Bateu na porta algumas vezes e ficou parada esperando que alguém abrisse. Talvez fosse a Tia de Peter, May, o que era mais provável do que ele mesmo abrir. Peter estava sumido há algumas horas, mas o rastreador de Fury em sua roupa de Homem Aranha indicava que ele estava em casa por dez minutos. Era arriscado, mas a garota esperava muito encontra-lo por lá.

Maya escutou o barulho da tranca da porta, o que indicava que estava sendo destrancada. Quem abriu a porta foi uma sorridente Tia May, ela não tinha culpa de estar tudo normal para si, provavelmente não sabia de nada que tinha acontecido até então.

— Oi, Senhora Parker.

— Olá, Maya – ela abriu mais a porta – entre.

— Obrigada – agradeceu aceitando o convite.

Ela fechou a porta atrás de si – Peter não me disse que viria.

— É uma surpresa – mentiu engolindo seco – ele está em casa?

— Sim, está no andar de cima – ela bateu as mãos de leve nas pernas e então a garota pode notar que ela estava com um avental – pode ir lá, caso queira, ele está estudando com a vizinha.

Maya deu um fraco sorriso assentindo. Sabia que Peter não estava estudando, apenas não compreendeu o que a vizinha estava fazendo em seu quarto. Claro que nada de malicioso passou na mente da garota, Peter não era capaz, mas ela não conseguia negar que estava intrigada se essa moça conhecia Gwen e se ela já sabia do que tinha acontecido.

O silêncio pairava no corredor do segundo andar, não havia vozes vindo de trás da porta do quarto de Peter e Maya hesitou por um momento em entrar, talvez ele não estivesse lá, talvez a vizinha tinha ido ver se Peter estava por ali e, ao não encontrar nada, resolveu ir embora. Mas May não deveria dizer caso isto acontecesse?

Pete...

Escutou uma voz feminina tão baixa que teve que se esforçar para escutá-la. Vinha de dentro do quarto de Peter, mas não conseguia escutar a voz do namorado. A voz tinha um tom penoso, também estava com dor o que significava que a vizinha de Peter também conhecia Gwen e já estava ciente da morte da garota. Ainda hesitante, com a mão próxima da maçaneta, abriu a porta porque sabia que ele precisava dela mais do que qualquer coisa, mesmo que ele estivesse triste demais para pedir.

Empurrou a porta depois de girar a maçaneta e, de relance, viu uma moça de cabelos vermelhos e lisos sentada na cama de Peter. Ela estava com as mãos entre as pernas e a fitou no instante em que entrou no quarto, Maya lançou-a um pequeno sorriso e pode notar que a garota estava mesmo com os olhos marejados, ela parecia tão triste quanto qualquer um que perde alguém especial, mas não tão abatida quanto Peter.

Ele, por sua vez, estava com os cotovelos apoiados em cima de uma escrivaninha de madeira, eu computador estava de frente para si, porém, desligado. Ele ergueu o olhar lentamente quando Maya entrou no quarto e, ao vê-la, se endireitou na cadeira com dificuldade para respirar. Pôs-se de pé e ela logo foi abraça-lo e, ao senti-lo em seus braços, tudo o que desejou fazer foi consolá-lo, mas não sabia ao certo como conseguiria fazer isso, mas provavelmente mante-se em silêncio, enquanto ele desabava com o rosto abafado em seu pescoço, era a melhor opção.

— Ela se foi, Maya... – Peter disse com sua voz completamente abafada – ela está morta e é minha culpa.

— Não é sua culpa, Peter – a ruiva ficou de pé – por que você pensa isso?

Maya apenas virou seu rosto para olhá-la, ela parecia furiosa, mas a fitou com as lágrimas escorrendo por seu rosto incrivelmente perfeito. Seus olhos verdes estavam marejados e tudo o que ela queria era obter uma resposta de Peter, mas não sabia dizer se ele tinha escutado a garota ou não.

— Não se culpe, Parker! – ela cerrou os punhos e Peter ficou de pé endireitando-se – isso não tem nada a ver com você.

— Você não sabe de nada! Do que você sabe, Mary Jane? – ele virou-se irritado na direção da ruiva – o que você enxerga além de si mesma?

— Cresça, Parker! – ela foi até ele – esse insulto já foi-me dito há alguns minutos atrás.

— E mesmo assim você não percebe que ficar aqui, sentada, parada, como a porcaria de uma estátua não ajuda em nada.

A garota parou. Não tinha mais resposta nenhuma na ponta da língua. Apenas fitou Peter incrédula com sua falta de educação, ele nunca fora assim.

— MJ... – ele sussurrou – só vai embora.

— Você quem manda, Parker – ela caminhou em direção a porta passando rapidamente ao lado de Maya – só não pensa que você é o único machucado com a morte dela.

Ela então bateu a porta lançando um último olhar para Maya quem não sabia nem um pouco o que fazer, ou dizer. Peter desmoronou-se em sua cadeira novamente e Maya apenas sussurrou um “já volto” antes de bater a porta do quarto de Peter atrás de si.

— Espera – ela chamou a garota ruiva quem já descia o primeiro degrau.

Ela virou-se para trás com o rosto vermelho. Maya não sabia dizer se era de raiva ou por estar chorando.

— Ei, me desculpa pelo Peter – Maya sussurrou lançando um rápido olhar para baixo se certificando que Tia May não as visse na escada – mesmo... Ele está muito abalado, ele não disse por mal.

— Eu sei – ela balançou a cabeça secando as lágrimas que insistiam em escorrer de seus olhos verdes – mas mesmo assim machuca.

Deu um fraco sorriso – Tenho certeza que ele vai se arrepender e se desculpar depois.

Ela deu de ombros – Está tudo bem.

— Sou Maya, Maya Mase.

— Mary Jane Watson – ela esboçou um breve sorriso – é melhor eu ir.

— Tudo bem.

Ela assentiu em silêncio e desceu as escadas, Maya voltou para o quarto de Peter e Mary Jane gritou um sonoro “tchau, Tia May!” o que fez com que Maya se virasse para trás por uma fração de segundo. Assim que abriu a porta viu Peter da mesma maneira que havia deixado há um minuto atrás. Ele fitava a mesa de seu computador, mas sem prestar atenção em algo especifico, foi andando em direção á sua cama e sentou-se no mesmo local que Mary Jane estava sentada minutos atrás, antes de ambos explodirem.

— Peter, eu...

— Duende está morto.

Maya nada disse digerindo a informação.

— Ele está morto. Ele não voltará.

A voz de Peter era fria como a neve e dura como uma pedra, ele mal se movia e não fazia esforços para que isso acontecesse. Mantinha-se olhando na mesma direção com os olhos lacrimejantes.

— O que? – ela perguntou – você...

— Não – ele a interrompeu com a voz fraca, mas ainda sim fria e dura.

— Isso... – Maya tentava encontrar as falas certas – é bom.

— Eu quis – ele dizia sem fita-la – eu desejei. Eu queria mata-lo, Maya.

— Mas você não o fez – ela ficou de pé andando até ele, parou na frente de sua cadeira a o fitou – você não matou ele.

— Ele se matou – mesmo com Maya na sua frente, Peter mantinha o olhar longe.

— Como?

Ele então levantou o olhar até ela – Ele tentou me matar e quando eu desviei seu planador o atingiu.

Maya apenas fitou Peter, seu coração estava em pedaços por vê-lo daquela maneira.

— Eu fiquei enjoado com minha sede de morte, Maya – ele sussurrou com as lágrimas escorrendo – eu quase o matei.

— Você não o matou, você percebeu que não valeria a pena, Pete – Maya segurou o rosto de Peter enquanto enxugava as lágrimas – você não é como ele ou qualquer outro cara que você derrota dia após dia.

— Mas eu senti como um deles – ele ficou de pé afastando as mãos de Maya – quando eu a puxei para cima e vi...

Sua voz falhou enquanto ele parava em frente a sua janela fitando a rua deserta.

— Você sabe que não é sua culpa, não sabe? – Maya sussurrou parada no mesmo local.

Ele não respondeu.

— Pete – ela deu um pequeno passo em direção a ele, mas parou quando ele se virou.

— Como não pode ser minha culpa, Maya? Eu a coloquei em perigo... Ela... Ela foi burra o suficiente para se apaixonar por mim! Por Peter Parker, o Espetacular Homem Aranha!

Ele gritou, Maya apenas o fitou sentindo seus olhos arderem.

— Eu não devia... Eu devia ter ficado com ela, tomando conta nestes dias inteiros em que sabíamos que ela estava em perigo, Gwen era minha responsabilidade, estava envolvida nisso tudo porque ela foi minha namorada, porque me amava e...

Novamente o silêncio, desta vez Maya não permaneceu parada no lugar, pôs-se em direção à Peter e, diferentemente da outra vez, ela quem abafou sua respiração no pescoço de Peter, sentiu as mãos do rapaz a abraçar de modo que ela não se soltasse, ele apenas encostou o queixo no ombro esquerdo de Maya e ela ficou ali, permaneceu silenciosa e quieta enquanto Peter fungava quando seu nariz começava a escorrer.

Ficaram daquela maneira, ambos em silêncio, se abraçando e Peter não podia querer nada melhor. Tinha tanto entalado em sua garganta que desejava desabafar com Maya, mas sua vontade de chorar e explodir para o mundo o atrapalhava. Sentia-se imensamente culpado, outra via tinha sido tirada da família dos Stacy, primeiro o pai de Gwen, e Capitão da Polícia, e agora a garota que ele tanto gostou e que morreu ainda amando-o.

Ao lembrar do que Duende havia feito, a real razão para que seu plano mirabolante funcionasse, ficava furioso. Mas o plano de Duende havia funcionado parcialmente, tinha levado alguém que sempre fora dona de imensa importância e carinho na vida de Peter, mas a mulher que ama e que não suportaria, de maneira alguma, perder estava viva e ele não cometeria o mesmo erro. Não deixaria acontecer com Maya o mesmo que houve com Gwen.

— Vem aqui – Maya o puxou pelas mãos em direção a cama de solteiro de Peter.

A garota sentou-se e fez com que Peter sentasse em sua frente, com as pernas cruzadas estendeu as mãos até o rosto do namorado, ela deu um sorriso doce o fitando nos olhos:

— Não foi sua culpa, Pete. Ninguém tem culpa de se apaixonar, Gwen estava no local errado, na hora errada.

— Ela estava no meu quarto, na minha casa, esperando por mim – ele disse engolindo seco tentando evitar o choro – parte de mim sabe que isso não é minha culpa, mas outra grande parte se culpa pelo que aconteceu e essa parte... Essa parte é o problema.

Houve uma batida na porta, uma batida leve que pedia permissão para que pudesse ser aberta, Peter sabia que era sua Tia May e então começou a secar as lágrimas de seu rosto tentando parecer o mais normal possível, Maya apenas o fitou com o rosto seco, mas de nada adiantou, ele ainda estava pálido, abatido e com as pálpebras inchadas de tanto chorar.

— Entre, Tia May.

A senhora abriu a porta sem um mísero sorriso, o que era estranho porque ela sempre estava muito sorridente. Sua feição era triste, ao mesmo tempo em que parecia estar com pena do sobrinho, parou por alguns segundos e então lançou um rápido olhar para Maya a perguntando:

— Vocês sabem?

Peter quem a respondeu – Sobre Gwen?

— Você sabia, Peter? – a tia o questionou – e não me contou?

— Desculpa, tia – ele sussurrou – acabei de saber e estou tão... Assustado.

— Mary Jane saiu daqui chorando, o que houve?

— Ela quem me contou – ele mentia sem olhar para a tia – ela ficou sabendo por amigos. Ela está muito triste, foi embora porque não conseguia parar de chorar. Estava sem graça.

— Ah, pobrezinha – tia May esfregou as mãos uma na outra e foi andando em direção a Peter, o abraçou fazendo com que o sobrinho enterrasse seu rosto nos braços da tia – você a conhecia? – ela se dirigiu a Maya.

— Brevemente – ela disse se referindo a vez em que a garota se escondeu atrás do arbusto para espionar Peter.

— Ela era tão doce... Eu a vi esta tarde, não posso acreditar – ela fez uma breve pausa, os olhos marejados – estão dizendo que o Homem Aranha quem a matou.

Peter ergueu o rosto a fitando – Estão o quê?

— Não se preocupe – ela sussurrou – há mais defensores do que acusadores, dizem que ele estava fora de si e atacou alguns policiais. Mas a filmagem do Canal Sete mostra que... – ela pausou – ah céus!

Peter ficou de pé abraçando sua tia – Está tudo bem, tia May. Nós sempre a manteremos em nossos corações.

— Ela... Ah, Pete. Ela não merecia – May sussurrava enquanto abraçava o sobrinho.

Maya ficou de pé os fitando. Era um péssimo momento para estar ali, ambos tinham um carinho enorme por Gwen e estavam devastados por isso, Maya sentia seu coração cada vez mais apertado, primeiramente por Peter e agora do tia May quem chorava descontrolada nos braços o sobrinho. Peter estava sério a abraçando, mantinha a cabeça erguida fitando seu computador, mas Maya sabia que ele estava pensando em diversas coisas que ela desejava saber quais eram.

— Ah, me desculpe – ela se soltou de Peter fazendo com que ele a fitasse, mas ela virou-se em direção a Maya – sou uma velha chorona, me per...

— Não precisa se desculpar – Maya a interrompeu com um pequeno sorriso – sei como é perder alguém especial. Acho que vocês precisam um do outro, por isso, vou indo.

— Não queria atrapalhar vocês dois – ela sussurrou secando as lágrimas – eu apenas não aguentei.

— Não atrapalhou em nada – Maya esticou os braços em direção a May – não se preocupe, e espero que fique bem.

— Obrigada minha querida – ela sussurrou enquanto abraçava Maya.

Maya apenas sorriu se soltando da tia de Peter, foi andando em direção ao namorado quem a abraçou de imediato, desejava que ela não fosse, que ficasse perto de si, não apenas porque precisava dela naquele momento, mas também porque tinha medo de “perde-la de vista” e como consequência perde-la de verdade. Como havia perdido Gwen, seu tio, seus pais, Capitão Stacy. Sentia seu peito queimar e não soltou Maya como ela esperava, mas a garota não se moveu, esperou até que Peter tivesse seu momento certo e desejasse soltá-la.

— Eu manterei o telefone perto de mim o tempo todo, ok? – ela sussurrava enquanto abraçava o namorado – você pode me ligar a hora que quiser. Te ligo assim que chegar em casa, não se preocupe.

— Por favor, me avisa quando chegar e não saia do telefone comigo.

Maya deu um fraco sorriso – Claro, Pete.

Ele então a soltou e a garota mais uma vez sorriu para tia May, Maya fechou a porta do quarto de Peter atrás de si e logo pode ouvir a voz chorosa da tia de Peter lamentar a perda de Gwen. Maya não se lembrava de como se sentiu ao perder seus pais, aquela fora uma dor verdadeira, a primeira e única vez que, realmente, teve que lidar com a dor e sequer se lembrava. Não sabia se isso era algo bom ou ruim.

Na Corporação Russa Ália fez com que ela e todas as outras crianças esquecessem do que acontecera com seus pais, o que ela dizia ser um acidente, mas que sempre havia um culpado. Porém a verdade é que ela tinha matado todos eles apenas para pegar crianças perdidas e recém órfãs. A perda de sentimentos fora constante, Maya sempre tive muita dificuldade de não sentir, sempre era sentimental em relação a tudo e todos e, por isso, sofria mais do que qualquer criança naquele lugar. Era completamente difícil para ela ignorar as emoções, fossem elas boas ou não.

Desceu as escadas em silêncio e logo abriu a porta pronta para sair, fechando-a atrás de si e a medida em que as lembranças da Corporação iam em sua mente, as ligações recebidas também pairaram. A Corporação não estava completamente destruída e ainda estavam atrás dela, se sentia uma tola ao pensar que não iriam, que não existiam mais, que Ália era a única cabeça de toda a Corporação.

Seu celular tocou, não o pessoal, o da S.H.I.E.L.D. pegou-o em seu bolso e atendeu, a voz imponente de Fury, como de costume, se certificava se era realmente Maya e quando confirmava com um “Sim, Diretor Fury”, ele aceitava. Como se fosse a coisa mais simples do mundo.

Preciso da senhorita na Times Square.

— Times Square? – perguntou caminhando lentamente pela rua pouco iluminada – o que está havendo?

Estamos observando um dos suspeitos de terrorismo, ele pertence a HYDRA e foi visto, pela última vez, há meia hora atrás entrando em um prédio próximo à Times Square. Preciso de você em uma posição estratégica, junto com seus outros agentes, para o caso dele fugir.

— Fury – Maya fitava os postes pelos quais passava – eu entendo que isso seja de extrema importância, mas Peter precisa de mim.

Você está com ele?

— Não, mas preciso estar disponível caso ele precise.

Tem a minha permissão de sair da missão quando necessitar — ele pigarreou – como ele está?

— Arrasado – apenas respondeu esperando que Fury logo dissesse que desligaria o telefone.

Norman Osbourne foi encontrado morto com a roupa do Duende Verde mais cedo — ele dizia em um tom de voz diferente do comum – Peter esteve com ele?

— Sim – respondeu.

Resquícios de teia foram encontra...

— Peter não o matou – Maya respondeu de imediato compreendendo o que ele insinuava – ele tentou acertar Peter com o planador e ele desviou, mas o Duende foi mais lerdo.

Certo— ele então tornou a ordenar – Preciso de você o mais rápido possível no seu local...

Fury explicava o local onde deveria encontrar com outros agentes, as coordenadas e a posição que teria que ficar, mas ela o ignorei, seu celular estava chamando mais uma vez, o celular pessoal e antes de atender visualizei o número no visor, era um número privado, provavelmente o mesmo que havia me ligado nos dias anteriores.

Maya apenas olhou para frente de modo que se situasse de onde estava, mas então viu uma silhueta parada do outro lado da rua, apenas os poucos carros que passavam pela rua os separavam. Ele estava de um lado e eu do outro. Não sabia quem era, nunca o tinha visto em toda sua vida, mas ele a fitava com um sorriso em seus lábios enrugados, utilizava um sobretudo preto e um chapka da mesma cor, demostrava que era um cidadão russo e ela pude ter certeza de que ele era um quando o vi me fitando com seus olhos azuis.

Ele estava com um celular no ouvido e o meu ainda vibrava em minha mão esquerda.

O agente...

Fury – o interrompi – estou em perigo.