Capítulo 16

Harry me parou a caminho da Torre.

— Mione, você sabe o que diabos está acontecendo? — deu uma mini corrida pra me alcançar. —Eu sai do salão por um momento e quando voltei tava uma loucura lá dentro.

E a sua brilhante idéia foi me seguir atrás de informações? Bufei.

— Eu e Gina acabamos Harry. Foi isso que aconteceu. — virei no próximo corredor, uma rodinha de umas vinte pessoas no meu encalço.

— Como assim Mione? E porque diabos você está de mãos dadas com o Malfoy? O mundo acabou e eu não fiquei sabendo?

— Estamos saindo. — esclareci, ao mesmo tempo em que Draco soltou:

— Há há, tão engraçado Potter.

— Espera, o que?

Pela minha visão periférica notei Draco conter um revirar de olhos.

— Últimas notícias Potter: a sua namorada é uma vadia invejosa e a minha garota está indo dar um chute na bunda dela.

— Espera, sua garota? E porque essa gente toda ta te seguindo?

— Porque fui desafiada a terminar o desafio da sua namorada. — informei o óbvio. Ele disse algo, mais sua fala foi perdida pelos murmúrios de excitação que se sucederam quando coloquei o primeiro pé nos degraus da Torre. Ainda ao meu lado, Draco apertou minha mão.

— Tem certeza disso Mione? — perguntou baixinho. — Potter pode ser um pé no saco, mas tem razão em achar isso perigoso pelo seu medo de altura. — ah, então foi isso que ele disse.

— Tá de brincadeira Draco? Eu pulei da porra do quarto andar de uma das lojas mais chiques de Londres pra ir direto pra London Eye por insistência sua. Acho que seu eu ainda tivesse medo de altura já estaria morta nesse exato momento.

Ele me puxou. — Espera, então você está dizendo que perdeu seu medo de altura?

— Não. Estou dizendo que ele virou apenas um pequeno receio. — soltei nossas mãos, clicando na opção “sim” no celular, ao mesmo tempo em que finalmente se acabavam os degraus.

Segui pro meio da sala, levemente arfante, pronta para ser recebida pelo ar frio da noite. O céu já se encontrava totalmente escuro — provavelmente já era madrugada — e a brisa fresca passou a me dar calafrios alguns segundos depois. Se era de medo ou pela baixa temperatura, ai já não sabia.

Os alunos que me seguiram começaram a se acomodar por ali mesmo, ligando seus celulares e apontando as câmeras pra mim. Harry que havia ficado atrás só tinha conseguido nos alcançar agora, parecendo estar tendo uma pequena discussão com Gina, que por algum motivo inexplicável pra mim, havia nos seguido.

Passando minhas mãos suadas pelo vestido, me aproximei do parapeito. Draco me seguiu.

— Essa é uma boa hora pra agradecer pelos seus sapatos, certo? — indicou-os com os pés. — Não tenho tanta certeza se você conseguiria escalar tão bem de saltos.

Acabei rindo, feliz por ele conseguir aliviar um pouco da minha tensão.

— Obrigada. — ele me lançou um lindo sorriso.

— Você está pronta?

Ao meu aceno, todos começaram a gritar, tirando Gina que ficou irritada me encarando e Harry, que também não parecia muito feliz. Mesmo assim, lhe lancei um balanço de cabeça.

Começando a pular o parapeito com certa dificuldade pelo vestido, algo me ocorreu.

— Espera, como eu vou descer? Quer dizer, não tem nada falando disso aqui.

— Temos vassouras! — alguém gritou. — Te pegaremos... quer dizer... Malfoy te pegara assim que avisarem que o desafio acabou. — mudou a frase com o olhar afiado do loiro. — Vai nessa Mione!

Mione? Mas eu nem te conheço! Uma roda de gritos e aplausos começou.

— Ok, então. — já estava do outro lado do parapeito. Lembrando do que o cara havia dito, tentei posicionar meu celular em algum lugar confortável e que me permitisse uma fácil locomoção. Acabou sendo entre meus seios, com um leve feitiço de fixação incluído. — E que Merlin me proteja. — murmurei, começando a me deslocar para o lado, me agarrando nas pedras disformes da construção.

Eu sabia o que estava fazendo e o que estava em jogo, logo fiz uma pequena lista mental do que fazer enquanto subia as escadas. A número 1 era não olhar para baixo. Já tinha visto uma quantidade razoável de filmes para saber que isso nunca terminava bem.

A próxima era mais um alerta: ver onde você pisa, não deixar suas mãos escorregarem em hipótese alguma. O que era meio difícil, já que meu leve receio decidiu se amostrar em forma de suor. Mas mesmo assim fui firme, falando pra mim mesma que aquilo logo acabaria.

A 3ª e a 4ª eram mais simples: não se distraia, e não deixe o medo te dominar, respectivamente. A última estava mais difícil de seguir, mas mesmo assim fui firme, e minutos depois, quando eu já sentia um leve traço de suor escorrendo pela minha testa e costas, finalmente consegui alcançar o final da Torre, fazendo gritos soarem abaixo de mim.

Draco apareceu ao meu lado segundo depois, e com um beijo digno de cinema — ele ainda na vassoura, eu ainda meio apoiada meio sentada no telhado — ele me encarou e disse:

— Você conseguiu!

E eu concordei.

— Sim, eu consegui!

Já de volta a torre, fui cumprimentada por muitos — Draco me contou que a multidão havia aumentado quando descobriram quem estava sendo desafiado —, recebendo desde sorrisos a pequenos tapinhas nas costas, quando algumas garotas se moveram o suficiente para eu encontrar Gina me encarando.

Não sei o que aconteceu, quanto tempo se passou, mas ali, olhando o rosto meio chocado, assustado e raivoso de Gina eu soube: havíamos ultrapassado fina barreira que definia nossa amizade, e eu não sabia se conseguiríamos nos reconciliar como das outras vezes. E naquele momento, com Draco apoiando as mãos em minhas costas, eu senti medo. Medo do que viria do nosso rompimento, do meu recém relacionamento com Draco, do jogo. Principalmente do jogo.

Desafio completado

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