Nessun Dorma

Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara


Sala de espera –


(Jared´s pov)


Aguardava ansiosamente pelo retorno da mãe de Bianca, a mulher já estava no quarto da namorada há muito tempo. Sua mãe, observava-o enquanto tentava acalmá-lo.



– Fique calmo filho, elas devem estar se acertando...há muitas coisas entre as duas que precisam ser ditas e esclarecidas. Dê esse tempo a elas



Suspirou profundamente rendendo-se as palavras da mãe. Constance tinha um incrível espírito apaziguador,sabia exatamente a hora e o momento certo de se expressar. Mais importante do que falar é saber como e quando as pessoas ouvem e, nesse quesito, a mãe possuía grande habilidade.

Não sabia dizer se isso devia-se a grande experiência de vida da mulher ou se era, simplesmente, algo inato a ela.


Sua atenção fora desviada para a frágil senhora que caminhava pelo corredor em sua direção sendo acompanhada pelo médico.



– E então? Será que agora eu posso vê-la? – indagou



Helena e o doutor permaneceram em silêncio fitando-o.



– Aconteceu alguma coisa?


– ...O senhor se lembra quando eu disse que a paciente poderia apresentar um quadro de confusão mental, Bem, no caso de Bianca houve um pequeno dano na área responsável pela memória recente e isso implica no esquecimento parcial ou total de acontecimentos de um certo período de tempo



A maneira como aquele médico falava o incomodava profundamente. Sinceramente, nunca conseguiu entender como profissionais tão importantes para sociedade podiam mostrar tanta indiferença para com o seu semelhante. No caso do doutor Hascobit, o homem expressava-se de tal forma que parecia que ele estava lindando com seus alunos de medicina enquanto falava de uma situação hipotética.



– Enquanto eu conversava com ela, percebi que a Bianca só se lembra de fatos que ocorreram até 2009, ou seja, ela ainda acredita que tem 20 anos e que mora em Londres



– Ela não iria me esquecer, tenho certeza que ela vai se lembrar de mim quando me ver. A confiança era nítida em sua voz



Helena olhou de relance para Constance, como se estivesse pedindo ajuda para a mulher. Talvez a mãe de Jared pudesse entender de forma clara a real situação do momento.



– Essa sequela tende a ser temporária, em questão de dias, ou no máximo, meses..ela recobrará todas as informações pertinentes a ela


– Eu preciso vê-la – pediu encarando o médico e, logo após, pousando os olhos em Helena



– Tudo bem, vamos – anunciou o médico enquanto virava-se em direção ao quarto da paciente sendo acompanhado pelos dois familiares


– Sejam breves, a jovem precisa descansar – sugeriu enquanto abria a porta para que os dois entrassem



Enquanto caminhava ao lado de Helena até o quarto de Bee, sentia uma expectativa crescente surgindo dentro de si. Depois de quase dois meses de plena agonia finalmente poderia ouvir a voz da namorada, vê-la sorrir e fitá-lo da maneira mais terna e gentil que sempre fizera.



– Sejam breves, a jovem precisa descansar. Ouviu o médico dizer enquanto lhes dava passagem, porém permanecia do lado de fora.



Entrou rapidamente, através de sua visão periférica percebeu sua sogra fechando a porta atrás de si. Sorrateiramente aproximou-se da cama da namorada.


A moça, que parecia entretida em seus próprios pensamentos, finalmente o encarou. Naquele momento sentiu-se totalmente vulnerável. Sempre se questionava em quantos sentimentos e emoçoes poderiam caber em um único e simples olhar .



– Oi Bee....- fora a única coisa que conseguira dizer. Sentou-se sobre a cama



A moça olhou-o questionadora enquanto franzia o cenho em sinal de confusão



– Bee?! – repetiu o que ele dissera. Deslocou seu olhar confuso para a mãe, que permanecia atrás dele em busca de explicação – O que Jared Leto está fazendo aqui? – perguntou



- Sou seu namorado – disse rapidamente como se fosse algo extremamente óbvio



Bianca voltou seus olhos novamente para Jared, que por sua vez encarava-a de forma que pudesse analisá-la plenamente.

É o olhar característico do amor que torna a pessoa sensível e atenta para perceber os sinais e demonstrações de afeto do outro, por mais pequenos que sejam ou que aparentemente assim o sejam, que fazem nascer no coração um fundamental sentido de reconhecimento, porém, para sua frustração nada conseguiu enxergar além de olhos vazios que antes eram completos por ternura. Através dos olhos de Bee conseguia enxergar, quase tudo, mas, naquele instante, não consegui ver absolutamente nada.