Fogo!!

Ainda chocada por ver sua técnica se mostrar ineficiente perante duas garotas, Thétis não teve como reagir à força combinada dos golpes das duas amazonas. Sua armadura viu-se partida em vários pontos pelas chamas e pelos raios estelares que a haviam atingido. Seu elmo caiu de sua cabeça e se partiu em dois.

Ela caiu no chão, enfraquecida, e nesse momento, enquanto sua armadura se deteriorava, as manchas escuras de cosmo maligno escorriam dela como se fossem manchas de água, para depois evaporarem, mas não sem antes emitirem um grito longínquo carregado de dor. Apesar de não ter sido muito alto, sua intensidade foi suficiente para fazer as duas amazonas levarem as mãos aos ouvidos.

Passado o susto, Fernanda se virou para Isabella.

— Isso foi...

— A influência de Hades – complementou a amazona de Taça. – Acabou de deixar o corpo dela.

Ao dizer isso, Isabella correu em direção à guerreira desfalecida no chão.

— Thétis – chamou ela. – Thétis!

A guerreira de Poseidon tossiu algumas vezes, com seus olhos saindo de foco, e olhou vagamente na direção do rosto de Isabella.

— Jovens guerreiras... Perdoem-me – ofegou ela.

— Não é sua culpa, Thétis – disse Isabella. Fernanda se juntou a ela, agachando-se do outro lado de Thétis. – Hades obrigou você a fazer isso, assim como também estava controlando os soldados. Conte-nos, você viu algum dos nossos amigos, cavaleiros de Atena, por aqui, depois que foi possuída por ele?

Atrás delas, os soldados que haviam sobrevivido à batalha anterior (não eram muitos que haviam conseguido) começavam lentamente a despertar, e as manchas sombrias do cosmo de Hades começavam a se desprender de seus corpos.

— Não cheguei a ver... nenhum dos cavaleiros de Atena enviados para cá antes de vocês, mas sei que estão aqui, a caminho dos pilares. – Ela tossia as palavras, e cada uma delas parecia-lhe desprender um enorme esforço para ser pronunciada. – Qualquer que seja a missão de vocês, cumpram-na imediatamente... Só assim haverá uma chance de que o Mestre Julian e seu legado como Imperador dos Sete Mares possam ser salvos... Deixem-me aqui, para enfrentar meu destino. Vocês precisam ir...

— Seu destino não é morrer. – Isabella pôs as mãos sobre o tronco de Thétis, e seu cosmo brilhou sob suas mãos, liberando uma cálida luz sobre a guerreira caída. – Você já serviu a Poseidon em tantas batalhas, por muitos anos. Você não tem culpa de nada disso, afinal Hades estava manipulando você, assim como está manipulando todas as tropas de Poseidon. Você vai viver para ver seu mestre novamente, porque nós ajudaremos os cavaleiros de Bronze a resgatá-lo. Sou a amazona de Taça, que conta com o poder da cura em seu cosmo. Vou acelerar sua recuperação, e você vai poder se erguer e lutar novamente ao lado de seu senhor, mas você ainda precisará de cuidados médicos e de um bom descanso antes de voltar à ativa. Na certa, alguns dos seus soldados já se livraram da possessão de Hades à essa altura, então eles poderão cuidar de você enquanto nós iremos ao encontro dos cavaleiros de Bronze. Combinado? Não saia daqui.

Thétis acenou lentamente com a cabeça, ainda fatigada e enfraquecida, mas a luz do cosmo de Isabella fez alguns de seus ferimentos melhorarem e seu corpo ficar menos danificado. Isabella tirou as mãos de cima dela – ela mesma também estava ficando cansada devido ao uso de sua habilidade – e foi até a armadura de Libra, prendendo-a novamente em suas costas.

— Fernanda, não tenho tempo para mandar você de volta ao Santuário – disse ela, encarando a colega. – Além disso, você já mostrou que sabe se defender neste ambiente. Eu não tenho escolha a não ser deixar que você me acompanhe. Mesmo com nossas diferenças pessoais, acho que podemos concluir essa missão.

— É claro que podemos – afirmou Fernanda. – Escreva o que digo, Pequena Sereia. No fim disso tudo, você vai me agradecer de joelhos por ter aparecido aqui.

— Que seja. Suba em uma dessas pedras nos canteiros da estrada real e veja se o caminho está livre em frente. Vou orientar os soldados que sobreviveram a tomar conta da Thétis até ela melhorar. Apesar de que, eu acho que alguns deles também precisarão de cuidados...

Fernanda riu levemente.

— Como é aquele negócio engraçado que você e o Matt dizem... Mea culpa? – disse ela, levando uma das mãos ao peito e erguendo a outra em sinal de quem assume a culpa.

Isabella se permitiu sorrir, ainda absorvendo a perspectiva de trabalhar em conjunto com sua rival.

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Longe dali, os cavaleiros de Bronze chegaram a outra encruzilhada. Cada novo caminho que se abria defronte deles tinha uma nova placa indicando para onde qual rota levava. Eles tiraram a sorte para ver quem ia por qual caminho.

— A gente se vê no templo de Poseidon, rapazes – disse Rina, e correu em direção ao pilar do Pacífico Sul.

— Vamos nessa, galera! – disse Matt, seguindo em direção ao pilar do Oceano Atlântico Norte.

— Cuidem-se – avisou Thiago, seguindo para o pilar do Oceano Ártico, enquanto Gustavo pegou a rota para o pilar do Oceano Índico.

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Enquanto isso, Betinho cruzou os últimos metros da rota que conduzia ao primeiro pilar, que representava o Oceano Pacífico Norte. O pilar se erguia diante dele, colossal e exuberante, desafiando qualquer um que se atrevesse a olhar para ele a tentar derrubá-lo, o que parecia ser algo improvável de ser executado.