Ao longe e como se não estivesse ali Maya não estava entendendo nada. Sabia que não estava no conforto de casa, pois reconhecia a sua cama muito bem, e onde estava não era nem um pouco macia ou cheirosa. Sua visão não estava nítida e ela só conseguia enxergar uns borrões claros, como se luzes estivessem bem em cima de seus olhos.

— Ela está bem, senhor...

— Parker – ela ouviu a voz de Peter falar seu sobrenome.

— Senhor Parker – ele prosseguiu – teve leves ferimentos, porém, está em observação por causa da queda.

Ela forçou a vista de modo que enxergasse algo, sua visão estava voltando ao normal enquanto ela piscava os olhos inúmeras vezes, assim que mexeu seu corpo, já com a visão melhor, sentiu uma pontada na costela. A costela que Duende havia acertado tampando-a longe, antes mesmo de descobrir que ele era Norman Osbourne.

Maya então se lembrou de tudo. De todos os momentos, da briga, dos socos e a primeira coisa que queria era alertar Peter sobre quem realmente era o vilão daquela história, e pior, que queria acabar com a raça do aracnídeo.

— Peter – Maya disse com a voz mais fraca do que o imaginado.

— Maya! – ele foi rapidamente até ela com a cara de preocupado que ela tanto detestava.

— Olá, senhora Mase – o médico disse sorrindo – parece que está bem, como está a visão?

— Boa – ela respondeu cerrando os olhos – um pouco embaçada, mas boa.

— Como você se sente? – Peter perguntava debruçado na cama.

— Bem – ela deu um fraco sorriso – só com dores.

O médico me fitou – Você foi envenenada, inalou bastante veneno tóxico, mas conseguimos extraí-lo de você. Pelo menos o suficiente. Caso se sinta tonta, ou qualquer coisa é normal, certo?

Maya apenas balançou a cabeça.

— Vamos observá-la, e dependendo receberá alta ainda hoje.

— Obrigado – Peter agradeceu dando um pequeno sorriso.

O médico os deixou a sós e Peter selou seus lábios nos da garota, foi um beijo demorado, misturado com culpa e dor. Culpa da parte de Peter por não estar junto dela enquanto ela precisava, e dor pela parte de Maya por tê-lo deixado tão preocupado quanto transparecia.

— Como está Gwen? – Maya perguntou após o beijo.

— Ela tá bem – Peter respondeu e mudou de assunto rapidamente – e você? Como se sente?

— Minhas costelas doem – ela deu uma fraca risada – fora isso, nada mais.

Ele sentou ao lado dela na cama com um fraco sorriso – desculpa.

— Pelo o que? – Maya perguntou confusa.

— Por não estar com você quando precisou.

— Não se desculpe, foi minha escolha e meu descuido – ela sorriu tranquilizando-o – tenho algo muito importante pra te dizer, não acho que vá gostar muito.

— Do que? – ele perguntou sem um mísero sorriso.

— Eu sei quem é o Duende Verde.

— Duende Verde?

— As fotos e a informações sobre você... Foi por isso que voltei na Oscorp, para procurar pistas. Pensei que ninguém estaria por lá por causa do último incidente, mas então eu encontrei esse cara. Ele estava em cima de um planador, usava uma máscara horrível como se estivesse sorrindo o tempo todo.

— Por que foi tão imprudente, Maya?

— Não sei – ela respondeu fitando-o – algumas coisas não encaixavam e eu precisei ver por conta própria.

— E olha o que aconteceu – Peter segurou a mão de Maya com o aparelho ligado – não faça mais isso, ok?

— Não posso prometer – ela sorriu – Mas valeu a pena.

— Para quem?

— Para nós, as coisas se juntaram agora, Pete – ela fez uma breve pausa se corrigindo – quero dizer, mais ou menos.

— O que quer dizer com isso?

— Eu sei quem é o cara por trás da máscara.

— Quem?

Maya sentiu um bolo na garganta por ter que contar que, seu maior inimigo, era, na verdade, o pai de seu melhor amigo. Mas ela não podia manter essa informação escondida de Peter, já estava mais do que na hora dele saber de uma vez por todas.

— É Norman Osbourne – ela foi direta e ao fitar a cara pálida de Peter mudou o olhar de direção prosseguindo – o Duende Verde é o pai do seu melhor amigo, Pete. Eu sei, eu o vi quando caiu no chão e sua máscara se perdeu no meio do caminho.

Peter não disse nada, ainda ingeria as informações.

— Antes de jogar o veneno tóxico, eu... Eu vi seu rosto.

— E ele sabe quem eu sou?

— Sim – Maya respondeu – ele sabe tudo sobre você, sobre mim e Gwen. Ele quer tirar você do caminho dele, te fazer sofrer e por isso ele tem todos esses dados.

— Isso não pode ser verdade – ele disse tão inaudível quanto um sussurro.

— Sinto muito, Pete.

— Você... Você deve... Você foi envenenada – ele disse mentindo para si mesmo – você não deve estar muito sã... Eu...

— Pete – Maya disse calmamente segurando a mão do namorado – sinto muito.

— Eu só... – ele fez uma pausa e a fitou – não consigo acreditar.

Maya ficou em silêncio, e o abraçou omitindo a grande dor em suas costelas. O celular de Maya, que estava em cima da mesinha ao lado da cama, chamou indicando que alguém da S.H.I.E.L.D. gostaria de falar com ela. Peter pegou o celular e disse que era Fury. Perguntou se podia atender e Maya assentiu em silêncio. Peter colocou no viva-voz.

— Alô?!

— Agente Parker? – ele perguntou.

— Sim.

— Liguei para saber como a agente Mase está.

— Estou bem – ela disse – e descobri algo importante.

— Com a ordem de quem a senhorita invadiu a Oscorp?

— Minha – ela mesma respondeu – ninguém estava ciente.

— Espero que saiba que, por ser a líder de um grupo de ameaça alta isso não a torna chefe para tomar decisões, estúpidas e de alto risco, como esta.

— Certo, senhor – Maya respondeu olhando para Peter – tenho novidades...

— Parker – ele a interrompeu – os Vingadores precisam de você na Fifth Avenue.

— O quê? – Peter perguntou – estou ocupado, Fury.

— A cidade precisa de você.

E então desligou. Peter fitou Maya bufando e deixando o celular onde o tinha pego, a garota deu um fraco sorriso o tranquilizando de que podia ir, mas ele tentou de todas as maneiras dizer não. Ela queria, mais que tudo, que ele ficasse ali, com ela, mas seria egoísmo demais e ela já tinha sido egoísta o suficiente se aventurando sozinha pela Oscorp, então, não queria agir como uma garota mimada e egoísta mais uma vez.

— Precisam de você, Pete – ela disse dando um fraco sorriso – não se preocupe comigo, não posso ir a lugar algum mesmo.

— Não vou te deixar sozinha de novo – ele disse sério.

— Peter, você é um herói – ela disse lhe olhando nos olhos – estou bem, mas algumas pessoas simplesmente não estão... E elas, mais do que eu, precisam da sua ajuda.

Ele não disse nada.

— Por favor, Pete. Estou bem, se receber alta te aviso.

— Promete? – ele perguntou.

— Claro – ela sorriu.

— Fica bem, ok? – ele deu um fraco sorriso dando um beijo demorado na testa da namorada – e por favor, se for invadir algum lugar, me avise antes.

— Te mando uma mensagem de texto – ela soltou uma fraca risada.

— Certo, fico muito grato.

— Vá, Parker.

Ele a fitou com medo de deixa-la sozinha.

— Vá! – ela gritou rindo.

Ele deu uma fraca risada e seguiu seu caminho pelo corredor branco do hospital da S.H.I.E.L.D., Maya deitou na cama fitando a televisão desligada. Enfim tinha um mísero tempo para si, para colocar os pensamentos em ordem e tentar entender o que aconteceu. Mas antes mesmo que pudesse pensar em algo, alguém bateu a porta e ela virou apenas o rosto, sem muita excitação, para olhar quem estava vindo visita-la.

O loiro dos olhos claros estava parado a porta esperando um convite para entrar, ele estava com um arranhão acima da sobrancelha clara e trajava uma roupa diferente da qual todos estavam acostumados a vê-lo. E por mais inacreditável que fosse, tinha um fraco sorriso no rosto.

Maya ajeitou-se na cama ao ver que era ele, e mesmo de má vontade, querendo ficar sozinha com seus pensamentos, foi simpática fazendo de conta que estava feliz com a presença do colega de trabalho que mantinha as mãos para trás, como se estivesse segurando algo e escondendo da garota. E estava, mas antes tratou de perguntar:

— Como se sente?

— Com dores – ela disse sorrindo.

— Bem, pelo menos está acordada.

Ela apenas sorriu.

— Sei que me precipitei – ele disse tirando de trás das costas um buque simples de flores e colocou em cima da mesa um pouco sem graça – duvidei de você e voltei para o grupo apenas para ver se você realmente era confiável.

Maya apenas fitava o garoto que parecia sem graça de todos os seus atos, e ele estava, evitava olhá-la nos olhos e apenas prosseguiu.

— Eu a segui até as Indústrias Oscorp ontem a noite.

— Você o quê? – Maya perguntou o fitando.

— Estava desconfiado de você, e sinto muito por isso. Achei que você estava por trás disso tudo, afinal, você já foi uma traidora e não...

— Fui – ela disse irritada o interrompendo – passado, sabe? Não sou mais!

— Eu sei, eu sei – ele balançou a cabeça – desculpa por isso. Estava enganado sobre você. Enfim – ele disse a fitando pela primeira vez desde que chegou – entrei na Oscorp logo em seguida, fiquei te vigiando vendo você mexer nas gavetas e achei que fosse pegar algo de lá de dentro, algo seu que estava por lá, eu não sei! E então aquele Duende idiota apareceu por lá. E, por mais que estivesse óbvio, ainda sim quis acreditar, de qualquer modo, que você estava fazendo um certo “teatro” e que sabia que eu estava ali, escondido e te espionando, até que ele jogou alguma fumaça pelo local e você caiu desmaiada. Coloquei a máscara em meu rosto e fui salvar você, quando saímos da Oscorp você mal estava respirando e eu não sabia muito bem o que fazer, então te trouxe para cá – ele colocou as mãos nos bolsos da calça jeans – era o hospital mais próximo, que nem é tão próximo assim, a S.H.I.E.L.D. tem diversos destes hospitais fantasmas pela cidade. Mas enfim – ele bufou – sinto muito, tá legal? Vim aqui para me desculpar, para ver como está e, pra aceitar qualquer decisão sua, seja ela qual for.

— Não sou Fury – ela disse dando um fraco sorriso – nem conheço você direito, Kennedy, mas... – ela hesitou balançando a cabeça – você salvou minha vida, jamais te tiraria da equipe.

Ele deu um fraco sorriso – Certo... Valeu.

Ela apenas sorriu o fitando.

— Posso ficar? Quero saber se está tudo bem, e... Se você não se importar, é claro.

Ela assentiu, não tinha como dizer não, e por enquanto seria bom ter uma companhia.