Capítulo 1

Era sábado e George Craig se preparava para mais uma festa no CLUBLAD, não imaginava que o lugar faria tanto sucesso e estava feliz com isso. Sempre quis abrir um pub onde as pessoas pudessem se divertir ao som de música boa ao vivo, seja os clássicos dos Beatles ou as novas bandas que apareciam por lá. Quando viu a oportunidade de realizar esse desejo, não hesitou e se juntou com seu amigo Jack Flanagan, criando assim um dos lugares mais frequentados de Londres.

- Mark, você já está pronto cara? A gente vai chegar atrasado! – disse George deitado no sofá do apartamento que dividia com seus amigos e colegas de banda Mark Hayton e Dan Parkin, que ele chamava de POB.

- Já – respondeu Mark e passou pelo corredor com uma toalha enrolada na cintura e seus cabelos castanhos pingando.

- Percebi – replicou George. Não era novidade Mark se atrasar, ele demoradava meia hora apenas arrumando seu cabelo, ou melhor, desarrumando.

- E ai? Acha que vai encontrar a queridinha por lá? – gritou Mark de seu quarto.

- Queridinha?

- É, a Diana, sua amada – respondeu Mark rindo. George namorou Diana Vickers por um bom tempo, mas a relação entre os dois esfriou e ele resolveu dar um fim a tudo, ela não gostou nada da ideia e o fim do namoro foi parar na capa das revistas.

- Cala a boca e se veste Mittens. – George ouviu Mark rindo de novo e fechou os olhos. Nas últimas vezes que vira Diana ela havia tentado se aproximar de novo e ele fazia de tudo para que isso não acontecesse.

Mark finalmente saiu de seu quarto, pronto para sair.

- Onde está o POB? – perguntou.

- Ele já saiu há muito tempo, você demorou demais, sorte sua que sou muito paciente – respondeu George rindo e dando um tapa na cabeça do amigo. – Vamos logo, todo mundo já está lá.

Os dois mal tinham entrado no pub e já foram saudados por um James bêbado e muito feliz.

- Georgie! Mark, meu amigo! Vocês dois demoraram, mas ainda tem muita bebida – disse ele rindo e gesticulando para o copo cheio de whisky em sua mão.

- Acho que já chega de bebida pra você né Jimmy – respondeu George, rindo também.

- Ah, que isso cara? Eu to só começando! – disse e saiu para conversar com outras pessoas que iam chegando.

James Craig era irmão mais velho de George, mas era quase impossível perceber, o primeiro era muito alto e magro, com cabelos loiro-escuro curtos e ralos, uma cabeça triangular e dentes escurecidos pelo cigarro, ainda assim lindo. O segundo também era alto e magro, mas tinha cabelos castanhos ondulados e desfiados para todos os lados, jogados de maneira despojada para o lado, dentes brancos e um rosto mais redondo. A única coisa que os irmãos Craig tinham em comum eram os belos olhos azuis.

George foi abrindo caminho com dificuldade até o bar, o lugar estava lotado e a música familiar fazia todos dançarem. Ele olhou para o palco, seu amigo e parceiro de negócios Jack Flanagan tocava com sua banda Hares, cantarolou a melodia até finalmente chegar ao balcão e pedir uma cerveja.

A música chegou ao fim e Jack desceu do palco, indo em direção a George.

- Finalmente você chegou! Porque demorou tanto? – perguntou com seu jeito sempre alegre, arregalando os grandes olhos azuis e tirando o cabelo escuro do rosto.

- Estava esperando a cinderela ali se arrumar – respondeu George apontando para Mark que tinha se juntado a Jimmy e estava fazendo uma competição de quem bebia o shot mais rápido. Jack riu e pediu uma cerveja ao barman. – Então Flanagan, como está a banda? Ou melhor, as bandas?

- Estão bem, O EP do The Van Doos já lançou e o do Hares vai sair logo – disse com um sorriso no rosto. Jack estava nas duas bandas e isso não parecia complicar nada em sua vida, ele amava música.

- Que bom, a turnê vai ser ótima com vocês abrindo os shows.

- Sim, sim... – respondeu distraido – Escuta, eu já volto, tenho que falar com uma amiga.

George olhou na direção que Jack ia e viu uma menina ruiva entrando, seus cabelos eram curtos e desfiados. Jack foi até ela e a abraçou com um sorriso que foi retribuído. Os dois ficaram conversando por um tempo até que Jack foi chamado para tocar novamente, dessa vez com o The Van Doos. A menina ficou sozinha mas não se intimidou e foi para mais perto do palco, dançou e cantou a música sem se importar com quem estava em volta.

Duas músicas depois George ainda a observava, ela ainda estava lá e não parecia cansada. Quando a música parou ela se dirigiu ao banheiro.

George viu Jack passando e foi até ele.

- Então, quem é sua amiga? – perguntou – Algum novo amor Flanagan?

- O que? Você está falando da Olivia? – ele riu – Ela é minha amiga de infância, nem sonharia em chegar perto dela. Foi um sufoco trazê-la até aqui, ela nunca sai pra se divertir.

- Parece que o CLUBLAD está dando um jeito nela. Você a viu dançando?

- Vi, Olivia é bem descontraída quando não está trancada em casa se preocupando com tudo – Jack abriu um sorriso irônico – Mas porque a pergunta? Se interessou George?

- Eu? Não, só estava curioso – respondeu George sem se sentir intimidado com o jeito abusado de Flanagan

- Sei... Bem, vou dar uma volta por aí – disse ainda com o sorriso no rosto e saiu.

George pediu outra cerveja e estava distraído tentanto identificar a música que tocava quando viu novamente a cabeça ruiva passando por ele. Ela atravessou o local e finalmente se sentou em um dos banquinhos do bar, ainda estava sozinha. Ele se levantou e caminhou tranquilamente até lá.

- Oi – George disse. Ela procurava algo em sua bolsa e levantou a cabeça para ver quem a chamava. Uma expressão de surpresa apareceu em seu rosto.

- Hm, oi – respondeu. George reparou em seus grandes olhos negros, impenetráveis, mas com um certo brilho.

- Você é a Olivia certo?

- Como você sabe? – ela perguntou com desconfiança.

- O Flanagan me disse. – sua expressão se suavizou e ela disse:

- Ah, sim. Nesse caso, sou a Ollie. Ollie Ridell – George apertou a mão que ela tinha extendido

- Sou George. George Cra...

- Eu sei quem você é – Ollie interrompeu, rindo – Afinal, você é o dono do lugar.

- Flanagan também é dono – George replicou com um sorriso

- Mas ele não faz parte de uma das bandas mais famosas da Inglaterra

- Não somos tão famosos assim – One Night Only, a banda na qual George era vocalista, estava ganhando cada vez mais espaço na indústria da música. A nova turnê seria incrível – E as bandas do Flanagan também são muito boas.

- Pois é, se não fosse por isso acho que não viria. Jacky praticamente me arrastou até aqui! – ela exclamou

- Jacky? – George explodiu em risadas

- O que foi? É como eu o chamo desde pequena – Ollie não resistiu e começou a rir também. Sua risada era contagiante, não escandalosa, mas do tipo que dá mais vontade de rir.

Os dois riram sem parar até sentirem lágrimas nos olhos. Enquanto recuperavam o fôlego George pediu outra cerveja e perguntou se Ollie queria também

- Não obrigada, eu trabalho amanhã – ela disse. George estava a ponto de perguntar onde Ollie trabalhava quando foi interrompido por uma voz familiar e no momento nada agradável.

- Oi Georgie – Diana estava parada na frente dos dois com uma sobrancelha levantada, enrolando a ponta de seus cabelos loiros e brilhantes no dedo.

- Oi Diana – ele respondeu, seco.

- Onde esteve a noite inteira? Eu te mandei uma mensagem, mas você não respondeu.

- Eu estava bem aqui – George disse.

- E quem é essa? – ela apontou para Ollie, claramente incomodada pelo fato de ter visto os dois conversando.

- Ninguém que você precise conhecer.

- Nossa Georgie, você me esqueceu bem rápido. Vai levá-la pra sua casa essa noite? – Diana perguntou, cínica.

- Bem eu acho que já vou embora – Ollie disse de repente, se levantando e passando pelos dois.

- Ollie espere – George disse, segurando seu braço. Ela se virou e o olhou.

- Ollie? Já são íntimos? – disse Diana. – Você é bem rápido hein.

- Não é sério, tenho que ir, trabalho amanhã. – Ollie disse ignorando Diana. George soltou seu braço e ela foi embora.

Ele a observou saindo e depois se virou para Diana:

- Qual é o seu problema?

- Meu problema é você que fica me ignorando.

- Diana eu já disse que é melhor a gente não se ver por um tempo – George disse, respirando fundo para não perder a cabeça – Não quero me envolver em brigas.

- Georgie, nós não precisamos brigar. Pode ser como antigamente – ela disse, com um sorrisinho e se aproximou. George se esquivou e disse:

- Não. Acabou, eu já disse.

- Você é ridículo. Vai se arrepender do que está fazendo – disse e foi para perto de suas amigas.

- Tanto faz – ele murmurou quando ela já estava longe.

A discussão tinha tirado toda a vontade de se divertir de George, ele se dirigiu a saída mas parou ao ver um pequeno brilho no chão. Se abaixou e pegou o objeto, era uma pulseira simples com um pingente peculiar, algum tipo de símbolo egípcio que ele não conhecia.

Era de Ollie, George tinha certeza, havia reparado enquanto conversavam. Devia ter caido de seu pulso quando foi embora. George guardou no bolso e foi para casa.

Na manhã seguinte, depois de tomar café da manhã, George foi até seu quarto e enfiou a mão no bolso da calça que usara na noite anterior. A pulseira ainda estava lá, ele a examinou com cuidado. O pingente era um tipo de olho com um traço para baixo. Enfiou a mão no bolso novamente e pegou seu celular, procurou o número de Flanagan na agenda e digitou uma mensagem

“Oi Jacky”

Um minuto depois o celular vibrou e piscou uma luz vermelha, anunciando uma nova mensagem

“O que você quer?“

“Descobri seu apelidinho de infância Flanagan, vou te atormentar pra sempre”

A luz vermelha piscou novamente.

“Você só me mandou mensagem pra isso? Parabéns, me acordou, nunca mais vou conseguir dormir ou vou ter pesadelos com você me chamando de Jacky”

George digitou

“Não, você pode voltar a sonhar com os anjos daqui a pouco, só preciso saber onde encontrar a Olivia. Ela perdeu a pulseira.”

“Eu vou hoje assistir seu ensaio, me entregue lá e eu dou a ela”

“Eu quero entregar”

Ele aguardou a resposta, pensando no que Flanagan falaria. Provavelmente ia pensar que George estava afim dela.

A luz piscou.

“Suspeito, mas vou deixar passar. Ela trabalha numa livraria chamada Big Ben Book Imporium, não lembro o nome da rua, procure no Google”

“Ok, obrigado Jacky”

“Vai se ferrar”

George guardou o celular rindo e foi se vestir.

Chegou ao local, uma ruazinha sem saída escondida no meio de Londres. O tal impório era uma velha e pequena loja com letreiro de madeira esculpida. Parecia vazia mas George entrou mesmo assim. As estantes eram abarrotadas de livros velhos e escurecidos, mas era possível ver no fundo uma estante com livros novos, não eram muitos.

Localizou Ollie rapidamente, ela estava sentada atrás do balcão, com as pernas para cima, imersa em um dos livros velhos da loja. George chegou mais perto e tossiu anunciando que estava lá. Ollie olhou por cima do livro que estava lendo e ficou surpresa ao ver quem estava lá.

- Oi – disse – Hm, o que está fazendo aqui?

- Eu vim te entregar isso – George respondeu tirando a pulseira do bolso. Uma expressão de alívio se abriu no rosto de Ollie e rapidamente pegou de sua mão.

- Obrigada! Obrigada mesmo, você não imagina o quanto eu procurei por isso – ela agradecia sem parar.

- Quer ajuda para colocá-la? – perguntou.

- Ah, sim, por favor – e estendeu o braço. George colocou a pulseira nela e enfiou as mãos nos bolsos. – Então é aqui que você trabalha...

- Aparentemente – ela riu – Não posso reclamar do meu trabalho, eu amo ler e a loja está quase sempre vazia então tenho tempo de sobra para alimentar esse amor.

- E o tal do Big Ben não se importa de você ficar de bobeira o dia inteiro? – Ollie riu mais uma vez e respondeu

- Primeiro, eu não estou de bobeira, ler os livros da loja faz parte do meu trabalho, assim posso ajudar os clientes... se tivesse algum.

George começou a rir como na noite passada.

- E segundo, Ben é meu avô então acho que ele não se importa muito com o que fico fazendo.

- Ah sim, desculpe – ele disse sem graça, se controlando para não rir mais – Hm, eu só vim para te entregar a pulseira, então acho que já vou embora, tenho ensaio da banda.

- Ok, obrigada novamente – Ollie disse com um sorriso sincero.

- De nada – George foi em direção a porta mas no meio do caminho parou e se virou – Ei, você não quer tomar um café mais tarde?

- Tem certeza? Não tem medo de sua namoradinha aparecer de novo? – perguntou irônica

- Ah, a Diana? – ele se enrolou com as palavras – Ela não é minha namorada, não temos nada.

- Sei. Então eu aceito seu convite, que horas?

- Que horas você sai daqui?

- As sete.

- As sete então – ele a viu rindo e deu um pequeno aceno de despedida. Ela fez o mesmo e disse:

- Te vejo as sete.

George saiu da loja e não percebeu que estava com um sorriso no rosto até chegar no local onde ensaiaria com a banda.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.