Navy - Faberry

Capítulo único


Passou a perna esquerda por baixo da direita enquanto segurava a caneca de porcelana que continha seu precioso café. Seus cabelos castanhos tinham mexas mais claras, ela tomou um gole do café observando o repórter se ajeitar para iniciar a entrevista. Os grandes olhos castanhos se desviaram por um momento para as fotos coladas no espelho de sua penteadeira. Fotos suas com seus pais, seus amigos e fotos sozinha. Tomou outro gole de café ouvindo o homem na sua frente limpar a garganta. Ele era alto, os cabelos bem arrumados, a gravata frouxa e o colete apertado.

— Boa tarde, srt Berry. – Ele sorriu. – Agradeço em nome da People Magazine por estar concedendo essa entrevista.

— É sempre um prazer. – Rachel sorriu para ele. – Certeza que não aceita um café?

— Estou bem, obrigado. – Ele ergueu a mão e sorriu. – Deve estar empolgada em voltar a Broadway após essa temporada longe.

— Eu estou. – Ela sorriu feliz. – Fiquei dois anos longe de casa e achei que já era hora de voltar, além do mais eu não seria louca de negar um convite de David Stones.

— É um show inédito. – Ele se inclinou um pouco para ela. – Pode me contar um pouco?

— É uma história dividida em três atos. – Ela se ajeitou começando a se entusiasmar. – A peça é dividida em três momentos da vida dos protagonistas. A ideia é que a peça seja simples, o cenário se mantém inalterado, é como um encontro somos apenas nós no palco e a platéia nos observando.

— E surpreendentemente não é um musical. – Ele brincou. – Acha que sua experiência em Holywood te fez querer essa nova experiência?

— Não, não… – Ela tomou um gole do café. – Eu sou uma dama dos musicais e isso não é algo a ser discutido. O que me convenceu fora David, estávamos jantando juntos e ele começou a falar sobre esse roteiro incrível que ele queria que eu lesse. – Ela sorriu com a lembrança. – Mas eu não podia aceitar, já estava me programando para umas duas participações em séries e estava no meio das gravações de uma nova série da Netflix. Ele simplesmente pegou alguns papéis, me estendeu e disse “leia apenas um trecho de uma das cenas, se isso não te convencer então eu não irei falar mais nada.” Eu li e quando terminei disse para ele mandar fazer o contrato que eu assinaria.

O jornalista soltou uma risada antes de ajustar seus óculos.

— E como vai fazer com as gravações?

— Eu encerrei as gravações da série. – Rachel explicou sorrindo. – E sobre as participações vamos acabar interrompendo nossos ensaios por um mês mais ou menos. Mas como Gary também tem alguns projetos que acabaram coincidindo ficaremos bem, nossa parte sofrerá um atraso mas o resto vai poder continuar.

— E acha que Matthew vai conseguir estar na noite de estréia?

Rachel arqueou as sobrancelhas e colocou sua caneca vazia sobre a penteadeira. Voltou sua atenção para o homem eentrelaçou seus dedos.

— Eu não sei se Matthew vai vir. – Respondeu calmamente. – Acredito que ele tenha os próprios projetos.

— Vocês não têm se visto?

— Acho que jantamos juntos tem uns dois meses. – Rachel inclinou a cabeça um pouco. – Fui jantar com ele e Elis, por sinal ela cozinhou maravilhosamente.

Ela o viu ficar desconsertado por um momento antes de sorrir para ela. Ele ajeitou suas anotações e quando ia abrir a boca ela o interrompeu.

— Qual a necessidade de sempre perguntar ou insinuar que eu estou com alguém? – Ela mantinha um sorriso nos lábios. – Eu juro que teve um dia em que vi uma revista afirmando que eu estava de affair com o Hugh Jackman. Eu nunca falei com ele. Ele é um ótimo ator, eu já o assisti em uma apresentação especial e confesso é magnífico. Mas como posso estar de affair com um homem que eu nunca troquei uma palavra? E que ainda é casado?

— Nós… é…

— Eu sou uma mulher feliz. – Ela o interrompeu quando ficou óbvio que ele estava sem saber o que falar. – Eu sou uma mulher feliz e tenho meus motivos para manter a minha vida privada em privado. Se eventualmente acontecer de que eu resolva abrir essa parte para o público será uma decisão minha. Por hora, é suficiente que saibam que eu estou bem, estou feliz e que não estou saindo com ninguém que sai em revistas.

— Então ele não é alguém da mídia?

Rachel arqueou as sobrancelhas e se levantou.

— Nossa entrevista termina agora. – Ela sorriu para ele e indicou a porta. – Se for continuar com essa linha de perguntas.

O homem ergueu os braços se dando por vencido. Rachel se sentou e ele redirecionou a entrevista para os projetos que ela iria lançar. A morena estava exausta quando ele se levantou e saiu. Ela pegou suas coisas pensando que só precisava se enrolar no sofá com comida e alguma série boba na televisão. Moletons folgados poderiam ser o vestuário dessa noite com toda certeza. Ela tinha sobras na geladeira? A morena parou por um momento antes de decidir que se não tinha sobras ela pediria pizza. Sim. Pizza cairia bem naquela noite… ela acrescentaria 2kms a mais nas corridas pelo resto da semana. Ela subiu as escadas da frente e enfiou suas chaves na porta a abrindo e entrando na pequena antesala. Deixou a porta bater nas suas costas e ouviu o trinco, ergueu o pequeno painel próximo a porta que lhe daria acesso ao interior. Digitou sua senha e ouviu o desbloqueio, ela suspirou assim que sentiu o ar aquecido. Seus olhos pararam no boné militar que estava displicentemente apoiado no final do corrimão. Seu coração acelerou e sua bolsa caiu no chão enquanto ela subia as escadas. Os coturnos, a gandola, ela subiu as escadas para o terceiro andar onde estava a suíte principal ela parou na porta assim que viu a mulher loira no meio da cama. As costas nuas, os cabelos loiros espalhados pelas costas, os braços que firmemente seguravam o travesseiro. A morena se livrou de suas sapatilhas e deslizou silenciosamente pelo piso de madeira clara. Afundou na cama se aconchegando as costas da mulher, seus lábios roçando a nuca pálida antes da mordida sutil. Sentiu o arrepio da pele e ouviu o suspiro dela, sorriu movendo sua boca para próximo da orelha.

— Se deixar suas roupas espalhadas pela casa outra vez… – Sua voz era bem-humorada, o sorriso evidente. – Você vai estar em sérios apuros, Major.

— Sim senhora. – Ela ouviu o murmúrio bem-humorado.

A morena esfregou o rosto contra os cabelos loiros sentindo o cheiro da mulher.

— Eu senti sua falta. – Rachel murmurou, sentiu que ela queria se virar e permitiu.

Ela sorriu ainda mais quando acariciou o rosto da mulher, seu polegar traçando a maçã do rosto.

— Oi. – A loira sussurrou.

— Oi. – Rachel respondeu. – Me diz que já ligou para os seus pais…

— Ainda não. – A loira deslizou o polegar pelo lábio da atriz. – Ligo depois.

— Ah não. – Rachel sorriu arqueando as sobrancelhas. – Eu não vou cair nessa. A última vez sua mãe ficou sem falar comigo por um mês. Ligue para eles enquanto eu tomo banho, se bem que eu duvido que seu pai já não saiba.

Rachel escorregou para fora da cama e a loira a segurou pelo pulso a puxando.

— Antes de você me deixar aqui… excitada e necessitada pela minha amada esposa que eu não vejo há 10 meses. – A loira se sentou na cama trazendo Rachel para dentro de suas pernas. – Eu preciso te fazer duas perguntas.

— Ok. – A morena já não conteve o sorriso. – Faça.

— Quão endividada nós estamos?

Rachel soltou uma risada.

— Não estamos endividadas. – Rachel respondeu acariciando a nuca pálida. – Eu te disse que tinhamos dinheiro para comprar a casa e você concordou.

— Sim, eu tenho que parar de deixar você comprar coisas caras apenas para aplacar a minha culpa por nunca estar em casa. – A loira concordou com a cabeça, sorriu assim que sentiu o tapa. – Então… não estamos endividadas?

— Não, nossas finanças estão ótimas. – Rachel brincou. – Você saberia se olhasse os extratos bancários da nossa conta.

A loira revirou os olhos verdes e fez um barulho com a garganta zombando da questão.

— O que me leva para a segunda questão. – A loira sorriu docemente. – Por que precisamos de uma casa tão grande? Quer dizer… eu entendo você querer mais de um quarto principalmente quando meus pais estão na cidade, mas… 6 quartos é de mais amor.

— Bem, fico feliz que tenha perguntado. – A morena soltou uma risada curta. – Talvez seja o meu jeitinho de dizer que eu gostaria de aumentar nossa família.

— Comprando um quadriplex de 6 quartos? – A loira arqueou as sobrancelhas. – O que aconteceu com o bom e velho tapa na cabeça seguido de um “quero engravidar”? Tenho certeza que foi assim que mamãe fez com papai.

— Você não é boa com sutilezas assim. – Rachel acariciou o rosto da esposa.

— Ok, então… – A loira lambeu os lábios. – Como vamos te engravidar se eu passo no mínimo 9 meses por ano fora do país? Bem, eu posso não ter o material para te engravidar, mas eu gostaria de estar presente.

— Então seria um bom momento para você considerar passar mais tempo dentro das fronteiras. – Rachel falou lentamente. – Eu sei que sua próxima promoção está chegando.

— Sim, está.

— Você não pode requerer ficar no país? Desde que você se formou que eles te mandam para fora. – Rachel suspirou. – Tem um hospital da Marinha aqui, você não poderia assumir uma vaga?

— Me mandariam para Norfolk. – Quinn inclinou a cabeça a olhando com um pouco de tristeza. – O hospital aqui é muito concorrido, baby. Eu teria que ser mais do que uma Tenente-Comandante…

— Seu avô? Seu pai? Não da para ninguém mexer alguns pauzinhos? – Rachel perguntou frustrada. – Todo mundo faz isso, Quinn.

A atriz se afastou e foi na direção do banheiro. Quinn suspirou e se levantou indo até a bolsa que estava largada perto da porta, pegou uma camisa limpa azul royal e uma calça de moletom antes de pegar a carta que estava entre alguns documentos. A morena estava parada na frente de uma das pias do banheiro, o espelho ia do chão ao teto em relevos.

— Eu tenho certeza que nosso apartamento no SoHo cabe inteiro aqui. – A loira brincou colocando a camisa, ouviu a risada chorosa de Rachel. – Querida.

— Eu sei que seu trabalho é importante. – Rachel escondeu o rosto entre as mãos. – Eu sei e eu tenho orgulho, apenas… estou ficando cansada Quinn. Estou cansando de ficar apreensiva sempre que você fica muito tempo sem dar notícias. Estou ficando cansada de esperar um oficial bater na porta me dizendo que você não vai voltar. Estou cansada de sentir medo.

— Eu sei. – Quinn apoiou as mãos nos ombros da mulher. – Eu sei e eu sinto muito por fazer você passar por isso.

— Eu sei que estou sendo egoísta.

— E tudo bem ser egoísta.

— Não, não está. – Olhou para Quinn através do espelho. – Não está tudo bem ser egoista quando você está salvando vidas.

Quinn pegou a carta e a colocou na frente da mulher.

— O que é isso?

— Bem, confesso que quando cheguei aqui. – A loira a abraçou com força assim que Rachel pegou a carta. – E vi o tamanho da casa eu comecei a me preocupar, também confesso que conferi o endereço 3x para ter certeza que era o certo. Pensei no tamanho da dívida, mas você me garantiu que está tudo bem… então… leia a carta.

Rachel abriu a lateral já rasgada e pegou o papel timbrado. Seus olhos descendo pelas palavras gravadas, ergueu os olhos para a mulher.

— Você foi promovida?

— Sim, eu fui. – Quinn respondeu calmamente. – E em alguns dias terá um evento de arrecadação, eu vou ser condecorada, ouvirei um discurso bonito e em uma semana receberei a minha dispensa honrosa, vão me enviar para a reserva.

— O que? – Rachel arregalou os olhos. – Como assim?

— Papai mexeu uns pauzinhos. – Quinn deu de ombros. – Eu disse a ele quando o vi há alguns meses. Disse que queria ficar em casa com a minha esposa e ele falou algo sobre netos… não tenho ideia do que ele quis dizer com isso. Mas ele disse que eu servi bem ao meu país e poderia ter uma boa recompensa por isso. A única coisa que eu peço é… tempo.

Rachel se forçou a virar para poder olhar a mulher nos olhos.

— Eu sei que você quer filhos… uma casa de 6 quartos é uma excelente forma de dizer isso. – Soltou uma risada quando sentiu o tapa. – Eu não estou dizendo que bebês não estão na mesa e eu sei que você tem um contrato de no mínimo 6 meses para a peça. Eu só preciso de tempo…

— Hey. – Rachel a segurou pelo rosto. – Temos todo o tempo que você quiser. Não precisamos correr com isso e se você não quiser, não sentir que pode… então não vamos ter.

— Eu quero. – Quinn se apressou em falar. – Eu quero, mas eu sei que minha TEPT é considerada leve. Eu tenho feito acompanhamento sempre que retorno as bases de campo, mas… eu preciso de tempo para me reacostumar a vida civil. Eu entrei para a Marinha aos 18 anos… nós tínhamos 18 anos…

— Não preciso que você me lembre desse dia. – Rachel falou em voz baixa. – Vamos ter todo o tempo que você precisar. E eu preciso falar com a sua mãe, preciso de ajuda com o vestido.

A morena se soltou da esposa e voltou para o quarto.

— Vestido? – Quinn franziu as sobrancelhas seguindo a mulher.

— Óbvio. – Rachel pegou o celular na bolsa. – Alguns dias? Quantos dias? Vamos para Washington? Seu pai vai comprar as passagens ou nós vamos? Você vai estar de uniforme, está limpo? Preciso mandar lavar a seco?

— Você quer ir ao evento? – Quinn perguntou surpresa.

— Você não quer que eu vá? – A morena ergueu a cabeça sem esboçar reação.

— Quero. – Se aproximou ainda surpresa. – Mas podem tirar fotos…

— Então tirem. – Rachel respondeu levando o celular ao ouvido. – Avisarei a Marcy e estaremos prontas. Não me importo, eu vou estar lá e vou apoiar a minha esposa.

*Navy*

Rachel concordava enquanto ouvia sua agente falando.

— Sim, eu já estou pronta. – Concordou com a cabeça. – Vamos tirar a foto e papai irá postar. Eu sei que a entrevista saiu ontem, mas não me interessa. Ok.

Desligou o celular e o colocou na pequena bolsa de mão antes de sair do quarto. Desceu as escadas encontrando Quinn conversando com os pais da atriz. A loira se virou quase automaticamente, a morena sorriu assim que seus olhos encontraram com os da esposa. Quinn se aproximou da escada estendendo a mão para ela.

— Eu amei o vestido. – A loira murmurou com um sorriso, seus olhos deslizando pelas curvas cobertas pelo pano verde, o decote era razoavelmente revelador, a cintura bem marcada e o cumprimento alcançava o chão.

— Eu amo quando você usa esse uniforme de gala completo. – A morena respondeu abraçando Quinn pelos ombros.

Quinn usava o uniforme cerimonial completo, sapatos e calças brancas imaculadas a jaqueta branca tinha botões dourados, no lado esquerdo de seu peito logo acima do bolso estavam as barretas. Enquanto do lado direito estavam as medalhas em fitas que havia recebido ao longo dos últimos 17 anos de carreira e logo acima estava o emblema em ouro dos fuzileiros navais. A gola alta estava bem engomada e as ombreiras indicando o grau de Major. A espada cerimonial estava pendurada ao seu lado direito e ela ainda não estava usando as luvas ou o quepe.

— Você tem certeza que quer fazer isso? – Quinn perguntou em voz baixa. – Se você não quiser eu vou aceitar, querida.

— Eu já disse que quero, na verdade eu faço questão. – Rachel traçou o rosto de Quinn, ela olhou para os cabelos firmemente presos em um coque militar. – Se continuar me perguntando vou começar a acreditar que você não quer.

— Sabe que quero. – Quinn arqueou as sobrancelhas. – Apenas estou preocupada com você.

Rachel tocou seus lábios nos da mulher suavemente.

— Vocês já estão prontas? – A voz forte do pai as chamou.

Rachel ergueu o rosto e sorriu para o pai, um homem alto e forte com a pele morena e olhos castanhos profundos. Seus cabelos grisalhos e a barba feita perfeitamente, ele usava um terno de corte e segurava o celular na mão.

— Querida? – Ele sorriu para a filha. – O texto está pronto e as fotos selecionadas, precisamos de mais uma de vocês duas e então eu irei postar nas suas redes e nas redes do Senador.

— Eu tenho certeza que já cansei de pedir para você me chamar pelo nome, LeRoy. – O homem loiro pediu saindo da sala de estar. – Ah minhas meninas, estão lindas essa noite.

Quinn olhou para o pai que usava um uniforme semelhante ao seu apenas não usava as medalhas em fitas, mas ela sabia que no final da noite ela estaria uma condecoração acima do pai. A mãe de Quinn passou pelo marido com o quepe e as luvas da filha mais nova.

— Aqui meu amor, coloque as luvas e o quepe para tirarem a foto.

Quinn deixou Rachel segurar o quepe enquanto ela colocava as luvas brancas. A morena desceu o degrau que a deixava acima da esposa e sorriu colocando o quepe na cabeça da esposa o ajustando com cuidado. Quinn levou um braço para segurar Rachel pela cintura que ficou de lado se pressionando a esposa. LeRoy tirou a foto e sorriu.

— Ficaram lindas. – Ele começou a apertar comandos na tela do celular. – Bem… estamos fora.

Rachel olhou para Quinn e se inclinou a beijando nos lábios outra vez.

— Eu amo você. – Sussurrou para a mulher.

— Eu sou louca em você. – Quinn respondeu para ela com um sorriso igual. – Obrigada.

— Pelo que? - Rachel franziu as sobrancelhas.

— Por ser forte o suficiente e me permitir realizar o meu sonho. – Quinn acariciou o rosto da morena. – Mesmo com isso te apavorando.

— Bem… obrigada por fazer valer a pena. – Rachel respondeu passando a mão pela jaqueta branca. – E obrigada principalmente por sempre voltar para casa e voltar para mim.

— Sempre. – Quinn sussurrou a segurando pela cintura. – Todos os dias.

*Navy*

Rachel estava ignorando todos os olhares e sussurros. Se inclinou falando com a cunhada que estava ao seu lado, Fannie ostentava uma bonita barriga de 7 meses de gravidez.

— Conversamos. – A morena confidenciou vendo a cunhada abrir um sorriso.

— E…?

— Ela quer, mas me pediu para esperarmos um pouco. – Rachel olhou para a esposa que estava conversando com o pai em voz baixa. – E eu concordei, até porque com o meu contrato não poderiamos engravidar agora. E ela precisa de tempo para se reacostumar.

— Ela vai continuar com a terapia? – O tom de Frannie era preocupado.

— Vai. – Rachel concordou com a cabeça. – Ela procurou um centro de veteranos em NY e se voluntariou para dar consultas gratuitas. Disse que também vai manter as consultas com um psicólogo da marinha. Eu confesso… estou extasiada de tê-la em casa.

Frannie acariciou a mão da cunhada com um sorriso feliz nos lábios.

— Vocês merecem. – A loira sentiu os olhos queimarem com lágrimas. – Deus eu não vou sentir saudades dessas lágrimas intrometidas. Eu quero tanto que vocês duas fiquem bem, juntas e que logo deem um priminho ou priminha para a Emily. E confesso, fiquei tão feliz quando vi o seu comunicado e o do papai repetindo cada palavra sua. As fotos de vocês… Rachel, você é a melhor pessoa que ela poderia ter escolhido para casar.

— Eu sou feliz com a sua irmã. – Rachel sorriu e olhou para a esposa que estava distraída. – Apenas quero que nossa felicidade triplique.

Quinn sorriu para o pai antes de olhar para a mulher ao seu lado. Entrelaçou os dedos de ambas e beijou o dorso da mão de Rachel.

— O que vocês estão confabulando? – Perguntou arqueando as sobrancelhas.

— Estou falando do lindo vestido que eu vi esses dias. – Rachel respondeu tomando um gole de sua taça de água. – Espero que você pegue logo a dica que deixei no seu criado-mudo.

— Você e suas dicas. – Quinn revirou os olhos, o tom de voz era zombeteiro, mas ela sorria. – Primeiro, compra um quadriplex de 6 quartos apenas para me dar a dica que quer engravidar. E agora?

— Uma foto emoldurada, é claro. – Rachel deu um sorriso feliz para a loira. – Com um laço vermelho bem grande.

— Ah… - Quinn franziu as sobrancelhas. – Eu achei que você estava me dando um porta-retrato.

— Quinn. – Rachel ergueu o tom de voz brincando.

A loira soltou uma risada baixa antes de se inclinar e beijar o rosto da esposa.

— Te darei todos os vestidos que quiser e meu salário permitir. – Sussurrou para a morena que se derreteu um pouco mais.

*Navy*

Rachel se sentou na beirada da cama soltando as sandálias. Olhou para a porta do closet e se levantou indo até lá. Quinn estava cuidadosamente retirando as medalhas em fita e as colocando em uma caixa de madeira com tampo de vidro. A loira parou alisando a cruz da marinha antes de coloca-la na caixa.

— Você não me disse do confronto. – Rachel se aproximou lentamente, parou atras de Quinn acariciando os ombros da mulher.

— Não é o tipo de coisa que eu gostaria que você ouvisse. – Quinn suspirou fechando os olhos. – Você representa toda a pureza da minha vida e eu nunca poderia te contaminar com os horrores que vi.

Quinn se virou para a mulher e segurou o rosto de Rachel entre as mãos.

— Eu sei que você está preocupada. – Sorriu para a atriz. – Eu sei, mas… eu não posso contar para você. Não… não quero que…

— A sua dor é a minha dor. – Rachel segurou os pulsos da esposa. – Se você algum dia quiser que eu saiba eu vou te ouvir, mas se não quiser eu preciso que você continue conversando com alguém que te ajude.

— Eu prometo. – A loira sussurrou.

Rachel cuidadosamente abaixou as mãos da mulher e passou a retirar as medalhas, que ainda estavam presas ao uniforme, as guardando com cuidado. Em seguida pegou a caixa um pouco menor de madeira maciça e passou a cuidadosamente retirar as barretas.

— Eu tenho tanto orgulho de você. – Rachel sussurrou aninhando as condecorações. – Eu tenho tanto orgulho da minha esposa, que eu só queria subir no prédio mais alto de NY para gritar. Essa noite quando eu vi o presidente saudar você e agradecer o seu serviço… eu chorei porque eu simplesmente não cabia em mim então transbordei. Todas as noites eu rezava e pedia por você, pedia pela sua proteção e pela sua volta. Eu cantei em cada concerto para arrecadar fundos para as forças armadas ou para centro de veteranos, porque eu sabia que era meu dever enquanto sua esposa.

— Você não precisava. – Quinn tentou não sorrir. – Mas eu te amo por ter feito.

Rachel cuidadosamente desabotou a jaqueta a retirando e a colocando no cabide. Quinn usava uma simples blusa azul, a morena se ocupou em soltar o cinto.

— Você leu o comunicado?

— Não. – A loira negou com a cabeça. – Ainda não tive tempo.

A pegou pela mão a levando para o quarto, fez Quinn se sentar e pegou o celular ignorando todas as suas notificações. Quinn retirou os sapatos e as meias antes da morena estender o aparelho.

Primeiro ela viu as fotos e sorriu imediatamente. A primeira foto era uma foto das duas crianças, e conforme passava ia vendo fotos delas crescendo até a última que elas tinham tirado naquela noite.

Deslizou para ver o texto.

Quando tínhamos 10 anos entramos na vida uma da outra. Em um parque em Chelsea, eu estava sentada sozinha no balanço e você se aproximou procurando por uma bola de baseball. Era um daqueles raros momentos em que seu pai estava em casa, mas mesmo assim você me convidou para brincar. Nos tornamos inseparáveis rapidamente o que uniu nossas famílias de um jeito que nunca poderiamos imaginar. Quando tinhamos 15 anos percebemos que não éramos mais melhores amigas, tinhamos nos tornando mais do que isso e em meio a lágrimas, brigas e fugas você foi a que tomou coragem e naquele mesmo parque me beijou. Eu me apaixonei pela minha melhor amiga e nunca mais amei ninguém. Começamos a namorar e depois de alguns problemas pelo caminho tivemos o apoio de nossas famílias. Eu sempre soube que seu sonho era a Marinha, seguir os passos de seu avô e seu pai… não consigo contar quantas vezes brigamos por isso ou como me senti no dia que você se aproximou de mim com aquela carta. Aos 18 nossos caminhos tentaram nos separar. Você foi para a Carolina do Norte e eu fiquei em New York. Anos foram se passando e nós nos aguentavamos como podíamos, suas licenças, feriados… o que nos era oferecido era agarrado. E então no meu último ano de faculdade nós terminamos por uma besteira qualquer. E foi o pior ano que passei, nossos pais conversavam e assim papai sutilmente me dava informações suas. Até que na noite da minha formatura você estava lá e tinha o sorriso mais bonito que já vi na vida. Naquele momento, eu me perguntei como no mundo eu imaginei que poderia viver sem o seu sorriso. Senti naquela noite algo que voltaria a sentir outras vezes, mas digo mais na frente. Você entrou para a escola de Medicina da Marinha, já havia se formado como melhor da turma nos fuzileiros e eu começava a dar meus primeiros passos no teatro. Um pequeno apartamento no SoHo era nosso refúgio, nossa casa e foi nela que você chegou uma noite… me acordou e sussurrou que na vida você percebeu que só tinha dois sonhos. O primeiro era ser fuzileiro da Marinha e seguir os passos do seu pai e do seu avô. O segundo era casar comigo. Oficializamos nosso casamento 3 semanas antes de você embarcar pela primeira vez, uma cerimônia pequena onde estavam nossas famílias e os amigos mais próximos. E então eu passei a te esperar e cada vez que você retornava para casa eu me sentia do mesmo jeito que na noite da minha formatura. Eu respirava livremente, me derretida no seu sorriso, me afundava nos teus braços e me alimentava do teu amor. Esta noite você será promovida a Comandante da Marinha, receberá uma das maiores honrarias concedidas e eu estou mal me aguentando de orgulho. Então tomei a decisão de dizer que eu sou uma orgulhosa esposa de uma fuzileira naval deste país e nada me faria mais feliz.

Quinn leu o texto todo e sentiu o rosto molhado. Rachel retirou o celular da mão da esposa e ergueu a saia do vestido para subir em seu colo.

— Você sabe que mesmo com o meu pequeno surto do outro dia, se você quisesse continuar eu te apoiaria, certo? – Limpou o rosto rosado da mulher.

— Eu sei. – A loira a segurou pela cintura. – Mas eu realizei o sonho de ser uma fuzileira, mas acordei um dia e percebi que não estava sendo uma esposa. Como poderíamos continuar mantendo um casamento em que estamos juntas apenas dois ou três meses por ano?

— Eu tenho certeza que continuaríamos dando nossos jeitos. – Cruzou os braços ao redor do pescoço da mulher. – Sabe, eu sou muito grata por você não ser ciumenta.

— Eu? Ciumenta? – Quinn franziu as sobrancelhas, seu rosto ainda vermelho pelo choro. – Imagina, eu só posso ter hipoteticamente prendido cada foto de cada cara que você fez par romântico ao longo desses anos no estrado do meu beliche e eu posso ter usado essas fotos como alvo para arremessar facas. Mas é tudo hipotético é claro.

Rachel soltou uma risada alta antes de se inclinar e beijar os lábios de Quinn.

— Eu senti tanto a sua falta. – A morena sussurrou.

— Rachel, você é a segunda mulher mais importante da minha vida… - A loira embalou o rosto da atriz entre suas mãos.

Rachel estreitou os olhos escuros. – A primeira tem que ser a sua mãe.

— Bem, na verdade é a Cate Blanchett… - Quinn soltou um gemido quando Rachel a beliscou nas costelas. – Olha a agressão…

— Não me teste, Fabray. – Sussurrou contra os lábios da mulher.

— Você é a minha casa. – Quinn sussurrou de volta, seus olhos deixando de serem bem-humorados e se tornando mais sérios. – E se eu não desisti todos esses anos em que eu poderia não ter voltado, foi por sua causa. Você me manteve viva e eu nunca vou ser capaz de explicar o que é esse sentimento. Mais cedo eu falei sério, Rachel, obrigada por me permitir viver o meu sonho, mesmo com isso custando tanto a nós duas. Obrigada por ser a melhor companheira que eu poderia pedir.

Rachel deu um sorriso banhado em lágrimas antes de se inclinar e a beijar suavemente nos lábios.

— Obrigada por ser quem é. – Sussurrou com a testa apoiada na da mulher. – De verdade.

— Agora… - A Fabray mordeu o lábio inferior. – Estou ansiosa pelo resto das nossas vidas, ter uma vida tranquila com você… trabalhar em um hospital, te acompanhar nas estreias e prêmios, trocar fraldas, dar mamadeiras e todo o resto.

— Eu também. – A morena sorriu fechando os olhos.

E naquele momento de paz elas se sentiram em pleno êxtase ao estar na presença uma da outra. Pela manhã lidariam com as consequências de suas ações. Com a imprensa encima do fato de que Rachel era uma mulher casada por quase 10 anos naquele momento. Que além de tudo era a filha mais nova do Senador Fabray, uma das vozes contra a política “Don’t ask, don’t tell” e um dos responsáveis pela queda da mesma. Naquele momento para as duas tudo o que importava estava dentro daquele quarto.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.