Peter abriu os olhos e percebeu que já havia amanhecido, se perguntou por quanto tempo tinha dormido, mas não sabia responder. Olhou á sua volta, procurando um relógio no quarto de Maya, levantou lentamente da cama e mordeu o lábio por causa da dor em sua barriga. Percebeu que a cama ao seu lado não estava desarrumada – como se Maya estivesse dormido ao seu lado – assim que abriu a porta do quarto, escutou vozes e uma risada, uma risada a qual não era a de Maya.

Foi escorando na parede branca do corredor até a porta que dava para a sala, percebeu que Maya não estava sozinha quando vozes aumentaram. Estavam de costas para ele, mas ele pode ver Maya apenas com um sorriso escutando-os falar, mas como se ela não estivesse ali. Apenas seu corpo. Reconhecia o sorriso forçado de Maya, principalmente aquele. Parou encostando seu ombro direito na parede e sem tirar a mão em volta da ferida de sua barriga, acenou com sua mão livre para Maya, quem levantou o olhar para cima e logo em seguida ficou de pé.

As três cabeças do sofá rapidamente viraram em direção a Peter, eram os agentes que trabalhavam com Maya: Alex, Anna e Kennedy. Peter se sentiu um tanto sem graça por estar apenas com sua calça de aranha – principalmente por Anna estar ali.

— Oh, ei Pete! – Maya foi até Peter e deu um beijo na bochecha do namorado.

— Bom dia – ele disse sorrindo para ela e logo em seguida olhou para os demais – tudo bem?

Kennedy apenas deu um fraco sorriso, Alex levantou o dedão indicando que estava tudo bem e Anna olhava para o abdômen de Peter, o que o deixou completamente sem graça.

— Não sabia que tinha visita – ele disse – foi mal pela roupa – ele coçou a nuca – ou pela falta dela.

— Não se preocupe – ela riu – provavelmente tem algumas peças de roupas suas aqui, se quiser ver no meu quarto.

— Tudo bem – ele sorriu sem graça – vou lá.

Maya deu um rápido beijo no namorado e voltou para a sala se sentando na mesma poltrona branca onde estava sem prestar atenção em quase nada. A ligação em russo que tinha acabado de receber não saía de sua cabeça e ela não conseguia pensar em nada mais. Não sabia quem tinha ligado para ela, mas a única coisa na qual sabia era que não podia colocar Peter em perigo novamente, não sabia como resolver, mas não o deixaria novamente.

Peter abriu a gaveta do guarda roupa de Maya e a fechou percebendo que não queria usar as roupas intimas da garota, por impulso abriu a última gaveta e então pode ver a quantidade de roupas que ele havia esquecido ali.

— Algumas? – ele riu segurando uma de suas calças jeans que tinha dado falta há alguns meses, e agora, sabia onde estava. Pelo menos aquelas não estavam manchadas de vermelho e azul.

Peter tirou sua calça de aranha se segurando para não gemer de dor, mordia o lábio novamente enquanto sentia sua ferida na barriga queimar, vestiu a calça jeans o mais rápido que conseguiu e logo em seguida pegou uma blusa de mangas curtas azul, era uma de suas blusas mais novas – que Tia May tinha comprado há pouco tempo – e ainda bem que havia achado, afinal, sua tia não podia saber que suas roupas sumiam com procedência ou então ela passaria a lavar as roupas do sobrinho, e ele então não teria desculpa alguma para lavar sua roupa de aranha. Olhou no espelho do banheiro após lavar o rosto e arrumou seu cabelo para cima, como sempre costumava fazer, resolveu, então, pela primeira vez checar os machucados.

— Caramba!

O que ele achava que era apenas um arranhão era praticamente um buraco reto com – mais um menos – um dedo de profundidade. Estava em carne viva e com sangue em volta, mas sangue coagulado. Pode perceber que Maya tentou fazer alguns curativos para estancar o sangramento que, pelo visto, haviam sido bem sucedidos. Peter olhou os hematomas nos braços, poucos arranhados e mais roxos, com sangues acumulados nas veias e dores insuportáveis.

Pensava que teria que ter o máximo de cuidado possível para que Tia May sequer o visse gemer de dor, teria que ficar a maior parte do tempo distante dela. O que não seria completamente difícil já que sempre inventava desculpas para a tia enquanto salvava o mundo evitando que a deixasse em perigo. Voltou até o quarto de Maya e pegou um casaco da namorada, mas desistiu assim que notou o quão idiota – e estranho – ficaria.

Saiu do banheiro e foi para a sala onde os agentes ainda estavam lá.

— O que aconteceu com você? – Anna foi a primeira a perguntar.

— Ele apanhou, An – Kennedy disse em um tom provocante – heróis também apanham.

— Foi você quem me salvou na noite passada também, Ken? – Peter disse em seu tom mais sarcástico e irritado que conseguia.

— Não – Kennedy respondia – não des...

— Certo! – Maya ficou de pé batendo palmas.

Ninguém estava entendendo nada. Anna e Alex sabiam – muito bem – que Kennedy havia salvo Maya, mas não sabiam o que tinha acontecido com Peter e principalmente porque os dois estavam se bicando naquele momento. Anna fitou Maya de pé completamente sem graça tentando controlar o nervosismo e logo em seguida fitou Peter e Kennedy. Ambos com a mesma cara séria e as sobrancelhas erguidas, como se fossem atacar um ao outro naquele exato momento.

— Como está, Pete? – Maya perguntou virando-se para o namorado.

— Melhor – ele respondeu – tenho que ir para casa, por que...

O celular de Peter chamava no quarto de Maya.

— Um minuto – ele disse sorrindo e passando o olho pela sala, mas quando chegou em Kennedy ele simplesmente o ignorou como sequer estivesse ali.

— Fiquem a vontade – Maya disse sorrindo forçada e seguindo Peter até o quarto.

— O que foi isso? – Anna perguntou.

— É... – Alex concordou balançando a cabeça – o que foi aquilo, “Ken”?

— É simples – Kennedy respondeu fitando a mesa de centro na sala de Maya – Parker ficou com ciúmes que salvei a vida de Maya.

— E por que provocou ele? – Alex perguntou.

— Não provoquei – Kennedy disse – apenas respondi a pergunta da Anna.

Eles ficaram em silêncio. Os três sentados no sofá branco da sala de Maya, ficaram em silêncio por certo tempo até que Anna começou a citar maneiras de impedir o Duende. Maya esperava parada ao lado da cômoda de seu quarto, fitava Peter de braços cruzados e um pequeno sorriso no rosto. Ele olhava para o chão, estava falando com a tia.

— Gwen esteve aqui, querido— ela falava – fui na padaria e disse que ela podia ficar a vontade, mas quando voltei ela já tinha ido.

— Ela disse o que foi? – Peter levantou o olhar sério até Maya.

— Não, apenas chegou e foi embora.

— Tudo bem, obrigada Tia May.

— Você não vem para casa?

— Maya ainda precisa de mim – Peter fitou a namorada

— Fale que mandei melhoras para Maya.

— Pode deixar – Peter sorriu – até depois.

— Te amo, querido.

Peter desligou o celular e colocou no bolso de sua calça jeans, Maya ficou em silêncio esperando Peter dizer algo, contar o que tinha acontecido, pelo menos dizer o porquê de sua tia tê-lo ligado. No instante em que abriu a boca para perguntar se ele iria ou não falar algo, ele disse:

— Acho que Gwen está em perigo.

— O que? – Maya perguntou – por quê? O que aconteceu? Ela...

O celular de Maya da S.H.I.E.L.D. estava tocando perto da cama da garota, ela foi correndo até o mesmo e atendeu a ligação de Nick Fury, ele foi breve e apenas disse que o Duende estava sobrevoando por Nova York, destruindo algumas coisas e causando tumultos. Fury sabia que Maya não poderia ir por causa dos machucados, mas como não estava conseguindo entrar em contato com Peter – e sabia que ele estava na casa dela por causa do rastreador – a ligação tinha sido direta para o cabeça de teia.

Maya foi andando até Peter – Você não pode ir.

— Eu tenhoque ir – ele disse tirando a camisa.

— Você está todo machucado, você não pode... – Maya falava sem pensar, apenas queria que Peter permanecesse ali, sem colocar sua vida em risco mais uma vez.

Peter a fitou quando a garota fez uma pausa sem saber o que dizer, ele sorriu tentando tranquiliza-la – Você cuidou bem de mim, e... Tenho que me certificar se Gwen está bem.

Maya hesitou, mas não tinha o que falar. Sabia que não adiantaria, não para Peter.

— Casal?

A voz de Anna ecoava no corredor ao lado de fora, Peter disse que trocaria de roupa dentro do banheiro, e Anna abriu a porta após Maya dizer que estava tudo bem e que ela podia entrar. Anna também tinha recebido a chamada de Fury e disse que ficaria ali – por mais que tivesse detestado a ideia – com Maya por prevenção. Maya apenas assentiu se sentindo inútil a ponto de sequer poder ficar sozinha em casa por acharem que ela não se defenderia machucada daquele jeito.

E perto de Peter ela só tinha alguns arranhões – e fraturas internas. Peter segurava os gemidos de dor dentro do banheiro enquanto colocava – novamente – a calça colada de aranha. Fitou sua parte de cima da roupa e bufou ao ver que estava toda rasgada, por alguns minutos tinha esquecido daquele detalhe sórdido. Mas iria rasgado procurar Gwen e certificar de que tudo estava bem, mas estava com medo da resposta, estava com medo de procurar e achar o que não queria. Estava cansado do Duende arruinando sua vida, e o pior, de prejudicar – e machucar – pessoas inocentes. Ser um herói era mesmo uma grande dádiva.

Uma dádiva mais do que azarenta.