NeoSquad

A Serpente da Traição


Pode nos levar, mas antes me dê o real motivo de vocês dois se darem tão bem no mesmo corpo. Me dê a Gema da Harmonia.

Heliode e Dimir entraram em desespero conjuntamente e o portal visual se desfez. Um culpou o outro por deixar os estrangeiros descobrirem a verdade, mas nenhum dos dois conseguia tomar controle completo do corpo. No teto da sala, uma esmeralda do tamanho de uma mão humana pendia do teto e Shadow já escalava para pegá-la. O sumo-sacerdote dos dois deuses tentou tomar uma providência, mas já era tarde.

Shadow tirou a joia e jogou para Doc, que já estava com a esfera preparada para receber a primeira gema. A máquina acoplou a pedra e reconheceu a essência dos dois deuses.

Vocês venceram, mas nosso reino não será colonizado como os outros Heliode e Dimir gritaram em uníssono enquanto fugiam do Palácio da Ordem.

Aegis pegou o disco de Doc e evocou portais. Duas portas quadradas luminosas surgiram em volta deles.

Rápido, cada um abra uma.

Shadow e Doc correram em direção a uma porta, cada um e puxaram as maçanetas. Os primeiros a entrar no salão foram os Solari, acompanhados de Alec e logo depois veio Leo, pela outra porta.

Ryer era o melhor dos três, mas aparentava cansaço extremo. Kurt estava com o corpo todo cortado, suado e sujo de lama. Uma boa parte de sua armadura se quebrou em combate e Alec estava completamente ensopado de água negra e fedorenta. Por um momento, todos entenderam o ódio de Oceano pelos mortais. Do outro lado, Leo estava triste.

Conseguiram as pedras? Doc perguntou aos solari.

Alec jogou as pedras de Oceano e Megalokk para a esfera e se deitou no chão. Ryer foi mais perto para colocar as gemas de Wynlla, Azgher e Tenebra.

Olha, tivemos que combater com Megalokk, enquanto convencíamos Oceano a nos dar a pedra e depois ainda precisamos fazer com que dia e noite trabalhassem juntos. Me senti como se tivesse que restaurar o equilíbrio das estrelas. A mais fácil mesmo foi Wynlla reclamou Alec.

Vocês não foram piores do que eu. Peguei a gema da vida no hospital e depois fui atrás de Valkaria, Tannah-Toh e Hynnin. Não sei por que caralhos vocês mandaram o único que não é humano para lidar com a deusa da humanidade e um guerreiro que só sabe bater para falar com a deusa da sabedoria e do conhecimento. E Hynnin foi o pior de todos. Eu fui obrigado a brincar de esconde-esconde com o deus dos ladrões para me provar merecedor bufou o minotauro . Tomem aqui essas gemas malditas.

Shadow analisou todas.

Falta a Gema da Coragem.

Mas que merda! O que a gente vai fazer agora? Doc se desesperou.

Calma, ela está bem aqui Leo virou seu machado de batalha e todos puderam ver o rubi vermelho sangue perfeitamente posicionado entre as duas lâminas do machado duplo, logo acima da haste que sustentava o aço cortante.

Com um único puxão, ele tirou a pedra e ajudou a colocar todas as joias na máquina.

Ótimo, agora é só ligar a máquina e ela deve nos mostrar a localização de Sszzaas. Preciso dizer que esta máquina pode não funcionar como esperamos. Ela nunca foi testada e não sabemos que tipo de coisas podem acontecer quando eu iniciar o processamento das gemas. Todos prontos? Perguntou Doc.

Todos os que haviam entrado pelas portas conjuradas de Aegis demoraram bastante para digerir a informação que o doutor havia acabado de dar. Tudo poderia dar errado se aquela invenção não funcionasse. Não eram só eles que dependiam dela, eram todos os seres de Arton.

Ryer foi mais para perto da esfera, como se quisesse ver algo que nunca poderia, por ser cego. Alec trocava suas roupas negras e encharcadas por novas roupas secas, mas não demorou muito para estar pronto também. Kurt consolava Leo por ter que se desfazer do rubi que seu avô havia lhe dado, enquanto Shadow e Aegis discutiam com Doc sobre o risco de algo dar errado com a invenção experimental do cientista.

Quando finalmente todos se mostraram preparados para qualquer imprevisto que pudesse surgir, Doc colocou a esfera no chão, no centro do salão, e se ajoelhou para operar a máquina. Em volta, a expectativa de todos aumentava conforme o tempo passava e a tensão no ar era quase palpável.

Pronto. Só preciso apertar mais um botão declarou o cientista.

Então faça isso e saia de perto dessa coisa disse Leo.

Que rolem os dados.

Quem disse isso? Kurt se assustou. Foi Nimb?

Não, foi o Narrador explicou Shadow. E acredite, você não vai querer saber o que aconteceu com Nimb.

Aperta logo essa porra desse botão! Gritou Alec ansioso.

Foi o que Doc fez. Assim que o processamento se iniciou, a esfera pareceu se deformar e o cientista fez o que pôde para sair de perto o mais rápido possível. Não tardou para que a máquina se deformasse completamente. Ao ver o desespero no rosto de seus amigos, Doc sentiu necessidade de explicar o que ocorria naquele momento.

Não se assustem. Essa máquina precisa quebrar as Gemas da Virtude e absorver suas essências para que possa nos dizer onde está a Traição. O problema é que essas joias guardam muita energia, então quando elas se quebram, o que é liberado causa impactos, calor e frequentemente explosões. A esfera aguenta a energia, mas para absorver os choques, precisa se deformar. É esperado.

Logo após terminar a explicação, todos se acalmaram e pouco a pouco perceberam quais esferas eram quebradas. Sentiram o cheiro da pura brisa marinha que seus filhos jamais sentiriam e que eles mesmos se esqueceriam com o tempo quando a Gema das Ondas foi quebrada. Sentiram o calor dos raios solares e o abraço do frio noturno que a cúpula climática de Arton jamais seria capaz de reproduzir vindos da Gema do Sol e da Gema das Estrelas. Sentiram o solo primitivo e a natureza selvagem dos monstros que habitavam Arton, bem antes das raças novas, gerados pela Gema dos Monstros. Sentiram a fluidez dos rios invisíveis de magia que percorriam aquela terra até pouco tempo quando a máquina quebrou a Gema dos Elementos. Foram capazes de se sentirem mais do que furtivos quando a Gema da Invisibilidade se quebrou e não se sentiram menos do que sábios, corajosos e persistentes quando as gemas do Conhecimento, da Coragem e da Ambição libertaram suas essências. A última pedra a ser processada não atingiu o grupo com força, como as outras haviam feito, explodindo em energia arcana e espiritual, mas sim liberando suavemente sua essência como que para completar as lacunas que haviam ficado em branco. A última pedra, resultante da união inexplicável entre ordem e caos trouxe para o grupo aquilo que seu nome prometia: Harmonia.

Eles só perceberam que estavam de olhos fechados depois que tiveram que abri-los e quando viram o que havia acontecido com a sala, suas bocas se abriram, mas nenhum som foi ouvido. Eles estavam distribuídos pela sala, mas as paredes que os cercavam não existiam mais. Tudo o que eles podiam ver era a cortina de escuridão que pendia ao redor deles. Sobre seus pés, um mapa, não, uma visão real de Arton em seus primórdios. Com monstros gigantes vistos em miniatura andando em duas dimensões por aquela terra inexplorada. Viram a estátua de Valkaria que marcava o local onde seu corpo divino jazia aprisionado pela sua participação na Revolta dos Três. Viram os labirintos de Tapista, a líder dos dragões brancos, Beluhga, no topo das Montanhas Uivantes e viram os primórdios vulcânicos da ilha de Tamu-ra, a leste das Montanhas Sanguinárias. Acima deles, o teto abobadado se dividia entre o brilho frio e estático das estrelas da noite e o calor alaranjado da face do Deus-Sol que iluminava todo o Arton fielmente todos os dias desde bem antes da cúpula climática existir.

Err... Gente, é melhor vocês olharem para a máquina.

Quando todos se viraram para olhar, a esfera metalizada pareceu líquida ao crescer pouco a pouco e se moldar gradativamente na figura de um ser humano. Quando a forma humana estava definida, o metal do qual a máquina era feita escorreu como água e reassumiu a forma sólida e esférica que tinha antes, mas deixou para trás uma humana, uma garota extremamente linda de olhos verdes e cabelos longos e lisos castanho claros. Nem farta, nem desprovida, a visão da humana nua agradou a todos naquele salão místico recheado de homens, mas nenhum deles ousou se aproximar. Ao invés disso, prepararam-se para o que quer que pudesse acontecer.

Doc, acho que sua máquina falhou disse Alec. Ao invés de um mapa, ela nos trouxe essa garota. Não que eu esteja reclamando, acho até que ela trouxe algo melhor, mas a galera de Arton não vai gostar muito disso.

Alguém dê uma roupa para essa garota, ela deve estar com frio disse Shadow.

O cientista tirou o jaleco que estava usando e foi andando debilmente em direção a garota que não havia se pronunciado ainda. Conforme ele chegava perto, a expressão de serenidade que surgira no rosto dela ia aumentando. Ela estendeu a mão para pegar a roupa que lhe era oferecida e só então Doc pôde ver escamas reptilianas cobrindo a pele da parte interna dos braços dela, mas já era tarde demais. A visão dele foi instantaneamente tomada por um brilho branco azulado que o fez pensar que tinha morrido, mas então reconheceu aquela cor e se lembrou do que guardava no jaleco que estava prestes a emprestar para o inimigo, numa atitude ingenuamente mortal.

O disco com a tecnologia Crix era a fonte do brilho e, de longe, o resto do grupo pôde ver a arma se tornando um rastro de luz e trespassando o braço esquerdo da garota como se não fosse mais do que ar. Eles pensaram em correr para ajudar, mas o grito que saiu da garganta da garota não condizia com seu corpo. Uma voz gutural, grave e potente, uma voz que estava acostumada a sibilar. De dentro de suas cabeças, uma voz metálica feminina pôde ser ouvida.

Sempre se deve duvidar de tudo que venha de Sszzaas. Ele não ganhou o título de Deus da Traição atoa.

Narrador? Alec perguntou, tentando identificar a voz.

Não fui eu! Seja lá quem for, pare de roubar meu espaço! Até meu itálico ela decidiu usar! Que absurdo!

JÁ CHEGA! A figura da garota havia caído no chão e assim como uma serpente troca de pele, Sszzaas se revelava de dentro do corpo de um de seus avatares.

Do sangue que escorria pelo corte no ombro que fizera o braço da garota voar, a cabeça de uma serpente começara a sair. Quanto mais forçava, maior parecia, até que se tornou maior do que a pele da qual tentava sair e estourou o corpo, espirrando sangue e fazendo voar pedaços de carne daquela linda garota para todos os lados. Suas escamas rosadas ainda estavam ensopadas de sangue quando a serpente abriu sua boca pela primeira vez em direção ao grupo que já havia recuperado a visão, mas ainda se encontrava paralisado por causa da imagem que o deus lhes dava.

Crix havia voltado para a mão de Doc enquanto os três pares de olhos de Sszzaas pareciam petrificar os sete que estavam ali para enfrentá-lo. Ninguém ousava se mover, mas no fundo sabiam que isso lhes custaria a vida

Um trovão foi ouvido juntamente com a voz de Ryer.

Não sei o que estão vendo, mas sei que é o que temos que matar! Não estamos aqui para morrer, estamos?

Não, irmão, não estamos a voz de Kurt surgiu como um sussurro, mas foi ouvida até mesmo pelo deus, enquanto as escamas draconianas do comandante do governo começavam a pegar fogo. Estamos aqui pelo nosso povo... estamos aqui pela nossa terra... estamos aqui pela vida!

PELA VIDA! Todos acompanharam o grito de guerra e se puseram a atacar.

Ryer fez raios caírem sobre as escamas de Sszzaas vindos de todas as direções e penetrando em sua carne como um furioso ataque de vespas, mas o deus parecia não sentir. Kurt golpeava furiosamente com os punhos em chamas a mandíbula da serpente, tentando impossibilitar alguma mordida, enquanto Leo arremessou seu machado pesado entre os pares de olhos do deus, fazendo-o gritar de dor.

Eu dou suporte! Gritou Doc, enquanto Shadow girava pelo ar com seu cutelo, fazendo cortes profundos na lateral do corpo escamoso e Alec assumia seu corpo elétrico e entrava no anel mágico de Ryer para amplificar o dano causado por suas magias destrutivas.

A serpente, por sua vez, girou sua cauda e arremessou os três guerreiros que estavam sobre ela para longe e Ryer teve que conjurar uma plataforma de ar para que eles não fossem de encontro às cortinas mágicas de escuridão. Ninguém saberia dizer o que aconteceria se alguém caísse lá. Depois, Sszzaas aproveitou a brecha para pronunciar palavras que, todos sabiam, eram mais antigas do que a própria energia arcana.

Enquanto as palavras eram pronunciadas, os monstros que caminhavam livres na imagem de Arton que pairava por baixo deles se transformaram em serpentes de dois metros de comprimento e saíram do chão como se a barreira dimensional não existisse. O Corruptor diminuiu seu próprio corpo e se camuflou entre as mais de duzentas serpentes que acabara conjurar.

Qual será que sou eu? Será que mudei de cor? Será que sou venenoso? Será que vou matar alguém? O riso macabro da serpente que vinha da massa de cobras conjuradas gelou o sangue de todos. Nimb estaria se divertindo tanto.

Gelou o sangue de todos. Mas nada que o fogo não pudesse esquentar novamente.

Kurt concentrou suas chamas em um único ponto de seu punho e olhou para seu irmão, esperando uma resposta.

Agora! Disse o mago.

Enquanto Ryer erguia uma enorme camada de ar que isolava o grupo das serpentes, deixando todos a cerca de um metro do solo, seu irmão socou o chão e, do ponto onde havia concentrado suas chamas, uma enorme quantidade de energia foi liberada e um tapete de fogo se estendeu para todas as direções abaixo deles.

Silvos peçonhentos foram ouvidos de todas as cobras, conforme o fogo avançava e os répteis asquerosos se queimavam. Algumas tentavam se lançar para o alto e escapar do fogo, mas Shadow e Leo eram ágeis em partir em dois ou três pedaços as que ousavam não queimar.

Não! O que vocês estão fazendo com meus filhotes? Gritou o deus em desespero. Vocês vão pagar por isso.

Atrás de Aegis, uma sombra gigantesca se ergueu tão rapidamente que tudo que Ryer conseguiu fazer foi gritar CUIDADO antes que o bote fosse dado.

Felizmente, Doc conseguiu ser mais rápido do que o mago.

O cientista arremessou o disco em direção ao deus e todos taparam os ouvidos quando Sszzaas gritou de dor provocada pelo corte horizontal causado pelo disco que havia partido a serpente ao meio. Todos se lembrariam daquele grito e da visão da lâmina circular de luz com quase dois metros de diâmetro que o disco havia criado. Ninguém jamais se esqueceria da quantidade de sangue negro que jorrou da serpente e nem da sensação quando perceberam que sua missão havia sido cumprida.

****

Porque me conta essa história, pai? Perguntou o androide, no laboratório do doutor Isaac.

Para que você entenda, Crix, que a traição sempre existiu para corromper as raças o cientista ajeitou seus óculos redondos e continuou , mas recentemente nos vimos livres dela. No nosso mundo se honra, paz, segundas chances e quase sem vida, só precisamos de confiança para que o mundo se recupere com o tempo. Há poucos anos, os problemas da humanidade eram bem maiores do que são agora, mas algumas pessoas resolveram isso para nós.

Quem são essas pessoas? Perguntou curioso o androide.

Isso não importa. Estamos no futuro, filho, e não há heróis no futuro.

Mas histórias ainda são contadas, Isaac. O que eles fizeram para resolver os problemas da humanidade como se fosse algo tão simples?

Isso é uma outra longa história. Por enquanto, basta dizer que os heróis não existem no futuro, mas ainda vivem no presente. Não é preciso mais do que determinação e honra para se tornar um virou-se para seu assistente. Não é mesmo, Nikola?

Claro que é, Doc respondeu o garoto.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.