Nemunoki

Capítulo 2: Koraeru – Espera



Beta: Rê-chan (TenTen_san): http://fanfiction.nyah.com.br/tenten_san

~~~~oooo~~~~


2. Koraeru – Espera

O trabalho não rendia. O coração apertava. E, por maior que fosse a beleza à minha volta, eu ansiava apenas pelos olhos dela. Era tudo que eu precisava. E tudo o que me faltava. Desde que começamos a namorar e fomos morar juntos, esse tinha sido o maior espaço de tampo que ficamos um sem o outro. Era natural sentir falta... Dos beijos, do cheiro, das carícias... Do coração dela batendo junto ao meu. Da sensação única que é acordar ao lado daquela mulher magnífica todas as manhãs. Realmente... Saudade é um sentimento dolorido.

“Life is a waterfall,
we're one in the river,
and one again after the fall.
Swimming through the void
we hear the word,
We lose ourselves,
but we find it all

A vida é uma cachoeira
Nós somos um no rio
E um novamente depois da queda
Nadando através do vazio,
Nós escutamos a palavra,
Nós nos perdemos

Mas encontramos tudo?”

– Nagato? – a voz de um dos meus colegas pesquisadores, Aburame Shino, me trouxe de volta ao convés do navio – Você não tá mais agüentando de saudade de casa, não?

– Tão óbvio assim?

– Pra quem te conhece...

– Yare, Shino! – exclamei, passando a mão por meus cabelos – Eu amo o mar. Sempre amei, não duvide disso.

– Eu não duvido – ele respondeu sem perder a calma – Mas você também ama Konan, e é um tolo por estar aqui ao invés de estar lá em Tokyo paparicando-a.

– Sei disso... – suspirei ainda mais inconformado – Mas tanto eu quanto ela escolhemos esses empregos... A gente sabia que não poderia estar junto todo o tempo.

– Cara – Shino segurou meus ombros, virando-me de frente para ele – Amar é fazer concessões. Tá mais do que na hora de você se tocar disso.

Oks, depois dessa, meu queixo simplesmente ignorou uma coisinha chamada ‘Lei da Gravidade’.

– Desde quando você é o romântico de plantão? – juro que tentei segurar, mas a maldita curiosidade é mais forte.

– Vamos dizer que eu sei bem o que é ficar longe de quem se ama – o olhar dele voltou a se perder no horizonte e os braços abandonaram meus ombros e deixaram-se estar apoiados na barra de ferro, numa certa moleza – A diferença é que eu percebi tarde demais e acabei perdendo o que realmente valia a pena. Não cometa o mesmo erro que eu Nagato.

“Cause we are the ones that wanna play,
always wanna go,
but you never wanna stay,
we are the ones that wanna choose,
always wanna play,
but you never wanna lose.

Porque somos aqueles que querem jogar,
Sempre querem ir,
Mas você nunca quer ficar
Nós somos aqueles que querem escolher,
Sempre querem jogar,

Mas você nunca quer perder”

Esperei que ele dissesse mais alguma coisa, mas ele se calou. Voltei a encarar o mar naquela manhã. A gente conhece tão pouco das pessoas à nossa volta.

– Em todo o caso – ele começou depois de um tempo – Já que o baka que eu chamo de amigo ama tanto assim o mar – tudo bem. Ele ter frisado o baka eu vou deixar passar – Não vai se importar em passar o dia catalogando e testando aqueles venenos dos ouriços que analisamos ontem, não?

– Tava demorando pra voltar ao normal... – sorri e recebi uma gargalhada marota em resposta – Você tem que me avisar quando tem essas crises de dor de cotovelo, ou vou acabar pensando que é algum espírito que você incorpora.

– Nossa... Suas piadas tão piores a cada dia. Desse jeito a pobre da Konan vai precisar de mais do que paciência pra aturar seu mau humor.

– Confessa que morre de inveja da minha sorte – provoquei, cutucando-lhe as costelas.

– Não só confesso, como já te disse e vou repetir: pise na bola com a Konan e eu serei eternamente grato por me dar a chance de consolá-la!

– Ora seu traidor! – berrei, agarrando sua cabeça numa chave de braço e bagunçando os cabelos – Nem pense numa bobagem dessas! – soltei-o e começamos a rir juntos – Depois da batalha que foi convencê-la de que eu não sou um baka qualquer, mas um baka de respeito – ele quase chorou de tanto gargalhar – Eu só perco minha joou no dia que o Pacífico abrir no meio e a gente chegar na Fossa das Marianas[1] sem precisar de oxigênio!

“Aerials, in the sky,
when you lose small mind,
you free your life.

Antenas, no céu
Quando você perde a mente limitada,
Você liberta sua vida”


– Owww... – ele ergueu os braços dando-se por vencido – Tá certo ‘Dr. Fossa das Marianas secas’ – ri alto ao imaginar uma baboseira dessas – Agora anda, anda que a gente tem muita coisa pra catalogar e eu não quero perder um dia bonito como esse enfurnado na sala de pesquisas ao invés de nadar com os golfinhos.

– Nadar com os golfinhos? Desde quando você é tão alegrinho, hein, Shino-kun?

– Força de expressão seu mente poluída! – estapeou minha cabeça de leve – Mas umas sereias bem que viria a calhar...

– Então vai ter que procurar sozinho, meu chapa – informei, dando-lhe leves tapinhas nas costas – A patroa já me disse pra ficar longe das possíveis sereias.

– Claro! Você vai pra cama com uma deusa todas as noites, pra que vai querer uma sereia? Deixa de ser guloso, homem!

– Agradeço pela parte do deusa... Konan ia amar ouvir isso... Não de você, obviamente.

– Tá bem, entendi o recado seu grande ciumento. Agora vamos logo.

Abanei a cabeça e passei a segui-lo para o interior do navio. Não sem antes olhar novamente a bela manhã que subia no horizonte. Seria bom se ela pudesse estar aqui agora...

“Life is a waterfall,
we drink from the river,
then we turn around, put up our walls.
Swimming through the void
we hear the word,
We loose ourselves,
but we find it all

A vida é uma cachoeira
Nós bebemos do rio
Depois nos viramos e estabelecemos nossas barreiras
Nadando através do vazio,
Nos escutamos a palavra,
Nós nos perdemos

Mas encontramos tudo?”

Entardecia e, mesmo exausto, as horas pareciam não querer passar. Daria tudo por um pouco de terra firme agora...

– Não vai jantar? – a voz sonolenta de Shino adentrando a cabine com um prato de qualquer coisa nas mãos era bem irritante quando queria.

– Tô sem fome – respondi de mau humor, voltando a me concentrar no pedaço de relatório que havia produzido desde que ele saíra.

– E eu que pensei que seu humor não podia piorar...

– Pára de encher Shino!

– Ei! Vai com calma sr. estressado! – ele sorria, divertindo-se com a minha irritação habitual de fim de tarde – Vai com calma eu não digo a novidade...

– Novidade? – incrível como a minha vontade de esganá-lo desapareceu diante da palavra ‘novidade’ – Acho bom ser algo realmente novo... Dá última vez foi um pedaço do casco de um navio...

– É, eu me lembro. Você fez questão de parti-lo na minha testa.

– Vai falar logo, ou eu posso partir a sua cara de uma vez? Pouparia tempo...

– Pesquisadores... – ele bufou enquanto se sentava num dos banquinhos à volta da mesa e garfava o que parecia um pedaço de pepino em conserva. Tratando-se do Shino, aquilo bem que podia ser uma espécie de alga, ou qualquer outro ser vivo com tamanho o suficiente para, cozido, encher o estômago dele – Sempre tão tensos e chatos que nunca agradecem as bênçãos que recebem da mãe natureza...

“Cause we are the ones that wanna play,
always wanna go,
but you never wanna stay,
we are the ones that wanna choose,
always wanna play,
but you never wanna lose.

Porque somos aqueles que querem jogar,
Sempre querem ir,
Mas você nunca quer ficar
Nós somos aqueles que querem escolher,
Sempre querem jogar,

Mas você nunca quer perder”

– Se tá falando desse seu ‘jantar’, já disse que dispenso.

– Não. Não estou falando do meu jantar. Mas da tempestade que vem por aí e fez o capitão alterar a rota.

– Como assim? Pra onde estamos indo?

– De volta à Tonwsville[2]... E, antes que pergunte, não é a casa das Meninas Super-Poderosas. É a Tonwsville que deixamos anteontem pra ir até a Barreira.

– Baka – limitei a resposta diante da piadinha nada engraçada. Tempestade? Ótimo... Uma tempestade em pleno Pacífico Sul era tudo que eu precisava.

– Essa tempestade vai deixar o mar agitado por uns dias... – ele continuou a comentar – Talvez seja melhor voltarmos para casa e voltar quando for o clima for mais propício...

– Tá me dizendo que vamos ter que ficar uns dias em terra?

– Baka! – um pedaço daquilo que eu achava ser pepino em conserva voou na minha direção, me atingindo no meio da testa. Graças à Kami, era pepino em conserva – O que eu estou querendo dizer é: use isso que você chama de cérebro uma vez na vida e apanhe uma febre tropical ou uma dor de barriga tão grande que o diretor ache melhor te mandar de volta pra Tokyo a ter de te aturar no navio por mais trinta dias. Juro que se tiver que suportar sua abstinência sexual por mais um mês, eu peço demissão! – ele bradou, me olhando de um jeito maroto.

“Aerials, in the sky,
when you lose small mind,
you free your life.

Antenas, no céu
Quando você perde a mente limitada,
Você liberta sua vida”


– Sabe Shino... Até que você não é tão burro...

– Céus! Esse pobre homem não tem mesmo um espelho em casa! – caímos na risada – Vai arrumar suas coisas, mais umas horas e, se dermos sorte de conseguir fugir da tempestade, amanhã mesmo você pode pegar um carro até Sidney e um vôo pra Tokyo em seguida.

– Você não vai?

– E deixar as australianas sem provar das delícias nipônicas? Não sou tão malvado assim...

– Tô vendo que a nossa reputação vai ser arruinada depois dessa... – escapuli da cabine antes que outro pedaço de pepino-mutante-voador resolvesse me atacar.

Tokyo. Casa. Konan. Três palavras que faziam meu mau humor sumir e meu dia tornar-se, subitamente mais doce. Tão doce quanto os lábios dela. O ar frio da noite indicava mesmo a tal tempestade... Observei o mar agitado e, quase inconscientemente, pedi para que chegássemos em terra firme sãos e salvos.

“Aerials, so up high,
when you free your eyes,
eternal prize.

Antenas, tão altas
Quando você liberta seus olhos,
O prêmio é eterno”

Será que Konan já tinha chegado em casa? Será que eu deveria ligar falando da mudança de planos? Não... Uma surpresa vai ser melhor. Ela vai cair de costas! Se vai... Mas... Ela me pareceu triste ao telefone... O que está acontecendo por lá? Droga... Detesto ter que esperar para vê-la... Essas idéias de que pode haver algo errado me corroem o cérebro! Se houvesse algo errado ela diria, não? Kuso...

“Aerials, in the sky,
when you loose small mind,
you free your life.

Antenas, no céu
Quando você perde a mente limitada,
Você liberta sua vida”

Adentrei a cabine onde dormia durante aquela expedição e me joguei no meio dos lençóis amassados sobre o colchão. Por que tudo parecia conspirar para me deixar ainda mais sedento dos carinhos dela? Minha joou...

Voltei meus olhos para a mesinha onde estavam jogados meus materiais de trabalho e dei de cara com o retrato dela, sorridente, me olhando da luminária onde estava presa. Acabei me lembrando do dia em que concordamos em voltar a morar no Japão.

‘- Tem certeza?’ – ela me olhava um tanto quanto apreensiva.

‘- Tenho. Confie em mim. É uma ótima idéia!’ – afirmei, puxando seu corpo mais pra perto e me pus a afagar os cabelos negros, quase azuis – ‘A menos que você não queira.’

‘- É claro que eu quero! Mas... Tem uma condição’ – ela sorria enquanto voltava seus olhos pra mim.

‘- E eu posso saber qual é?’

‘- Albizia Julibrissin’ – declarou polidamente.

‘- Como?’ – respondi visivelmente confuso.

‘- Desculpe... Esqueci que sua especialidade não é botânica...’ – ela segurava o riso.

‘- Hum... Vai me contar o que é?’

‘- Iie... Essa vai ser sua lição de casa se quiser me levar de volta ao Japão’ – voltou a recostar-se no meu peito e passou a observar as pessoas caminharem apressadamente pelo parque em que estávamos.

Sorri ao me lembrar da cena. Fiquei com cara de tacho naquele dia. A tal Albizia Julibrissin me rendeu umas horas no setor de botânica da faculdade. Mas valeu a pena. Tudo por Konan valia à pena. Tanto a nossa Albizia, quanto as horas em meio a tempestades, carros, aeroportos e aviões. Tudo por aquele sorriso que me ganhou desde o primeiro momento.

“Aerials, so up high,
when you free your eyes,
eternal prize.

Antenas, tão altas
Quando você liberta seus olhos,
O prêmio é eterno

oh oh oh...oh oh oh... oh oh oh oh oh oh oh oh oh
oh oh oh...oh oh oh... oh oh oh oh oh oh oh oh oh”


[1] A Fossa das Marianas é o local mais profundo dos oceanos, atingindo 11.034 metros de profundidade. Localiza-se no Oceano Pacífico, a leste das Ilhas Marianas, na fronteira convergente entre as placas tectónicas do Pacífico e das Filipinas.

[2] Townsville é uma cidade localizada na costa nordeste da Austrália, no estado de Queensland. A cidade possui 330 dias ensolarados por ano e está próximo a Grande Barreira de Corais.