Ao entrar na loja me senti jogada em outra dimensão. Ela era enorme. E luxuosa. Se sua entrada já não tivesse me deslumbrado o bastante – as portas eram adornadas por um imenso toldo feito de cristais e pedrarias semelhantes -, o interior certamente o faria. Sendo todo revestido por vitrines espelhadas, seus produtos – todos feitos com algum tipo de material brilhante – pareciam quadruplicar de tamanho. Os inúmeros lustres pareciam brilhar mais que mil sois e até mesmo os empregados esbanjavam riqueza com seus uniformes por onde passavam. De repente me senti minúscula, com a minha blusa vermelha com o brasão da grifinória, meus jeans mais que surrados e meus coturnos, que com certeza já haviam tido dias melhores.

A julgar pela expressão facial da atendente que me olhou, ela pensava a mesma coisa.

Limpei a garganta. — Com licença, a senhora saberia me informar onde está esse vestido? — mostrei a foto no celular.

— É um... — voltou a me avaliar de cima a baixo — vestido muito caro.

— Bom, mas eu não perguntei o preço não é? Perguntei onde está. — já estava cansada de ser julgada por todos.

Ela me deu um sorriso falso, salpicado de raiva.

— Claro. Quinto andar, sessão de festas. Tenha uma boa compra.

Lancei-lhe meu melhor sorriso.

— Obrigada. Vou tentar desfrutá-la o máximo possível... Margaret. — li o nome em seu crachá, me dirigindo logo após as escadas rolantes.

A minha sorte foi que eu já conhecia o lugar. Sendo assim, foi fácil me deslocar até os vestidos de festa, e ainda mais fácil encontrar o vestido pedido. Após passar por um vestido curto de pedrarias e outro longo com uma enorme fenda, voi là. Lá estava ele.

Se fossemos parar para analisar e comparar com os demais, ele definitivamente seria o mais simples daquele lugar. Tendo decote médio em V sendo segurado por finas alcinhas, o vestido acabava na altura das cochas, sendo feito de veludo verde. Passando a mão pelo veludo, constatei que o mesmo era o tecido mais macio que eu já sentira na minha vida, e esbarrando na etiqueta, que era o mais caro também.

Sendo interrompida por um profundo pigarro, quase dei um pulo.

— Não tire ele do manequim lindinha. — disse um homem baixinho de terno e óculos. — você quer experimentá-lo?

— Uh, sim, por favor.

Diferente da outra atendente, quando ele me analisou não foi com asco, mas sim com um olhar crítico.

— Seios pequenos, estatura não tão alta assim, bumbum empinado... — ele pareceu murmurar. Eu já estava vermelha de vergonha. — Tamanho 36 certo lindinha? Fique aqui, já volto com o vestido e te levo pro elevador.

Olhando para a tela do celular, vi que o tempo estava curto – eu só tinha mais 2 minutos.

— Será que o senhor poderia se apressar. Eu to meio atrasada... pra um encontro... com o meu namorado. — acabei me enrolando.

Ele riu. — Como quiser lindinha. — saiu e logo voltou, me levando a um grande salão com vários espelhos e provadores. — Se você precisar de ajuda...

— Eu te chamo. — completei, vendo o tempo no celular e logo fechando a cortina em sua cara. 39 segundos. — Obrigada! — gritei.

Jogando o celular de qualquer jeito no chão me troquei em tempo recorde, tirando a calça jeans, a blusa e o meu sutiã após constatar que não seria possível vestir o vestido com o mesmo. Ficando apenas com a minha calcinha de bolinhas tratei logo de colocar a peça escolhida, calçando meus coturnos e saindo logo do provador, mostrando com a câmera frontal que estava vestida.

O tempo acabou, e a tela escureceu.

— Pronto, estou vestida. — dei alguns toques na tela, que continuou preta. Será que eu tinha quebrado ele ao jogá-lo no chão? Comecei a entrar em desespero. — Alô, tem alguém aí?

Quando eu já estava quase pra ter um ataque cardíaco, a tela se acendeu.

Parabéns @—Mi_1407, 14 galeões acabam de ser depositados em sua conta

Soltei um suspiro de alívio, só ai parando para me analisar quando percebi estar na frente de um espelho.

Fiquei sem fôlego. Pela primeira vez na vida me sentia deslumbrante. De alguma forma incompreensível o vestido havia adornado minhas poucas curvas, as tornando super visíveis para quem quisesse ver. Meus seios que sempre achei pequenos se encaixaram perfeitamente no decote, dando a impressão de serem muito maiores e minhas pernas morenas de alguma forma se alongaram, me fazendo parecer mais alta do que eu realmente era. Os cadarços do meu coturno, desamarrados pela falta de tempo, conseguiram deixar minha roupa mais descolada, e o meu cabelo... Pela primeira vez realmente tive orgulho do meu cabelo, que se encontrava desordenado, sem saber para onde ir. Eu estava me sentindo o máximo.

Rapidamente bagunçando-o ainda mais, comecei a fazer caras e bocas pro espelho, ora ou outra inventando conversar falsas ou cantando junto com a música ambiente. Pela primeira vez em muito tempo eu estava me divertindo de verdade, e o melhor: do meu jeito.

Olhos azuis oceânicos, — cantei — olhando nos meus, eu sinto como se eu fosse afundar, e me afogar e morrer...

— Não sabia que cantava Granger.

— O quê? — virei de supetão, tropeçando em uma cadeira e caindo no chão. Ai.

— Eu disse: não sabia que cantava Granger. — Malfoy estava encostado confortavelmente entre uma parede que ligada dois provadores, casualmente apontando a câmera pra mim enquanto tentava esconder um sorriso.

Revirei os olhos. — Que bom que eu te divirto Malfoy. Está me gravando há quanto tempo?

— Tempo suficiente. — ele se aproximou, me ajudando a levantar. — Tem uma bela voz.

— Há há. Já contou piadas melhores Malfoy.

— O que? — se fez de ofendido — Os observadores concordam comigo. — ele desviou os olhos do aparelho, dando de cara com os meus velhos coturnos, subindo o olhar aos poucos. Me senti repentinamente quente.

— Uau Granger... Você... Você ta... Linda.

Posso dizer que aquela foi a primeira vez que eu vi o Malfoy realmente embasbacado com algo. E admito que uma pequena parte de mim ficou radiante ao saber que eu era o motivo daquilo.

— Obrigada Malfoy. Você também não esta nada sexy. Quer dizer, mau. Isso. — apontei para o terno negro que ele usava, como se para mostrar meu ponto, logo antes de seu celular apitar.

Ele ainda me encarou alguns segundos com a sobrancelha arqueada e um sorrisinho sacana antes de ler a mensagem.

— Parece que os observadores realmente gostam de nós como um casal Granger.

— Sério? — ele assentiu. — Ok. E qual a nossa próxima tarefa? — peguei o meu celular no provador enquanto falava, o entregando para colocar no bolso do seu terno.

Ele, por sua vez, apontou a câmera pros meus sapatos. — O que você acha de completar o figurino?