Era uma dor física. Seu coração doía, se é que era possível. Os dias se arrastavam em um pesadelo, e Elisabeta se esforçava para seguir em frente. Não era possível que sofresse tanto pela partida dele. Não era racional, fugia de sua lógica, de sua independência. Mas doía, muito mais do que ela imaginava. E a sensação de que ninguém no mundo compreendia o que ela sentia era o pior de tudo.

Eles estavam felizes pela oportunidade de Darcy. Confiavam que logo o veriam, sorriam para ele e faziam planos para o Vale do Café. Até mesmo Veridiana, que era a mãe de Darcy, parecia lidar com tudo isso melhor do que Elisabeta. Será que ninguém percebia o quanto ele faria falta? O quanto seria doloroso saber que não o encontraria na rua, e que os jantares semanais não teriam a presença dele? Quem entre eles ponderaria as opiniões inflamadas de Ernesto, e até mesmo as dela?

Elisabeta apenas conseguia pensar nisso, nas últimas duas semanas. E toda vez sentia seu peito apertar, sua garganta fechar, uma vontade de chorar que era quase mais forte do que ela. Mas não podia fazer nada disso, porque Darcy estava seguindo seus sonhos, e ela faria exatamente o mesmo se estivesse no lugar dele. Então não era justo dividir aqueles sentimentos com ele. Não era justo fazê-lo sentir culpa por algo que não poderiam mudar.

Por isso ela sorriu para ele em todos os jantares, encontrou a voz para compartilhar os planos, e fingiu que a partida dele não era como uma tempestade devastadora se sua vida. Mas hoje, na última noite dele em São Paulo, Elisabeta não tinha forças para fazer nada disso. Estava apenas quieta, pensativa, e mal conseguia olhar para Darcy sem sentir os olhos marejarem.

E quase respirou de alívio quando Charlotte decidiu que também não queria mais fingir que não estava sofrendo e foi às lágrimas pela partida do irmão. Não porque gostava de vê-la sofrendo, mas porque finalmente parecia que alguém compreendia o quanto seria difícil não tê-lo por perto. Quando Charlotte refutou todos os argumentos sobre a distância ser pequena, alegando que era diferente quando ele estava ali todos os dias, Elisabeta quase se juntou à ela em suas lágrimas.

Darcy abraçou a irmã com todo o carinho que tinha. Acariciou seus cabelos e assegurou que tudo estava bem, que ele estaria ali sempre que precisassem dele. Mas Elisabeta notava a dúvida em suas palavras, e quando o olhar dele buscou o dela, por uma fração de segundo, foi como se vissem seus sentimentos refletidos. Ele estava indo embora, o carro o levaria nas primeiras horas da manhã, e não havia nada que pudessem fazer.

Antes que uma lágrima corresse por seu rosto, Elisabeta levantou-se, saindo pela porta da cozinha da casa dos Williamson. O ar frio bateu em seu rosto, e ela inspirou profundamente. Não podia desmoronar naquele momento. Havia ainda um jantar, sobremesa, um café ao final da refeição. Ela não poderia sumir do jantar de despedida de Darcy, e certamente nenhum de seus familiares entenderia se ela aparecesse com o rosto inchado de tanto chorar.

A porta se abriu, suavemente, e Elisabeta sentiu a presença dele antes de vê-lo. Uma lágrima escapou por seu rosto, e ela a limpou rapidamente, ferozmente. Respirou fundo, ainda sem olhar para ele, sem ter coragem de olhar para ele.

— Quando o exército me chamou... – a voz de Darcy invadiu seus pensamentos, suave, baixa. – eu fui sem olhar para trás. Eu sabia que não veria tanto a minha família, mas eu não sofri por ir embora.

Darcy se aproximou e Elisabeta deu um passo para trás, a parede batendo as suas costas. Ele chegou perto o suficiente para invadir o espaço dela, mas não para tocá-la. Elisabeta o encarou, finalmente, e seus olhos se encontraram na luz fraca que iluminava o lado de fora.

— Agora eu me sinto triste, miserável até. – Darcy deu um sorriso triste. – Eu só consigo pensar no quanto é doloroso deixar você.

Elisabeta levou as mãos ao rosto dele, e Darcy fechou os olhos ao seu toque. Ela acariciou cada traço dele, até suas mãos invadirem os cabelos de Darcy, o puxando para um pouco mais perto, um pouco mais para ela. Seus corpos se encontraram num contato familiar, e Darcy encostou a testa na dela, acariciou o nariz de Elisabeta com o seu.

— É muito difícil a ideia de não ter você aqui. – ela disse, em voz muito baixa.

— Eu queria poder ficar. – ele disse.

— Eu sei. – Elisabeta respondeu.

Os dois fecharam os olhos, sem conseguir trocar de posição. Darcy acariciou o rosto de Elisabeta, o nariz ainda acariciando o dela em movimentos lentos. Ela acariciava os cabelos dele, a outra mão descendo por seu peito. Queriam memorizar aquele momento. Quando ouviram a porta abrir, parte deles dizia que precisavam se afastar, que Veridiana e Ofélia jamais deixariam Darcy ir embora se houvesse uma pequena possibilidade dele ficar com Elisabeta, mas não conseguiram.

Elisabeta olhou para o lado levemente, sem se afastar dele. E se Cecília ficou surpresa com alguma coisa, foi discreta o suficiente para não deixar transparecer. Elisabeta sabia que suas irmãs desconfiavam de alguma coisa desde o dia de feira. E agora também não importava mais. O que havia acontecido estava prestes a ter um fim.

— O jantar está servido. – Cecília disse, em um sussurro.

Darcy deu um passo para trás, se afastando dela e assentindo para Cecília. Se pudesse escolher, ficaria ali. Guardaria aquele momento ao lado de Elisabeta. Escolheria qualquer momento ao lado dela. Cecília voltou para o interior da casa, e Elisabeta e Darcy trocaram um último olhar.

— A minha janela vai ficar aberta esta noite. – Elisabeta disse, em um impulso, antes de entrar na casa dos Williamson.

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Ela não esperava realmente que ele fosse aparecer, mas também não ficou surpresa quando foi despertada pelo afundar da cama ao seu lado. E em seu estado sonolento, apenas aproveitou quando os braços de Darcy passaram por ela, puxando-a para ele. Darcy beijou seu ombro, e logo a curva de seu pescoço.

— Você não deveria ter colocado essa camisola depois de me convidar pra dormir com você. – ele sussurrou, fazendo Elisabeta rir.

— Eu não achei que você viria. – ela disse, simplesmente.

— Por que? – Darcy fingiu espanto. – Que mal haveria o vizinho invadir o quarto de uma moça solteira e passar a noite com ela, com seus pais e suas irmãs em casa?

— Isso certamente não destruiria nenhuma reputação. – Elisabeta conteve uma risada.

E era bom. Fingir, por um momento, que aquela não era a última noite. Que Darcy não estava indo embora, que o dia não amanheceria diferente. Ela virou-se para ele, acariciando seu rosto. Desenhou seus traços com a ponta do indicador, e Darcy tentou morder seu dedo quando passou pela boca dele, fazendo-a sorrir.

— Você lembra quando acampávamos no quintal da minha avó, no Vale do Café? – ela perguntou, distraída com os detalhes do rosto dele.

— Eu lembro da quantidade de confusões que você e Ernesto conseguiam arrumar. – Darcy sorriu. – Inseparáveis.

— Você nunca gostou disso. – ela sorriu também.

— Vocês não me incluíam nas brincadeiras. – ele deu de ombros.

— Você era mandão. – Elisabeta ergueu a sobrancelha. – Responsável demais. Nunca queria participar das minhas aventuras.

— E olha só onde eu estou agora. – Darcy riu, gesticulando para o quarto dela.

— Mas agora eu tenho um jeito especial de convencer você. – ela sorriu, provocando-o.

— É mesmo? – Darcy se aproximou dela, seus lábios a centímetros dos dela. – E qual seria esse jeito especial?

Elisabeta se aproximou dele, apenas para afastar-se quando seus lábios se encontraram, com um sorriso. Então o empurrou um pouco, fazendo com que Darcy deitasse de costas. Sua cama era quase pequena demais para os dois, mas Elisabeta inclinou-se para ele, e empurrou de leve a cabeça de Darcy, para expor o pescoço dele. O beijou ali, onde a barba terminava, arrancando um suspiro baixo.

Elisabeta explorou seu pescoço, brincou com os botões de sua camisa, abrindo um deles quase sem que Darcy percebesse. Queria memorizar o gosto dele, o cheiro da pele de Darcy. Queria tocá-lo e ser tocada por ele. Mas quando Elisabeta tentou abrir outro botão, Darcy segurou sua mão, e girou por cima dela. Porque era perigoso deixar que ela o provocasse, quando tudo o que ele mais queria estava ali.

Mas a beijou com paixão assim mesmo, e como sempre, viu o controle se esvaindo aos poucos. Não resistiu a beijar o colo dela, e quando Elisabeta gemeu baixo em seu ouvido, Darcy deslizou uma alça da camisola pelo ombro dela. Seus lábios logo desceram para os seios dela, e Darcy mal se importava com os botões que ela insistia em abrir. E quando ela finalmente tentou tirar sua camisa, Darcy a ajudou a jogar a peça de lado.

Os beijos se tornaram cada vez mais ardentes, Elisabeta o explorava com suas mãos, e Darcy não conseguia resistir a fazer o mesmo. A camisola de Elisabeta já parecia apenas um punhado de tecido amontoado, praticamente em sua cintura, e Darcy agora explorava suas pernas. Era instintivo para ela abrir espaço para Darcy. Uma de suas pernas já estava dobrada, Darcy mantinha-se encaixado entre elas.

As mãos dela eram ousadas, como ele sabia que seriam. E não havia nada que ele quisesse mais do que deixa-la explorá-lo. Lembraria daquela noite para sempre. Nunca estivera tão excitado quanto naquele momento. Mas precisava impor limites, precisava se controlar.

— Isso é uma loucura. – ele sussurrou no ouvido dela.

Mas Elisabeta beijou seu pescoço e fez com que Darcy esquecesse novamente sua racionalidade. Continuaram entre toques e beijos, porém Elisabeta sabia que não poderia passar disso. Porque não haveria chance de recuperar seu coração se entregasse seu corpo à ele sem restrições. Quando estavam muito perto do limite, fizeram um esforço conjunto para parar. Arrumaram suas roupas e Elisabeta deitou no peito de Darcy.

Na manhã seguinte, quando ela acordou, apenas a chuva batia em sua janela. Darcy Williamson havia ido embora. E Elisabeta Benedito não sabia como seria sua vida sem ele.