[Maya Mase ponto de vista.]

Minha vida até então não passou de uma história onde o garoto conhece a garota, ambos se apaixonam e tentam ter uma vida juntos apesar das grandes circunstâncias que os impedem disso. Como, por exemplo, ela ser uma traíra do governo russo que agora trabalha com o governo americano, seu maior rival, ou ele quem tem os vilões mais alucinados de toda Nova York que, a todo custo, querem mata-lo e as pessoas que ele ama. Mas nós não desistimos. Claro que não, ele é o Homem Aranha e eu sou uma Agente da S.H.I.E.L.D., nós podemos aguentar umas pressões aqui, umas brigas ali e uns sequestros de ambos os lados. Mas nenhum de nós dois pode lidar com a culpa. A culpa pela morte de alguém ou a culpa de não estar fazendo nada enquanto outras pessoas estão sofrendo pela mesma razão que você sofreu.

Todo mundo tem uma escolha em todo momento da vida. Chega determinado momento em que as escolhas parecem ser alternativas impossíveis e aqui está o meu. Meu nome é Maya Mase e esta foi a história de quando eu fui imensamente feliz ao lado do único cara que amei em toda minha vida. E tudo acabou com uma decisão difícil de ser feita.

O telefone tocava em minha cama pela terceira vez e eu apenas o fitava com a foto de Peter piscando, se eu não atendesse mais uma vez sei que ele checaria minha casa para saber se estava tudo bem e eu ainda não estava pronta para lhe dar tchau. Peguei o telefone em mãos e hesitei, mas preferi atender antes que lhe causasse uma preocupação desnecessária.

— Maya? – ele perguntou com sua voz trêmula. Sabia que tinha o preocupado.

— Oi, Pete – sussurrei sentada na cama olhando a parede.

— Eu tava começando a me preocupar.

— Eu só tava no banho – menti.

— Desculpa surtar, é que... – ele fez uma breve pausa, mas logo prosseguiu – eu tô com medo de quase te perder mais uma vez.

— Eu sei, Pete. Desculpa também, tá legal? – respirei fundo – você pode passar aqui mais tarde?

- Claro. Aconteceu alguma coisa?
Olhei para a mala perto de minha cama - Não. Só quero te ver.
Ele riu - Certo. Vou tomar um banho e vou pra ai ok?
- Tudo bem - respondi - te amo, Pete.
- Também te amo, Maya.
Ainda sentada na cama desliguei a ligação voltando a fitar a parede. Aquilo estava sendo tão difícil para mim e eu sentia que só pioraria, mas não podia simplesmente ir para a Rússia sem despedir-me Peter, mas eu, definitivamente, o machucaria com a mudança repentina. Sabia que já estava, mas ele só não demonstrava. Mas não podia deixar as coisas como estavam, não podia ser uma a gente secreta americana e agir como se nada estivesse acontecendo ao redor do mundo. Querendo ou não tinha uma correlação comigo, durante todos esses anos de Corporação fui a primeira a traí-los, a primeira a me rebelar e a primeira a ser imensamente torturada por uma das partes do Baralho. Assim como eu, outras crianças estão sendo induzidas a acidentes quase fatais para que sejam pegas pelos cabeças de Corporações e usadas como armas não sentimentais. Eu não poderia deixar isso acontecer, não mais. Eu podia fazer a diferença e farei.
O celular vibrou na minha cama, era uma mensagem de Peter onde ele dizia que o banho ficaria para depois porque o dever o chamava. Ele me mandou a localização e a especificação e parecia que uma gangue de bandidos assaltava uma joalheria no centro de Nova York, pelo menos uma dezena de homens encapuzados foram vistos. Finalizou a mensagem dizendo que cuidaria disso rapidinho e que iria até minha casa depois, respondi a mensagem dizendo, mais uma vez, que o amo e que o esperaria ali.
Peguei meu celular telefonando para Anna, a garota do nosso grupo quem ficou imensamente preocupada quando passei um longo tempo no hospital, me recuperando, e negou em arrastar o pé de lá por muito tempo enquanto eu não recebesse alta, ela concordava em ir para casa apenas para dormir, mas estava de volta antes mesmo de conseguir me dar conta de que ela havia saído.
Ela atendeu rapidamente - E ai, chefa!
Sorri olhando para a parede a minha frente - Ei, Ann. Tá ocupada?
- Se assistir um filme tedioso, indicado ao oscar, sobre um homem que não conseguia sair de seu papel de pássaro é estar ocupada, eu tô é muito mal de programas caseiros - ela riu.
Ri junto dela do outro lado da linha - Consegue me encontrar no café perto da minha casa em dez minutos?
- Obrigada por me salvar, chefa - ela respondeu animada - estou ai em dez!
- Certo. Beijos.
- Te vejo já.

Levantei-me da cama sentindo uma pontada em minha costela, sentia dores em minha cabeça, na parte de trás, em minhas costas, barriga e lábio. Estava repleta de cicatrizes e toda vez que me olhava no espelho via meu lábio inferior completamente inchado e machucado, meu olho direito também roxo, mas ainda com uma aparência melhor que os lábios, e não fazia muito mais do que um mês que tudo tinha acontecido. Passei por uma bateria de exames assim que fui resgatada e, apesar dos danos físicos internos e externos, eu estava bem. Bem demais para poder seguir em frente e até meu plano ser posto realmente em prática eu já estaria cem por cento.

Coloquei meu celular no bolso de trás da calça e calcei meus sapatos logo trancando a porta e descendo de elevador até a portaria, dei um fraco sorrio ao porteiro e andei em direção à cafeteria que ficava a duas quadras dali, já era quase dez da noite e o vento úmido começava a bagunçar meus cabelos no instante em que cheguei à cafeteria, sentei-me na mesinha do lado de fora prendendo meu cabelo longo e agora preto em um grande rabo de cavalo, a peruca era realmente boa e estava tão bem colocada que me perguntava como a soltaria quando necessário.

O garçom parou ao lado de minha mesa me dando um boa noite enquanto eu enviava uma mensagem de texto para Alex e Kenndy pedindo que me encontrassem de imediato no local em que eu estava, a intenção era que Anna chegasse primeiro, pois queria conversar com ela em particular antes de comunicar à minha equipe minha atual decisão. Fiz meu pedido agradecendo com um pequeno sorriso e assim que o homem saiu de perto da minha mesa pude reconhecer a silhueta de Anna cada vez mais próxima, ela tinha um sorriso no rosto, pois também já tinha me visto, e ajeitava os óculos no rosto a medida que andava contente. Assim que ela se aproximou da mesa e me cumprimentou com um sorridente “olá” levantei-me para abraça-la o que ela estranhou, mas retribuiu.

— Ah, obrigada por me tirar de casa, sério – ela riu um pouco sem graça por causa do abraço.

— Não há de que – sorri a fitando – como vai?

— Bem, e você? – ela apontou para mim – e as costas?

— Estou melhor – sorri – o lábio ainda me incomoda um pouco, fora que tá feio este machucado – apontei para meu lábio – mas sobreviverei.

— Você é forte, claro que sim – ela deixou o celular em cima da mesa – você tá precisando de algo? Algo em que eu possa ajudar? É só...

A interrompi antes que ela se atrapalhasse nas palavras ou entendesse algo errado – Sim, Anna. Eu preciso de uma ajuda.

— Pode me falar, chefa – ela ficou séria endireitando sua postura na cadeira.

— Me chama de Maya, Anna.

Ela arqueou a sobrancelha esquerda – Certo... Maya. É que é um pouco estranho, você é minha chefe e...

— Acima de tudo sou sua amiga – sorri a interrompendo mais uma vez – ao menos eu te considero como uma.

O sorriso brotou abertamente no rosto dela – Considera?

— Mas é claro. Você é muito mais do que uma colega de trabalho, Ann. E é por isso que te chamei aqui.

Ela assentiu em silêncio ainda sorriso – Você também é minha amiga, Maya. Obrigada.

— Obrigada – soltei uma breve risada – os meninos estão vindo também, mas antes precisava pedir algo a você.

— Claro, pode falar – ela ficou séria balançando a cabeça positivamente.

— Preciso que cuide de Peter pra mim – falei a fitando.

— Você está indo embora? – ela perguntou assustada.

O garçom deixou meu suco em cima da mesa com um pequeno sorriso, virou-se para Anna perguntando se ela queria algo e ele teve que insistir na pergunta porque ela não o respondia, apenas o fitava com a expressão assustada. Ela balançou a cabeça respondendo que queria apenas uma água e ele assentiu se afastando de nós mais uma vez.

— Eu tenho uma missão – respondi com meu sorriso sumindo de meus lábios também.

— Ufa – o sorriso voltou brevemente para seus lábios – achei que nunca mais ia voltar.

— Nunca é uma palavra muito forte...

— Pois é! – ela me interrompeu respirando fundo – achei que você ia nos deixar.

— Eu vou, Anna – cortei sua felicidade tentando parecer o mais doce possível.

Ela ficou um tempo em silêncio absorvendo a resposta, o garçom deixou sua água em cima da mesa e ela logo perguntou – Como assim?

— Eu tenho uma missão. Não posso passar um relatório porque não posso expor meus movimentos, não que eu não confie em você, não é isso – a fitava esboçando um fraco sorriso – afinal estou te pedindo que olhe Peter por mim. É só... – fiz uma breve pausa desviando meu olhar – eu não tenho prévia pra retornar.

Ela apenas se manteve em silêncio me fitando enquanto mudava sua expressão facial diversas vezes. Às vezes ela parecia confusa, outras ela parecia assustada, não conseguia dizer como ela realmente estava se sentindo.

— Foi bem difícil para mim tomar essa decisão de ir. Acredite, foi sim – cocei a nuca procurando as palavras certas – se eu pudesse escolher eu ficaria aqui com minha equipe e Peter. Na verdade, eu pude escolher e... – novamente fiz uma breve pausa a fitando novamente – eu não posso simplesmente me ancorar aqui e fazer de conta que nada está acontecendo por lá. É complicado, mas acredite em mim quando digo que foi a decisão mais difícil que já tomei em minha vida toda.

Novamente, ela se manteve em silêncio, coçou o nariz olhando para a garrafa de água enquanto mudava suas expressões.

— Anna? – a chamei – por favor, só fala alguma coisa.

Ela levantou o olhar até mim – Eu só... Não tenho o que falar.

— Qualquer coisa – implorei.

Ela deu de ombros forçando um sorriso – Sentirei sua falta. Queria saber mais sobre a missão, mas sei que é sigiloso ou você teria me contado. Eu só... – ela fez uma breve pausa – odeio despedidas.

— Isso não é um adeus, Ann – a fitei com um pequeno sorriso – é um até logo. Eu voltarei, cedo ou tarde, prometo.

Ela sorriu brevemente – A missão é por conta própria? Porque se for eu te imploro que repense. Parece ser uma missão longa demais para você se arriscar sozinha. Você sabe que pode contar comigo, não sabe? Eu posso ir...

— É mais pessoal do que profissional, querida – sorri a fitando – obrigada, mas não posso arriscar ninguém desta vez. E sim, S.H.I.E.L.D. está comigo então não estou completamente sozinha.

Ela balançou a cabeça mais uma vez abrindo a garrafa e bebendo um gole, me fitou deixando a garrafa transparente em cima da mesa – Você tem minha palavra: cuidarei de Peter.

— Obrigada, Ann. Te devo uma.

Ela assentiu em silêncio forçando um sorriso.

— Preciso te pedir outra coisa.

Ela apenas me fitou esperando que eu falasse.

— Quando os garotos chegarem eu a nomearei como a líder.

— O que? – ela me fitou inclinando o corpo para frente completamente assustada.

Soltei uma breve risada de sua reação, exatamente como tinha imaginado – Sim, Ann. Eu quero que você me substitua e quero que esteja de acordo tanto quanto contarei com a opinião deles para que isso aconteça.

— Mas... – ela começou a gaguejar – por que... por que eu? O Ken... Ele... Ele tem mais experiência... Sei que ele é novo, mas... Mas acredite ele é melhor para este... Ou o Alex... Ele é forte... Ele...

— Ann – a fitei sorrindo, inclinei meu corpo pra frente pousando minha mão sob a sua de modo que ela se acalmasse, ela parou de fitar olhando para minha mão – eu realmente queria que você comandasse o time. Você é espontânea, engraçada, séria quando precisa de ser, amiga, não é egocêntrica, é inteligente, criativa, forte e muito, mas muito ágil.

— Não eu só sou...

A interrompi mais uma vez voltando a me ajeitar na cadeira – Se você disser que não é nada disso eu vou te bater – soltei uma risada e ela logo me acompanhou aparentando estar um pouco mais tranquila – esta é minha escolha e só vou falar dela com os meninos se você concordar.

Ela me fitou. Parecia completamente confusa, não me fitava diretamente, desviava o olhar diversas vezes para a garrafa, a mesa, para dentro da cafeteria, para o celular, mas eu não tinha vontade de apressá-la por mais que eu não tivesse mais tanto tempo até os meninos chegarem. Gostaria de já ter o assunto em mãos para poder tratar com eles, mas eu realmente devia tê-la contatado antes e oferecido tal oferta, não que fosse realmente uma oferta considerava mais como uma continuação de líder e, para mim, ela era uma líder nata e só não conseguia reconhecer isso em si mesma.

Não a culpava por estar assustada, também fiquei assim internamente quando Fury resolveu me dar um time, mas acabei fazendo amigos, mesmo com tantos desafios e com as desavenças. Não era como se tivéssemos ficado anos juntos e compartilhado todos os nossos segredos e medos, mas o pouco em que estive na presença deles reconheci uma amizade e familiaridade a qual não tinha lidado antes. E era muito grata por isso.

Avistei Kennedy vindo pela mesma direção em que Anna havia chegado, ele mantinha as mãos dentro do bolso do moletom e assim que me viu abriu um pequeno sorriso e Anna virou-se em sua direção ao perceber que o cumprimentei retribuindo o sorriso. Ela então virou-se assustada em minha direção e apenas sorri tentando acalmá-la, não tinha muito o que fazer, afinal.

Kennedy se sentou após nos cumprimentar com um breve beijo na bochecha ambas as duas e assim que olhei mais a diante pude ver que Alex também estava chegando o que fez com que ambos olhassem na mesma direção em que eu olhava Alex vir com sua blusa amarela e com sua feição séria na qual, quem não conhecia, o temeria e sequer chegaria perto.

Anna parecia ainda mais assustada do que antes e Kennedy percebia que algo não estava completamente certo, me sentia, de certo modo, culpada por coloca-la naquela situação, mas não tinha mais tempo, tudo tinha sido feito bem de última hora e ela era minha escolha, caso a equipe concordasse e continuasse Anna seria a nova líder e do jeito que os conheço, creio que não se importarão, mas o fato de Anna receber tal noticia com surpresa me deixou um tanto quanto insegura em relação à sua vontade.

Alex nos cumprimentou com um beijo na bochecha e um aperto de mão em Kennedy, assim que ele se sentou fechando o quadrado da mesa de quaro cadeiras o garçom veio até nós anotando o pedido de Kennedy, Alex não quis nada, nem mesmo uma água, mas estava sorridente ao ver todos juntos mais uma vez, eu sabia disso. E sabia também que seria a megera que acabaria com sua felicidade um pouco rápido demais.

- Eu não sabia que era uma reunião da galera - Kennedy riu me fitando - algo aconteceu?
- Ei, Ann… Você ta bem? - Alex perguntou a fitando - você ta meio estranha.
Ela assentiu em silêncio quando todo mundo a fitou, ela estava meio tremula, mas agora parecia mais calma do que antes.
- Como Anna chegou aqui primeiro eu acabei contando pra ela que vou me ausentar por um tempo.
- Se ausentar? - Kennedy perguntou - o que? Por quê?
- É uma missão - respondi alternando os olhares para ele, Anna e Alex - não posso dizer onde ou quando para não comprometê-los, mas não tenho prévia para retornar.
- O que? - Alex cruzou os braços - por que você vai sozinha?
- É uma missão pessoal da S.H.I.E.L.D.
- Da S.H.I.E.L.D. ou sua? - Kennedy perguntou arqueando as sobrancelhas.
Não respondi, apenas o fitei esboçando um fraco sorriso nos lábios.

— Creio que não possa dizer isso também, não é? – ele perguntou dando um breve sorriso.

— Desculpa – pedi o fitando sem ter mais o que dizer. E então olhei para Anna, ela me fitava e assim que ela notou que eu a fitei ela balançou a cabeça negativamente de um modo quase imperceptível, esboçou um sorriso nos lábios trêmulos e então compreendi o que ela queria dizer. Ela estava aceitando. Sorri voltando a fitar os meninos quem olharam para ambas de nós duas sem entender o que estava acontecendo.

— Meninos – os chamei os fitando – eu gostaria de dizer, antes de me despedir, que acho que Anna seria uma excelente líder. Não é nada pessoal, não é que gosto dela mais do...

— Nós entendemos – Kenndy me interrompeu de imediato olhando para Alex – acho que posso falar por nós dois, certo?

— Certo – Alex assentiu.

Kennedy passou o braço em volta dos ombros de Anna a fitando – Anna dará uma ótima líder, sabemos disso.

Sorri um pouco surpresa com tal atitude de Kennedy, mas estava imensamente aliviada e feliz que ele e Alex tinham aceitado a ideia tão bem, tão rápido e tão fácil. Encostei minhas costas na cadeira os fitando pela última vez, claro que voltaria a vê-los, mas, obviamente demoraria um tempo.

— Nós sentiremos sua falta – Anna falou ainda abraçada com Kennedy.

— Eu também – falei a fitando – muito mesmo.

E realmente sentiria, antes era acostumada a agir sozinha e então fui obrigada a montar uma equipe a qual me dei bem, parcialmente, a princípio. Não tivemos muitas missões juntos, não ficamos muito tempo convivendo, mas sabia que eles eram os amigos que levaria comigo para a próxima missão, eles e Peter, a melhor coisa que havia acontecido comigo naquele tempo nos Estados Unidos. Sorri os fitando, eles sorriram de volta e então decidi que era hora do “até logo” definitivo:

— Alex, diga ao Greg que eu sinto muito mesmo por não poder comparecer à cerimonia de vocês no mês que vem. Meu presente já está no correio e espero que chegue intacto na nova de casa de vocês dois – sorria o fitando – você é um cara incrível, forte, inteligente e foi uma honra trabalhar ao seu lado e ser da equipe.

Ele sorria me fitando – Greg entenderá. Obrigada, Maya. Foi uma honra pra mim trabalhar com você também.

Sorri olhando na direção de Anna – Você é uma mulher incrível e extremamente divertida. Você é uma líder nata e uma amiga maravilhosa e eu sou muito feliz por ter te conhecido, Ann. Obrigada por tudo que você sempre fez e fará por mim.

Ela sorria – Ah, pare com isso! Eu quem agradeço por tudo, Maya.

Olhei para Kennedy quem mantinha o sorriso em seus lábios – E você. Caramba, como te detestei a princípio, e sei que foi recíproco. Mas não poso te culpar, jamais faria isso – soltei uma breve risada – obrigada por salvar minha vida aquela vez e por ter me aceitado na equipe.

— Você não tem que me agradecer nada – ele sorria – mesmo. Fui um completo idiota e reconheço isso, desculpa ok? Mais uma vez. Obrigada por me dar a chance de ver as coisas mais claramente e obrigada por estar conosco. Acho que, mais uma vez, posso falar por todo mundo que vamos sentir sua falta – ele ergueu o olhar para cima da minha cabeça – certo, Peter?

— Com certeza, Ken – escutei a voz de Peter atrás de mim.

Virei meu corpo para trás vendo ele ali, parado, com um sorriso em seus lábios e os braços cruzados com o moletom cinza que ele tanto adorava. Não consegui esconder o sorriso e, ao mesmo tempo, a vontade de chorar veio com tanta força que logo tive que me controlar pra que não desse uma de bebê chorona na frente de todos eles. Aquilo não era um adeus, era um até logo, não importa quanto tempo dure.

— Oi linda – ele sorria olhando para baixo.

— Oi – sorri de volta o fitando.

— Pronta pra dar um passeio?

— Um passeio? – perguntei confusa, mas sem tirar o sorriso do rosto.

Ele balançou a cabeça – Vou roubar ela de vocês um pouquinho – ele olhou para ambos os três.

Dei uma fraca risada acompanhada dos três, levantei-me deixando o dinheiro em cima da mesa e abracei cada um fortemente me despedindo, odiava despedidas e aquela não estava sendo diferente, mas creio que a pior de todas viria quando eu tivesse que me despedir de Peter pela manhã que era o horário no qual eu iria embora e ele não poderia me acompanhar até o aeroporto porque seria perigoso demais, estragaria o disfarce caso algo desse errado, mas ele iria comigo até a base disfarçada da S.H.I.E.L.D. uma hora antes do voo que seria as dez da manhã.

Entrelacei os dedos de minha mão com os da de Peter e deixei que ele me conduzisse para onde iríamos, atravessamos a rua lado a lado e notando meu silêncio Peter perguntou como eu estava, não estava muito bem, mas também não estava mal:

— É estranho – respondi.

— O que é estranho? – ele virou seu rosto para me olhar quando subimos na calçada.

— Voltar para lá – o fitei – depois de anos, de tudo o que aconteceu. Estou voltando para lá como uma terceira pessoa em uma terceira vida.

— Você sabe que não tem que ir, não sabe?

— Eu tenho, Pete – virei meu rosto para frente fitando a calçada cinza da rua – não posso deixar acontecer tudo de novo com crianças inocentes, não posso deixar que isso continue acontecendo.

Peter ficou um tempo em silêncio.

— Acredite, se eu tivesse alguma outra opção eu a escolheria e, definitivamente – levantei meu rosto mais uma vez para fita-lo – escolheria você.

Ele sorriu me fitando, passou o braço em volta de minha cintura me puxando mais para perto de si e deu um beijo em minha testa – Eu sei disso, Maya. Você é maravilhosa.

— Pare – me aconcheguei em seus braços enquanto andávamos – para onde vamos?

— Surpresa – ele sorriu me puxando pra dentro de um beco delicadamente.

— Peter Parker e seus becos escuros – ri o acompanhando.

— É onde eu gosto de guardar meu meio de locomoção – ele respondeu em meio a escuridão se soltando de mim – sabe como é, né, meu método de locomoção pela cidade é um pouco mais radical do que o comum.

— Você é um pouco diferente, né? – brinquei enquanto o aguardava na sombra – você gosta de se despir em becos escuros, sempre entra pela janela do meu quarto, escala paredes, aparece machucado porque não gosta de ir pro hospital...

— Eu não posso ir para o hospital – ele riu com a voz mais próxima de mim, senti seus lábios nos meus e não quis soltá-lo.

— Não solta – sussurrei puxando seu rosto e selando nossos lábios mais uma vez. Nos envolvemos em um beijo um tanto quanto caloroso, Peter parou de guardar sua roupa dentro da mochila e eu pude sentir o tecido diferente de sua roupa de aranha quando ele passou o braço em volta de minha cintura envolvendo meu corpo e o puxando par mais perto do seu, mantive ambas as mãos em seu rosto perto do maxilar enquanto me entregava totalmente a seu incrível beijo.

O beijo demorava mais que o normal, já estava ficando completamente sem ar, mas não queria soltá-lo, não queria parar o beijo por mais que soubesse que tínhamos de ir para onde ele queria me levar, mas Peter não parecia se importar muito com o fato do beijo demorado e aquilo me deixava mais tranquila. Passei os braços em volta de seu pescoço e ele subiu sua outra mão, logo após jogar a mochila no chão, para minha nuca. Ficamos um tempo em silêncio após o beijo, eu estava completamente ofegante e ele também, encostamos as testas e eu não precisava vê-lo para saber que ele não estava sorrindo, não precisava vê-lo para saber que ele não estava feliz.

— Eu te amo Peter Parker.

— Eu te amo, Maya Mase.

O abracei com força total torcendo para que nunca mais nos soltássemos, ele passou ambos os braços em volta da minha cintura e afundou seu rosto em meu pescoço respirando fundo o que me fez querer abraça-lo ainda mais.

— Eu vou sentir tanto sua falta – ele disse com sua voz abafada.

— Eu também, Pete – dei um beijo rápido em seu pescoço – eu... Droga. Eu tenho que fazer isso.

— Eu sei, Maya. Eu sei.

— Antes que eu chore, onde vamos, Parker? Não me faça chorar ainda – dei uma breve risada o soltando.

— Certo – ele se soltou abaixando para pegar a mochila. Pude ouvir barulho da mesma se fechando e ele logo passou o braço direito em volta da minha cintura me segurando com força, escutei o barulho da teia saindo do lançador em seu pulso e então saímos de dentro do beco escuro onde eu podia ver a cidade iluminada. Senti o vento balançar meu cabelo e bagunça-lo enquanto eu fechava os olhos para sentir o que seria minha última vez dando um “passeio” pelos prédios da cidade com o Homem Aranha. O frio na barriga aumentava a medida em que Peter soltava-se da teia para lança-la novamente em outro prédio, sorria toda vez que ele fazia isso prendendo a respiração enquanto tinha a sensação, breve, de que cairia lá de cima.

Abri os olhos e passei meus braços em volta do pescoço de Peter quem, rapidamente, virou seu rosto mascarado para me olhar, eu apenas sorri voltando a olhar para a cidade iluminada e seus prédios cinzentos onde uma dúzia de janelas ainda estavam acesas naquele domingo a noite. Só fui reconhecer onde estávamos indo quando Peter desceu perto do lago. Reconheceria aquele local mesmo se tivesse olhando de cima da terra, era o jardim maravilhoso o qual ele tinha me levado uma noite antes de me entregar para a S.H.I.E.L.D. assim que percebi o quão errada eu estava.

Virei-me para a esquerda e vi o aconchegante chalé sorrindo logo em seguida, Peter retirou a mochila revirando-a logo em seguida de modo que procurasse algo, apenas fiquei parada sentindo minha garganta arder enquanto eu segurava o choro. Ele tinha preparado uma despedida para mim. Para nós. Em um dos meus locais favoritos da cidade que descobri por causa dele, afinal, ele quem me levou ali dizendo que era um de seus locais favoritos da cidade e tornou-se o meu.

— Aqui – ele levantou a chave em mãos vitorioso – achei que tinha esquecido em casa ou perdido em alguma rua.

Dei uma breve risada e o acompanhei segurando sua mochila enquanto ele abria o chalé. No instante em que ele abriu ele parou na minha frente sem acender as luzes de lá de dentro, o fitei sem entender e ele pegou a mochila de minha mão tirando a máscara logo em seguida. O fitei descabelado e ergui a sobrancelhas esperando que ele fizesse algo ou me desse as instruções, o que ele logo o fez.

— Quem vai acender as luzes é você – ele sorriu jogando a mochila para o lado, ela fez um barulho oco quando bateu ao chão.

Ele então foi para trás de mim e eu apenas ri lhe lançando um breve olhar. Andei em direção ao chalé e acendi as luzes no apagador perto da porta, não consegui não sorrir com a cena completamente romântica e clichê, mas incrivelmente linda. O chão possuía um caminho de pétalas de rosas em direção à cama de madeira, a lareira estava ligada no fogo baixo e eu apenas sorri. Virei-me em direção de Peter e ele coçou a nuca mostrando que estava em graça, não era de sua índole ser muito romântico como naquele momento, mas estava valendo a pena.

— Não tinha bandido nenhum há um tempo atrás, não é?

— Não – ele riu – as coordenadas eram daqui, na verdade.

Fechei os olhos fazendo uma pequena careta – Eu nem percebi.

— Eu sei – ele deu um beijo na ponta de meu nariz fazendo com que eu abrisse os olhos – por isso fui te buscar.

Ri o fitando – Desculpa.

— Não se preocupa – ele olhou por cima do meu ombro pro quarto – espero que tenha gostado.

— Você tá brincando? – perguntei me virando em direção ao quarto mais uma vez – eu amei!

Ele passou os braços em volta da minha cintura dando um beijo em meu ombro por cima da blusa, o senti encostar o queixo perto do meu pescoço e virei meu rosto lentamente para olhá-lo, ele sorriu me lançando um breve olhar e então virei-me em direção a ele o fitando por alguns segundos. Ficamos em silêncio, apenas olhando um nos olhos do outro e mesmo sabendo que era a despedida não quis chorar, não naquele momento, porque ali, naquele chalé novamente, no chalé em que me dei conta de que o amava e o queria para o resto da vida, tudo o que eu realmente queria era ficar com Peter o tempo que pudéssemos.

Selei nossos lábios mais uma vez o puxando para dentro do chalé novamente. Andávamos em passos lentos e Peter esticou a mão em direção a porta a fechando com certa força, a mesma bateu fazendo um barulho alto e tremendo as janelas. Paramos o beijo rindo enquanto Peter fazia uma careta se sentindo culpado pela batida da porta, mas logo tornamos a selar nossos lábios de modo que esquecêssemos tudo ao nosso redor mais uma vez. Tirei minha blusa de frio deixando que ela escorregasse pelos meus braços de modo que ela caísse no chão e ficasse para trás enquanto caminhávamos juntos em direção a cama. Peter retirou sua parte de cima da roupa de aranha jogando-a para trás voltando a me beijar, o beijo ficava cada vez mais intenso e eu desejava cada vez mais que aquele momento não acabasse de modo que eu não precisasse ir para a Rússia e, muito menos, deixá-lo.

xxxxxxxx

O celular tocava em uma altura extremamente exagerada, não era o meu celular pessoal, mas sim o da S.H.I.E.L.D. indicando que estava na hora de ir, mas não havíamos dormido, recusei-me a dormir nestes raros últimos momentos juntos e passamos a noite inteira entre caricias, lembranças e conversas. Mas agora era realmente a hora de ir, a hora de me apresentar a S.H.I.E.L.D. como uma agente de campo internacional.

— Então agora é oficial – Peter disse respirando fundo enquanto sentava-se na cama me fitando.

— Merda – resmunguei pegando minhas peças de roupa pelo chão já sentindo meus olhos arderem e o nó na garganta surgir.

— Merda – Peter repetiu com a voz embargada.

Virei-me em sua direção enquanto vestia minha roupa, Peter não me fitava, ele olhava apenas para o lençol que cobria suas pernas e parte de sua barriga enquanto pensava em algo e eu detestava vê-lo daquela maneira. Andei em sua direção após vestir a blusa e apenas o abracei passei meus braços em volta de seu pescoço e pude sentir sua respiração em minha barriga.

— Merda – resmunguei de novo sentindo as lágrimas escorrerem de meus olhos.

Claro que eu voltaria, mas minha volta seria tardia. A missão não tinha prévia de duração, podia durar meses assim como podia durar anos. Eu seria a espiã da S.H.I.E.L.D. que arrumaria uma maneira de acabar com cada Coorporação base na Rússia, depois viajaria o mundo para acabar com suas filiais e assim por diante, a sensação de ter que lidar com tudo isso sozinha só não era pior do que a de deixar Peter para trás, não podia negar.

— Pete – o chamei puxando seu rosto levemente para cima de modo que ele me olhasse e foi quando percebi seu rosto molhado e seus olhos marejados, ele se soltou de mim rapidamente secando as lágrimas, mas seus olhos permaneciam marejados de modo que nem ele mesmo conseguia controlar as lágrimas que desciam.

— Merda – ele resmungou secando as lágrimas mais uma vez.

— Pete... – aproximei meu rosto do dele encostando nossas testas mais uma vez – eu te amo. E sempre vou amar. Você é e sempre será o amor da minha vida, o cara que eu amo, eu... – fiz uma breve pausa sentindo a garganta arder, as lágrimas escorriam a medida em que eu o via chorar e contorcer o rosto tentando evitar que isso acontece – eu serei sempre sua. Aqui, lá, em qualquer lugar.

— Eu te amo – ele sussurrou selando nossos lábios brevemente – eu te amo muito.

— Eu sei, cabeça de teia – sorri forçada – eu sempre vou te amar. E eu voltarei. Por você, por nós.

Ele me fitou respirando fundo – Esperarei por você.

Sorri o fitando nos olhos – Isso não é um adeus. É um até logo.

E era.

Era um até logo para o único homem que me fez amar daquela maneira.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.